Em fins de Janeiro de 2010, nasceu o “Ouvidor
do Kimbo”. Três anos! Nas palavras do Henrique “um blogue de memórias e de saudades, de poesia, de estórias e
comentários políticos”. O Henrique morreu em Abril. O blogue aí estava,
presente, desafiando-nos. Não nos foi possível ignorar a sua existência.
Sentimos necessidade de o continuar, de tornar públicas as palavras do
Henrique, as suas reflexões, os seus pensamentos, as suas ideias, (acerca da
política, da sociedade e do mundo). Tornou-se imperioso partilhá-las com quem
nos lesse. Tanto que ele deixou! Tantos textos escritos, tantos valores, “tanta
vida”! Hoje, quase três anos passados, em todos os post e, em cada um, encontramos
sempre aquele menino do quimbo que o Henrique nos deu a conhecer no mês de
Janeiro de há três anos. Esse menino que ao caminhar na vida se transformou num
líder, num adolescente brilhante que escrevia contos, reportagens, fazia
discursos e dizia dele próprio:
«Sei
perfeitamente que não fui destinado a aumentar a legião dos que andam na vida
por andar… Que Deus me ajude e me torne no Homem que sei que sou capaz de ser.
Lutarei com o fito ardente e elevado de ser alguém prestável à Humanidade e à
sua terra».
Sim foi esse menino, esse adolescente, esse
Homem com África no seu ADN, para quem a liberdade era inegociável, (« Eu quero chegar à janela, ver um saguão, e,
para além do saguão, ver a vida viva».), que fez , numa lenta, progressiva
e trabalhosa conquista, um caminho de
vida onde todos os seus sonhos foram concretizados. O seu amigo e médico,
Miguel Toscano, disse-me um dia: “O Dr. é um estóico.”
Talvez fosse, não sei. O que sei, é que era
um homem com uma vontade férrea, de convicções muito fortes, e que dizia: “Fazei, Senhor, com que consiga compreender
melhor e amar cada vez mais esse que é o eterno milagre da vida.” “Não, eu
não quebro já, nem nunca quebrarei”.
“Eu sei, Senhor; que tenho qualidades para vencer;
eu sei, Senhor, que não sou nenhum génio, mas, sei que sou capaz de ser um
grande Homem. Uma única prece,
Senhor, eu vos faço: ajudai-me, a encontrar em qualquer encruzilhada da minha
vida, aquela seta e aquela tabuleta que estão gravadas dentro de mim: “Vai, vai
e vencerás”. Se assim o permitirdes, Senhor, eu prometo que irei e prometo que
vencerei.”
Sim, este é o herói, das histórias que
contamos. O menino do quimbo de Angola, o líder do liceu, o Homem que, (de
acordo com a sua consciência), decidiu o fim da sua vida pública. Este é o
Herói de uma história de vida, que retomamos agora no seu último posto: o de Provedor
de Justiça do seu País.
Neste início de ano de 2013, os nossos votos
individuais como família: absorver os seus valores, honrar e transmitir o seu
legado, fazer da nossa vida, o que o Henrique fez da sua.