quarta-feira, 28 de março de 2012

ÉS



 És o meu porto de abrigo.
Por ti,
icei a âncora
do meu barco à vela,
de velas prenhas de vento,
prenhas de gente,
com amor lá dentro e
fiz – me ao mar.
Em mar bravio,
soprou o vento,
e por ti,
meu porto de abrigo,
mantive o rumo,
do meu barco à vela,
de velas prenhas de amor
com gente dentro.


A PAZ É QUE O POVO CHAMA

terça-feira, 27 de março de 2012

NOTAS POLÍTICAS (96)


“Eu aceito sinceramente os que, situando-se num plano democrático contestam a coligação PS/PSD e sinto-me no dever de acolher com o máximo respeito, embora as não perfilhe, as razões de fundo dos que, no interior do nosso partido, nas instâncias próprias e por meios transparentes, entenderem posicionar-se contra a decisão tomada. É curial que prossigam o seu combate político.
Mas não aceito os que se encapuçam sob pseudónimos e os que confundem luta política democrática com maledicência personalizada, boato de coluna de mal-dizer, deturpação intencional de factos e, até, achincalhamento de pessoas. Isso é que é lamentável. Temos o dever de o combater frontalmente, porque por ali não se faz democracia.
IN “O Povo Livre” 14 de Setembro de 1983

DOCUMENTO GONELHA/NASCIMENTO RODRIGUES


A formação do Bloco Central foi um dos processos negociais partidários mais relevantes em que o Henrique participou activamente. Depois de dias “a partir pedra”, como costumava dizer referindo-se a negociações, chega a um acordo com o PS (representado por Maldonado Gonelha), sobre a política laboral do futuro Governo. Foi o acordo conhecido por acordo Gonelha/ Nascimento Rodrigues. (divulgado pelo Jornal “ O Tempo” 2/6/83)
“ No âmbito das negociações em curso entre o Partido Socialista e o Partido Social-Democrata….. Nesta reunião foi analisada a política Laboral e Social, tendo-se concluido haver uma margem de convergência muito larga e acordado o seguinte:
1.Haver necessidade de ser institucionalizada uma Política de Concertação Social
2. Criar uma instância superior de representação plural de interesses colectivos (tipo Conselho Económico e Social)…. e continua por mais 7 páginas.
Este acordo mereceu larga contestação da parte da UGT, designadamente do seu Secretário Geral o que levou o PS recuar em relação ao que tinha sido acordado. Estava em causa a possível liberalização dos despedimentos individuais.
Durante 48horas tremeu-se pelo futuro do Governo do Bloco Central.
Mota Pinto afirma :“ Uma Central Sindical é apenas um parceiro social e não uma entidade que possa mandar no Governo”. Mostra-se disposto a enfrentar a UGT e o PS e diz: “que não assina este projecto de acordo com o PS, nem está inclinado a fazer parte do Governo, ou a contribuir para a coligação governamental, enquanto os socialistas não derem garantias sólidas e públicas de maior clareza de intenções relativamente a aspectos tão importantes como o da legislação laboral.”
IN " O jornal 2 de Junho de 1983 
 O Henrique apoia Mota Pinto neste braço de ferro.

segunda-feira, 26 de março de 2012

NOTAS POLÍTICAS (95)


"Acredito que as pessoas compreendem esta necessidade imperiosa de o governo levar a cabo uma política de recuperação que passa, transitoriamente, por medidas que afectam o nosso nível de vida. Importa, sim, que se explique devidamente o porquê e para quê. E, sobretudo, que a todos os níveis da direcção do país se dê o exemplo. Creio que podemos ganhar a aposta".
Setembro de 1983

NOTAS POLÍTICAS (94)


“Mas vamos entrar agora num período mais difícil. Por um lado porque os efeitos das  medidas adoptadas far-se-ão sentir com mais acuidade no nosso dia- a- dia, por outro lado, porque há áreas em que terão de ser tomadas medidas de repercussão muito sensíveis. É fácil explorar o desagrado nessas circunstâncias, mas para isso há o antídoto de uma política coerente de verdade e de justiça. A nossa resposta tem de ser dada cumprindo a esperança dos que em nós votaram.”
Lisboa 14 de Setembro de 1983 IN “ O Povo Livre”.

NOTAS POLÍTICAS (93)


“Não creio ser ousado prognosticar que há riscos eminentes de retrocessos, fundos e dolorosos, na caminhada de democratização e de desenvolvimento encetada por muitos países nos últimos anos.
O que não é possível é distribuir o que não existe. O que não é possível, é deixar degradar a realidade social em benefício apenas de alguns. A degradação social nunca conduziu ao progresso, é o espelho escancarado da injustiça e o germe larvar da destruição da paz entre os homens e os povos."
Lisboa 2 de Junho de 1995

ESTADO – PROVIDÊNCIA, O RUBICÃO


A 9 de Junho de 1983 toma posse o IX Governo Constitucional. A 23 de Julho o Henrique afirma, numa reunião com militantes, em Torres Vedras: A recuperação de Portugal só é possível com o trabalho de todos os Portugueses e a compreensão para aceitar medidas que impliquem sacrifícios”.
Mais tarde, pouco tempo antes de partir para a Guiné – Bissau em missão da OIT respondia, assim, às perguntas do órgão oficial do PSD, “O Povo Livre”:
Povo Livre – Falou da crise internacional e interna. Na perspectiva social – democrata quais são as compensações sociais a implementar como contrapartida da austeridade?

Nascimento Rodrigues - Na situação com que nos defrontamos não me parece que seja avisado encarar o conteúdo das prestações sociais pela mesma forma por que era encarado há uns anos. Verifico que ocorrem restrições e recuos em praticamente todos os países, mesmo nos de economia desenvolvida e sob governos de tendência não conservadora. Altas taxas de desemprego, normas salariais imperativas, taxas moderadoras na saúde, etc. são situações que se vêem por essa Europa fora. O “Estado – Providência” confronta-se com esse rubicão de não lhe ser possível distribuir mais.
Não se deve, portanto, esperar do Estado o que não é viável que o Estado conceda. E isto põe-nos o problema de saber o que é que cada um de nós, na sua individualidade sagrada e na sua inserção social histórica, deve fazer para que se criem laços e mecanismos de uma solidariedade social efectiva. Porque é nesta que repousa o mais sólido fermento de um progresso equitativo.”
IN "O Povo Livre" 14 de Setembro de 1983

sexta-feira, 23 de março de 2012

A CAMINHO DO BLOCO CENTRAL


Legislativas de 25 de Abril de 1983. Já não concorre a AD. Este facto permite que o PS ganhe as eleições (36,1% dos votos-101 deputados). O PSD fica-se pelos 27,2% (75 deputados). O CDS elege 30 deputados enquanto a APU fica em 3º lugar com 44 deputados. Significa que em termos de aritmética pura  PS/PCP têm maioria parlamentar.
É necessário negociar com o FMI, uma política de austeridade. Vive-se em situação de bancarrota eminente. Quem aceitar formar Governo vai passar um mau bocado.

 “Nascimento Rodrigues disse, durante o debate televisivo, queos resultados do PSD dão uma satisfação relativa”.
O dirigente social democrata recusou-se a responder às insistentes perguntas de Margarida Marante sobre se o PSD aceitaria formar Governo com o PS, respondendo sempre que compete ao partido mais votado tomar as iniciativas políticas” e sublinhando  “é ao PS que compete definir as suas políticas de alianças”.
“ Esperamos que os partidos democráticos se entendam para que possa ser encontrada uma solução rápida e positiva de Governo para Portugal”.
O dirigente social – democrata atribuiu os resultados eleitorais do seu partido “ao desgaste provocado pela presença no Governo e à conjuntura de crise económica nacional e internacional”
“Na mesma mesa redonda, a intervenção final do vice-presidente do PSD valeu todo o debate. Foi frontal, serena e dura, nomeadamente nas críticas que dirigiu a Jaime Gama. Às quais o representante do PS não respondeu, decidido que está na preparação do bloco central, seja a nível de um acordo de Governo ou apenas de incidência parlamentar.”
( IN “A Tarde" 26 de Abril 1983).

A 7 de Maio o líder socialista envia uma carta ao vice – presidente social-democrata, Mota Pinto, convidando-o para negociações com o objectivo de “ viabilizar um acordo político, parlamentar e governamental” de legislatura”. Meta desejada: um Governo maioritário de centro - esquerda. No dia 9 de Maio o PSD contacta por escrito o PS confirmando a sua disponibilidade para iniciar conversações.
No dia 27 de Maio o Presidente da República indigita Mário Soares como Primeiro Ministro.
Para trás ficam 20 dias de árduas negociações.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A SOCIAL – DEMOCRACIA E O NACIONALISMO LIBERAL


1983 – Período pré legislativas. Discussão do Manifesto Eleitoral do PSD redigido pelo Henrique na qualidade de membro da “troika” que liderava o partido.
Pergunta do Jornalista:
“No Manifesto Eleitoral afirma-se que o “CDS abriga um conservadorismo alienante, recém vestido de nacionalismo liberal” e classificam-se as suas propostas como sendo “soluções esgotadas”. Privilegiar uma aliança com o CDS não será, pois, oposto aos princípios e à ideologia sociais – democratas?”

Nascimento Rodrigues – “ Os princípios e prática da social-democracia diferenciam-se nitidamente, como disse há pouco, quer do conservadorismo, ainda que disfarçado agora de nacionalismo liberal, quer do socialismo colectivista, estatista e amarrado a complexos marxizantes, mesmo quando este promete à última hora “ social-democraitzar-se”.
Só seremos Governo com um voto muito forte do eleitorado. Porquê? Exactamente porque só nessas condições será possível promover alianças em cujo âmbito não sejamos influenciados, ou arrastados para um lado ou para outro, qualquer deles negativo e ineficaz face aos desafios da crise económica e da modernização e desenvolvimento do País. Só seremos Governo, portanto se, nos for possível conduzir uma política de sentido reformista, de conteúdo concreto e ajustado às nossas realidades, com as adaptações que se justificam, naturalmente, em qualquer acordo político e que não ponham em causa o núcleo essencial das nossas propostas políticas. Não queremos impôr contratos leoninos a outros, mas não aceitamos também participar nunca como figurantes secundários na nossa vida política e no Governo do País.
As soluções de pendor conservador comportam, forçosamente, a aceitação de um radical e destruidor confronto político e social, com todas as consequências de instabilidade incontrolável que se adivinham. Por outro lado, as soluções de pendor colectivista e estatizante não são mais do que uma outra forma de conservadorismo.”

IN “ O Tempo” 7 de Abril de 1983

quarta-feira, 21 de março de 2012

O PSD BATE-SE PELA LIDERANÇA


Que política de alianças para depois das eleições de 25 de Abril de 1983? Será possível um acordo com o CDS, sem excluir o entendimento com o PS?

Nascimento Rodrigues – Afirmamos no nosso manifesto eleitoral: se os resultados eleitorais proporcionarem ao PSD uma votação forte e expressiva, no quadro de repetição da vontade popular de 79 e 80, então isso significa que o eleitorado pretende que o PSD tome a iniciativa de se dirigir, em primeira linha ao CDS. Respeitaremos essa vontade. Caso contrário, e sempre no pressuposto de recolhermos um resultado de significativa confiança, tomaremos a iniciativa de negociar quer com o CDS, quer com o PS.
Em qualquer caso, o importante é sublinhar isto: ou o eleitorado entende que o PSD é o partido a quem deve conferir a liderança do processo de formação de um Governo de legislatura, e então é necessário que o demonstre pelo voto, ou entende que outro partido deve ser o motor desse processo e dá-lhe a necessária confiança. Neste último caso, nós retiraremos a conclusão, que é genuinamente democrática, de que outros, que não o PSD, devem assumir as correspondentes responsabilidades. A opção é clara e simples e, sobretudo, democrática: se os eleitores não nos escolherem, não seremos nós, depois, a fazer-nos escolhidos!
Só antevejo a eventualidade de uma coligação tripartida PSD/PS/CDS em circunstâncias de todo em todo excepcionais, que do meu ponto de vista não se verificam e não são pressentíveis. É necessário que haja opções diferenciadas, é imprescindível que o regime mantenha, em plenitude, as possibilidades de alternativas democráticas concretas.
Uma coligação daquele tipo colidiria com este propósito. A porta ficaria aberta apenas para as oposições extremistas de esquerda e de direita, ou para soluções de referencial suprapartidário e cariz messianista. Esse não é o caminho da consolidação e enriquecimento da democracia pluralista, que queremos para Portugal.”
IN “ O Tempo” 7 de Abril de 1983

terça-feira, 20 de março de 2012

HUMBI HUMBI




Humbiumbi yami, yelela twende
Kalele Katchimbamba
Ossala posi
Vakweneva yelela twenda,
Kakele Kathimbamba
Ossale posi

Humbi humbi é o nome de um pássaro, (humbiumbi), que se arrasta no chão porque partiu uma asa. humbiumbi já não pode voar

A letra desta canção popular dos povos do centro de Angola - está escrita em dialecto umbundo (falado predominantemente no sul de Angola).
Foi o compositor angolano Filipe MuKenga que a tornou um sucesso.
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PRIVILIGIAR OS QUE TRABALHAM


1983- Os partidos entram em campanha eleitoral. O Henrique é o responsável pela preparação do manifesto eleitoral do PSD. A política de recuperação económica e as eventuais alianças pós – eleitorais são os principais temas de debate e intervenção.

 PERGUNTA- A política de recuperação económica depende muito da estabilidade existente no mundo laboral. Qual a estratégia do PSD neste sector?

 Nascimento Rodrigues-“O  PSD sempre defendeu que seria necessário fomentar uma política de consenso social. Defendemos um consensualização social coerente patriótica e democrática. Isto significa que procuramos associar organizações sindicais e patronais a uma política concertada de trabalho e de justiça. Mas não estamos dispostos a deixar-nos conduzir para caminhos que nunca mais tenham fim, ou para tácticas de penoso arrastamento de soluções.  O diálogo social não é sinónimo de “conversa de surdos”, nem pode significar bloqueamento, subtil ou aberto, a medidas de fundo que são necessárias para viabilizar o progresso económico e potenciar maior justiça social no futuro.
Se formos Governo – e só o seremos com uma votação adequada ao estatuto de grande partido popular- exerceremos o poder com autoridade democrática, com firmeza e com sentido de equilíbrio e de justiça.
Não favoreceremos uns contra outros, numa óptica classista e de raiz quer marxista, quer de liberalismo passadista. É sob uma visão moderna e de reformismo realista que apoiaremos os que trabalham, os que investem criando emprego, os que se dedicam com competência e esforço a criar progresso e a gerar riqueza.
Estamos contra os que especulam com o crédito ou que o desviam das suas finalidades, estamos contra os que boicotam o trabalho honesto de quem quer trabalhar. Somos a favor da liberdade sindical na independência e autonomia dos sindicatos e das organizações patronais. Somos contra os que transformam certos sindicatos em “câmaras de ressonância” repetitiva da voz de forças partidárias, ou que fazem de certas organizações patronais palco  de encapotadas movimentações político-partidárias.
Em regime democrático não se pode permitir a confusão do estatuto institucional das forças partidárias com a dos parceiros sociais.
Não consentiremos numa inversão dos fundamentos e valores da Democracia. Por isso, respeitamos os legítimos interesses colectivos dos agentes económicos e sociais.
Somos pelo reformismo social-democrata, somos por uma política nacional de trabalho e de justiça".
IN “O Tempo” 7 de Abril de 1983

segunda-feira, 19 de março de 2012

UMA OUTRA IMAGEM


1983- O País prepara-se para eleições legislativas marcadas para o dia 25 de Abril. O PSD apresenta-se isolado ao sufrágio popular e com uma nova imagem, (retoma o slogan- “ uma só via social – democracia”), e uma nova direcção.

“ A nova direcção do partido apresenta uma nova imagem e, para ela ser implementada, não julgo que seja necessário retirar todas as pessoas das equipas anteriores, que têm uma experiência e que podem dar o seu contributo ao partido. A nova imagem do PSD está, de facto, consubstanciada por um lado, na pessoa de Nuno Rodrigues dos Santos, como presidente da Comissão Política Nacional, um homem que simboliza autenticamente a unidade básica do PSD e, por outro lado, pelo professor Mota Pinto que, com as suas propostas de redinamização dos métodos e uma reactualização dos objectivos pragmáticos da social-democracia  vem dar ao partido o refrescamento que necessitávamos.
Acredito sinceramente nisso e, mais do que acreditar, estou empenhado em que essa imagem seja implementada. Em primeiro lugar, porque é o meu dever, como militante do PSD e em segundo lugar, porque a nossa postura em relação à sociedade portuguesa e em relação ao sistema interpartidário de Portugal é uma postura muito especial. O PSD sempre representou, no nosso país, o espaço onde confluem as verdadeiras forças do dinamismo e da criatividade e da liberdade.”
IN “ O Tempo” 10 de Março 1983

sexta-feira, 16 de março de 2012

NÃO HÁ SOLUÇÕES MILAGROSAS


Montechoro marca agora uma nova fase na vida do PSD, que decide concorrer em listas separadas às legislativas - marcadas para 25 de Abril. Será a primeira “prova de fogo” da liderança saída de Montechoro.

5 de Março 1983 – sessão de encerramento do Segundo Encontro Nacional da Juventude da TESIRESD :

Nascimento Rodrigues –“Todos cometemos erros e estamos desgastados. A geração dos 40 e 50 anos é co-responsável mas, os mais jovens têm também a mesma co-responsabilidade porque se trata não de conflito  mas de solidariedade de gerações. É urgente que a tendência social-democrata da confederação sindical e da juventude desempenhe um papel junto das empresas e dos trabalhadores recusando o fatalismo e lutando por uma liberdade sindical e justiça para todos os trabalhadores. Muitos trabalhadores votam na CGTP não por acreditarem no comunismo mas porque vêem na INTER alguma capacidade de resposta. É indispensável que a UGT capte isso.
É salutar  a diversidade específica de cada tendência, (socialistas e sociais-democratas), pois o objectivo é encontrar-se uma plataforma comum de liberdade sindical e democrática.
Temo que em Portugal tenhamos que nos defrontar com o desemprego em proporções elevadas. Não há curas a curto prazo nem soluções milagrosas. É preciso que haja consciencialização patriótica nomeadamente quanto aos problemas económicos. A actual crise interna e externa é também a crise de todo um povo que não conseguiu ainda afirmar-se colectivamente.”
IN “ O Globo” 7 de Março de 1983

quinta-feira, 15 de março de 2012

NÃO VÃO SER FÁCEIS OS TEMPOS DO FUTURO


1983.  O Henrique faz parte de um grupo de militantes, (designado pela comunicação social como o “grupo dos notáveis”), que, na sequência do ruir da Aliança Democrática, sente a responsabilidade histórica de procurar, e, encontrar, uma solução de liderança nova e prestigiada para um PSD profundamente dividido.
Nenhum líder emerge de uma forma clara, pelo que durante o X Congresso, (Montechoro 23 a 25 de Fevereiro), surge uma solução tripartida.
O espírito de Montechoro terá sido votar Nuno Rodrigues dos Santos como presidente respeitado, integro e símbolo do PSD e Mota Pinto como líder efectivo. O objectivo era, portanto, que Mota Pinto assumisse a liderança do Partido. Mais tarde o Henrique dirá entender nunca ter havido uma verdadeira “troika”, no sentido com que muitos se referiam a esta direcção  tripartida.
 A 3 de Março em Entrevista a “O País” o Henrique afirma:

“ Não vão ser fáceis os tempos do futuro. Vai-nos ser exigido que sejamos capazes de efectivar o propósito, com que nos apresentamos a este Congresso, de consolidar e fortificar a unidade do nosso partido. Na sua projecção externa esse propósito implica que demonstremos ao eleitorado qual o significado político da social democracia como projecto anti – conservador e anti – colectivista. Em consequência será necessário que o eleitorado compreenda que o grande espaço da liberdade e do progresso se polariza no Partido Social Democrata. Falaremos a linguagem de verdade que é necessária para que se possa progredir em solidariedade. Não devemos esperar as esmolas de ninguém. Só o trabalho de todos os portugueses permitirá que Portugal ultrapasse gradualmente a crise com que se defronta”
IN “O País” 3 de Março de 1983 

quarta-feira, 14 de março de 2012

A REFORMA DO REFORMISMO


23 de Janeiro de 1983. O Presidente da Republica, depois de ouvir os partidos e o Conselho de Estado, anuncia a sua decisão de dissolver o Parlamento e, marcar eleições antecipadas. Os partidos da AD (CDS e PSD), preparam os seus Congressos.
   
O jornalista pergunta ao Henrique - "Entende que o próximo Congresso deverá constituir, fundamentalmente, uma reflexão sobre a identidade do Partido e sobre as propostas concretas do PSD para a sociedade portuguesa?"

N.R.- “Sim, mas uma reflexão com conclusões tão concretas quanto possível. A social-democracia tem como objectivo a realização de uma ordem política, económica e social mais democrática, no respeito pelos valores da Liberdade, da Justiça e da Solidariedade. Esse objectivo e esses valores não estão em causa. O que acontece é que a transformação democrática da nossa sociedade continua a defrontar-se com barreiras ainda não ultrapassadas. Por outro lado, a evolução a nível internacional tem sido de tal ordem – recordo os problemas do desemprego, do meio ambiente, do endividamento externo, etc – que em parte alguma se conseguiu ainda responder, com eficácia, aos desafios persistentes desta crise.
É neste sentido que alguns propõem a “reforma do reformismo” expressão sugestiva que tem a ver com a necessidade de se encontrarem respostas, pragmáticas e diferentes das tradicionais, para ultrapassagem da crise. Esta tem para o nosso País, devido a factores conhecidos, reflexos particularmente graves. Razão acrescida, pois, para que avancemos com propostas muito concretas, bem assentes no condicionalismo português (eu não acredito numa social – democracia fotocopiada!), que consigam motivar o nosso Povo para a repartição a repartição equitativa dos sacrifícios a que não podemos escapar. Diria, em suma, que é preciso avançar com determinação e com vontade em medidas que são ditas impopulares, mas que são imprescindíveis. Medidas faseadas e equilibradas. Faseadas, porque o contrário significaria, afinal a ausência de um verdadeiro projecto viável de desenvolvimento. E equilibradas, no sentido de que à coragem de romper de vez com bloqueios que se instalaram na nossa sociedade se deve contrapor a procura permanente do mais largo consenso social possível.
Bem sei que isto é difícil e poderá, até parecer contraditório. De acordo. Mas julgo que uma das características peculiares da social-democracia estará, exactamente, nessa gestão lúcida e perseverante dos equilíbrios sociais”.
Lisboa, Janeiro de 1983

terça-feira, 13 de março de 2012

OS DOIS PÉS NO MESMO LADO


1983, ainda! O novo fôlego da AD dura pouco tempo. A tentativa de apresentar ao P.R. um novo Governo, desta vez liderado por Vítor Crespo, cai por terra. Terá que haver eleições antecipadas e reajustamentos nos órgãos dos partidos da AD. No horizonte, Congressos dos partidos da coligação.
É o momento de o Henrique fazer um balanço da sua actividade como vice - presidente da Comissão Política Nacional do PSD.
Nascimento Rodrigues – “Exerço as funções de vice – presidente há pouco mais de um ano, visto que fui eleito no último Congresso, realizado em Dezembro de 1981.
Um ano é muito pouco para um balanço conclusivo, sobretudo, para quem, como eu, não tinha experiência concreta de funções desse tipo. E, depois, não é verdade que ninguém é bom juiz em causa própria?... Fiz o que me foi possível e com foi possível, eis tudo. Admito, no entanto, que se poderia esperar mais da minha actividade, partindo-se do pressuposto de que esta iria exercer-se no contexto de uma assunção mais clara de direcção partidária. Mas tal pressuposto é errado, porque, na distribuição de tarefas oportunamente operada no âmbito da CPN, aliás por consenso, não se verificou nunca uma delegação efectiva e permanente dos poderes que cabem ao Presidente do Partido, nos termos estatutários. De modo que nunca entendi estar autorizado a actuar com exorbitância das funções próprias de um vice-presidente, ademais um de entre quatro vice-presidentes. Gostaria de sublinhar que jamais se suscitou qualquer problema pessoal por força do enquadramento a que me refiro. Mas é possível que assim se tenha involuntariamente criado um equívoco institucional nunca aclarado na orientação da direcção nacional, e/ou uma situação de menor “rentabilidade” desta. O que importa, todavia, é retirar da experiência os ensinamentos úteis para situações futuras iguais ou análogas em assuntos que têm a ver, exclusivamente com a melhor funcionalidade na realização dos rumos estratégicos do PSD.
Quanto às linhas de orientação fundamentais porque me pautei no exercício deste cargo, poderei sintetiza-las do seguinte  modo:
Contribuir para um diálogo que fosse sinónimo de clarificação de opções, no respeito pela civilidade dos comportamentos e pela democraticidade interna dos processos de livre expressão interna de opiniões; e dar testemunho concreto do que entendo ser a elementar obrigação de solidariedade institucional interna no exercício do cargo de Vice-presidente. Eu não entendo como se possa aceitar e manter o exercício de um qualquer cargo de direcção nacional do Partido para dele se fazer uma utilização em proveito de opiniões e objectivos pessoais. As discordâncias e as divergências são para colocar nos órgãos internos do partido, não para se transplantar para o exterior, sobretudo quando essa transplantação mal esconde a marca farisaica do chamado distanciamento ou da crítica dos que querem estar com um pé num lado e o outro pé noutro lado. De modo que, e em suma, eu não enjeito em nada a responsabilidade de ter assumido e expressado publicamente, sempre que foi necessário a defesa das posições oficiais do Partido. Esse era o dever do meu cargo e procurei cumpri-lo. Não estou arrependido!

Lisboa, Janeiro de 1983. IN “O Povo Livre

segunda-feira, 12 de março de 2012

PERMANECE EM NÓS


PERMANECE EM NÓS. AGORA E SEMPRE.

domingo, 11 de março de 2012

NUM DOMINGO EM ABRIL

Domingo, 11 de Abril de 2010. Precisamente a esta hora disseste-me:" não me dês o pequeno almoço, não estou bem disposto". Passaram 23 meses. Não tenho, sequer, consciência da tua morte. Para mim, não morreste. Só não estás aqui. E dói. Porque não entendo. Estás tão presente, que te sinto em todos os momentos da minha vida; quando me deito, quando me levanto, quando ando ou estou parada. Estás em todo o lado. A espera é permanente: de acontecimentos, de mensagens de regresso, de ti, de qualquer facto que te traga de volta. Nada é definitivo. Para mim, a tua morte não é um acontecimento concreto. O Henrique que eu conheci está aqui, sempre; quando falo com os filhos, quando olho para os netos, nas mínimas tarefas. Quando chove ou faz sol. Quando está frio ou vento. Não estou viva se não falar contigo, (ou de ti), em todos os momentos. Tudo é ilusório. Só o que escrevo e o que leio, de ti e sobre ti, tem existência real. Nem a idade é a nossa. Transportei-me para a nossa adolescência comum, vivo perfeitamente contigo os nossos 15, 16, 17 anos e por aí fora. Os nossos sonhos? Aqui estão! Lembras-te quando eu dizia que tínhamos 10 filhos? Vão estando cá... todos. São estes os factos concretos que me dizem que estás aqui. Eu falo e respondo por ti. Às vezes pergunto-me: será que eu tenho uma vida de "faz de conta"? Faz de conta que o Henrique não morreu, faz de conta que sou feliz, faz de conta que tudo corre bem, faz de conta, faz de conta, faz de conta...
Mas, depois, olho em volta: o que tu escreveste, sonhaste, viveste, criaste, legaste, os filhos que deixaste, não são faz de conta. A realidade concreta não pode ser faz de conta. Se nada disto é faz de conta, quando digo que para mim tu não morreste, também não é faz de conta. É real. mesmo que a realidade se plasme noutra época, noutro espaço, noutro tempo.l

UMA MANHÃ DE DOMINGO


Foi um encontro
fugaz
para um abraço
apertado
esta manhã de Domingo.
Encontro de  saudade
dorida,
magoada,
sentida,
ansiada,
vivida
num abraço apertado.
Manhã de Domingo.
São já tantos
os dias
que morrem
sem te abraçar,
que já me tinha esquecido
como era bom
enlaçar-te
com redobrada
ternura
numa manhã de Domingo.


sábado, 10 de março de 2012

UM POLÍTICO QUE VIA LONGE


1983. Pinto Balsemão está demissionário  do Governo. No início do ano os parceiros da coligação parecem ainda dispostos a dar um novo fôlego à AD possibilitando a constituição de  novo Governo evitando, assim, eleições antecipadas.
No dia 12 de Janeiro o Henrique concede uma entrevista ao “Povo Livre” órgão oficial do PSD
Povo Livre – Como é que encara a situação política actual?
N.R.  “Seria, no mínimo, estranho que num partido como o nosso se registasse uniformidade de opiniões a respeito do momento político que atravessamos, e que é delicado. Caso esteja certo na perspectiva que tenho acerca do sentir da maioria dos nossos militantes, responder-lhe-ia, porém, que, há um grande desejo que o novo Governo seja capaz de formular e levar a cabo, no contexto das constrições económico-financeiras conhecidas e no quadro de uma orientação de reformas democráticas graduais viáveis, uma política de reequilíbrio orçamental e de diminuição do endividamento externo, de moralização da Administração Pública e do sector empresarial do Estado, de contenção do crescimento da inflação, de recuperação nos desvios ao financiamento orçamental por via das receitas fiscais e outras, de ataque aos abusos na utilização de direitos sociais, de rigoroso controlo na aplicação efectiva do crédito concedido, de promoção de condições para uma produtividade empresarial que a concorrência internacional exige não se esconda sob o argumento capcioso de que é impossível porque a lei da greve obsta ao desenvolvimento económico, ou de que não é possível sem a intangibilidade do actual quadro normativo de garantia, tantas vezes artificial, dos postos de trabalho – e muito mais que compete traçar num programa de Governo e não nesta entrevista, como é evidente.
Creio, em suma, que existe no Partido um crédito de esperança e uma margem significativa de apoio ao Governo, que desejamos que seja rapidamente constituído, para que também rapidamente faça o que tem que fazer: governar. Os que não acreditam que digam então como é! Mas que se diga sem a ligeireza fútil da crítica vazia de apresentação concomitante de alternativas concretas de soluções.”
IN “ O Povo Livre 12 de Janeiro de 1983

sexta-feira, 9 de março de 2012

UM CIDADÃO AO SERVIÇO DOS OUTROS CIDADÃOS


A 8 de Junho do ano 2000, véspera da tomada de posse como Provedor de Justiça, (1º mandato), o Henrique dá uma entrevista ao jornalista Pedro Vieira da revista Visão. Esta entrevista permite-nos fazer uma breve revisão do seu percurso político e pessoal.

“ Muito antes de Guterres desfraldar a bandeira do diálogo, já Henrique Nascimento Rodrigues, 59 anos, dava corpo ao manifesto pela concertação social e pelo tripartismo, isto é, a busca de consensos entre patrões, trabalhadores e Governo. “Hoje em dia já tenho medo de falar de diálogo. Há duas décadas porém, a palavra diálogo não estava gasta pela luta político partidária”. Ministro do I Governo Balsemão em 1981, continuou defendendo o “diálogo social alargado” apesar de Portugal ter o FMI à perna, a exigir medidas de austeridade.
Já não fez parte do Governo seguinte, sacrificado às exigências do CDS parceiro do PSD na AD (Aliança Democrática). Sai por cima, prestigiado junto ao mundo sindical e da ala esquerda do PSD, ao qual aderira em 1 de Janeiro de 1978. É indicado para representar Portugal na administração da OIT. Mais tarde, como consultor da OIT e, também, como director do gabinete de Cooperação com África, do Ministério do Trabalho, Nascimento Rodrigues volta aos países africanos de língua portuguesa. É um regresso às origens. Nascido no Luso, actual Luena, Angola, onde o pai era funcionário público, aos 17 anos rumou a Lisboa para a Faculdade de Direito. Terminado o curso, começou a trabalhar em 1964 no Fundo de desenvolvimento da Mão de Obra.
Com a revolução de 74, liga-se ao movimento sindical. Está na origem da UGT e é um dos fundadores da TESIRESD (Tendência Sindical Reformista Social Democrata). Mas rejeita a classificação de sindicalista “ Só o é quem é eleito pelos trabalhadores para cargos sindicais”.
É deputado a várias legislaturas e no Congresso do PSD, em Montechoro, em 1983, forma com Eurico de Melo e Mota Pinto a Troika dirigente do partido. Em 1985, no Congresso da Figueira da Foz, opta por não se envolver na disputa que levaria Cavaco Silva à liderança laranja.
Em 1986, defende Rui Oliveira e Costa num processo de expulsão do PSD, por ter participado num comício de sindicalistas de apoio à candidatura de Mário Soares a Belém.
Em 1992 é eleito pela Assembleia da República para Presidente do Conselho Económico e Social.
Conta que, numa recepção em Madrid a Presidentes de Conselhos Económico Sociais, surpreenderia o Rei de Espanha ao revelar-lhe que se tinham encontrado, por volta de 1948, numa viagem que o futuro monarca fez a Angola, em companhia de seu pai o Conde de Barcelona.
Os primeiros tempos, como Provedor de Justiça, são para conhecer a casa, onde quer” ser um cidadão que possa servir os outros cidadãos”

IN “ A Visão” 8 de Junho de 2000


quarta-feira, 7 de março de 2012

O COLAPSO DA AD


Difícil, o ano de 1982! A revisão da Constituição só é aprovada em Setembro. Há agravamento da crise económica e financeira. Torna-se necessário a venda de reservas de ouro do Banco de Portugal. O FMI vem a Lisboa. Na política partidária acentua-se um movimento (em ambos os partidos), tendo em vista a institucionalização da AD e, o apagamento progressivo do PSD. Para isso tornava-se importante desacreditar quem pensasse em sentido contrário. O Henrique foi envolvido nessas guerras, quer por militantes do PSD, quer do CDS. Não foi fácil!
No meio de tudo isto, greves gerais desencadeadas pela CGTP-IN (Fevereiro e Maio). Uma pergunta pairava nos órgãos de comunicação social:
Como é que as greves decretadas pela CGTP tinham uma adesão que ultrapassava de longe a efectiva implantação do Partido Comunista? Questionado sobre este assunto respondeu o Henrique.  
N.R. – “Penso que, fundamentalmente, por duas razões: por um lado, porque em determinados sectores, nomeadamente nas empresas públicas, não desapareceu totalmente o ambiente de receio e de temor criado, anos atrás, pelo PC quando hegemonizava o poder sindical. E, por isso, muitos trabalhadores que não são comunistas ainda hoje ou têm receio ou estão suficientemente descontentes para lutarem contra esse ambiente que ainda perdura. Em segundo lugar, é facto real que os trabalhadores sentem que os seus salários não acompanham em tempo oportuno, a degradação sofrida no respectivo poder de compra. Seria necessário, por isso, prosseguir com firmeza e verdade uma política salarial justa que se fizesse acompanhar, por consenso, de medidas de aumento da produtividade. Não é possível distribuir mais riqueza se não criarmos condições para que exista mais riqueza. E isso passa por um esforço conjugado de trabalhadores, quadros técnicos, empresários responsáveis  governamentais, em suma das forças políticas e sociais”.
Será que a Intersindical poderá ainda participar no consenso democrático tão necessário à recuperação do País?
NR – Se a Inter não quiser entrar é ela que se auto marginaliza da construção do futuro. Nunca poderemos identificar o tipo de militância e estrutura organizativa dos partidos democráticos com as do PC. Está aí a raiz da diferença entre democracia e o totalitarismo. Os partidos sociais – democratas vivem uma liberdade e possibilidade de discordância que torna, aparentemente, difícil a capacidade de resposta ao PC. Mas é essa mesma liberdade a semente mais importante da resposta a dar às tentativas de implantação comunista. E volto a falar no consenso: o que está em causa são questões de regime e, creio as forças democráticas, sob pena de inviabilizarmos o nosso futuro, saberão dar a resposta adequada.
O colapso da AD  dá-se em Dezembro a seguir às eleições autárquicas.
Freitas do Amaral e Pinto Balsemão, demitem-se quase em simultâneo do CDS e do PSD
Pinto Balsemão mais uma vez apresenta o pedido de demissão como primeiro ministro. Desta vez não volta atrás.

NOTAS POLÍTICAS (92)


“Utiliza-se de um certo descontentamento popular legítimo e natural por parte de muita gente, (porque a crise económica que estamos a atravessar é uma realidade), para veicular toda essa insatisfação com vista à consecução de um objectivo que, no fundo, nada tem a ver com a defesa dos interesses dos trabalhadores.”
“É muito difícil manipular a inteligência e a consciência dos portugueses, mesmo quando estes sofrem os efeitos de uma política de austeridade, suscitada pela crise económico-financeira que atravessamos. Isso é muito positivo, do ponto de vista de resistência da sociedade civil."
Lisboa 1982

segunda-feira, 5 de março de 2012

MONA KY NGI XICA




Tradução
A criança que eu estou deixando para trás. Atenção. Eu estou em perigo mortal. Eu já avisei.
Ele está ficando aqui e eu irei embora. Essa criança do meu povo. Os mal estão atrás dela. Este filho meu em maré de azar. Deus me deu essa prole que eu trouxe ao mundo. Ele vai ficar aqui. Quando eu me for.

MADRUGADA


As gotas de orvalho
são lágrimas de saudade
do Outono…
Do nosso Outono!
Saudades do crepúsculo
em tardes mornas.
Saudades das folhas caídas,
dos livros não lidos,
guardados,
esquecidos!
Saudades dos silêncios
adormecidos
em cúmplices murmúrios.
Silêncios chorados,
nestas lágrimas
com saudades do Outono.
Homem sábio…
partiste 
antes de chegar o Inverno!

domingo, 4 de março de 2012

VALORES E IDEAIS


"Os valores e os ideais são a única presença que o fluir dos tempos não destrói"

sábado, 3 de março de 2012

REPENSAR A SOCIAL-DEMOCRACIA


“Nós, sociais-democratas temos o estrito dever de não meter a social-democracia na gaveta, porque a social-democracia continua a ser uma resposta válida nos seus princípios e nos seus processos.
Sou daqueles que continuo a defender o consenso partindo da divergência e não dos que partem do consenso litígico para à divergência.
As empresas, se tiverem que ser encerradas, o sejam para salvarmos aqueles que nelas trabalham; porque são os homens que trabalham que devem ser o objectivo fundamental da política social-democrata; encerrar empresas por meros objectivos de lucro e de produtividade sob o ponto de vista social-democrata não é correcto; encerrar empresas para poder criar postos de trabalho mais viabilizados, isso sim é correcto do ponto de vista social-democrata.”

Primeiro de Janeiro 29/11/82

TEMOS QUE SER PARA CONVENCER


“Somos um partido suficientemente forte para que não se deva ter receio de reconhecer os erros e falhas cometidos. Como maior partido português, aquilo que legitimamente se pode exigir de nós é que assumamos a responsabilidade de o ser em termos de convencer. Com humildade democrática e com realismo político devemos admitir que há muita coisa que tem falhado e que não pode continuar a falhar. Fazer um diagnóstico correcto da situação e perspectivar o futuro do partido e do País em termos de uma social-democracia que não tem que ser posta na gaveta mas deve, sim, ser pensada à luz das constrições impostas pela crise internacional e interna, eis ao que pode levar uma desejável reflexão colectiva das principais figuras sociais-democratas, reflexão assumida como sentido de relançar o PSD e com o intuito patriótico de se afrontar e superar a crise que o País atravessa. Não é com atitudes de avestruz que o conseguiremos.”

IN “O Tempo” 2 de Dezembro de 1982

sexta-feira, 2 de março de 2012

CONTRA A AGITAÇÃO SOCIAL


Em 1982, acelera-se a movimentação laboral. A CGTP decreta, para 12 de Fevereiro, uma Greve Geral sem o apoio da UGT. Dias antes  (6/2/82), há um atentado á bomba (reivindicado pelas FP25), em casa do Secretário Geral da UGT.
 É neste contexto que o Henrique faz, enquanto vice presidente da comissão política do PSD, as seguintes declarações:
 “Só os ingénuos, ou os que não querem ver, é que não retirarão a conclusão de que se pretende criar no nosso País, uma situação de confusão, indecisão e desestabilização, situação que é caldo de cultura propício para que as forças totalitárias e seus companheiros de meias tintas recuperem um poder que começaram a perder com as vitórias da AD.
A face do terrorismo surgiu às claras e é altura de todos os portugueses compreenderem os verdadeiros objectivos antidemocráticos da greve geral. É conhecida a posição clara e corajosa da UGT e do seu Secretário Geral no que respeita à condenação da greve geral do dia 12 de Fevereiro pelo que não pode duvidar-se de que este vil atentado terrorista pretenda ser uma resposta para aterrorizar os responsáveis da UGT, os trabalhadores democratas e a população portuguesa. É ainda altura de respondermos ao terrorismo e à desestabilização provocadas pelas forças extremistas e totalitárias com serenidade e calma, mas também com a mais firme determinação de preservarmos o regime democrático e a convivência pacífica entre os portugueses. Nesse sentido a resposta do PSD é só uma: no próximo dia 12 todos ao trabalho, em cada local e em cada posto de trabalho; cada um de nós vai defender a democracia e a liberdade. A nossa resposta vai exprimir-se em todo o País. Os sociais-democratas não têm dúvida sobre a sua resposta. No dia 12, nós não faltaremos, sejam quais forem as dificuldades, aos nossos locais e postos de trabalho.
Sem medos que não se justificam, sem exaltações que nunca são timbre de democracias firmes e por isso serenos, sem hesitações ingénuas que misturam o essencial com o acessório e que confundem os planos, diferenciados, da defesa do regime democrático e da oposição legítima à actuação governativa.
Isto não tem nada a ver com o legítimo sentido de oposição democrática daqueles que não votaram na actual maioria e nela não acreditam. Isto nada tem a ver com a insatisfação que possa ser sentida por faixas de trabalhadores portugueses face às dificuldades suscitadas pela crise que atravessamos”

I                                                       N “ Portugal hoje” 8/2/1982

quinta-feira, 1 de março de 2012

DIÁLOGO SOCIAL. SEMPRE!



“ Existe uma crise mundial que afecta praticamente todos os países, seja qual for a estrutura política, económica e social em que assentam. A tradicional debilidade da estrutura económica portuguesa e do nosso tecido empresarial tornam mais aguda a crise que atravessamos. E é aqui que a aposta da vontade política num processo sistemático e persistente de diálogo social ganha sentido.
O caminho da consensualização sócio - económica afigura-se como o mais válido e eficaz face ao objectivo da recuperação económica e do aumento da justiça social.
A alternativa seria a do confronto sistemático e permanente, mas esta via, pela agudização extrema de tensões e pela instabilidade corrente a que conduziria, não se afigura como alternativa válida para aquele efeito e potencia riscos no plano da institucionalização democrática.
A realização de uma política de diálogo social, afigura-se assim, como progressivamente exigente no quadro da situação nacional. E exigente neste sentido de que ela se assume, no seu potencial, como garante:
A) Do reforço dos valores democráticos e civilísticos inerentes à essência das sociedades  pluralistas.
B) Do maior grau de compreensão dos pontos de vista dos parceiros sociais (Estado, empresários, sindicatos), mínimo indispensável a partir do qual se podem focalizar  experiencias viáveis de ajustamento ou concertação social , de perfil e conteúdos variáveis, porque dependentes do contexto específico em que se insiram.
Se se reconhecer que há um mínimo de condições viabilizadoras de uma inversão de marcha, a iniciativa do despoletamento de uma política social, ou semelhante, deveria naturalmente caber ao Governo, colocando os demais parceiros  perante a responsabilidade histórica de uma resposta clara, que evidenciasse estarem ou não dispostos, porque e em que condições, a partilhar direitos e obrigações nos aspectos nacionais da crise que atinge o País.

 “ O Trabalho Subordinado no Contexto Social Europeu.” Resumo de uma comunicação apresentada dia 27 de Janeiro 1982 no Porto