1981. Durante o mês de Julho torna-se
evidente que o VII Governo Constitucional estava ferido de morte.
O mês de Agosto foi caótico. Do Henrique
retenho algumas linhas escritas a 26 de Agosto desse ano: "Passei o dia dos
meus anos em São Bento e passo, também em São Bento, o dia do nosso aniversário.
O 1º Mº quer que eu esteja hoje e amanhã em Lisboa. Sinto que vou como para um
enterro. Apetecia-me fugir disto tudo. Perdoa-me não ter andado com disposição
para falar contigo”.
"V.S. Considera-se uma espécie de “consciência
de esquerda” do PSD, como um semanário lhe chamou há dias? Isso supõe que no
seu partido há correntes diversas. Aceita que elas vão desde a social-democrata
à extrema-direita? Qual é a sua visão do partido, agora na qualidade de Vice –
Presidente?"
NR "Penso que um partido social-democrata
deve ser um agente colectivo de transformações sociais viáveis, um aguilhão
permanente na luta contra as injustiças e desigualdades, os oportunistas e a
corrupção, um catalisador no processo de libertação do Homem e da humanização
da sociedade. O PSD foi fundado como um partido de centro – esquerda. E sempre
o seu líder histórico, Sá Carneiro, o posicionou assim e os militantes no seu conjunto
lhe mantiveram esse perfil. Não há a mínima razão para desvios dessa linha. Não
foi com pretensas ortodoxias, de cariz divorciado das nossas realidades e da
maneira de ser das populações, que nos transformamos no maior partido. Como o
não foi nunca por cedências a um conservadorismo de retorno a soluções ultrapassadas
e a práticas repetidamente fracassadas. Se lhe refiro isto, é para lhe dizer
que não me sinto com consciência de nada dentro do PSD. Tenho, sim, a
consciência de que me sinto bem no PSD, enquanto expressão de uma
social-democracia pragmática, que aceita a tensão natural da vida e a dinâmica
das ideias inspiradas pelos valores da liberdade, da solidariedade e da justiça.
E por isso defendo como salutar a existência de correntes, de sensibilidades ou
maneiras de pensar diversificadas no interior do partido, assentes e arrancando
dos fundamentos básicos que aglutinam os sociais-democratas. E elas existem,
exactamente porque somos um partido democrático e social-democrata! Mas daí até
adiantar-se que percorrem o PSD tendências ou grupos que vão da extrema direita
à social-democracia, isso é uma suposição incorrecta e que não aceito de modo
algum"