quinta-feira, 7 de novembro de 2013

DESERTO

Agir como tu. Sentir contigo. Dizer… nós. Já não é. Nem presente nem futuro. É assim a morte. Mesmo quando, em pensamento, estás aqui.
Para te encontrar, mudei de continente. Tinha 15 anos. Nunca me orgulhei de algo que eu fosse. Só de ti. Orgulho por me teres escolhido. Orgulho por ser mãe dos teus filhos. Orgulho enorme por ser avó dos teus netos. Orgulho por ter vivido ao teu lado desde sempre. Orgulho pelo nome que contigo partilho. Humildade, agradecimento, porque a vida me proporcionou este trajecto.
Um trajecto de amor, de companheirismo, de partilha. Num livro que escreveste, talvez 2003, deixaste uma dedicatória : “À Maria Isabel, a quem devo ter tido uma vida feliz”.  
Escrevo isto para te dizer como é difícil a saudade. Escrevo isto para te dizer como é difícil o presente, como é difícil continuar a ser, quando tudo á nossa volta já não é. Quando à nossa volta se instalou a ignorância, o improviso, a falta de rumo, a incoerência, o deserto. Não me refiro só ao deserto de ideias, mas ao deserto de soluções, ao deserto de amor, ao deserto de solidariedade, ao deserto de tolerância, ao deserto de democracia.

Fazes muita falta, Henrique!    

sábado, 12 de outubro de 2013

EM JEITO DE DESABAFO

Não sei fazer comentário político. Não sei o que dirias se estivesses connosco, hoje, dia 12 de Outubro. São 42 meses de uma aprendizagem de vida sem ti, sem a tua inteligência, sem a tua capacidade de ver mais longe, de saber dar a volta às contrariedades do dia a dia.
Talvez por isso, talvez porque não consigo aceitar, tenho  que falar do próximo Orçamento do Estado. Ouvi Paulo Portas lançar o anátema, demagogicamente, sobre as pensões de viuvez, designadas por pensões de sobrevivência.
Afinal ser viúvo é a condição de alguém que percorreu durante anos, 40? 50?, esse caminho que se chama vida com um companheiro/companheira, e que o perdeu. Até que a morte nos separe!
Penso que não é por acaso que a lei protege o cônjuge sobrevivo, mesmo quando este já tem uma pensão própria. A casa onde ambos viveram é a mesma, só falta quem morreu. Os filhos, os netos, são os mesmos. Falta quem morreu. As responsabilidades assumidas a dois são as mesmas. Falta quem morreu. A vida continua inexorável. Falta quem morreu. O cônjuge sobrevivo está só. Resta-lhe a consolação de saber que, em vida, se pensou nessa possibilidade. Resta-lhe um conforto: saber que a sua falta não trará, a par dessa dor imensa que é a perda do companheiro, a perda de algum conforto material para a velhice, que ambos prepararam.

O desaparecimento dessas pensões não é só, mas também, monetário. É uma afronta à memória dos que morreram. À memória de muitos que nem tiveram tempo para “gozar” a reforma porque trabalharam para todos nós até aos 70 anos. À memória daqueles que em vida fizeram um contrato com o Estado – pessoa de bem, pensavam eles – e que agora trata os sobrevivos como criminosos que, escandalosamente, acumulam pensões!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

41 MESES DE AUSÊNCIA

Há textos que não podem ser escritos. Não se transmitem. Porque se sentem. Hoje. 41 meses. De uma ausência. Que é presença. Permanente.
O “Ouvidor do Kimbo” faz parte dessa ligação, desse sentimento de pertença, desse espaço que se alarga em cada dia que passa. Neste blogue o tempo não corre. A história que contámos, teve princípio. No meio ficou a vida. O fim está suspenso nos dias que continuam. O Henrique permanece aqui. Em casa. Com a família. Com os amigos. Não envelhece. Está. É. Sempre será.


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A HISTÓRIA DE UM COLONO

Encontrei esta história, real, no livro de Adriano Vasco Rodrigues intitulado: “De Cabinda ao Namibe” -  Memórias de Angola, na segunda edição de 2011.

É a história de um jovem nascido numa aldeia da região da Guarda. Nos anos 20, do século passado, termina o então 7º ano dos liceus. É o segundo de nove irmãos. Tem que dar rumo à vida. Procura emprego. Concorre, assim, ao Quadro Administrativo das Colónias. É aceite. Embarca para Angola. Viagem longa, beliche estreito, tão estreito, que passa os dias no convés. Os enjoos, o calor insuportável, a isso o obrigam.

Luanda era, à época, uma cidade poeirenta. Longos muceques ou areais cobertos de cubatas e casas rasteiras. Calçadas, meia dúzia.

Depois de um estágio breve o nosso jovem é enviado, como “Aspirante”, para os Luchazes, nos confins do planalto angolano. Quarenta e quatro dias de marcha interminável a pé ou de tipoia. Encontro com os embondeiros. Travessia do Quanza em jangada. Para lá do Dondo uma dolorosa subida para o planalto.
Atravessa, espantado, os altos morros da Kibala, comparando-os com os cumes agrestes da sua Serra da Estrela. Percorre as chanas e as planuras do Bié. Passa por aldeamentos. Pernoita em cubatas. Finalmente, entra no território dos Luenas governado por uma rainha.

No povoado, que lhe destinaram, foi durante anos o único branco, nem padres, nem comerciantes, nem militares.
Viveu numa cubata de colono até construir com a ajuda dos africanos, a sua própria casa de adobe. Jornais e notícias não havia. Rádio não existia. O que se passava em Lisboa e em Luanda ignorava-o.
Naquela área as populações africanas andavam em revolta por causa do sal. Os brancos prometeram levar-lho mas faltaram à promessa.
Para resolver o assunto foi ao Moxico Velho. Reclamou um saco de sal e distribui-o, equitativamente, ganhando a confiança das gentes.
Anos mais tarde regressa à Metrópole para terminar os estudos na então Escola Superior Colonial, (mais tarde  Instituto Superior de Estudos Ultramarino).
Termina a sua carreira como Governador do Distrito da Lunda.  
Esta é a história do bisavô dos meus catorze netos. O seu nome, António do Nascimento Rodrigues.



terça-feira, 20 de agosto de 2013

AMIGOS VERDADEIROS

Na minha recolha de memórias encontrei histórias, poemas, pequenas notas, coisas esquecidas.
Para encontrar é necessário revolver, procurar. Está cá tudo dentro. Não sei se na alma se no coração. Em 1953, na hora da despedida - o pai tinha sido transferido do Luso para Sá da Bandeira, (o Henrique não tinha entrado, ainda, na minha vida), um poema de um mestre, de um amigo, que marcou profundamente o seu gosto pelos livros, pelo saber, e, pelo saber dizer.  



Cuidado, Henrique, porque nesta vida
Nem todos são amigos verdadeiros!
Duvida dos que forem lisonjeiros
Porque tal ralé é só fingida.

Porque uma parte – a parte mais crescida –
É feita de um punhado de matreiros
Que te abandonarão, entre os primeiros,
Numa curva qualquer da tua vida.

Escolhe com cautela! Escolhe poucos
Mas que sejam sensatos e não loucos
Dos que podem usar de falsidade

Possas este livro preencher
Com amigos sinceros, a valer,
E este livro será só o da amizade

Angola - Vila Luso 16 de Dezembro 1953



sábado, 17 de agosto de 2013

NÃO SOU NADA

Não sou morro nem penhasco.
Não sou vento.
Não sou brisa.
Da vida
Já sou só sombra
(nuvem breve,… envelhecida).

Não sou garota nem jovem
De larga saia rodada,
Não sou mãe. Não sou avó.
Não sou estrela nem cometa.
Não ando a pé na calçada.

Não sou estrada.
Sou ruela,
Talvez beco ou labirinto.
Alma negra em sofrimento
Minha saudade esquecida.

Tu não estás.

Eu não sou nada

“Porque hoje eu sei que só morrem verdadeiramente aqueles que, depois de mortos, nós conseguimos matar também. E nada é pior do que um morto vivo, habitando lado a lado com os que não morreram e tiveram a coragem de tentar viver para além da morte dos que amavam.”
IN “ Madrugada Suja” de Miguel Sousa Tavares  


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

QUANDO BATE UMA PORTADA


Agosto. Tempo de férias. Memórias das casas. De férias. Das nossas férias.   Das sonhadas. Das vividas. Sempre em família.
De início - Os Brejos de Azeitão. Depois “O Casaleco” em Cabanas, Palmela, e a praia da Figueirinha. A partir de 1979, “O Casal Saloio” e a praia do Baleal. Finalmente “A Casa da Takula”, as grandes portadas em madeira de Angola, e, as nortadas constantes neste mês de Agosto. No teu blogue, Henrique, as memórias e as saudades.

QUANDO BATE UMA PORTADA

Neste castelo encantado
Nascido
Aqui
No mar
Há uma portada que bate
E
Não me deixa
Sonhar

Das ameias do castelo
Vejo
Um barco
A navegar
Deixa um rasto de loucura
E
Não me deixa
Pensar

Loucura neste castelo.!

Desfaz-se a identidade.!
Nada fica.
Nada sobra
Quando cá bate a saudade.

Saudade de ti.
De tudo.

Do mundo que construímos
Neste castelo encantado
Erguido
Perto 
Do mar.
Quando soa
Esta nortada
Nem sou capaz
De chorar

Não sou capaz de chorar
Já não consigo viver
Neste
Castelo encantado
Nascido
À beira mar

Quero voar

Ser gaivota
E correr ao por do sol
Quero ser Tu.
(Re) nascer.
Porque bate uma portada
Neste castelo
(Encantado)
Erguido
Bem junto ao mar


domingo, 4 de agosto de 2013

O BOM NOME É QUE É O TESOURO

A história, que, reproduzimos com todo o respeito, foi-nos transmitida pelo Professor Adriano Vasco Rodrigues, neto da Avó Josefa do Nascimento e do Avô José Rodrigues.
Tem a ver com uma “moca” de estudante, “moca” centenária, transmitida de geração em geração, e, que se tornou no símbolo de uma família de estudantes – os nove filhos da Avó Josefa e do Avô José. Chamava-se “zefa” ( a moca).
É duro ser guarda fiscal e ter nove filhos a estudar. Estudava um, começava a trabalhar, ajudava o segundo e assim sucessivamente.  A “moca” passava de mão em mão, responsabilidade assumida, responsabilidade transmitida.
“  Do casamento de José e Josefa resultou larga prole – filhos, netos, bisnetos, trinetos. As suas carreiras profissionais foram sempre alcançadas pela via do estudo, tornando-se médicos, advogados, engenheiros, arquitectos, gestores, professores etc. , exercendo das mais simples às mais elevadas funções públicas. Quando Josefa do Nascimento, já idosa, entregou a “zefa” ao segundo neto ao entrar para a Universidade de Coimbra, disse-lhe como se se tratasse de uma investidura medieval:
Não te esqueças que o estudo libertou a nossa família da servidão da terra e nos deu o maior tesouro que nos acompanha a todo o momento e não ocupa espaço – o saber. Não te deixes seduzir pelas outras riquezas. O bom nome é que é o tesouro. Leve o diabo arcas de ouro” 
  


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

AS ORIGENS

O Ouvidor do Kimbo. O blogue do Henrique. Das suas histórias. Das suas memórias.
Conto, hoje, a história da origem. Origem do nome. Do nosso. Nascimento Rodrigues.
Os personagens – Josefa do Nascimento e José Rodrigues. Uma aldeia, algures na região da Guarda
Josefa do Nascimento é filha de um abastado proprietário de Prados, que abandona a mãe, grávida, para outros voos matrimoniais. Josefa é acolhida pelos padrinhos, (família nobre), juntamente com a mãe, que trabalhará como governante. Sorte de Josefa. Os padrinhos têm uma filha da mesma idade. Josefa é educada com ela. Aprende a ler, escrever, calcular, bordar, tocar piano e falar francês, como qualquer jovem bem nascida nesse final do século XIX.
José Rodrigues é filho de José Rodrigues Subarro, pequeno agricultor em Aldeia Viçosa. Analfabeto. 98% da população era analfabeta naquela zona da Guarda.
José Rodrigues conhece Josefa do Nascimento quando cumpria o Serviço militar na Guarda. Apaixonam-se. Casam na Sé da Guarda no ano de 1899. Josefa do Nascimento ensina o marido a ler, escrever e contar. Em dois anos prepara-o para o exame da 4ª classe. Josefa do Nascimento e José Rodrigues tiveram nove filhos. Deram origem à nossa família – Nascimento Rodrigues. 


quarta-feira, 24 de julho de 2013

ERA UMA VEZ

"Gente pequena com umbigo grande" ! Se cá estivesses eu teria, sentada no sofá ao teu lado, comentado assim aquela entrevista, concedida ontem à Ana Lourenço, na Sic Notícias.
E tu, meu amigo, ter-me-ias respondido com a sobriedade de sempre. Serias incapaz de comentar, mesmo ao de leve, a intervenção de uma pessoa sem dimensão, de uma pessoa que não sabe respeitar a Instituição que chefiou, e que não entende que as Instituições são quem lá trabalha, e não quem transitoriamente as dirige. Não percebem que para deixar marcas é necessário “ser” e que “ser” não se apregoa. Avalia-se. Não o próprio, mas os outros. 





quinta-feira, 18 de julho de 2013

A RESPOSTA

Há poemas que se escrevem numa vida inteira. A 26 de Julho de 1958, (um ano depois de deixarmos o Lubango), eu perguntava ao  meu amigo Henrique: “Porque será que os anos se escoam tão depressa, quando há dias tão longos que levam uma vida a passar?”. Mais de meio século vivido, faço a mesma pergunta: porque se escoaram os anos tão depressa? Em 2006, no regresso ao Lubango, encontrei a resposta: não se passaram anos, mas um longo dia que, contigo, levou uma vida a passar.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

VERÃO

Não sei se o tempo é de saudades ou se simplesmente tenho saudades do tempo que vivi, escolhendo. Que escolhi viver. Misturo, confundo, sobreponho – tempo, épocas, realidade, sonhos. Por isso aqui chego, aqui estou, e te procuro: na clandestinidade de um amor proibido, nas sombras dos momentos celebrados, nas trevas dos tempos derrotados, na luz desses dias esquecidos. Eu te procuro amor. Neste Verão. O quarto. Mais uma vez, tu, já não estás.

Valença do Minho, Verão de 2007

sexta-feira, 12 de julho de 2013

MESMO QUE NÃO ESCREVA

São 39 meses hoje. Para que a tua memória não se apague. Para que o teu exemplo crie raízes. Para termos o conforto dos teus ensinamentos. Para sentirmos que estás presente. Escrevo, para não me esquecer de ti. Estás tão junto de nós que não há rotina que nos faça deixar de te viver. Eu não me vou esquecer de ti, mesmo que não escreva. Permanece em nós. 

Agosto de 2009 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

LUANDA ANOS 60




Foi assim que encontramos Luanda em Agosto de 1966. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

MEU AMOR DE SEMPRE

Moscovo Julho 2006

Tu estás.

Tu és.
O ar que respiro
O sol que aquece
O dia que nasce

A noite que desce

Tu estás.

Tu és.
O som da cigarra
O canto das árvores
A brisa que sopra

A voz da guitarra

Tu estás.

Tu és
Meu sonho dolente
Meu calor de menina
Uma voz de poeta

Meu amor de sempre

Tu és?

Tu foste
O tempo ajustado
Aos filhos criados
E aos netos nascidos.

Nos sorrisos roubados

Tu foste.
Tu és.
Meu amor …. sempre


sexta-feira, 28 de junho de 2013

FALANDO DE DEMOCRACIA

Relembrar a comemoração dos 75º aniversário da OIT em 1994, é também recordar as palavras que utilizou numa das suas comunicações, quando, por esse motivo, esteve em  Macau. O Henrique era, à época, Presidente do Conselho Económico e Social. Macau, Território sob Administração Portuguesa.  Passaram 20 anos. Os valores, que defendeu, não têm idade. São valores perenes. Não podemos deixar que os maus ventos que sopram, provoquem o seu esquecimento.
O tema “ Democratização Política, Económica e Social no Mundo”
Quer o tema que mais pertinentemente me pareceu dever tratar, quer o perturbante contexto mundial que nos enlaça, justificam que o acento tónico deste acto de homenagem à OIT seja colocado no reavivar e no reequacionar dos grandes valores e princípios que presidiram à sua fundação e têm imprimido corpo à sua acção de cunho internacional e de efeitos perduráveis. Refiro-me, naturalmente, aos valores e princípios inerentes aos direitos fundamentais do homem e aos que implicam a exigência de justiça social.
As sociedades democráticas caracterizam-se pelo reconhecimento e pautam-se pela garantia efectiva de exercício dos direitos fundamentais do homem. Significa que aderem aos princípios da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, do “Pacto relativo aos direitos económicos sociais e culturais” e do “Pacto e Protocolo relativos aos direitos cívicos e políticos”.(…)

Ora, é irrecusável o reconhecimento de que sem liberdades políticas e cívicas – numa palavra, sem a existência de uma Democracia pluralista – não há liberdades fundamentais. E sem estas não há direitos fundamentais no mundo do trabalho”. (…)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

O INTERREGNO

Com a devida vénia reproduzo um excerto de um artigo de opinião publicado no Jornal “O Público” com data de 13 de Junho de 2013, da autoria de Alberto Pinto Nogueira, Procurador Geral Adjunto
“O país não vive em interregno. É um interregno! Henrique do Nascimento Rodrigues foi Provedor de Justiça de 2000 a 2009. Cidadão insigne, como tal conhecido não só no país como no estrangeiro. Salientou-se sobretudo no mundo do trabalho, tendo exercido o cargo com competência, independência e grande elevação. Na Provedoria de Justiça, apesar de gravemente doente, permaneceu mais um ano para além do segundo mandato que a pusilanimidade dos políticos, nos seus jogos de bastidores, nos truques, nos interesses, demorou a substitui-lo. Para de seguida ocuparem o cargo, foram propostos o Professor  Jorge Miranda e Laborinho Lúcio, não menos insignes cidadãos e juristas de alta craveira nacional e internacional. A mesma pusilanimidade fez recusar estas personalidades para o cargo. Os jogos, as manipulações dos políticos não têm limites: não poupam seja quem for, ao sabor dos seus interesses mesquinhos. O País empobrece de cidadãos superiores, mas enriquece e engorda de mediocridades partidárias. Desprestigiam e desprezam os homens livres, mas acariciam e promovem os medíocres e bajuladores! É assim em tudo. Ou quase”.
Passaram quatro anos. O Henrique renunciou ao cargo a 3 de Junho de 2009, obrigando os partidos, por imposição da lei, a eleger um novo Provedor de Justiça. Ironia das ironias! O actual Provedor enfrenta o mesmo problema. PS e PSD, não se entendem! Esperará quanto tempo? O apelo do Henrique: “ os partidos têm que se entender, para bem do país”, caiu em saco roto"
  

quarta-feira, 26 de junho de 2013

MACAU 1994

Espantoso, o que se encontra, quando se abre um baú fechado há 20 anos. Regresso a Macau. Comemorações do 75º aniversário da OIT.



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segunda-feira, 24 de junho de 2013

BAÚ DE RECORDAÇÕES

Regresso a Macau. Janeiro de 1990. É a primeira vez que o Henrique visita o Território. Notícias dos Jornais. O Dr. José Belo. Sempre.

" O Dr . Nascimento Rodrigues visita Macau"
"Antigo Ministro do Trabalho, responsável pelo Gabinete de Cooperação com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e autor de vários estudos sobre questões de trabalho, o Dr. Nascimento Rodrigues desloca-se a Macau a convite do Governo do Território, estando a sua chegada prevista para hoje, dia  6. Além de audiências oficiais, com o Governador e com a Secretária Adjunta para a Saúde e Assuntos Sociais, no programa da visita estão previstas várias reuniões de trabalho com dirigentes e técnicos da Administração, sendo ainda palestrante numa conferência subordinada ao tema ' A dimensão social do mercado único europeu', que terá lugar no dia 10 de Janeiro, pelas dez horas e trinta minutos, nas instalações da Direcção de Serviços de Trabalho e Emprego, sitas na Rotunda Carlos da Maia"

domingo, 23 de junho de 2013

TRIBUNA DE MACAU

Mão amiga enviou-me, por mail, a edição on line do Jornal Tribuna de Macau com data de 17 de Junho de 2013.
Na sua secção,  " Do Baú de Recordações," noticia:
" Do nosso Baú de recordações publicamos hoje uma foto de 16 de Maio de 1994 quando a Secretária Adjunta para os Assuntos Sociais, Ana Perez presidia ao acto inaugural das comemorações do 75º Aniversário da Organização Internacional do Trabalho. Está ladeada por Nascimento Rodrigues que foi Provedor de Justiça, e, pelo director dos Serviços Laborais de Macau, José Belo" 

E, claro, eu fui também ao meu baú de recordações.  

quinta-feira, 20 de junho de 2013

NÃO É DESPEDIDA

Foi o último capítulo de uma vida que queríamos contar. O Henrique morreu. O nosso mundo mudou. Mas curiosamente, todo o mundo mudou. Não só o nosso! Mudou o Mundo de outros de muitos outros. Mudou o mundo da nossa família, não tenho dúvidas. Mas de quantas famílias mudou o mundo?. O Henrique morreu. O cimento do mundo mudou. Do nosso? É evidente. E o cimento do resto do Mundo? 2013 é muito diferente de 2010! Como se a alma da nossa democracia tivesse morrido com o Henrique.
Neste 4ºano após a sua morte sentimo-nos, nós família, (mas muitos outras também), como aves a abandonar o ninho, gaivotas a mudar de rumo, cardumes a morrer na areia.
É verdade que o Henrique morreu. Mas não podemos desistir de tudo porque lutou e nos ensinou. Ao contrário. Por ele renovaremos a vida, endureceremos o cimento, o do nosso mundo, o do mundo dos outros também. Por ele teremos força para continuar. O último capítulo não vai ser um fim, de ti, de nós e de tantos outros.
 A saudade não é despedida. É recomeço, é presença.


terça-feira, 18 de junho de 2013

O ÚLTIMO CAPÍTULO

A três de Junho de 2009 o Henrique regressa a casa para dar o seu tempo à família, aos amigos, aos livros, para continuar a viver.
Escasso tempo….
“ Na nossa casa de férias, a casa da Takula, costumávamos pedir silêncio uns aos outros sempre que subíamos ao escritório e o encontrávamos deitado no sofá, de olhos fechados, mãos cruzadas sobre o peito. Nesses momentos, sabíamos que descansava, que estava feliz, sereno, reconfortado com a vida.
Também agora descansou, e para sempre. A vida do nosso pai terminou, chegou ao fim, teve um final. Mas pleno de sentido. Ele viveu uma vida com fio condutor, uma vida com trilho. Olhar o passado e perceber que não poderia ter havido outro caminho, como se a sua vida se predissesse, desde o início. Reler os contos que escreveu na juventude, reencontrá-lo, a ele mesmo. Herdar de um pai uma vida única e una na sua coerência interna  como aliança que se entrega em compromisso. Sentir um profundo orgulho pelo trajecto que fez e pelos passos que deu, dos primeiros aos últimos passos. Compreender hoje, melhor do que nunca, a singularidade daquela pessoa, o ser humano excepcional que foi, a sua irrepetibilidade. Compreendê-lo, recordá-lo e continuar, seguindo-lhe o caminho. Recordar fundamentalmente um homem livre. Um homem que ao invocar a liberdade como determinante da decisão de renúncia mais não faz do que ser fiel à mesma liberdade que aprendeu no Kimbo e que usou em todos os cargos que exerceu e na forma como esteve na vida. A coerência de pensamento, a firmeza de atitudes demonstrada, foram uma constante na sua vida.
Creio que o seu sonho de “ser alguém” se cumpriu. O nosso pai, Henrique Nascimento Rodrigues, não se limitou a passar pela vida. Modificou-a e modificou a vida de outros. Hoje Portugal tem muito dele próprio.
Viveu e morreu o Ouvidor do Kimbo, que tinha o ouvido no coração.
Sofia Nascimento Rodrigues  

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A DOR QUE PERMANECE

A dor da tua ausência, não desaparece, não se dilui nem se esbate. Esconde-se e permanece: no sorriso das manhãs, na sombra das tardes ou na solidão das noites. Regressa sempre ao raiar da aurora destes dias cinzentos, nas brisas geladas deste quase Inverno, frio, cortante, desolador. Transfigura-se em saudade, em lembranças, em tristezas. E permanece nas perguntas: porquê? Para quê?
Porquê tão cedo? Porquê tão de repente?`

É que às 8 horas da manhã daquela segunda feira, 12 de Abril de 2010, (dia do aniversário da minha mãe, dia do casamento dos meus pais, dia, desde sempre, de reunião de família), pediste um copo de água. E pronto. Às 8 e quarenta repousavas para sempre. Adormeceste. Quando veio o tal copo de água estavas sereno, olhos fechados, as mãos  cruzadas no peito. Tal como  te encontrávamos quando, a meio da tarde, na casa da Takula, subíamos a escada em direcção ao teu escritório. Descansavas.  Nem me despedi de ti. E choro. Continua, para mim, a ser uma impossibilidade, um mistério. Sem desígnio. Estive a teu lado, sempre e para sempre. Tudo o que vejo, agora, entra no meu peito desfaz-se nos meus olhos grita na minha alma. Não é tristeza é lamento por esta distância sem fim. E para quê? 
Imagem 9 de Abril de 2010

quinta-feira, 13 de junho de 2013

UM MISTÉRIO ENCANTADOR

Ao dar por terminado o seu segundo mandato à frente da Provedoria de Justiça, o Henrique vem para casa. Projectos?
“Quero dedicar tempo a mim próprio, à minha família e aos meus amigos, ao estudo da história de Portugal – sinais da crise – e a uma mera participação cívica nos problemas do País – por exemplo, com um blogue de comentários, que me ajude a ultrapassar a minha iliteracia informática e me obrigue a reflectir sobre as razões porque sinto tanto desencanto com a visível degradação da qualidade da vida política no nosso país”. ( 19 de Março de 2009).


“Chegado ao fim de 2009, o meu pai estava feliz porque já não esperava nada e nisso podia esperar tudo, Sonhava fazer um blogue diferente. Assim nasceu o “Ouvidor do Kimbo”. Nele, o meu pai escreveu de 15 de Janeiro a 9 de Abril de 2010. Notas políticas, pequenos filmes, dados autobiográficos, poemas e canções, telas, quadros, fotografias… enfim, a sua impressão digital. A 12 de Abril de 2010 partiu. Mas “O Ouvidor do Kimbo” é um mistério encantador. Afinal, o meu Pai era alguém para quem a informática e os computadores tinham sido estranhos toda a vida mas que, no último ano de vida, decide criar um blogue e nele contar-se e dar-se. Num ápice, “ O Ouvidor do Kimbo” devolve-lhe a motivação, a alegria, a força, enche-lhe as horas e os dias de entretenimento fácil. Manteve-o ligado – a si, aos outros, ligado à vida. E foi esse blogue que, no último ano de vida, lhe deu tanta vida, que nas horas que se seguiram à sua morte física ‘chamou por nós’, pronto a lembrar-nos o pai e a ser instrumento para o pai ser lembrado”.

Sofia Nascimento Rodrigues

quarta-feira, 12 de junho de 2013

ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE


Não sabia….
Nem sonhava!
Não sabia que a morte separava…
(De vez).

Pensava:

é só uma pausa
nesta angustia de saber
que tu morrias.

Como eu gostava…

(Sonhar o que sonhavas
Viver o que vivias
(Re) Escrever o que escrevias)

De dizer

Vou esperar….

Talvez um dia…

Perdoa.
Eu não sabia que a morte separava

segunda-feira, 10 de junho de 2013

DIA DA RAÇA

Faz hoje cinco anos. Viana do castelo. 10 de Junho de 2008. O Henrique é agraciado com a Grã Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Esta atribuição constitui para mim, uma enorme, embora gratificante, surpresa. Como se sabe, estou a terminar o meu último mandato como Provedor de Justiça e completei também 44 anos de trabalho ininterrupto, a maior parte dos quais ao serviço do Estado. Considero assim que o Senhor Presidente da República quis ter a gentileza de distinguir uma vida de serviço público. Se alguma coisa esta condecoração significa para o futuro, creio que ela aponta para a exigência de trabalharmos para um serviço público de rigor, de isenção e de qualidade, ao serviço do nosso País e dos portugueses”.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

UM SONHO ADIADO

 Ao renunciar o meu pai regressa a casa.Trouxe consigo sonhos e projectos, alguns dos quais já não lhe coube concretizar. Entre os projectos, criar uma Associação Lusófona dos Provedores de Justiça seria um deles. “Longe não virá o dia, quero desejar, em que poderemos criar uma Associação ou Federação dos Provedores/Ouvidores de fala portuguesa, integrando os Ombudsman dos oito países, cada um com as suas particularidades, ´ todos iguais, todos diferentes’.
“ Para mim seria muito bonito que, antes de terminar o meu mandato, nós pudéssemos avançar com o apoio a estes Provedores de Justiça de Justiça e depois, quem vier depois de mim, criar uma Associação de Provedores de justiça Lusófonos. Porque não, um dia, uma associação Lusófona dos Provedores de Justiça? É uma coisa que mais dia, menos dia, acontecerá, já não no meu tempo, mas acontecerá certamente.
O meu pai explicava assim este ‘sonho adiado’ : "Se os ombudsman dos países da América do Sul já criaram a sua Federação; se os Ombudsman francófonos estão, eles também, agrupados (…); se os 25 países da União Europeia têm os seus Ombudsman, que se reúnem periodicamente e têm ´redes´ estreitas de relacionamento; e se Timor-Leste, Angola, Moçambique e Cabo-Verde já têm Provedores de Justiça ou, pelo menos, já os instituíram constitucionalmente – o que falta então para o grande e tão variado mundo da língua em que todos nos entendemos avance uma qualquer fórmula de associativismo das suas instituições análogas? Falta-nos o Brasil, claro. Podemos criar as raízes dessa associação – mas sem as adequadas instituições brasileiras, ela seria como um embondeiro de tronco retorcido, um jacarandá ou uma buganvília sem cores, uma cerejeira sem fruto, ou um coqueiro com cocos sem sumo. Não seríamos nós todos, portanto. E ou somos nós todos ou não saberemos responder ao desafio histórico do século da mundialização, da riqueza intercultural de que também se faz o humanismo e dos direitos humanos que são universais”.

Sofia Nascimento Rodrigues 
 Fotografia feita em Luanda - Provedor de Justiça de Angola. Representação de Cabo- Verde e do Brasil. Representados outros países africanos 
A 28 de Maio de 2013 foi assinada a Declaração de Lisboa que cria a "Rede", embrião desse grande sonho. Foi notícia: " Países de Língua Portuguesa já têm ´Rede' de Provedores de Justiça, Comissões Nacionais de Direitos e demais Instituições de Direitos Humanos. Assinaram os sete: Lisboa, Angola, Moçambique, Brasil, Cabo-Verde, Guiné, Timor- Leste.
De facto " Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"
  

quinta-feira, 6 de junho de 2013

SER PARA SERVIR

Na carta que, a 3 de Junho de 2009, envia ao Presidente da Assembleia da República, o Henrique põe a nu a situação de incumprimento do dever de ser substituído, não por ele, nem para chamar sobre si os holofotes de um palco que nunca quis, mas sim por uma instituição que corria o risco de disfunção e por um órgão merecedor de outro respeito institucional. Mais do que no plano dos deveres legais e constitucionais, que poderiam estar em causa, foi no plano da humanidade que o processo de substituição do Provedor de Justiça se jogou e falhou.
“ Nunca o nosso pai esteve em cargo algum por estar. Esteve apenas onde, se e quando pudesse estar ao serviço, contribuir e ser útil. E nos cargos em que esteve, públicos ou privados, fê-lo para desbravar terreno e semear colheita, nunca para colher fruto. Esteve sempre para servir. E só enquanto o pudesse fazer. Quando nas suas convicções profundas entendia dever retirar-se, fazia-o renunciando, se fosse o caso. Foi assim em 1981, quando ocupava o cargo de Ministro do Trabalho, que fez cessar por não ter condições para cumprir o diálogo social alargado que convictamente defendia. Foi assim também em 1984, quando renunciou ao cargo de vice presidente do Partido Social Democrata por estar em profundo desacordo com o reconhecimento dos Trabalhadores Social Democratas como estrutura partidária. E foi assim em 2009, quando renunciou ao cargo de Provedor de Justiça, por razões de defesa da dignidade da instituição e da sua intrínseca liberdade pessoal”.

Sofia Nascimento Rodrigues   

quarta-feira, 5 de junho de 2013

AS PERGUNTAS QUE FICARAM

Terminado o quadriénio do 2º mandato como Provedor de Justiça em Junho de 2008, a lei impunha que a designação do seu substituto, (não poderia ser eleito para novo mandato), tivesse ocorrido entre Maio e Junho desse ano. Já vimos como foi doloroso e difícil, de todos os pontos de vista, o arrastar desse processo que culminou com a renúncia ao mandato.

"Na nossa condição de família, questionamos o 'porquê' da situação que vivíamos mas nas respostas que nos dávamos nunca encontramos nenhuma razão que pudéssemos considerar justificativa do esforço diário que fazia e do agravamento crescente do seu estado de saúde. Salvo uma: a sua vontade livre de se manter nessa situação.
Hoje, conscientes de que empregou nessa recta final da sua vida pública a sua última força física, perguntamos apenas 'para quê' e sabemos que a vida do pai teve um sentido que o ultrapassou. A sua decisão de renúncia foi o mais significativo gesto de liberdade, de homem público e político, que nesse mesmo momento se despediu dessa condição.
Se aceitou ficar no cargo de Provedor de Justiça 10 meses além do seu término fê-lo  pelos cidadãos que servia e pela defesa do prestígio do órgão para o qual havia sido eleito nove anos atrás. Mas fê-lo apenas até ao momento em que terá percebido que serviria mais se provocasse a vacatura do lugar, forçando assim a eleição do seu sucessor."
Sofia Nascimento Rodrigues

terça-feira, 4 de junho de 2013

TODOS OS DIAS

Mergulhar fundo para encontrar quem nos traz à superfície.
Mergulhar fundo.
Todos os dias

 Férias. Agosto de 2007. Valença do Minho. Pousada de São Teotónio

PARA ALÉM DA VIDA

“ Sobre as causas da renúncia do meu pai ao cargo de Provedor de Justiça, e sobre o processo que o levou a decidi-la, creio que ele disse tudo e exactamente aquilo que queria dizer. Mais não teria dito se mais tempo tivesse vivido.
Mas não sendo a sua doença a causa dessa renúncia, poderíamos nós, família, não a olhar também nesse particular contexto de debilidade física? A verdade é que, forçado a manter-se no cargo, foi-lhe exigido um esforço físico que a sua já muito debilitada situação de saúde, não deveria suportar. Forçado a manter-se no cargo, adiou actos médicos, que se impunha realizar. Forçado a manter-se no cargo chegou mesmo a exercer as funções de Provedor de Justiça hospitalizado. Deixou-se esforçar para além da sua possibilidade física. Mas nunca se deixou forçar para além da sua consciência e da sua liberdade. Foram estas e não aquelas que ditaram o momento em que entendeu renunciar”.

Sofia Nascimento Rodrigues 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

JUSTIÇA AO PROVEDOR

Todo o processo da substituição do Henrique foi seguido com espanto. Acredito que o País tenha sentido alívio quando  pôs fim às cenas deprimentes desse malfadado ano, renunciando. Para que a nossa memória colectiva não desapareça, tomo a liberdade de deixar, aqui, hoje, um testemunho público, entre os muitos que se encontram publicados.

6 Junho 2009 por Nuno Freire

Senti alívio ao saber da notícia da renúncia do cargo de Provedor de Justiça de Nascimento Rodrigues.  Podem ler a carta de renúncia aqui É uma mostra de elevação e uma bofetada de luva branca nos dois partidos com maior representação parlamentar, o PS e o PSD.
Revolta-me termos chegado a esta situação, por duas razões:
Uma, de humanidade, que parece não existir nos deputados do PS e PSD e que apesar “das debilitadas condições de saúde” do provedor, como escreve o próprio na carta, não souberam, não quiseram, encontrar um consenso para a sua substituição, deixando esta situação prolongar-se por um ano. Um ano!
Como é possivel obrigar uma pessoa num cargo até já não ter condições de saúde para o exercer? E assistir sem vergonha ao Provedor falar aos jornalistas em visíveis dificuldades físicas?
Outra, de desrespeito pelo cargo e pelos cidadãos; estes senhores deputados estão apenas interessados em fazer prevalecer o seu ponto de vista e agora que as posições se extremaram nenhum quer recuar. Com isto demonstram o valor que dão ao cargo de Provedor de Justiça. Na sua óptica, concerteza, nenhum.
O Provedor de Justiça tem por função, segundo o artº 1º do seu estatuto, “a defesa e promoção dos direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos dos cidadãos assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade do exercício dos poderes públicos”.  É desta representação Concidadãos que nos estão a privar.  Ao contrário dos senhores deputados, eu acho o cargo muito importante.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

ISENÇÃO E TOTAL INDEPENDÊNCIA

Para o Henrique seria impensável que o Provedor de Justiça  não tivesse uma posição de isenção, de imparcialidade, perante a política partidária. “Não nos podemos influenciar pela política partidária. O nosso papel é defender os cidadãos”.“As instituições são o que são os seus protagonistas. O cargo não se detém: exerce-se, faz-se, cumpre-se.
E foi assim, cumprindo, que terminou a carta de renúncia ao cargo que exerceu durante nove anos-
Senhor Presidente da Assembleia da República
“ Os quase nove anos de exercício de mandato que cumpri revelaram, como se atestou nos sucessivos relatórios anuais apresentados ao Parlamento:
1º que se alcançou um volume sempre gradualmente crescente de queixas ao Provedor de Justiça, culminando, em 2008 com o maior número de processos de reclamações organizado em toda a história da instituição;
2º que se evidenciou ao longo destes anos uma maior diversidade nos assuntos apresentados ao Provedor pelos cidadãos e uma mais equilibrada repartição de queixas por género e por áreas geográficas;
3º que se baixou acentuadamente o nível de pendência processual -«cancro» costumeiro das organizações do Estado – o qual desceu de mais de 7300 no início de 2000 para 1752 processos no final de 2008
5º que a taxa de eficiência ou de celeridade processual foi também a mais alçta de sempre, chegando a atingir 81,4% em 2007.
Se recordo isto, que é incontroverso e se encontra devidamente documentado, é apenas com o intuito de afirmar a serenidade responsável com que cesso as funções que me foram cometidas e que estou convicto de ter exercido sempre com isenção e com total independência – porque outros juízos já não me cabem.
Dignar-se-á Vossa Excelência transmitir aos Senhores Deputados esta comunicação de renúncia e ter a gentileza de aceitar os protestos da minha mais elevada consideração”.

Lisboa, 3 de Junho 2009




quinta-feira, 30 de maio de 2013

O QUE ME PREOCUPA NESTA HORA

O Henrique dá por findo o seu último mandato como Provedor de Justiça. Na carta enviada ao Presidente da Assembleia da República assume a sua maior preocupação ao abandonar o cargo. Vamos ouvi-lo enquanto o lemos:
“Senhor Presidente da Assembleia da República”
“ Consinta-me também falar da vida, isto é, do futuro imediato da instituição, que é o que mais me preocupa nesta hora.
Sinto como minha obrigação chamar a atenção do Parlamento – e faço-o, naturalmente, com o respeito institucional devido – para que se retome um processo negocial de consensos com vista á eleição do novo Provedor de Justiça tão cedo quanto as circunstâncias políticas o permitam. Exige-o o interesse do País, reclama-o a dignidade das instituições – do Parlamento e do Provedor de Justiça –, merece-o sobretudo o cidadão, porque está mais do que comprovado que o Provedor, destituído embora congenitamente de poderes injuntivos, tem sido, nestes 34 anos de existência, uma peça nuclear na defesa dos seus direitos face aos poderes públicos.
Se acaso, não se reunirem, em breve, aquelas condições políticas para eleição do novo Provedor, é imprescindível que a Assembleia da República acompanhe estreitamente o trabalho da Provedoria de Justiça neste período – que infelizmente pode ser longo – de vacatura do cargo de Provedor.
Não o afirmo porque eu duvide do empenho, do esforço e da alta competência profissional dos meus colaboradores. É ao contrário: exactamente porque estou seguro de quanto valem, é mister não os deixar sem o apoio que, na falta do Provedor, deve ao Parlamento manifestar-lhes. Merecem-no inteiramente, Senhor Presidente; mas, sendo humano um natural desânimo e intranquilidade pela falta do Provedor, tornar-se-á imperioso que o Parlamento, através da sua comissão competente, ou pela forma que se entender mais adequada, promova esse acompanhamento assíduo e dedique o melhor da sua atenção à Provedoria de Justiça. (…) Ver-se-á como a Provedoria de Justiça sabe responder com brilho, independência e alta qualidade profissional ao desafio que os avatares da política lhe deixaram”.(…)