quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Este Blogue


A minha vida é como este blogue. Revejo atentamente cada página. Olho para ela.
Estou feliz com os textos escolhidos. Gosto do que está escrito. Tudo me parece inserido num contexto que o Henrique aprovaria.
Relaxo.
Acho que algo de muito bom vai acontecer, sei lá, talvez ele volte e me dê a sua opinião! A harmonia é tão grande !!! Talvez eu possa continuar.
Coloco outro post, e de repente, o que era quase perfeito ficou um caos. Já nada faz sentido! A página não tem nexo! A harmonia desapareceu. Não há contexto. O que faço eu aqui? Qual o fim que me proponho?
Volto atrás. Tento alcançá-lo. Paro. Penso. Com serenidade, revejo os textos dos meses anteriores. Afinal a harmonia ainda lá está. O desequilíbrio é transitório e fugaz.
Eu sei agora com toda a certeza que algo enorme vai acontecer. Talvez ele volte e me dê a sua mão!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A morte é um mistério inquietante

A morte é um mistério inquietante.
A vida também.
Perante a morte, é como se o Amor se tornasse ainda mais grandioso.
Mas transborda de nós, não cabe cá.
Passa para o outro lado de um véu onde tanta coisa fica por compreender.
O que conhecemos é apenas a superfície do maior sentido das coisas.
Não é preciso inquietarmo-nos.
Um dia perceberemos.
E havemos de nos reencontrar.


Sofia Nascimento Rodrigues

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Dia 27 Noticiário da SIC

Ficamos estupefactos ao ouvir, ontem dia 27, o noticiário da SIC.
Será que ninguém percebeu que não foram “ motivos de saúde”que o levaram a renunciar ao cargo, no momento em que o fez?
Ninguém percebeu que, apesar dos motivos de saúde, esperou um ano por razões de Estado, para ele mais importante que tudo o resto, mesma a própria vida?
Será que não perceberam que para ele, acima de tudo, estava a Provedoria de Justiça enquanto Instituição prestigiada, e os seus colaboradores ?
O mandato do Provedor de Justiça tinha terminado havia um ano e os partidos com assento no Parlamento fizeram um jogo de guerrilha institucional que os desprestigiou e colocou em causa o próprio regime democrático.
Ele renunciou, quando renunciou, por motivos exclusivamente políticos e foi muito claro nisso, quando responsabilizou os partidos e os seus líderes pelo ignóbil arrastar da situação.
Porque com ele aprendemos a prezar a verdade e a democracia, é no seu blogue que lavramos o nosso protesto.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Em memória do nosso Pai, neste final de 2010.


Tenho defendido um projecto de democracia política, económica, social e cultural para o nosso País.
Lutei por esse projecto nos períodos, sobretudo os mais difíceis, do processo de democratização que atravessámos e fi-lo nas áreas que se afiguraram justificar e impor-me uma intervenção.
Não sou adepto de medidas congeminadas no segredo dos gabinetes e lançadas sem hipóteses de radicação social e económica.
O mundo do trabalho é um todo muito complexo e sensível.

A regulamentação das relações laborais tem de ser realista, e não seria realista supor-se que se pode alterar uma matéria sem a enquadrar no conjunto de factores que a condicionam e que ela própria condiciona.


Lisboa 1981

sábado, 25 de dezembro de 2010

Natal 2010

O Natal de hoje é um primeiro Natal.

Um Natal que tranquilamente nos suporta a alma,
nos embala a vida e estreita um pouco mais os laços.

Especialmente porque a tua presença esteve em cada canto,
em cada sorriso, em cada luminosidade.

Lá estiveste e sempre estarás, pai.

Feliz Natal

Editado por Ana Nascimento Rodrigues no blogue Espanta-espiritos

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Hoje é dia 24 de Dezembro

Sempre reunimos a nossa família na ceia de Natal. O dia 25 ficava para as outras famílias dos nossos filhos e netos. Esta noite, noite de Natal representa - na troca de presentes - a troca dos nossos sentimentos, dos nossos votos, dos nossos desejos para mais um ano de partilha de vidas. Renovamos força, vigor, entusiasmo, alegria, agradecimento que irá durar até ao próximo Natal. Sempre fizemos o mesmo com os amigos. Era a nossa maneira de dizer: cá estamos para o que der e vier.
Recebemos hoje uma fotografia enviada por um amigo e ex colaborador do Henrique. Fica no Blogue porque representa o espírito com que vivemos este dia: Agradecimento, Amor, Partilha. O Henrique, como sempre, é o cimento de uma comunhão de afectos que nos mantem vivos.

A fotografia que o Dr. Miguel Coelho nos enviou, representa a outra dimensão dessa comunhão de afectos - a da sua vida de trabalho onde também tinha uma família.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Natal do Meu Sertão - 1

Eu nasci numa vila do sertão angolano, onde não medra o imbondeiro, mas farfalham as mulembas de porte maduro. Havia um rio, lá em baixo, e uma casa de bomba o dia todo a bufar rolos de fumo e ais de cansada. Riba a cima marinhava à compita o matorral onde à socapa, por via da tabuleta proibitiva, se palmavam os pinheiros que serviam de cabide aos arrebiques do Natal.
Era a festança moldada de antemão, matutados os preparos a um ror do dia em causa. Que não falta material lá na planura distante, onde só desce avião uma vez por semana…
Os géneros, é verdade, encarecem com a taxa da lonjura e a sobrecarga do lucro; arribam ao sertão meio depauperados de tão longa caminhada, mas, mal despontados à janela das montras, não há mãos que os meçam a retalho. Rico ou pobre, todo o Mundo comemora o nascer do Deus-Menino e sua a poros por amontoar aquilo que lhe era de hábito no solar beirão ou na casita alentejana.
Nós, os angolanos nados, não temos tradições especiais a respeitar neste quadrante salvo as que advêm do uso universal. Mas não assim quem, nascido no”Puto” se atirou aos trópicos no ganho da vida. Não admira, por isso, que cada casa porfie no arranjo à moda do seu torrão – quando não estão olvidadas pelo tempo as praxes do lar natal…

Natal do Meu Sertão – 2

Dia 24 é de romaria na faina. Rua fora, de porta a porta vão-se as gentes à troca dos votos da data. Aproveita-se para coscuvilhar a casa do vizinho e mirar-lhe o ornamento, enquanto, entre os mais chegados no convívio, se ofertam os brindes de ocasião.
No geral, é a árvore, ajoujada de bolas e penduricalhos afins, o símbolo mais trabalhado e o que se percebe em maior número. Reminiscência pagã, o certo é que a árvore de Natal penetrou fundo no sertão e é agora rotineiro encontrarmo-la a um canto da sala rebrilhando à luz de velas ou de lâmpadas multicolores algumas mesmo, verdadeiros cachos de fantasia sobre o alcatrão do negrume.
Mas o presépio tem também seu reino.
Há-os dos pequenos tugúrios com os três personagens centrais, o boi e o jumento até aos que ocupam metros de espaço, alcandorados com erva do mato, figuras gigantes, riachos fingidos, caminhos de areia no seio colorido de um mundo de figurantes.
É nos pratos de mesa e seus complementos, porém, que de lar para lar são mais notórias as diferenças. E isto porque o minhoto não recua com o arroz de polvo, o lisboeta torce pelo bacalhau babado de azeite e o algarvio não dispensa a sua lampreia de ovos, os figos e os condimentos usuais da terra das amendoeiras. Vai daí, a existência dos cambiantes aludidos, quando se topam as mesas vestidas das melhores toalhas e a refulgir de candelabros.
É provável que o significado transcendental do festejo não tenha entrado lucidamente na mor parte da cachimónia do preto não civilizado. Tal não é impedimento. Semanas antes da grande noite, já eles andam com a lição decorada e, “Boas Festas patlão”, ai do que não corresponder com a respectiva gorjeta ou o garrafão de tinto. Iguaizinhos na pedinchice aos carteiros da Metrópole…
PS A árvore de Natal é a mesma. A preto e branco Henrique Avô. A cores Henrique neto O presépio tem 45 anos . Os três Reis Magos são mais jovens. Só têm 40 anos

Natal do Meu Sertão - 3

E a azáfama só esfria com o chamar dos fiéis à missa. É de um sopro que se enverga a veste adequada e se animam os últimos toques na figura. Em duas pernadas alcança-se a Sé. Não faltam, ali a religiosidade e o fervor do povo aldeão.
Lá, onde a neve não tomba e o vento não uiva como matilha, a noite, amena, sente ressoar os magotes de gente que acorrem ao dlim-dlão da sinalhada. Vêm pelo escuro que a iluminação pública não cabe no orçamento camarário: e um a um, depois cada qual fura o seu poiso, a fatiota a tresandar à naftalina do baú e a carantonha impante do porte teso.
Ita missa est, salva-se o menino com o beija-pé, ao rés do presépio erguido na nave central. Estoiram conversadas, então, no adro. Badalam os sinos das torres e ao longo dos passeios o retorno ao casario é apressado e buliçoso. Já no quente do lar, passarinha pelos quatro cantos o bafo dos fritos. Adrega, por vezes de se juntarem famílias. E as recordações rebentam, em uns, no palavreado nervoso; noutros, é o falar monossilábico que lhes atesta a lembrança: - Senhora do Amparo como está longe a minha serra! – A nós, angolanos, nunca nos arribou de sentir tamanha saudade.
Só a entendemos quando sucede, também, faltar-nos o espaço aberto dessas lonjuras tropicais…
Mas o odor das farturas e o tostado da broa tornam os espíritos à realidade. Toca de apertar à roda da mesa. E surge o arroz de polvo. Travessas grandes, a abarrotar. Desentaramelam-se as línguas. Transbordam os copos. Há gargalhadas ao burlesco dos sucedidos. Alegria. E franqueza a soltar-se dos olhares, e amizade a perceber-se nos abraços. Somem-se os empadões. Renovam-se as doses. Vá de se fartar o bandulho! E sobre o rum-rum da festarola, essa noite angolana, profundamente negra e sossegada…

…Inverno, friorento e choramingas, já arribou a esta parte. Veio agreste, de chuvaria a rebentar em cambulhada e ventana a zunir que nem foguete. Comprime-se a gente no Chiado, calos doridos das pisadelas corpo amassado dos encontrões. Não se lobriga espaço num eléctrico, tão apinhados que nem agulha lá cabia. E é um dó de alma o meu guarda-chuva, esfanicado sob a tormenta – Oh, calmos Natais do meu sertão!...

Henrique Nascimento Rodrigues
Publicado a 25 de Dezembro de 1959 num jornal diário em Lisboa
A fotografia a cores foi feita, pelo Henrique, em 2006, na Missão da Huila. A toalha da mesa de Natal é a mesma que usamos em nossa casa, nesssa noite, ano após ano.

sábado, 18 de dezembro de 2010

“Crónica do Natal”-1

Foi há muitos anos…
José e Maria estão sós na pequena gruta rochosa, aguardando confiantes e comovidos.
Uma estranha quietude assola o refúgio sagrado, transbordando paz e sossego pelas redondezas, pelos solitários caminhos da Judeia, alcançando-se até longe, num manto de pureza e castidade.
Miríades de estrelas fulgentes cintilam no firmamento escurecido, derramando do alto uma profunda e consoladora serenidade, impregnada de odores quentes de amor.
De longínquas terras desconhecidas vêm cavalgando camelos, três poderosos reis do oriente, para adorar o Messias, enquanto guia invisível lhes aponta o caminho a percorrer.
Acocorados junto às fogueiras, os pastores cabeceiam de sono, a fonte cansada apoiada ao cajado de madeira; ao lado em requebros de harmonia graciosa as chamas alteiam-se no escuro da noite, bruxuleando em paradas garridas.
Eis que no silêncio do ambiente se eleva um coro divinal, enquanto a voz misteriosa do arcanjo se faz ouvir para anunciar o nascimento do filho de Deus: “Alegrai-vos porque na cidade de David nasceu o Salvador”. E, assombrados, tiritando de frio, os pastores se ergueram do chão, rumo à estrebaria, que fora o rendado berço do menino - Deus.
Por sobre a terra adormecida um cântico maravilhoso de graças e louvores se espalha levando às almas atribuladas a doce esperança há tanto desejada. E já no estábulo, escondido entre as palhas duma mísera manjedoura, está deitado Cristo, pobre e humilde, carinhosamente acalentado pelo bafo do boi e do jumento, eternas testemunhas da mais sublime virtude.
Foi assim há quase dois milénios….

“Crónica de Natal” – 2

É o Natal a única festa religiosa que conserva a sua pureza antiga, que as fantásticas inovações do tempo e a maledicência humana não conseguiram corromper: é o pináculo das alegrias cristãs. Quando em Belém de Judá Jesus apareceu para pregar à humanidade a doutrina do Bem, da Virtude e do Amor ao próximo, bem longe esteve de ser totalmente compreendido pelas turbas fanatizadas por orgias pagãs. Foi o erro cometido por ímpios de interesses inconfessáveis, que veio a perder o maior e mais belo dos homens. Ficou porém o seu sagrado Evangelho – sublime estratificação de uma doutrina que hoje é refúgio de milhões de almas atribuladas.
O mundo inquieto e desmedidamente louco, esqueceu o que Ele lhe houvera ensinado, para se embrenhar em guerras sangrentas, que desagregam lares e tingem a terra de sangue inocente. E é a criancinha ingénua que, chamando pelo pai ausente pede a paz para o mundo;
é a esposa pelo marido, a irmã pelo irmão e a noiva pelo noivo, um conjunto de vozes aflitivas orando por sossego.
A nós, jovens de hoje, homens de amanhã compete-nos realizar o impossível, se necessário for, para que a paz ao mundo volte. É preciso gente nova com fé íntegra, pronta a renunciar a uma indolente mediocricidade; gente moça que trabalhando ou estudando, esteja apta a alcançar a divina doutrina de Cristo.
Unamos, pois, as nossas preces fervorosas às de tantos que, por esse mundo além, também rezam confiadamente por um mundo melhor, unido no mesmo sentimento de solidariedade e amor a Deus. E talvez que então possamos dizer, com a alma a transbordar de alegria: Glória a Deus no Céu, Paz na terra aos Homens de boa vontade.

Henrique Nascimento Rodrigues

Publicado no jornal”A Huila” 1956

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Colono Poeta- de Geraldo Bessa Victor


“ E na volúpia das danças
O corridinho bailou
abraçado ao socopé,
quando a saudade juntou
na mente do colono as dispersas lembranças
de Algarve e São Tomé
na mesma imagem bonita.

E até o vira do Minho
Se requebrou, com carinho,
No meneio da rebita,
Quando o poeta viu na sua alma encantada
A paisagem minhota misturada
Com trechos de Luanda e arredores.”
Cambamba, Luchazes, 1939

Excerto do “O Colono poeta” in “ Cubata Abandonada”( 1958)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Obra Colonizadora do Português- 1

O Colono… anónimo desbravador da brenha virgem, na aldeola natal ele deixou a jaleca garrida dos dias de romaria;

Saudoso abandonou os pais já velhos e a noiva prometida e, mochila às costas, botou-se mares adentro, rumo aos sertões ignorados das terras novas que à velha terra o Português ia mostrando.

Emagreceu-lhe o rosto lá nesses mundos de perdição; bronzeou-se-lhe a pele à torreira ardente do sol dos trópicos; calejaram-se-lhe os dedos ao romper o solo duro e estranho, mas não vacilou um só instante o seu aprumado engenho de trabalhador infatigável e de homem de têmpera rija.

Machadada a Machadada, derrubou o emaranhado agreste da selva inóspita; sacha que sacha, a fonte perlada de suor e os membros roídos por biliosas curtidas em cabanas de pau-a-pique, ele arcou sozinho com a canga pesada da desilusão e com o travo amargo da derrota.

Depois, na roda dos tempos o tempo rodou.

Obra Colonizadora do Português-2

Cabelos brancos passaram-lhe, então a moldar a fronte rugosa e mãos já trementes abandonaram sobre o solo o arado e a enxada que tinham empunhado de sol a sol.
Outros vieram retomar o fruto nascido do parto do seu esforço ingente;
Gerações novas criaram novas gerações e o colono ficou para trás, esquecido na loucura do futuro e na tontura do progresso.
Sozinho olhou a obra que ele e só ele erguera;
Velho e alquebrado, pendurou o ancinho num prego da parede, largou o ultimo olhar sobre a imensidão incomensurável daquela terra amarga e, cumprida a missão em que se empenhara, ficou descansado na campa fria e sem lápide dos heróis desconhecidos!

Obra Colonizadora do Português-3

Mas a terra que com tanto carinho trabalhara, não lhe negou, contudo, a recompensa almejada: cidades se ergueram na lonjura dos horizontes:

Estradas vieram correndo, como fitas brancas nas verduras do solo, até às regiões escusas do sertão lendário;

Represas e barragens se quedaram através da torrente caudalosa dos grandes rios, o comercio desenvolveu-se, a industria ganhou caminho, a terra inteira estremeceu ao contacto com o desenvolvimento e Angola…essa, ei-la crescida e gigantesca a confirmar, de forma inequívoca, que a cruzada da colonização vingou, numa demonstração eloquente da capacidade do colono português.

Obra Colonizadora do Português-4

VINDE! Vinde olhar o milho dos campos e o trigo das searas loiras;
mirai o café, o cacau, e a borracha, o gengibre e ginguba, o rícino, o sizal e o tabaco, o coração leal da terra que desabrocha em flor para o futuro;
reparai nas gentes e na feição tipicamente portuguesa dos seus modos e costumes;
escutai o chiar das noras, o mugir dos bois nos campo arroteados, o canto dos cavadores no botar e colher as sementeiras;
atentai bem no pequeno e no grande, no mau e no bom, e o vosso juízo não poderá errar na conclusão magnifica que se tira da verdadeira lição que aqui se aprende.
VINDE! Vinde olhar a obra inigualável que se ergueu à custa deles - vereis, como o génio da Raça criou e moldou a terra mais bela e Portuguesa das terras em que a Raça trilhou.


1958 – Prémio literário da secção de ensaio
(Tem Continuação)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Angola -Antigamente

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Notas Políticas( 57)

Na sociedade, se o homem é medularmente cidadão, e como tal sujeito absoluto dos direitos políticos, ele é também (e tantas vezes simultaneamente) detentor de outras vestes:

É trabalhador ou empresário, cientista ou camponês, jovem ou pai de família, produtor ou consumidor

Criam-se, assim, espontânea e livremente, organizações ou associações que reúnem aqueles cujos interesses específicos conduzem a essa agregação.

Estes corpos sociais espelham a vontade dos homens na sua multifacetada procura de estar e de se realizar na vida através da prossecução de interesses que são pessoais e simultaneamente solidários.

Notas políticas (56)

Por outro lado, constata-se que o Estado democrático moderno se vê crescentemente confrontado com a necessidade de dar resposta cabal aos interesses gerais da Nação, através de actuações cada vez mais complexas, delicadas e de trabalhosa articulação.
De facto nas sociedades actuais, perfilam-se, ao lado dos sindicatos de trabalhadores e de empregadores, que são parceiros tradicionais dos governos (e emprego este qualitativo “tradicionais”no seu sentido mais nobre), múltiplos e diversos outros agentes e protagonistas sociais

Notas políticas (55)

Emergiram, cresceram e também reclamam voz activa junto do Estado, exactamente porque sentem representar interesses fundos da colectividade.
Todos, afinal, espelham a sociedade civil multifacetada do nosso tempo.
E por isso são importantes para o equilíbrio da nossa vida em comunidade.
Daí que a lógica dos nossos dias não possa escapar à matriz da interdependência dos interesses, que são à partida, conflituais ou, pelo menos, contrapostos.
Daí também que se imponha uma mediação recíproca desses interesses, feita com racionalidade, em espírito e sob clima de diálogo permanente.

Notas políticas (54)

O Estado só tem vantagem em escutar, dialogar e concertar com a sociedade civil as medidas económicas e sociais cujo alcance abranja e cujo impacto atinja vastos sectores da população.

A sociedade civil, por seu turno, também só tem vantagens em fazer-se escutar pelo Estado e em procurar influenciar licitamente as medidas públicas que concernem a interesses sectoriais.
E de tudo isto resulta a necessidade de concertar posições, e de articular interesses e de consensualizar soluções.

O que exige ética nos princípios e arte nos compromissos.

É verdadeiramente decisivo que cada um e todos venham com espírito aberto ao diálogo e à percepção de que o bom caminho não deve desembocar nem no estatismo, nem no confronto atroz e permanente dos egoísmos sectoriais.

Notas políticas (53)

Exactamente porque a economia de livre mercado não se identifica com a lei da selva ou com a prepotência dos fortes, ela pressupõe sempre uma justa dimensão social.
Não é possível emprestar-lhe esta dimensão sem a interlocução e o responsável protagonismo sindical.
Da mesma forma, as organizações sindicais apercebem-se que não há distribuição possível da riqueza ou possibilidade de criação de empregos sem verdadeiros empreendedores e sem empresas sãs, sem liberdade empresarial responsável e iniciativa criativa, impulsionadora de progresso no respeito pelos direitos humanos e sociais.

Assembleia da República, 28 de Maio de 1992
Excertos do discurso de tomada de posse como Presidente do Conselho Económico e Social

domingo, 12 de dezembro de 2010

Somos como escrevemos

NÃO!

Não consigo escrever mais….

A minha caneta é empurrada pelo amor mas já estou cansado de tanta dor. E a caneta não avança.

Somos como escrevemos muito mais do que somos o que escrevemos.
Eu sou assim. Como a minha escrita. Desorganizado no caminho mas intenso na direcção. Curto. Rápido, que a chegada está já ali e eu não consigo esperar.
Tu não és nada assim (no presente porque a escrita permanece). Eu brinco com as palavras pois o riso cura-me a alma. Ou esconde a dor.

Tu não és assim. Tu és detalhe e sereno na construção, exigente também com as palavras como com as pessoas, de uma ironia sublime porque a inteligência é o tempo na espera que vai do dizer à descoberta do sentido.
Agora a caneta começa a correr pois a tua memória já a alimenta. Mas este texto tem de ser assim. Aos soluços de vida, para trás e para a frente, sem direcção clara. Mas com sentido. Porque é o meu texto. As minhas palavras. Logo eu sei ser melhor nas linhas desenhadas do que nas linhas escritas.

Mas agora não quero desenhar. Não quero que fique no ar vago do entendimento dos meus traços surrealistas. Não me quero esquecer de ti e de ti comigo e por isso não desenho ( aparte aquelas linhas que estão no princípio de tudo o que sou)

Escrevo. Para mim. À minha maneira. Por ti. Em nós.

Nuno, 12 de Abril de 2010

Circulo

Todo o caminho é belo se cumprido.
Ficar no meio é que é perder o sonho.
É deixá-lo apodrecer, no resumido
círculo, da angústia e do abandono.

É ir de mãos abertas, mas vazias,
de coração completo, mas chagado.
É ter o sol a arder dentro de nós,
cercado,
por grades infinitas…

Culpa de quem se fiz o que podia,
na hora dos descantes
e das lidas?

Ah! ninguém diga que foi minha!
Ah! ninguém diga…

Minha, a culpa,
de ter dentro do peito,
tantas vidas!...

Poema de Alda Lara

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MÃE NEGRA

Preludio

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela…

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas tuas mão apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe_negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…

Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada…
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe –Negra não sabe nada…

Mas ai de quem sabe tudo,
com eu sei tudo Mãe-Negra

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar…

Muitos partiram para longe,
Quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando
mãos cruzadas no regaço
bem quieta bem calada.

É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada…

Poemas de Alda Lara Lisboa 1951

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Flexibilidade e Relações Laborais

O termo “flexibilidade, ” entrou, decididamente, no vocabulário político, económico e social.
Claro que também se fala de flexibilidade laboral. À subida galopante do desemprego procurou-se reagir através de várias políticas. E a política do trabalho foi chamada a dar o seu contributo. Infelizmente, os factos encarregaram-se de evidenciar que a crise era mais persistente e os anos tornaram mais visível que se tinha iniciado e estava em curso uma mudança estrutural nas sociedades, cujo desfecho ignoramos.
A flexibilidade impor-se-ia, portanto, como uma exigência para a imperiosa eficiência do mercado de trabalho. A isto subjaz, claro, uma questão de fundo: a quem serve a flexibilidade laboral? Não negaria sob pena de dogmatismo, que ela é globalmente favorável às empresas e provavelmente à economia no seu todo.
Os adversários da flexibilidade encontram, porém, na persistência (quando não no próprio agravamento) dos níveis de emprego um argumento poderoso para a combaterem. E juntam-lhe o do alastramento de situações de precariedade e de degradação das condições de trabalho que, em casos crescentes estão à vista.
Creio que não poderá recusar-se a virtual evidência empírica de que os sucessivos “pacotes” de medidas legislativas, adoptados no domínio da legislação do trabalho e do emprego, não conduziram à regressão do desemprego como pretendiam.
Os ajustamentos estruturais que, sem dúvida, são necessários no tecido económico e as modificações organizacionais e tecno-produtivas que se impõem às empresas dependem muito mais de outros factores do que da flexibilidade do mercado de trabalho.
Neste sentido, sublinharia quão importante é para as empresas poderem desfrutar de um clima macro-económico saudável e consistente. Políticas orçamentais, financeiras e fiscais que não oscilem ao ritmo dos ciclos eleitorais, nem denunciem ziguezagues de cedências perante meros grupos de interesses e em desfavor do conjunto da comunidade, são seguramente muito mais importantes para estratégias empresariais de investimento, de inovação, de qualificação de recursos humanos e ou melhoria nos produtos e serviços que prestam, desejavelmente para mercados mais vastos, do que só a flexibilidade do mercado de trabalho.
Enfim, políticas educativas e formativas com mais qualidade e eficiência, políticas de desenvolvimento regional e de criação ou de ampliação de infra-estruturas básicas, de fomento de redes acessíveis de informação tecnológica são indispensáveis, mais do que um mercado de trabalho desagregado, para que se alcancem níveis de qualidade de vida que ninguém deseja ver regredir
.

Extracto do texto da intervenção em Seminário do Conselho Económico e Social Lisboa 1997

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A importância do diálogo nas relações laborais

Atribuo uma importância decisiva à concertação e ao diálogo entre parceiros sociais e entre estes e o Estado, para que os desafios do presente e do futuro sejam assumidos com consciência e responsabilidade e sejam vencidos em comum, já que comum é hoje o inimigo, que se chama desemprego, injustiça e exclusão social.
O desafio não passa apenas pela flexibilização do mercado de trabalho.
Erigir esta como a “questão das questões”afigura-se-me extremamente incorrecto e redutor.
Estou profundamente convicto de que ir só por aí é ir erradamente.
Avançar para uma democracia plena tem de passar pela participação de empresários e trabalhadores e pelas suas organizações de representação de interesses, não já como inimigos que permanentemente se degladiam e visionam a destruição do outro, antes como interlocutores que se aceitam e respeitam reciprocamente, divergem mas também acordam, discutem mas não se renegam, em suma, perfilam-se como parceiros que descobrem que o futuro colectivo a todos diz respeito.
Mas este é, do meu ponto de vista, um dos desafios nacionais.

Funchal, Maio de 1996

Notas Políticas (52)

........

Não é curial, por exemplo, discutir-se a política salarial sem a enquadrar e relacionar com a política orçamental, … e fiscal, e sem a visionar no ecrã da comparabilidade com as situações dos nossos principais parceiros económicos europeus sob pena de se ignorar um potencial efeito de perda de competitividade e de mercados (reflexos negativos no nível de emprego).

Do mesmo modo, ao pretender-se combater melhor o desemprego, objectivo em si consensual, não será necessário, por exemplo, agilizar o mercado de emprego, melhorar a qualidade de ensino e da formação profissional, explorar novas fileiras de iniciativas de desenvolvimento local, diminuir os custos indirectos do trabalho sem, todavia, desencadear o ciclo vicioso de quebra de receitas e da consequente menor oferta de prestações sociais, elas próprias crescentemente mais necessárias perante a amplitude das exclusões sociais?

As medidas pontuais, as soluções parcelares, as decisões inarticuladas, não são, já, o caminho mais acertado

Excertos de um artigo publicado no jornal “Expresso” em 18 de Junho 1994

domingo, 5 de dezembro de 2010

KuriKutela Duo Ouro Negro

Notas políticas (51)


Só um tecido social coeso suporta a conflitualidade aberta e a cooperação solidária.

Só ele estrutura Estados, Países e Nações com identidade própria.

Sem as liberdades democráticas a soberania do povo não pode exercer-se.
O crescimento económico é um imperativo para combater o desemprego e as situações de marginalidade e exclusão social que, frequentemente nele têm origem.

Chegou a hora de fazer vingar a lógica da entreajuda e da cooperação, na base do entendimento recíproco de que a paz entre todos só é alcançável por um progresso económico são e pela justiça social, num persistente combate à pobreza onde quer que ela exista.

Genebra 1992

sábado, 4 de dezembro de 2010

SAUDADE


A saudade é mesmo a saudade…
Inevitável

Nasce dentro de nós como uma flor
mas depois cresce e lentamente
e parece tão somente uma ligeira dor.

Mas com tempo fica enorme e está presente
em tudo que queremos e fazemos
e em tudo que tocamos e pensamos
mesmo quando parece estar ausente.

Está na aurora azul que contemplamos
e nos poentes em que anoitecemos
Está na paisagem urbana que vivemos
a qual insensivelmente comparamos .

Está no sabor do prato que comemos
na música que às vezes recordamos
cresce dentro de nós que envelhecemos
e punge nesta dor que suportamos.

Ela estraga os nossos momentos de alegria
com lembranças de outrora já esquecidas
e está presente nas coisas mais queridas
como uma coisa triste inerte e fria.


E cresce devagar e se acaso pensamos
que no fim dos tempos a vencemos

Sempre demonstra que afinal nos enganamos
e vem de novo e logo estende os ramos
e bem depressa enfim nos convencemos
que já sabemos que afinal nos enganamos…

A saudade é mesmo saudade.
Inexorável

In “Obra Poética de Neves e Sousa” 1977

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

1º de Dezembro

Vamos ler em baixo o texto de uma intervenção feita pelo Henrique para comemorar o 1º de Dezembro, representando os alunos do Liceu Nacional de Diogo Cão - Escola pública no longínquo planalto do Huíla.


Como gostariamos que o nosso neto mais velho com 15 anos, tivesse, em português e História, uma preparação que lhe permitisse escrever um texto semelhante.

Não basta haver alunos empenhados. É fundamental que haja também professores motivados criativos e mobilizadores.

As novas gerações exigem um ensino de qualidade, como tínhamos há 50 anos. Permitiu-nos, ou entrar rapidamente no mercado de trabalho, ou entrar no ensino superior com capacidade de o terminar com qualificações importantes.

A fotografia foi feita no nosso Liceu em Setembro de 2006 -50 anos depois

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Senhor Governador do Distrito Exmª REV; SNR. Bispo da Diocese Exmas AutoridadesSenhor Governador do Distrito

Mais de meio século de pesado cativeiro, sob o domínio esmagador do Leão de Castela, não foi suficiente para anular um patriótico sentimento nacional, fruto arreigado de uma gloriosa tradição vincada durante séculos contínuos à força da espada e da Fé.

As grandes obras são, na generalidade, o produto de abnegação e sacrifícios de milhões de homens :

A Restauração é o resultado eloquente de milhentas privações de um bendito punhado de portugueses de grei! Marcado com o timbre de eras passadas, o ano de 1640 constitui uma das páginas mais emocionadas e altivas de uma Raça indómita, um dos mais brilhantes capítulos da vida mundial que, por si só, define peremptoriamente a índole de uma Nação sem par na Humanidade.

Remontemos a essa conturbada época, autêntico sudário de desabono, em que o país, asfixiado pela usurpação alheia, se revolvia em estertores de moribundo.
Pelas cinco partidas do globo, em que à custa de suor e sangue, se mantivera imaculado o pendão secular, o poderio português decompõem-se velozmente, tragado por adversários implacáveis – denominadamente holandeses e ingleses – que, mau grado, desbarataram a nossa soberania, reduzindo-nos a pouco menos que mártires.

Por toda a parte do território pátrio se verifica a mesma visão de desamparo e indiferença, como se, deliberadamente, se votasse o reino à incerteza desoladora do Destino. Campos armados, herdades em ruína, a agricultura em abandono assustador – tal é o descalabro pungente que nos é dado verificar com desconsolo.

Encargo mais vexatório era o do contínuo levantamento de contingentes portugueses, que, em paragens distantes, iam verter o seu generoso sangue por uma causa que não era a sua; exigências das mais pesadas eram os impostos fiscais que o reino pagava, obrigatoriamente, ao soberano espanhol, envolvido em uma guerra de desperdício. A miséria das finanças atingira o rubro.
Não havendo dinheiro para se pagar aos soldados, deambulavam estes pelas ruas da cidade, mendigando o caldo gratuito com que matar a fome, sombras irreconhecíveis daquela disciplina militar, que fora apanágio do exercito português.
Os domínios ultramarinos, impossibilitados de auxílio ou de socorros urgentes, tombavam com dignidade, saqueados, em especial pela pirataria holandesa, que já ousara devassar os mares orientais, esse “Mare nostrum”, ainda há tão pouco tempo orgulhosamente patrulhado pelas caravelas da Cruz de Cristo.
Semelhante situação, tão deprimente para um povo que tinha atrás de si uma das mais fulgurantes tradições, fez desabrochar um sentimento legítimo de revolta, de rebeldia indissolúvel e de dever indeclinável, que irá desmoronar o fictício pedestal, em que repousa o vergonhoso cativeiro de 60 anos. Muito embora agonizante Portugal vai erguer o seu clamor de indignação perante essa série de crimes de Lesa – Pátria, levando de vencida, a descendência menos digna do usurpador tirano.

Minhas Senhoras;
Meus Senhores:

As legítimas esperanças, que animam cada vez mais os patriotas, avolumam-se de dia para dia, transformando-se em torrente caudalosa, vibrante de impaciências separatistas. Aproveitando-se inteligentemente da ampla perspectiva mundial, avassalada pela guerra dos 30 anos, os portugueses empenham-se em que a obra gigantesca da ressurreição nacional passe do campo das aspirações para o das realidades. Tem aqui papel meritório a sagaz perspicácia do cardeal Richelieu, empenhado em fomentar uma acção anti-castelhana. E é assim que, em 1628, se dá aquele 1º assomo de rebelião denominado de “Motim das Maçarocas”, em que regateiras e marujos se solidarizaram no mesmo estado de espírito geral; depois é Évora, o Alentejo e o Algarve, o país em peso, na revolta do Manuelinho, clamando contra uma ditadura de sofrimentos e humilhações: É a alma nacional que ergue imperiosamente, para restituir à Pátria o ceptro arrebatado em Ourique e Aljubarrota.

Agravada a situação na Catalunha, fomentadas as adesões contra a prepotência castelhana resolvem os revolucionários arriscarem-se na empresa, que não admitia mais hesitações. Entre quatro paredes mudas, a conspiração toma vulto sem notas divergentes, calorosamente aplaudida por João Pinto Ribeiro, a alma generosa dos patriotas. Com eloquência e fervor, se convida o Duque de Bragança, aparentemente apático a chefiar o movimento; e não obstante a indiferença enganadora a que se votara foi ele, por direito e unânime escolha, o verdadeiro chefe dos portugueses. Não fora o seu espírito cauteloso e feitio prudente, talvez se se tivessem malogrado os intentos dos conspiradores. Felizmente, à providência prouve que o rumo traçado fosse coroado do mais esplendoroso êxito. Aliás, já era impossível hesitar, vacilar ou retroceder: o caminho estava apontado inexoravelmente. E os revolucionários vão para a frente, confiantes em Deus e na imortalidade da Pátria - Mãe. Estava feita a revolução!

Meus Senhores:

Dizer o que se passou nessa manhã pura e alegre do 1º de Dezembro, é-me impossível porque a tanto não me permite o engenho. Aliás obra tão gigantesca como essa, é impossível de descrever em frases de estilo rendado.
De tudo, porém, uma certeza consoladora nos resta: nessa imorredoira manhã, Portugal ressuscita do seu letargo hibernal em “aleluia” ardente e festivo. Destemida e temerária “a ínclita geração de altos infantes” erguerá o pendão da liberdade, para caminhar afoitamente no caminho da honra.
E a roda dos tempos estaca hoje, para prestarmos a devida homenagem a esses egrégios avós, votados pela História à lei da Imortalidade; curvemo-nos pois, respeitosamente, em reverencia agradecida aos bravos de 1640, que, em condições precárias, não se acobardaram perante a chusma intrusa, e com temeridade, ousaram terçar lanças pela LUSA - PATRIA

(Discurso proferido na sala do Teatro “Odeon” de Sá da Bandeira com a presença das mais altas individualidades do Distrito, no dia 30 de Novembro de 1956)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Notas Políticas (50)

O problema do desemprego, exige uma mudança individual e social.
E esta implica o desafio de reconciliar o Estado e o cidadão, o económico e o social, o mercado e o trabalho, o ambiente e a terra, os valores de identidade histórica e a descoberta de direitos e deveres novos que recoloquem o homem como pólo de identidade e de realização de si próprio e dos outros.

Eis-nos defrontados com o nó górdio de produzir uma mudança cultural.
Sem esta não haverá solidariedade social no respeito pela liberdade.
Nesta co-responsabilização de todos está a chave do sucesso deste enorme desafio.
Porque é essa responsabilidade individual e solidária o húmus da coesão nacional.

Lisboa 1995

Notas Políticas (49)

A Democracia não se esgota nos partidos políticos, não se fecha nos parlamentos e não se reduz a eleições livres e periódicas.

A Democracia representativa não pode dispensar a participação empenhada dos cidadãos.


Mas quando o sistema de representação partidária abre brechas, a confiança dos cidadãos nos dirigentes políticos por eles escolhidos é abalada, quando despontam preocupantes fissuras no tecido social – não há”clima” propício a práticas de consulta, participação e diálogo social.
Não existe riqueza de uma nação com ambiente de degradação social.

Lisboa 1995

domingo, 28 de novembro de 2010

Revisitar o passado - compreender o futuro.

Até às primeiras eleições livres, em 1976, o País experimentou seis Governos provisórios.
Entre 1976 e 1985, Portugal viveu a experiência, de um total de nove Governos, com uma duração média de doze meses. (Das eleições de 83 emergiu um governo de coligação PS/PSD, dito “Governo do Bloco Central”).
Portugal viu-se obrigado, então, a negociar com o FMI um programa de estabilização, cujos resultados se revelaram positivos para o estabelecimento do equilíbrio externo, que tinha atingido níveis insustentáveis.
Sob este pano de fundo de permanente instabilidade política, de inflação crescente e fortemente corrosiva do poder de compra dos salários, aumento alarmante do desemprego, não estavam criadas as condições mínimas para se suscitar o diálogo social.
Em 1984 é criado o Conselho Permanente da Concertação Social – órgão destinado a promover o diálogo e a concertação social tripartida
Os parcos resultados obtidos nesses primórdios de vida do Conselho estão muito longe de ilustrar o “clima” de nascimento de uma compreensão mútua entre o poder político e alguns parceiros sociais, que se conseguiu fazer irromper após anos e anos de instabilidade, falta de confiança generalizada, de ausência de empenho concertado para enfrentar as dificuldades e encontrar pistas de solução colectiva.
O Governo de coligação foi dissolvido em 1985 e na sequência das eleições parlamentares desse ano formou-se um Governo minoritário do PSD.
Em Portugal os acordos de concertação social nunca foram verdadeiramente formalizados em situações de grave crise económico – social, e não revestem portanto, o sentido de “pactos de salvação nacional”.
Será possível, então esboçar um juízo global sobre o valor da experiência concertativa portuguesa?
A minha apreciação está muito próxima da de Cavaco Silva. Sem sacralizar a concertação social, entendo que ela é antes do mais, um método ímpar de aprofundamento democrático, pela participação dos parceiros na esfera estatal da política económico-social e pela ilustração do dever de diálogo a que os governos não se devem furtar. Isto, todavia, no pressuposto inafastável de lealdade e boa fé por parte de todos os intervenientes na negociação tripartida.

( Extractos do texto de uma conferência proferida no Conselho Económico e Social de Espanha Abril 1996)

sábado, 27 de novembro de 2010

Cuidei

Cuidei que tinha escapado
e afinal também morri.

Olhei perplexo no espelho
olhei para mim e não me vi.

Morri por dentro um pouquinho
todo o tempo que vivi…

Deixei que a raiva acalmasse
deixei que a dor esquecesse
já olvidei o que perdi…

Morrer sim, mas devagar,
é uma velha tradição.

Deixei o fogo apagar
deixei a terra esquecer
é a pátria a entardecer
é o morrer devagar.

Cuidei que tinha escapado
e afinal também morri.

In "Obra Poética de Neves e Sousa" 1979

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Notas Políticas (48)

Mesmo quando as negociações falecem, é sempre possível retirar delas potencialidades não despiciendas.
Cada parte terá entendido melhor, ainda que não aceitando, as razões das outras partes.
O contacto directo e pessoal abre a porta a uma cordialidade humana, ou, pelo menos, a uma convivialidade civilizada que fomenta laços de respeito, perduráveis por sobre as divergências e os choques de opinião e de interesses.
Por isso, é importante que os relacionamentos pessoais não se rompam, nem se transformem, eles próprios, em bloqueios.
Porque os bloqueios sociais pagam-se caro.


O acordo ao mais alto nível, até pela mediatização de que é objecto, também sensibiliza e predispõe a opinião pública para um clima de distensão social e de maior confiança, mesmo se uma parte não subscrever os acordos.

Lisboa 1994

Notas políticas(47)

No xadrez extremamente difícil e melindroso em que se joga o crescimento da nossa economia, a competitividade das nossas empresas e de outras instituições, a redefinição das funções do Estado, o reequacionamento de uma rede adequada de protecção social financeiramente sadia, e o reequilíbrio do mercado de emprego, a concertação social estratégica tem, o seu maior desafio de sempre.

O antagonismo que alguns, hoje, invocam entre o direito do trabalho e o direito ao trabalho não se resolve senão pela harmonização entre ambos.

Aqui, estará porventura, a tarefa mais árdua e o objectivo mais nobre da concertação social:ajudar a garantir a aspiração imemorial da dignidade humana, através do direito e do dever do trabalho
.

Lisboa 1994

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Compreender a greve geral

O movimento sindical é sempre um movimento social de trabalhadores, visando a defesa dos seus direitos e a promoção dos seus interesses.

Existe um certo entendimento da relação entre a defesa dos interesses dos trabalhadores e o sistema social presente, entendimento que se articula, lógica e necessariamente ainda com um projecto de futuro.

A luta política tem por objecto específico a conservação ou aquisição do poder e, essencialmente, do poder do estado.
A luta sindical tem por objectivo a melhoria das condições de vida dos trabalhadores.
Mas como estas condições dependem do tipo de poder político existente ou a criar, instaura-se aqui um nexo de relação entre a acção política e a acção sindical.

A partir do momento em que as sociedades actuais são sociedades em que o poder político corporizado no Estado e no seu aparelho atribui a este acrescidas responsabilidades no domínio económico e social, pode o sindicalismo desinteressar-se dos programas da política e do comportamento dos partidos políticos?

A luta laboral não se trava hoje entre patronato e sindicatos, isto é, a luta reivindicativa não se joga apenas a dois visto que, directa ou indirectamente, o Estado está presente e pesa, embora de maneiras diferentes, na solução dos problemas.

O sindicalismo actual encontra-se assim face à necessidade de ter uma intervenção na vida política, a qual se concretiza sob formas variadas: petições, intervenções públicas, manifestações, tomadas de posição etc.

Se os partidos políticos são organizações que visam conquistar o poder com vista a gerir a sociedade de uma certa forma – forma essa que tem a ver com o interesse dos trabalhadores, parece ser inviável ao sindicalismo, alhear-se da existência dos partidos políticos.
Lisboa 1982

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Modernização da Economia

A modernização da economia não passa apenas pela renovação das fábricas, pela aquisição de sofisticados equipamentos, pela introdução de novas tecnologias, pela captação de novos mercados, pela melhoria da qualidade dos produtos ou dos serviços, pela eficiência da Administração Pública ou pela eliminação das constrições de variada natureza a que, pesada e inutilmente, muitas vezes estão sujeitas as empresas.

E não basta também, proporcionar-lhe um enquadramento macro-económico e um clima social fundado em políticas sustentadas, geradoras de confiança e propulsoras de estratégias de médio e longo prazo, que não tenham de esbarrar em “ziguezagues” de eventuais políticas públicas ciclicamente contraditórias

Se tudo isto é, de facto, muito importante, não restam dúvidas, porém, de que, no actual contexto da economia global e face ao desafio permanente de melhoria da competitividade, o factor mais determinante de afirmação e de combatividade de cada país no concerto internacional repousa na qualidade dos seus recursos humanos.
Por maioria de razão assim o terá de ser em Portugal, visto que sofremos neste campo de carências muito mais profundas.
Esta necessidade imperiosa de requalificação dos nossos recursos humanos atinge todos os sectores profissionais e implica com todas as áreas de conhecimento.

A gestão desses recursos terá de ser também, mais qualificada e mais ajustável, porque os tempos serão outros e os homens assumirão comportamentos e respostas diversificadas na vida profissional e na sociedade.
Será, no futuro, técnica e socialmente mais exigente, mais ágil na previsão e na prevenção, humanamente mais complexa, visto que também por ela passa a luta contra a exclusão social de que o desemprego constitui uma das causas fundamentais.

Lisboa 1994

domingo, 21 de novembro de 2010

As palavras perdem-se nas folhas dos tempos.

As obras, essas, são o empedrado do futuro.


Lisboa, 28 de Maio, 1992

Cabo Verde 1963 Parte 1

Na década de 60, o nosso Ouvidor do Kimbo apaixona-se pelas filmagens utilizando películas de 8mm.

Com a câmara regista as mais belas recordações da sua África.

Mandou – os digitalizar para poder utilizar os filmes no blogue, e contar as suas memórias.

Temos pronto um filme por ele realizado no arquipélago de Cabo Verde durante as férias.

Decorria o ano de 1963.


Por razões técnicas será editado em quatro partes.

É mais uma estória uma recordação do Ouvidor do Kimbo

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Exílio

Por exílio se entende
Estar ausente
De alguma coisa
ou talvez de alguém.
Mas estar distante
Do que se sente
É, finalmente,
Exílio também

Obra Poética de Neves e Sousa 1959

NOTAS POLÍTICAS (46)

O investimento exige estabilidade política e equilíbrio social.

Equilíbrio social no sentido de que, importa promover e conseguir um esforço colectivo e mais consensualizado para a consecução dos grandes objectivos do nosso País.
O desenvolvimento económico e a justiça social não se alcançam sem uma partilha equitativa de direitos e responsabilidades entre todos os agentes cuja acção possa contribuir para o processo de transformação social e económica.
A partilha não pode ser feita, porém, autoritariamente, e, não deve ser conquistada fora de um quadro de solidariedade nacional.
É necessário, pois, que as atitudes concretas dos sujeitos institucionais - nomeadamente, o Estado, o empresariado e os sindicatos – se inspirem numa clarificação do papel de protagonistas do progresso económico e social que lhes cabe.
E que essa clarificação tenha em conta a necessidade absoluta de uma concertação de esforços e de medidas sem prejuízo da autonomia de cada parte. Não se antevê via mais democrática, civilizada e apropriada para se responder colectivamente à crise e se gerar um futuro de facto mais livre e mais justo para todos os cidadãos.

Lisboa 14 de Julho 1981

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

NOTAS POLÍTICAS (45)

Somos um muito antigo País da Europa, com uma identidade nacional secular, forjada no encontro com outras civilizações e caldeada pelo diálogo com outras culturas, cujos valores em grande parte os portugueses acolheram e fizeram seus.
Saberei eu, nesta hora, transmitir-vos a mensagem da unidade essencial do Homem, falar-vos a linguagem do entendimento, expressar-vos as minhas preocupações e, ao mesmo tempo, as minhas esperanças quanto a um futuro melhor?

Neste velho continente, despontam manifestações de xenofobismo, reacções de intolerância, impulsos de egoísmos concentracionistas, como a prenunciar mais convulsões.

Não são, estes, sinais iniludíveis de fundos e sérios desequilíbrios em muitas das nossas sociedades? Não sou pessimista, pelo contrário. Ser livre está impresso na alma dos homens.

Genebra 3 de Junho de 1992

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Aviso do PSD

Há várias formas de se deixar perder ou desgastar a democracia.
Nunca fomos, não somos e não seremos, nem coveiros, sequer inconscientes, nem carpideiras de inútil choro tardio.
Quando está em causa a conquista de uma estabilidade democrática, impõe-se, mais do que nunca, não recear as acções de intimidação, e justifica-se, não permitir que o silêncio, ou as meias palavras envergonhadas, sejam interpretadas como cedência ao plano de inversão da democracia porque lutamos.
Nós, PSD, assumimos a nossa responsabilidade.
Assumimo-la com toda a transparência, com toda a isenção, com toda a tranquilidade.
A nossa resposta, a resposta de todos os democratas, não pode e não vai ser nem temerosa nem equívoca.
Os sociais - democratas não têm dúvidas sobre a sua resposta que vai exprimir-se sem medos que não se justificam, sem exaltações que nunca são timbre de democratas firmes e por isso serenos, sem hesitações ingénuas que misturem o essencial com o acessório e que confundam os planos, diferenciados, da defesa do regime democrático e da oposição legítima à actuação governativa.
Portugal será democrático, o caminho da estabilidade, da paz, da recuperação económica e da justiça social não será arredado.

Lisboa Fevereiro de 1982

sábado, 13 de novembro de 2010

QUISSANGE-SAUDADE NEGRA

Não sei, por estas noites tropicais,
o que me encanta…
se é o luar que canta
ou a floresta aos ais…

Não sei, não sei, aqui neste sertão
de música dolorosa
qual é a voz que chora
e chega ao coração…

Qual o som que aflora
dos lábios da noite misteriosa!

Sei apenas, e isso é que importa,
que a tua voz, dolente e quase morta,
já mal a escuto, por andar ausente,
já mal escuto a tua voz dolente…

Dolente, a tua voz “luena”,
lá do distante Moxico,
que disponho e crucifico
nesta amargura morena…

Que é o destino selvagem
duma canção que tange,
por entre a floresta virgem
o meu saudoso “Quissange”.

Quissange, fatalidade
deste meu triste destino…
Quissange, negra saudade
do teu olhar diamantino.

Quissange, lira gentia,
cantando o sol e o luar,
e chorando a nostalgia
do sertão, por sobre o mar.

Indo mares fora, mares bravos,
em noite primaveril
acompanhando os escravos
que morreram no Brasil.

Não sei, não sei,
neste verão infinito,
a razão de tanto grito.

-Se és tu, oh morte, morre!

Mas deixa a vida que tange
exaltando as amarguras
e as mais tristes desventuras,
do meu amado Quissange!

(Poema de Thomaz Vieira da Cruz, in “Quissange Saudade Negra”)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Permanece em mim

NÃO!!!

Não consigo deixar de gritar.
A dor é tanta que parece que nos sufoca, nos engole.
Já são tantos segundos depois do segundo antes que não sei quantos mais segundos vou aguentar.
“Permanece em mim. Permanece em mim. Permanece em mim.”
A música ecoa pelas paredes frias da Igreja e o meu grito de dor ecoa pelo meu ser sem fim à vista.

NÃO!

Permanece em mim.
Não quero esquecer o teu sorriso, a tua cara, as tuas barbas, o teu olhar infinito.
Toco o teu rosto frio e o meu coração gelado aquece.
Será que valeu a pena pai? Ter permanecido? Ter aguentado tudo?
Ninguém percebeu. Não passar a linha, nem à custa da própria vida.
Pelo país, pela causa pública, pelas suas convicções, pela democracia…
Mas que liberdade é esta onde não existe inteligência.
Mas que liberdade é esta onde não existe sentimento de algo maior.

Não!

Ninguém percebeu que mais uma vez não estava a falar de si. Estava a falar de todos nós.
Por algo mais importante que os partidos.
Por algo mais importante que o pai, que os filhos, que os netos, que a própria vida.
Estava a falar pelo futuro de todos. Pelas regras. Pelas linhas. As que definem o campo de jogo.
Não! Ninguém percebeu.
Mas o pai sabia.
E na sua tranquilidade habitual lutou com os actos e as palavras mesmo que soubesse que ninguém ia perceber.
Mas nós percebemos.
Sofremos ao seu lado sem nada dizer. Eu do outro lado da fronteira mas junto de si pelo ar entre nós.
Mas nós percebemos.
E o pai sabia que era assim. Que nos estava a falar com palavras não ditas. Com actos de um amor maior.
Aqueles que nós percebemos.
Aqueles que por isso permanecem em nossos corações.
E esses estão acima de tudo. Esses permanecem em mim.
Para lá das frias paredes da Igreja.
No calor do meu coração
Permanece em mim.

A 12 de Abril de 2010,
Há 7 meses,
O Nuno escreveu.

Permanece em nós.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Que Resposta Social – Democrata?

Nesta hora crucial de uma mudança talvez, de paradigma civilizacional, nesta encruzilhada decisiva em que se joga o futuro da Europa e do nosso País, nós social-democratas, temos o dever de não nos envergonharmos de o ser.
Pelo contrário: temos o dever e o direito de proclamar que continuamos fieis aos valores imutáveis de preservação da dignidade de cada homem e de todos os homens, aos princípios da liberdade e da solidariedade activa, às atitudes de abertura à inovação – o que é diferente de corrida às «modas» conjunturais – de rigor ético, de correcção de comportamentos, de valoração do espírito, de livre empreendimento e de mercado livre, sem prejuízo, nunca, de intervenções correctivas do Estado, quando as regras do mercado tenham como consequência a destruição da coesão económica e social de uma sociedade justa, democrática e progressista.

Estes são princípios e valores de que não devemos abdicar nunca na linha da social-democracia portuguesa.
Uma social-democracia que não é tecnocrática, porque seria desumanizada – mas que é, e tem que ser cada vez mais, reflectida, dialogada, permanentemente posta à prova pelo estudo, pelo trabalho sério, pela dúvida de quem sabe que não sabe tudo e, provavelmente até sabe pouco.

Uma social democracia que, por outro lado, sabe também quanto ilusório e nefasto é pretender dar satisfação populista a anseios dos cidadãos, através do aumento desmesurado dos déficits públicos, da sangria da poupança nacional, da manutenção de privilégios corporativistas – porque essa via, tão típica do socialismo, mesmo «aggiornato», a nada conduz senão ao sacrifício da geração futura, quando não, desde logo, ao sacrifício da nossa própria geração.


Lisboa, 5 de Maio de 1994

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tempos de Crise

Uma economia sã não é apenas uma economia competitiva.
É também, e necessariamente, uma economia de solidariedade humana.
Uma economia do homem e para o homem.
Não é pensável regredir a épocas de escravatura e a tempos de exploração.
Os direitos do homem não são apenas políticos, económicos e culturais.
São também sociais.
Onde não houver direitos sociais, não há verdadeira democracia, não há dignidade humana.
Não se caia no erro grosseiro de se imaginar que a liberdade pode subsistir sem a justiça e a solidariedade social.
É certo que os actuais sistemas de protecção social dão mostras evidentes de derrapagem.
Terão de ser, por isso, repensados e reequacionados, mas não eliminados, sobretudo em relação aos mais desprotegidos.
A democracia exige, cada vez mais, transparência, diálogo, concertação, informação séria, consulta cooperativa e construtiva. Alternativa a isto seria a perda da própria democracia e da liberdade. Teríamos então de recomeçar o combate da luz contra as trevas.
Mas a minha palavra final não aponta nesse sentido de desesperança.

Estou confiante que, nós, Portugueses, saberemos mudar, renovar e progredir, económica e socialmente, política e culturalmente, no espírito humanista e de tolerância que nos individualiza e caracteriza – como um pequeno País, uma grande Nação e um Povo digno.


Luso, 14 de Dezembro de 1993

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Há 36 anos - Esperança

















Há 36 anos, 6 semanas depois da revolução de de Abril, o Henrique recebe este cartão da Engenheira Maria de Iourdes Pintassilgo.

Por ele prepassa a entrega genuina, e talvez demasiadamente pura, com que muitos se dedicaram à tarefa de modificar esta nossa Pátria, no sentido mais nobre do termo.

O que falhou nesta nossa longa caminhada? O que deixamos pelo caminho?

sábado, 6 de novembro de 2010

O VALOR DO TRABALHO

"O desemprego representa um desperdício dos recursos humanos de um País, afronta a dignidade pessoal de cada homem, é uma limitação da liberdade individual e corrói, a prazo, a ossatura social da comunidade que somos todos nós.
A dinamização da economia é um imperativo para o aumento dos postos de trabalho e para a manutenção dos validamente existentes.
Sem investimento, (e este exige um clima de confiança política, de estabilidade governativa e de normalidade social), não será possível o aumento dos postos de trabalho e a consolidação dos já existentes.
Mas os postos de trabalho devem ser produtivos, devem constituir um factor de desenvolvimento económico e não um bloqueamento.
É uma ilusão, que se vira contra os próprios trabalhadores, pretender a segurança à custa de soluções artificiais, que nada mais representam do que a agonia conducente ao desemprego.
A produtividade, indispensável ao aumento do investimento, depende de todos os factores de produção e não apenas dos trabalhadores.
Nós somos – nós temos de ser – solidários com todos aqueles que em vão procuram um trabalho digno, e com todos aqueles que preocupadamente sentem hoje a fragilidade dos seus postos de trabalho.
Tem de haver um «amanhã» melhor para esses homens, mulheres, esses jovens.
 Porque eles são um potencial humano capaz de impulsionar o País, na força desesperada dos que por não terem trabalho, sentem incisivamente o valor desse mesmo trabalho.
 E também, e sobretudo, porque nunca haverá justiça onde grassar o desemprego."


Lisboa Maio de 1981

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

NOTAS POLÍTICAS (44)

Seria lastimável para todos, para além do empobrecimento do sucesso alcançado,
e contrário ao espírito de conjugação de esforços evidenciado,
que, agora, nos desgastássemos na contagem das folhas de um ramo,
sabido que as árvores têm tantos ramos e a floresta tantas árvores….


Novembro de 1990

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NOTAS POLÍTICAS (43)

Como é que se pode falar em democracia política, económica, social e cultural quando

persistem privilégios seja de quem for?

Há que actuar em coerência com as ideias que se defendem.


As reivindicações sócio – laborais não podem perder de vista o condicionalismo económico.


Simultaneamente, o desenvolvimento e modernização da economia devem ter em vista a

satisfação das necessidades humanas e a redução das desigualdades sociais.

15 de Janeiro 1981

NOTAS POLÍTICAS (42)

O sentido da solidariedade comunitária encerra o nobre alcance e potencia os efeitos
reciprocamente vantajosos de uma caminhada em conjunto.
Mas isso significa percorrê-la sem o atropelamento de uns ou o desfavorecimento iníquo de outros.
Visão idílica, esta?
Talvez.
No entanto, na longa sinuosa e, afinal, exaltante história da edificação desta Europa,
não é verdade que o ideal foi chama que em certos períodos esmoreceu – mas nunca se apagou?


In «Expresso» 04-05-1991

NOVEMBRO


A saudade desses dias soalheiros, neste Novembro sem esperança, não conforta, desespera. 
Ao bater do coração, foram manhãs de alegria, de sorrisos abertos, de momentos renascidos, de uma vida renovada, reconquistada.

Foram tardes de redescoberta doutros momentos,
doutras épocas, doutras eras.
Foste Tu outra vez, num reencontro feliz com a tua
própria essência.
E acreditaste.
Projectaste. 
Sonhaste.
Escreveste de novo, livre, sem condições, ao sabor do vento que no momento soprava.
Nós aqui ficámos, sonhando o teu sonho, esperando - sem esperança - o teu regresso.
Mas - muito mais do que isso - agradecendo o teu legado.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A ACTUALIDADE DO SINDICALISMO

Para que servem os sindicatos?


São ainda, agentes de democratização e Justiça?

Como sempre, eles são instrumento de Justiça social.


Não o conseguirão ser, porém, se não forem firmes nos seus princípios e nos seus valores.



A primeira questão é esta: não abdicar de princípios, não trocar valores por euros.

Um sindicato não é um mero negociante no mercado de trabalho – é um agente de defesa da dignidade do trabalhador como pessoa e um instrumento de coesão social e nacional.
Neste papel, o sindicato não pode ser acomodatício, tem de lutar.
Mas a luta laboral há-de ser justa.

Hoje, a mudança societária é de tal ordem que se verifica, frequentemente, que a greve não causa qualquer prejuízo à entidade patronal, mas, sim, aos cidadãos (greves nos transportes públicos, nos sectores públicos da saúde, da educação, das contribuições, etc.).
Isto coloca a questão dos princípios e dos valores.
Os sindicatos de hoje não podem viver dentro de uma campânula.
Pertencem à sociedade democrática.
Tal como os partidos e outras instituições nucleares da democracia, têm de ganhar o respeito dos cidadãos em geral e não apenas os votos dos seus associados.

Cabe-lhes captar militantes, conquistar simpatizantes, alargar a esfera da sua acção muito para além das negociações colectivas salariais.
Juntar-se a organizações de defesa dos direitos humanos, apoiar os emigrantes, cuidar dos jovens que entram no mundo do trabalho, não esquecer os reformados, promover a igualdade de direitos – na defesa do bem comum.

E renovar os seus quadros, formar novos dirigentes, reflectir e debater autonomamente as questões do nosso mundo e do nosso País, sem preconceitos e chavões, num espírito de humanismo e solidariedade

E não podem deixar-se capturar pelo universo partidário.

Esse é o sindicalismo que precisa de ser hoje para permanecer amanhã.
H. Nascimento Rodrigues

Publicado in «Jornal de Notícias» 21 de Novembro 2002
Pode ver o texto completo no site « Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade»

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

A experiência política de Cavaco Silva constitui uma garantia de que é ele o candidato que melhor pode inspirar os portugueses para um futuro em que devemos ter mais confiança nas nossas próprias capacidades.

É, ou não verdade, que sempre Cavaco Silva defendeu a estabilidade política e a harmonia institucional entre os diferentes órgãos de soberania?
Exactamente porque sempre defendeu os valores da estabilidade do nosso sistema político;
Exactamente porque conhece de saber prático, e não de cartilha de manual, quanto pode custar ao país a instabilidade;
Exactamente porque sabe, quão decisivo é para os próximos anos uma cooperação institucional e estratégica com o Governo, a Assembleia da República, as forças políticas e os agentes económicos e sociais do país;
Cavaco silva é o candidato que preenche as melhores condições para garantir soluções de convivência salutar e de confiança no respeito recíproco dos poderes legítimos dos vários agentes políticos.
São razões objectivas, as que referi.
Permitam-me, porém, que lhe acrescente uma razão de natureza pessoal.
Trabalhei com Cavaco Silva como membro da sua comissão política enquanto foi líder do PSD.
À honestidade pessoal que ninguém em Portugal lhe recusa;
À vontade e à coragem de decisão que muitos lhe reconhecem;
À competência e à experiência profissional que outros tantos não lhe negam;
Eu posso afirmar, pelo contacto que com ele mantive, que a sua personalidade não é de um autoritário, ou de um insensível.
Vamos escolher entre personalidades políticas, é certo.
Eu já escolhi: a personalidade política de Cavaco Silva.
Mas escolhi também a pessoa humana que conheço em Cavaco Silva.

Por isso meus amigos, decidi votar nele e nele por Portugal.


Excertos de uma intervenção feita em Évora a 20 de Dezembro de 1995