Não sei fazer comentário
político. Não sei o que dirias se estivesses connosco, hoje, dia 12 de Outubro.
São 42 meses de uma aprendizagem de vida sem ti, sem a tua inteligência, sem a
tua capacidade de ver mais longe, de saber dar a volta às contrariedades do dia
a dia.
Talvez por isso, talvez porque não
consigo aceitar, tenho que falar do próximo Orçamento do Estado. Ouvi Paulo Portas
lançar o anátema, demagogicamente, sobre as pensões de viuvez, designadas por
pensões de sobrevivência.
Afinal ser viúvo é a condição de
alguém que percorreu durante anos, 40? 50?, esse caminho que se chama vida com
um companheiro/companheira, e que o perdeu. Até que a morte nos separe!
Penso que não é por acaso que a
lei protege o cônjuge sobrevivo, mesmo quando este já tem uma pensão própria. A
casa onde ambos viveram é a mesma, só falta quem morreu. Os filhos, os netos, são
os mesmos. Falta quem morreu. As responsabilidades assumidas a dois são as
mesmas. Falta quem morreu. A vida continua inexorável. Falta quem morreu. O cônjuge
sobrevivo está só. Resta-lhe a consolação de saber que, em vida, se pensou
nessa possibilidade. Resta-lhe um conforto: saber que a sua falta não trará, a
par dessa dor imensa que é a perda do companheiro, a perda de algum conforto
material para a velhice, que ambos prepararam.
O desaparecimento dessas pensões
não é só, mas também, monetário. É uma afronta à memória dos que morreram. À memória
de muitos que nem tiveram tempo para “gozar” a reforma porque trabalharam para todos
nós até aos 70 anos. À memória daqueles que em vida fizeram um contrato com o
Estado – pessoa de bem, pensavam eles – e que agora trata os sobrevivos como
criminosos que, escandalosamente, acumulam pensões!