Ainda
a propósito das causas que levaram à queda
do VII Governo Constitucional. Como
sempre, directo, claro, sem meias tintas, chamando as coisas pelos nomes. O
Henrique era assim! Por isso criou inimigos e detractores. Por isso criou
amigos que o não esquecem. Assim o recordamos nas páginas do “Ouvidor”.
"Em democracia as alternativas são legítimas e
desejáveis e isso aplica-se quer às relações entre partidos quer às relações no
interior de cada partido. O PSD não é, e não pode ser nunca um partido
“unicitário”. Logo, é natural que, nos momentos próprios e nos órgãos
apropriados, surjam alternativas à liderança do partido.
Simplesmente,
o que se verifica na actual contestação à liderança do PSD e à figura do 1º
Ministro está fora das regras do jogo democrático. E explico porquê.
O
dr. Pinto Balsemão foi indigitado pelo Conselho Nacional do PSD para Primeiro
Ministro, com a natural aceitação dos outros partidos da AD e ganhou no
Congresso o seu lugar de presidente do PSD. Num e noutro caso, tudo se
processou em completa sintonia com os princípios que determinam que quem ganha
democraticamente tem direito a exercer o poder. Tem o direito de o exercer até
ao momento em que os representantes de milhares do PSD., eleitos na altura
própria, ou seja, para o próximo congresso, entendam que devem votar noutro
presidente do PSD. Ou até ao momento em que o Conselho Nacional do partido, por
votação secreta, entender por maioria que se justifica que o maior partido da
AD indigite um outro Primeiro Ministro.
O
que se verifica, o que toda a gente constata, é que não é nada disto o que está
a passar-se. De há alguns meses a esta parte assiste-se a uma contestação,
primeiro viscosa, agora mais clara, feita fora dos órgãos próprios e das
estruturas legítimas do PSD. Usa-se o boato, a mesa do café e a praça pública
com instrumento de oposição. Mas no último e ainda mais recente conselho
nacional do PSD só uma voz teve a honestidade de votar contra Pinto Balsemão. E
se no conselho nacional do próximo sábado aqueles que publicamente se lhe têm
oposto não souberem ter a dignidade de se assumir com inteireza, então eu diria
que uma certa classe política é constituída não
por homens, mas por moluscos.
IN " A Capital" . Sexta-feira, dia 7 de Agosto, 1981