Abril de 1958 – Jogos florais da Universidade do Porto.
Concorrer, era um imperativo para o Henrique. Concorrer, mesmo em cima da hora.
Escrever, testar perante os outros as suas capacidades, pôr-se à prova!
Desafiar opiniões, enfrentar os adversários! E o dilema de sempre: e a
Faculdade? Como deixar para segundo plano os estudos sem comprometer o
resultado dos exames?
"Quando se concorre, o trabalho a apresentar deve ser feito
com tempo e calma. Um conto, uma reportagem ou qualquer outra coisa no género
não se faz de um dia para o outro – leva tempo, requer atenção, boa disposição
e jeito, claro. Tempo, já não tenho muito; todo o que tenho é para estudar, e
esse mal sabe Deus como me chega! Portanto para concorrer a esta ou àquela
iniciativa, necessitava de fazer um pequeno sacrifício: de estudar, ler e
escrever, tudo ao mesmo tempo. Calma é coisa que nunca tive. É defeito meu
tomar decisões destas à última hora: e, depois, se por acaso não conseguir
ganhar nada, fico admirado.
Se eu ganhar, isso será muito natural para aqueles que
pensam que eu sou uma espécie de máquina que não pode falhar; se eu perder, tal
será por outro lado, uma satisfação para aqueles que pensam, também, que pouco
valho, e que, quando ganho é por sorte!
Há muitas pessoas que têm a mania que eu sou algo de
anormal, capaz de tudo e mais alguma coisa sem olhar ao resto - e comparam-me,
no meu entender, a uma máquina que nunca falha no trabalhar! Esquecem-se,
coitados, que por vezes, um pequeno grão de areia pode empanar o maquinismo!
Sabes o que disseram quando ganhei a menção honrosa? Podias, se quisesses, ter
ganho o 1º prémio – que pena! Podias se quisesses ter ganho o 1º prémio! Ora
bolas! Com certeza, se não ganhei foi
porque não quis, não? E depois há os que pensam que tudo isto acontece, não
porque eu possa ter algum valor, mas porque tenho muita sorte! Opiniões… De
qualquer maneira, se a uns e a outros eu já não dava importância, o pior é que
agora deixei de dar a mim próprio! Hão-de convencer-se de que eu nem sou 100
nem 10! O meio termo é que me interessa .
Se continuo a pensar que não tenho motivos fortes para lutar
e vencer, posso muito bem ir estragar a minha vida com estas palermices.
Não sei porque motivo me terão vindo ideias tão estranhas; o
que é certo é que não encontro, por mais que procure a “Pedra de Toque” que me
empurre".