A
4 de Dezembro de 1981 “O Comércio do Porto”, publica um número especial a
relembrar a tragédia de Camarate de 4 de Dezembro de 1980. Um dos entrevistados
foi o Henrique.
“Julgo
que Sá Carneiro expressou para o nosso povo a personificação de muito daquilo
que ele encara no perfil do português autentico: a verticalidade, a
frontalidade, a coragem e a clareza; a teimosia, a persistência e a
combatividade ardorosa , ligada à sobriedade de actuação do estadista e ao
rigor do pensamento, a confiança que sabia transmitir. Tive vários contactos
com Sá Carneiro, por razões partidárias, mas não o conheci bem. Não me sinto, pois legitimado para falar
do homem, cujo quotidiano não acompanhei. As relações que mantivemos foram
sempre correctas e cordiais, não obstante Sá Carneiro saber que divergi das
suas opções em alguns momentos. Ao contrário da imagem que por vezes se
pretendeu criar, nunca me pareceu um homem rígido nas suas ideias. Apoiou
decididamente os sindicalistas socialistas democráticos afectos ao PSD, quando
a maioria desses entendeu dever aliar-se aos sindicalistas socialistas
democráticos e a outras tendências sindicais democráticas para constituir a
UGT. Tinha a visão muito clara de que era vital para a democracia portuguesa a
existência de um forte movimento sindical livre e independente. Nunca me
apercebi de que defendesse qualquer controlo do PSD sobre os sindicalistas que
são militantes do partido, sempre, ao contrário, propugnou uma rigorosa
diferenciação entre a acção sindical e a acção partidária.
Fui
chamado por Sá Carneiro a elaborar o programa da AD, na parte específica
referente a Trabalho e Sindicalismo, convidou-me a ser membro fundador do IPSD
e só me decidi a aceitar a candidatura a deputado depois de saber que ele
considerava indispensável que, na Assembleia da República, se defendesse, à
banda do PSD, um projecto de reformas laborais realistas, simultaneamente não
conservador nem falsamente progressista. Tinha uma grande preocupação pela
situação dos trabalhadores mais carenciados, era um social-democrata convicto.
E
é isto o que posso dizer, resumidamente, sobre o que conheci de Sá Carneiro no
relacionamento que com ele mantive. Repito que não me arvoro em conhecedor da
sua personalidade. Respeito suficientemente a sua memória, a sua coragem, para
invocar falsamente ou para o misturar com ideias e atitudes que porventura não
tenha defendido. É a minha maneira de lhe prestar homenagem: na verdade.
IN "O Comércio do Porto",4 de Dezembro de 1981