"Diário de Notícias 29 de Agosto de 1981
Acordo com o FMI desmotiva ministro
O Ministro do Trabalho, em exercício, Nascimento Rodrigues,
terá anunciado ao primeiro – ministro indigitado a sua recusa ao convite para
manter o cargo no próximo Governo alegando falta de condições em consequência
dos inevitáveis reflexos que o acordo com o FMI terá na política laboral.
Esta informação foi veiculada pela RDP, em noticiário de
ontem à noite e acrescentava que Nascimento Rodrigues, o teria feito numa carta
enviada a Pinto Balsemão no início da semana e tornada pública sexta feira
através da Anop."
De facto, nessa carta, datada de 21 de Agosto, o Henrique
coloca a questão de ser dispensado da chefia do Ministério do Trabalho nos
seguintes termos:
“ Os homens devem ser escolhidos em função das políticas a
prosseguir (…) e não vislumbro que possa ser eu a pessoa mais indicada para
continuar à testa do Ministério do Trabalho, no contexto dos objectivos pelos
quais o seu governo terá de lutar no próximo, senão nos próximos anos, atenta a
durabilidade da crise.
Seria uma ilusão, e pior que isso um erro, pressupor que um
homem adepto do diálogo e dos processos lentos e difíceis, de sedimentação de
consensos sociais tácitos ou expressos, fosse o ajustado para fazer compreender
aos trabalhadores e sindicatos que eles terão de aceitar, sem contrapartidas
minimamente sensíveis porque não há alternativas, uma apertada contenção
salarial e uma politica de revisão legislativa laboral que poderá justificar-se
seja efectivada sem verdadeira discussão social. E seria totalmente
contraproducente uma discussão social apenas formal.
Se não há condições objectivas para uma política de diálogo
e abertura social, impõe-se que sejamos verdadeiros: temos de optar, então por
a diferir para outro momento, mesmo de médio prazo. O que se perde agora,
ganhar-se-á mais tarde, por termos sabido preservar, para a aplicar na altura
devida, a filosofia do consenso social, tão cara aos nossos ideais
sociais-democratas ."