Estamos em Dezembro
de 1981. O Henrique assume por inteiro e em exclusividade o lugar de Vice-
Presidente do PSD que prepara o seu
Congresso . A 5/12 é entrevistado pelo jornal “O Dia”
P-
Nas suas declarações tem sempre acentuado que o PSD se define como partido de
centro-esquerda. Está mesmo convencido de que essa caracterização é correcta?
R-“
Não me sentiria bem com a minha própria consciência se tivesse entrado e me
mantivesse no PSD começando por lhe renegar o Programa. Trata-se, antes de mais,
de respeitar o programa a que se adere. Trata-se também de respeitar a
Democracia, pois esta não existe sem
partidos políticos bem identificados, com projectos e propostas bem
diferenciados. Não se serve a Democracia quando se pretende meter no mesmo bojo
partidário visões ideológicas, programáticas e políticas opostas.
A
clarificação, ( como definição de campos políticos subsequentes a uma definição
de modelos de sociedade e de perspectivas políticas), é uma condição vital de
afirmação partidária e de amadurecimento do regime.
O
PSD assumiu-se sempre como um partido interclassista, é certo, mas reformista,
não conservador nem marxista, portanto. Foi nessa linha de orientação que
ganhou a adesão da maior parte da juventude, de expressivo número de
trabalhadores por conta de outrem, de agricultores, de quadros técnicos e
profissionais independentes, etc. A sua orientação política de fundo foi sempre
no sentido do combate às injustiças e desigualdades pela via das reformas
realistas e sucessivas.
Mas
quando falamos de desigualdades não é no sentido marxista, ele também, nessa
medida, conservador. Há em Portugal muitos milhares de pequenos agricultores ou
comerciantes, por exemplo, que não têm 30 dias de férias pagas nem subsídio de
doença, nem 13º mês. Há viúvas com pensão de sobrevivência bem inferior ao
salário mínimo nacional. Há intermediários que escapam escandalosamente aos
pagamento de impostos e fazem fortuna num ápice. Há o duplo emprego como única
forma de sobrevivência no dia-a-dia e o duplo emprego como fonte de aquisição
de uma casa de campo. E por aí fora…
Corrigir
gradualmente estas situações, apontando para uma ordem económica e social mais
justa, não é possível, do meu ponto de vista, senão com uma política social
democrata e, portanto, com um partido social-democrata que se posicione como
tal.”
IN
“O DIA”, 5 de Dezembro de 1981