segunda-feira, 30 de abril de 2012

COMO TÉCNICO DA OIT


A 18 de Outubro de 1985 “O Jornal” noticiava:

Nascimento Rodrigues na Guiné Bissau





“Foi no final de Agosto que Nascimento Rodrigues firmou com a OIT um contrato como consultor em legislação laboral na Guiné Bissau. O contrato segue-se a outras missões desempenhadas pelo ex-ministro do Trabalho do I Governo de Pinto Balsemão, na qualidade de perito da OIT, junto dos governos da Guiné Bissau e de S. Tomé e Príncipe. Nascimento Rodrigues estará em Bissau pelo menos um mês. É o único perito português que tem trabalhado com a OIT em matéria de legislação do Trabalho. Trata-se, contudo, de uma colaboração a título pessoal, uma vez que nunca foi enquadrada em qualquer iniciativa do Ministério do Trabalho”.
“ Cá cheguei… bem. A viagem foi boa, mas muito maçadora, porque longa (desde Genebra) e com essa atrapalhação toda da escala em Lisboa. (Foi necessário ir ao aeroporto trocar a mala - receber a mala com roupa de Inverno, e entregar uma mala com roupa de Verão. Tenho  bem presente, ao fim de tantos anos, quão terrível foi o stress deste breve encontro em pleno aeroporto. Depois de quase um mês em Genebra, a que se seguiria mais um mês em Bissau, tanta saudade, tanta coisa para pôr em dia, tão pouco tempo). Felizmente que o funcionário da TAP foi de grande eficiência e simpatia. Tinha à minha espera no aeroporto o Director Geral do Trabalho, em representação da Secretária de Estado, e também o 1º Secretário da nossa Embaixada e o Engenheiro da Cicer (cervejas de cá). Correu tudo sem qualquer problema e com todas as atenções (formais) que são possíveis. Decidi ficar no Hotel até amanhã (2ª feira), pois só então terei a primeira entrevista com a Sec. de Estado e só a partir daí me será possível estar seguro de que terei carro à disposição.
Como eu calculava foi um fim de semana inútil e difícil de passar porque não há nada para fazer. Mas como dizia, se de facto, ficar com o carro à minha disposição, instalar-me-ei então num apartamento da Cicer, que são melhores do que o Hotel por causa da água – luz garantidos. Além disso, só o apartamento do hotel custa 70 dólares (ou seja 12 contos), fora as refeições, o que é muito. Virei então, como tinha pensado, tomar as refeições ao hotel.
O hotel parece-me, no aspecto de alimentação e serviço, francamente melhor. Calcula que tive a surpresa de ter ao pequeno almoço café com leite, manteiga e queijo, e toalhas muito limpa. São portugueses (TAP e Estoril Sol) que exploram o Hotel.
Com as correrias da chegada e da partida, deixei na mala documentação que me é essencial para o trabalho aqui. São documentos da OIT sobre convenções ratificadas pela Guiné e um relatório assinado. Manda-me isso com urgência, pois preciso para o trabalho.
Bissau 17 de Novembro de 1985

sábado, 28 de abril de 2012

INDEPENDÊNCIA PARTIDÁRIA?


Maio de 1985 – Os partidos movimentam-se na escolha dos candidatos à   Presidência da Republica, (eleições presidenciais de Janeiro de 86). Em cima da mesa dois nomes: Diogo Freitas do Amaral e Mário Soares. Ambos são lançados, pelos respectivos partidos, como “candidatos autónomos” ou “ independentes”.
Em Editorial, no “Povo Livre”, o Henrique comenta, causticamente, a maneira como ambas as candidaturas são apresentadas à opinião pública. 
“O sentido de humor fundado na dialética do ridículo constituem, muitas vezes, a arma mais poderosa e o antídoto mais eficaz que nós, portugueses, usamos para contrapor à onda de inversão de valores e princípios e à avalanche de desatino de ideias e de emaranhado de atitudes que de quando em quando a vida política faz desabar sobre nós. Eles exprimem, ao fim e ao cabo, os sinais de sanidade e as pulsações viris de uma consciência colectiva que permanece desperta e sadiamente refractária às tentativas de manipulação da opinião e de colonização do senso comum. Pena é que essas tentativas ganhem guarida de honra de títulos de caixa alta de alguma imprensa quer estatizada, quer privada, porque, se assim não fora o clima político nacional seria decerto muito mais despoluído
………………….
Já temos, assim, o Prof. Freitas do Amaral, fundador e rosto carismático do CDS, como independente e, pelos vistos, vamos ter o Dr. Mário Soares líder natural do PS e membro proeminente da Internacional Socialista, como candidato autónomo. Por este andar, o Dr. Álvaro Cunhal é capaz de não resistir, e no dobrar da próxima esquina arriscamo-nos a vê-lo jurar, com o apoio do MDP, Verdes, CGTP-IN e Associação dos Pequenos Ceifeiros de Borba, que é um candidato não partidário - e, obviamente, democrata.”
IN “O Povo Livre” Editorial 9 de Maio de 1985

sexta-feira, 27 de abril de 2012

UMA SÓ VIA - SOCIAL- DEMOCRACIA


Cada homem nasce com direito a liberdades e com o dever de responsabilidades, sem as quais não será ele próprio, na sua identidade e dignidade medulares. Identidade e dignidade que têm de ser garantidas a todos, porque se não o forem e enquanto o não forem nenhum de nós será verdadeiramente livre”.
IN “ O Povo Livre” 15 de Maio de 1985

NOTAS POLÍTICAS (100)


“Não somos um Povo de ingratos para com os nossos, não somos um Partido de companheiros que se desgastam entre si, desgastando o Partido. Há exemplos em contrário? Pois há. Mas assim como a andorinha não faz a Primavera…
Não há, assim, razão para que tenhamos receio do futuro e não há motivo sério para, no imediato, se presumir qualquer perturbação sensível ou indecisão no norte do nosso caminho”.
IN “ O Povo Livre” 11 de Abril de 1985

quinta-feira, 26 de abril de 2012

NÃO QUEREMOS FAZER PORTUGAL ESQUECENDO PORTUGAL


A 15 de Maio, dirigindo-se aos militantes que estarão presentes no Congresso da Figueira da Foz, escreve em Editorial no “Povo Livre:
São 16 moções, mil e duzentos delegados, centenas de observadores e convidados. É toda a imprensa, mais a rádio e a TV. Milhares de olhos que nos seguem com ansiedade ou com desconfiança, vozes que nos interrogam ou deixam apelos e alertas. É o País inteiro que está a olhar para nós, os Sociais-Democratas reunidos no seu XII Congresso. Que vamos nós responder ao País , companheiro amigo?
Tu, vieste de Monção, de Leiria, de Faro ou do Funchal ou da Horta, ou de Paris e Toronto se és emigrante. Nós somos carne de Portugal feito comunidade espalhado além fronteiras.   
Somos filhos desse Povo que tem berço nas escarpas do Douro e nos picos da Estrela, que fez ninho nos barcos de pesca aproados em New Bedford, que palmilhou as anharas da Cameia e os trilhos de Bamabadinga. Povo que foi e retornou, que saiu e não voltou, ou que nunca se aventurou.
Viemos daí. Temos orgulho nos padrões da nossa história e da nossa cultura. E por isso respondemos ao País em primeiro lugar, que não sabemos propor para onde vamos sem dizer de onde viemos. Não queremos fazer Portugal esquecendo Portugal.
Por isso respondemos ao País, que somos Sociais-Democratas e não conservadores de direita ou de esquerda. Sabemos que o futuro já começou. Temos de o ganhar fazendo do presente o rio impetuoso que desagua no mar desse futuro. Cada um de nós é uma gota desse rio. Se nos perdermos no leito a que pertencemos, o rio será riacho, o riacho pode transformar-se em fio de água. É indispensável, portanto, que saibamos estar unidos sob a identidade que faz de nós o mesmo rio. Porque é essa identidade que timbra as nossas propostas políticas, que nos diferencia. E ao diferenciar-nos, seremos fieis às origens e dignos dos que em nós confiaram."
Editorial de “O Povo Livre” 15 de Maio de 1985


NOTAS POLÍTICAS (99)


“A regra da responsabilidade por actos políticos é medularmente democrática e é salutar que seja de facto praticada. Mas para o ser não pode funcionar num só sentido. E, sobretudo, não pode funcionar para servir de capa a objectivos que só longinquamente terão alguma coisa a ver com a Democracia. Isso seria, exactamente, desvirtuar o sentido ético da política e denegrir a prática democrática”.
IN “ O Povo Livre” 11 de Abril de 1985

terça-feira, 24 de abril de 2012

ASSUMIR O 25 DE ABRIL


«Para quantos, os três D da efeméride – Democratização, Descolonização, Desenvolvimento – se foram transformando em Desencanto, Desesperança, Desespero?
Entre esses estarão, quase certamente, os homens que se foram vendo com os salários em atraso de meses, os que querem trabalhar e se arrastam sem vislumbre de emprego, os que procuram investir honestamente e se defrontam com a teia tentacular de papeis, hierarquias e propostas concupiscentes. Muitos deles serão, é bem provável, os jovens que sonharam ser médicos, ou técnicos agrícolas, e foram atirados para sociologia ou encaixados em literatura, para depois palmilhar o caminho infindável do desencontro com as portas do trabalho que por aí não se abrem. E serão ainda, possivelmente, as mães de família que todos os dias operam o milagre da multiplicação de sobras cada vez menos elásticas. Só não serão as crianças que abalam para a escola de estômago vazio porque essas, coitadas, não sabem que Abril lhes prometeu outro mundo.
……………….
Os estômagos não têm o dever de saber captar a justeza dessas frias e bizarras comparações estatísticas intercontinentais, e a consciência de um Povo de oito séculos tem o direito de exigir para os seus filhos que a terra a que pertencem não lhes seja madrasta.
E, todavia, também é verdade que se justifica um orgulho colectivo pelo que se progrediu (pesem as imperfeições) na institucionalização e no exercício das liberdades cívicas e políticas e na modelação de regime democrático. Tudo isto escora alicerces que importa solidificar, aperfeiçoar, ampliar, no combate pela dignidade de cada homem e na preservação de valores multisseculares de identidade nacional.

O tempo urge porém. É preciso lançar por sobre os alicerces as paredes que não se acabaram e os tectos que não se começaram. É preciso que os verdadeiros ideais a que não se deu corpo ainda sejam revigorados pela coragem e lucidez de quem sabe que para espraiar a democracia e manter a liberdade é preciso cumprir a justiça.

Assumir o 25 de Abril é também, e por isso, assumirmo-nos como sociais-democratas. No nosso próprio reencontro.”
Editorial de “O Povo Livre”, 24 de Abril de 1985

segunda-feira, 23 de abril de 2012

NOTAS POLÍTICAS (98)


“A política é o risco da escolha. Somos um Partido grande e um Partido social-democrata. Nunca fomos e não queremos ser um partido de feição liberal. Mas o curioso de tudo isto é que uma estratégia anticonsensual pode conduzir em linha recta a esse resultado, seguramente ao contrário do que estou certo ser propósito sincero de quem a propugna e brande. Esse seria um resultado desastroso em termos dos interesses  de Portugal e de efeitos devastadores para o Partido, tal como nasceu e se fez. Mas não é essa, sequer, a imagem mais nítida que se me assume no écran desta questão. Por alguma, provavelmente absurda, conotação de ideias, a memória foca-me com insistência a paisagem de um deserto com um cacto solitário tombado sobre os seus próprios espinhos”.
Editorial de “O Povo Livre” 17 de Abril 1985


domingo, 22 de abril de 2012

1985

Em Fevereiro de 1985, Mota Pinto demite-se do PSD e do Governo.
No Congresso de Troia, a 23 de Fevereiro, nasce o PRD.
O Henrique dirige o “O Povo Livre” em Abril e Maio.
Subitamente, a 7 de Maio, duas semanas antes do Congresso da Figueira da Foz , morre Mota Pinto:
“ Os Deuses devem estar loucos: aquele que deveria ganhar o próximo Congresso (se as contas e a lógica estivessem certas) morreu em Maio. Não era um cidadão qualquer. Era quem, plenamente, exerceu o dever da cidadania e se assumiu como patriota. Mal ou bem - com erros por certo- Carlos da Mota Pinto procurou para este País, o nosso, uma solução.”
Nuno Rebocho In “ A Tarde” 8 de Maio de 1985
Cavaco Silva vence o Congresso da Figueira da Foz.  Em Junho é assinado o tratado de adesão à CEE. Cai o governo do Bloco Central, e a 6 de Outubro o  PSD ganha as eleições legislativas. Cavaco Silva é 1º Ministro.
1985 é também o ano em que o Henrique regressa à Guiné Bissau.

“Assumo a responsabilidade de dirigir o “Povo Livre” com a consciência da missão de militância que o seu exercício supõe e implica. Esse o vector fundamental por que tenho pautado a minha actuação ao longo destes anos, sempre que o partido decidiu chamar-me para esta ou aquela tarefa. Pretendo continuar a ser, hoje e neste cargo, o que fui ontem e noutros
A militância é uma missão de desempenho permanente para um social-democrata. Não é um sacrifício, não constitui um esforço incómodo, não exige recompensa ou benesses: é apenas o exercício do nosso sentido de liberdade responsável e empenhada na realização dos valores que o PSD defende.
Passo a dirigir “O Povo Livre”, portanto, porque quis aceitar o convite que me foi formulado e afirmo que me sinto satisfeito por o Partido ter entendido que eu poderia ser útil à frente destas colunas. Habituei-me a que, no PSD, somos homens livres e solidários. Fica claro, pois, que venho porque quero, e quero sem que alguém me deva algo ou eu deva a quem quer que seja – salvo a solidariedade recíproca de sociais-democratas, que dá sentido, conteúdo e valor à nossa própria liberdade.
 Mas a militância é também por natureza, variável e variada, visto que devemos estar onde seja preciso e possamos ser úteis, e enquanto assim for. Por isso mesmo o cargo que hoje assumo tem para mim o horizonte temporal da utilidade que para o partido resultar do modo como eu o exercer. E tem outro limite, que não posso deixar de impor-me: porque este é um cargo da confiança da direcção do partido, fica ele, desde já, à disposição dos companheiros que o Congresso da Figueira da Foz vier a eleger».
In " O Povo Livre" 11 de Abril de 1985

sexta-feira, 20 de abril de 2012

MÃE ÁFRICA

POEMA P'RA MINHA MÃE ÁFRICA

Minha Mãe África,
finalmente tu vieste.
Tu vieste como me fizeste:
sem distância, horizonte sem fim,
o ar calmo, quase parado, 
cheio de luar.
Ouço nos teus longes
o silêncio,
o silêncio leve e sereno
do reencontro comigo.
O silêncio que diz mil coisas
que eu digo a mim próprio.
Tu não tens fronteiras, Mãe África:
mas tu estás aqui, 
aqui ao pé de mim, 
aqui dentro de mim.
És tu, sim,
Mãe África.
És tu como te conheci.
És tu como me fizeste.
Na noite que já caiu,
noite longa e silenciosa,
não fala homem,
não ladra cão,
não muge vaca,
não chora cabrito.
Apenas este grilar,
das centenas de cigarra,
ou de formiga,
ou de grilo,
que me dizem que tu estás a viver.
E a tua vida entra dentro de mim,
e a minha vida fica maior,
e fico com mais vida para dar aos outros
e para dar a ti, também,
Minha Mãe África.
Oh, minha Mãe África:
eu não vou voltar
 de vez,
nunca mais.
Mas quando eu volto assim,
um bocadinho,
para te ver e encontrar-
é como se fosse 
aquele dia
em que eu voltasse de vez
é como se fosse aquele dia
em que eu tinha o mundo dentro de mim,
porque tu me davas o mundo
para que eu pudesse dar o mundo
- Aos outros e a mim.
Nunca mais,
nunca mais,
Minha Mãe África,
poderá voltar a ser assim.
Assim quando era ontem, que já não é hoje
e não será amanhã.
Mas deixa este bocadinho 
de hoje:
-Como se fosse ontem
-E como se viesse a ser
AMANHÃ.

Henrique Nascimento Rodrigues,  São Tomé e Príncipe, 6 de Dezembro de 1984 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

CÁ ANDO NA MINHA VIDA


“Apanhei uma constipação “tipo alérgico” e passei um fim de semana muito chato. Agora passou a fase aguda da “choradeira” e da “pingadeira” e espero que não regresse. Cá tenho andado na minha vida: visitas a empresas de manhã e à tarde “entretenho-me” a ver a legislação antiga e a que foi emitida pós- independência. Tenho achado pouco interesse neste trabalho, por falta de contactos abertos. Dizem-me que está tudo bem… Outro dia, já farto, perguntei: então se está tudo bem, para que querem um consultor e novas leis? Não se deram por achados: “se for para melhor”…
Enfim assim não é trabalho a sério, mas isso não é comigo. Pode ser, entretanto que as coisas se modifiquem, porque chegou ontem e vai cá estar durante duas semanas o responsável pelo bureau da OIT para a África Central. É francês (ou belga) e parece simpático. Entretanto terminou a fase de visitas, só tenho mais uma programada para a próxima 3º feira. Não sei bem como vou fazer o relatório, porque desta forma como as coisas correram apanhei mal as realidades. Só se até à partida conseguir entrar um pouco mais nos meandros.
Não sei nada do que passa aí, porque não tenho tido contactos com a Embaixada. É o problema de estar cá em cima e a Embaixada só funciona de manhã, até às 13 horas.
“Cheira-me” que isso, aí, pode começar a embrulhar-se e o Mota Pinto não aguenta. O problema é que não há alternativas credíveis.
Comecei a contagem decrescente para a partida. Tem continuado a chover bastante, menos na cidade. Mas aqui na Pousada chove bastante, faz fresco e nevoeiro”.
29 de Novembro de 1984
“ Terminei o programa das visitas às empresas e ando a ler a legislação vigente, que é uma “salsada ”. É um trabalho monótono e sem interesse, assim. Espero, naturalmente, ter uma entrevista final com o Ministro do Trabalho. Se não fosse dever preservar o meu nome nesta missão, confesso que despacharia o relatório com a conclusão de que… escolham outro para fazer a legislação! Mas é evidente que não pode ser assim.
Que se passará em Portugal? Está cá um português que mora no Cadaval, que me disse que não há nada de especial. Calcula que ele é um adepto fervoroso do Pinto Balsemão e diz que Montechoro foi uma desgraça para o PSD. Só me faltava esta!”
São Tomé 3 de Dezembro 1984

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SAUDADES DO AVÔ (10)



Há sete anos, com o  Vasco, (neto nº 9). 

AO MENOS SE EU ENGORDASSE…!


“Estou bem de saúde, aliás parece que o paludismo está quase erradicado. Por outro lado, o clima é bom pelo menos em comparação com a Guiné Bissau. Há mudanças frequentes de temperatura entre a cidade e a Pousada. Lá em baixo faz mais calor, cá em cima quase sempre é fresco e, até, enevoado. Alguns dias tem chovido quase todo o dia. À noite durmo com cobertor. A alimentação tem sido bastante razoável. A Pousada é o melhor que têm, só alguns estrangeiros vêm para cá, de modo que só falta aquilo que não se pode mesmo arranjar. Por exemplo, faltou a cerveja no país, não há cerveja em São Tomé, mas, aqui, temos cerveja da Rep. Dem. da Alemanha. A carne também é deste país (congelada), quando não servem frango ou cabrito. Enfim, no aspecto de clima, instalações e alimentação pode considerar-se tudo muito razoável (na Pousada). Quanto ao resto é que é diferente da Guiné Bissau.. Têm-me tratado com muita correcção e algumas facilidades (o jipe do M.do Trabalho vem buscar-me de manhã e trazer-me ao almoço). Tenho ocupado as partes da manhã em visitas às empresas e as tardes fico na Pousada. Julgo que a partir de amanhã começarei a ocupar as tardes no próprio Ministério do Trabalho onde (parece) terão, finalmente, arranjado um sítio onde me instalarão. Quer dizer, neste aspecto, sinto um certo isolamento, que possivelmente poderá desaparecer. Não ouvi notícias nenhumas de Portugal e desde domingo que não falo com o Embaixador. Será que já se realizou o Conselho Nacional de Viseu? Ter-se-á passado algo de decisivo? Não acredito muito…
Cada vez me convenço mais de que não estamos a saber ocupar o nosso lugar no relacionamento com África. Aqui há muitos peritos internacionais, das mais variadas nacionalidades (portugueses, poucos). Depois de amanhã chega um perito brasileiro que também vem para assistência técnica ao MT (higiene e segurança no trabalho).
O tempo custa um pouco a passar, sobretudo pelo isolamento da Pousada e falta de contacto com não profissionais. É a parte que mais me tem custado. Estou com curiosidade em ver como vai perspectivar-se e a continuação deste projecto, pois é evidente que terá de ser prosseguido. Trata-se, por ora, de uma missão preliminar ou preparatória. Creio que vai haver “chances” de continuação, mas não estou certo.
Ainda falta muito para 13 de Dezembro e por isso é preciso ter paciência. Ao menos se eu engordasse….!”
São Tomé 21 de Novembro 1984

terça-feira, 17 de abril de 2012

POUSADA BOA VISTA, SÃO TOMÉ


“ A Pousada fica a 15km (30 minutos) da cidade, e é isolada e não tem transportes públicos. O grande problema é, portanto, o transporte. Aceitaram vir buscar-me e trazer-me, mas não muitas vezes, com o argumento (real?) de que há falta de carros. A Pousada é boa, talvez melhor que o hotel de Bissau e tem uma vista deslumbrante. Está cá em cima, é fresco e vê-se o mar e a cidade ao longe. O quarto é bom, tem casa de banho privativa e mesa e cadeiras e um sofá. A sala de jantar e o bar são também agradáveis. Já me sinto outro nesta instalação, isto já tem ar civilizado e comodidades (as possíveis). Ontem senti-me mesmo mal na espelunca das N.U., onde porém, estavam outros peritos internacionais (um belga, um turco e um boliviano). Vamos a ver, agora, se eu consigo, aos poucos, que me vão vindo buscar e trazer à cidade, porque como disse, isto é muito bonito e relativamente cómodo mas tem o grande problema do isolamento. Imagino que passar aqui grande parte do dia e a noite sem ter qualquer movimento seja depressivo. Na cidade, que tem melhor aspecto que Bissau, ao menos pode passear-se nas ruas e à beira mar. De facto a paisagem é infinitamente superior á de Bissau. O movimento é um pouco melhor, mas também não há esplanadas nem cafés. As ruas são mais limpas e as casas melhor tratadas e mais originais, porque muitas são construídas em madeira. Mas as lojas estão vazias. Em todo o caso, se há falhas grandes (por exemplo, não há tabaco à venda etc.), consegui encontrar papel para escrever ( esqueci-me de trazer papel), o que não conseguiria em Bissau.. À noite, acaba-se de jantar às 8 e depois não ´ha nada para fazer. Aliás, outra diferença em relação a Bissau é que, às 5.30, a noite cai repentinamente. Os meus colegas da ONU diziam-me ontem que a única coisa que fazem é passear à beira mar e no fim de semana ir para as praias, que todos dizem ser magníficas. O resto do tempo que não se está a trabalhar passa-se - "passa-se" é a expressão certa. Como aqui na Pousada o clima, quanto me parece é fresco e não opressivo, verei se ganho coragem para aproveitar as prováveis muitas e muitas horas de nada fazer para ler (estudar) os livros que trouxe. Se eu conseguir combinar esta calma daqui de cima e as suas possibilidades de descanso, relaxe e estudo com algumas idas à cidade para "ver gente" , então talvez as coisas se componham e isto acabe por ser minimamente suportável."
São Tomé 15 de Novembro 1984

segunda-feira, 16 de abril de 2012

SÃO TOMÉ NOVEMBRO DE 1984

O dia da chegada - a preto e branco


Cheguei ontem, (dia 14 de Novembro), depois de uma viagem morosa, mas sem história. À chegada, estavam à minha espera dois funcionários superiores do Ministério do Trabalho, muito novos ainda. Demorei cerca de duas horas para sair do aeroporto. Gira tudo com muito vagar. Depois levaram-me às NU (ONU), onde me apresentei. Sugeriram que eu ficasse num quarto do que, pomposamente, é chamado o “Guest House”. Bom, são uns apartamentos compostos de quatro miseráveis quartos, com uma única casa de banho para todos. O meu quarto era mesmo muito mau, nem uma pensão de terceira classe em Portugal. Fiquei muito mal impressionado. Nem mesmo uma mesa no quarto para trabalhar, nem um sítio para pôr o casaco, etc. O único “luxo” era uma ventoinha! A vantagem, em contrapartida, é estarem situados na cidade. Desta vez, até agora pelo menos, não tenho carro à disposição. A grande diferença em relação a Bissau é essa: aqui sou tratado (até agora) como um perito internacional, e há muitos. A diferença de acolhimento é como do dia para a noite, em relação à experiência na Guiné. Depois, constatei que também não dispunha de nenhum gabinete ou secretária para trabalhar no Ministério do Trabalho. Perante isso, disse que, uma vez que grande parte do meu trabalho é de análise da legislação e recolha de dados precisava de me transferir para a Pousada, para poder ter uma mesa e melhores condições de trabalho, sob pena de não me responsabilizar por…. não fazer nada. Bem esta “ameaça” decidiu os funcionários do Ministério do Trabalho a permitirem que eu viesse, hoje para a Pousada.”
São Tomé 15 de Novembro 1984.

OIT FOI MAIS FORTE


A comunicação social escrita dá pouco relevo a esta opcção “Ultramarina”, do Henrique. No entanto, meses antes de seguir para a Guiné, já “ O Expresso” se referia ao assunto:

“Nascimento Rodrigues, actual vice-presidente do PSD vai chefiar uma missão de três meses na República da Guiné Bissau como perito da OIT, tendo para o efeito obtido já o “agreement” do governo de Bissau. A missão visa apoiar as autoridades de Bissau na elaboração da legislação laboral, e divide-se em três períodos de um mês entre os quais o dirigente social democrata estará em Lisboa. Apesar de ser membro suplente do Conselho de Administração da OIT, como representante de Portugal, Nascimento Rodrigues foi contratado individualmente para esta missão, como perito ( o que acontece pela primeira vez com um técnico português).”
 In “Expresso” 14 de Maio de 1983
 “Nascimento Rodrigues, o “obreirista” vice-presidente dos sociais democratas, parece atravessar uma grave crise de nostalgia ultramarina. Daí que prepare activamente a sua retirada para actividades no âmbito da OIT a desenvolver nos territórios de “além-mar em África”.
 In “O Diabo” 31 de Maio 1983

“Nascimento Rodrigues, um dos vice-presidentes do PSD recusou a chefia da Comissão permanente dos Sociais-democratas. Terá, segundo sabemos, duas razões de fundo, a primeira das quais se relaciona com a necessidade de reassumir a actividade profissional. Lembre-se que Nascimento Rodrigues não é deputado, não auferindo qualquer vencimento por actividade política. A motivá-lo o facto de Nascimento Rodrigues seguir amanhã para a Guiné Bissau, em serviço da OIT. Regressará da Guiné no final de Outubro”.

 In “ O Jornal” 16 de Setembro de 1983

“O dirigente social- democrata Nascimento Rodrigues recebeu, em representação de Mota Pinto, o ministro da Economia e Finanças da Guiné – Bissau , Victor Freire  Monteiro. Durante o encontro, foi abordada a cooperação entre Portugal e a Guiné Bissau, tendo Nascimento Rodrigues reafirmado o empenho do PSD no reforço, a todos os níveis e instâncias, dos laços de cooperação entre os dois países e os dois povos”

IN “ O Diário de Lisboa” 23 de Novembro 1983

1984 será o ano de São Tomé e Príncipe

domingo, 15 de abril de 2012

MISSÕES TÉCNICAS EM ÁFRICA

A  OIT, procurava um perito português para a realização de missões técnicas em Cabo – Verde Guiné Bissau e São Tomé. O Henrique aceita o desafio. As missões envolviam, pela necessidade de se conhecer os condicionalismos culturais, económicos e sociais específicos daqueles países africanos, estadias de vários meses, em cada país feita, de modo intermitente. Por exemplo: 1 mês em Bissau para contacto com os respectivos Ministros do Trabalho e altos dirigentes da Administração publica, (com vista a discutir-se a adaptação dos projectos legislativos às realidades nacionais dos Países), passagem e estadia em Genebra para contactos com o BIT, regresso por mais um mês a Bissau, estudo e redacção dos projectos e sua apresentação final às autoridades locais.
Com o pleno acordo das autoridades desses países, a legislação laboral portuguesa funcionou como modelo inspirador dos textos legislativos então formulados.
A primeira saída foi em Setembro de 1983, e dela já demos notícia no Post de Outubro de 2011.
Mas a 5 de Dezembro já estava em Genebra e dizia: 
Cheguei bem, mas as dificuldades são imensas, inerentes à aclimatação, desde as instalações, à comida e à convivência. O fim de semana custou-me muito a passar porque é difícil estar muitas horas no quarto (pequeno) do hotel.  Por outro lado, não se pode andar muito tempo na rua por causa do frio, que enregela.
Vou ter que mudar para a Résidence de France. O preço é o mesmo do Hotel, mas não tenho pequeno almoço. Em contrapartida tenho escrivaninha que me permite trabalhar à noite.
Hoje já comecei o trabalho a sério (8 da manhã às 5,30 da tarde, com uma hora para o almoço) no BIT, mas estou a ver que vou ter que trabalhar mesmo no “duro”, poi é difícil. Ao menos recupero os hábitos antigos de trabalho”
Genebra 5 de Dezembro de 1983

COOPERAÇÃO NO DOMÍNIO LABORAL


“A ligação com Angola e com os outros PALOP veio a surgir no meu caminho de forma muito natural. Em 1981 quando desempenhei funções como Ministro do Trabalho, procurei que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) desse apoio técnico aos PALOP nas questões laborais”
In “Direito em Revista” Maio 2001

 “Em 1982 o Governo Português e a O.I.T. celebraram um acordo cujo conteúdo teve em vista,  o desenvolvimento conjunto de programas de cooperação técnica, no domínio laboral, de que sejam receptores os países em vias de desenvolvimento com especiais relações de desenvolvimento com Portugal, ou seja, fundamentalmente, os cinco países lusófonos.”
In “Encontro – Boletim de Cooperação das Administrações do Trabalho” nº 1 Novembro de 1990

“Em 1983, quando já não estava no Ministério, o director- geral da organização convidou-me para a Guiné Bissau a fim de servir de auxílio na estruturação da ordem jurídica laboral. Gostei muito dessa experiência e penso que os seus resultados foram de tal modo proveitosos que o ministro do trabalho da Guiné Bissau passou a palavra aos ministros de outras ex-colónias. Parti de seguida para Cabo-Verde e para São Tomé e Príncipe”.
In “Direito em Revista”  Maio de 200

sábado, 14 de abril de 2012

A PAIXÃO POR ÁFRICA

 Começamos um novo ciclo na vida do Ouvidor.  Um ciclo, a que chamaremos o seu ciclo Africano. Utilizaremos algumas  memórias escritas já, nos anos 2000.
“ Jornal de Leiria - O que sentiu quando saiu  de Angola para estudar em Lisboa?”
Nascimento Rodrigues “Nasci em Angola e ainda hoje sou bastante marcado por África. Tive uma enorme dificuldade na adaptação a Portugal, no final do primeiro ano do curso escrevi ao meu pai a pedir para regressar. Não queria continuar, porque não conseguia adaptar-me ao clima, que considerava siberiano, a chuva deixava-me deprimido. Quando acabei o curso, sempre tive a ideia de regressar a Angola. Namorava, queria casar-me e a minha mulher estava no 5º ano de Medicina, de maneira que decidi ficar em Portugal mais dois anos. Comecei por fazer estágio na magistratura. Quando acabei, e para começar a trabalhar na magistratura, ia parar ao Corvo ou Boticas ou coisa do género e para mim não dava casar e deixar a mulher em Lisboa. Comecei então a trabalhar para o Estado, no chamado Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra. Era um serviço novo, criado no âmbito do actual Ministério do Trabalho e dirigido pelo dr. Pereira de Moura. Foi aí que comecei a minha carreira profissional e a orientar-me para as questões do Direito do Trabalho. Com o casamento, a minha mulher a tirar a especialidade, e os primeiros filhos, começou a esvair-se a ideia de regressar a Angola. Mas nunca perdi o bichinho de África”.
JL – Mais tarde  volta a trabalhar com países africanos. Como é que foi essa experiencia?
Nascimento Rodrigues- “Em Maio de  1986, o engº  Mira Amaral, na época ministro do trabalho convidou-me a iniciar a cooperação com os ministérios do trabalho de todas as nossas ex-colónias. Porque até aí as relações entre Portugal e as ex-colónias não eram abertas. Então criei um gabinete que trabalhava directamente com o ministro e iniciei a cooperação com países africanos de língua portuguesa. Em 1989, foi a primeira vez que em Portugal  se fez um encontro de Ministros do Trabalho de todos os Palop com o correspondente português”.
JL – O futuro e o desenvolvimento de Portugal passam por África?
Nascimento Rodrigues- “Sou um adepto da integração de Portugal na União Europeia, foi uma solução quase inevitável. Mas esta solução será tanto melhor quanto Portugal puder ter laços com África, com o Brasil e com países da América Latina. Teremos mais força e seremos mais ouvidos pelos países europeus”.

IN “ Jornal de Leiria” 24 de Janeiro de 2002

NÃO QUERO IR PARA CASA E PÔR PANTUFAS


Fins de Março de 1984 - Depois de renunciar ao cargo de Vice Presidente do PSD e de não participar na redacção da moção de Mota Pinto, o Henrique não comparece no Congresso de Braga. Além de tudo o que foi dito o que é certo é que o Henrique não sentia vocação para se ocupar exclusiva ou predominantemente através da vida partidária. Nos tempos que se seguiram nunca recusou qualquer colaboração ao seu partido, (chegou mesmo a dirigir o órgão oficial do Partido “O Povo Livre” em 1985) mas as suas possibilidades concretas de envolvimento activo estavam reduzidas. Muitos anos mais tarde, (já como Provedor de Justiça), dá uma entrevista ao “Jornal de Leiria”:
À pergunta do “Jornal de Leiria”: - “Neste momento está arredado da vida política e partidária. Admite o regresso?”
Responde assim:
Nascimento Rodrigues “Estou afastado por obrigação e por idade. Já não tenho idade para a vida política, acabou. Os partidos têm que se renovar. Seria uma vergonha tentar novamente a vida política no PSD, ninguém acreditaria em mim e seria mau para o partido. Deus me livre de voltar à vida política. Intervenção cívica, sim, quando sair daqui e se Deus me der vida e saúde para isso. Não quero ir para casa e pôr pantufas.”

In  “Jornal de Leiria” 24 de Janeiro de 2002.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

FAZ HOJE DOIS ANOS


Faz hoje dois anos que o Pai morreu.
Porque a sua vida foi como Pão que se entrega, quisemos recordá-lo em eucaristia.
Agradecemos a Deus a forma como o Pai estruturou a nossa vida interior; 
Agradecemos a Deus o facto de o Pai nos ter amado de tal forma que hoje confiamos e nos confiamos a Deus;
E agradecemos a Deus que o Pai tenha vivido a sua vida como pão que se reparte em doação.

Por isto, e porque não há morte de que seja fácil falar e viver, usamos estas palavras do Padre Tolentino Mendonça que no seu livro «Pai Nosso que estais na Terra» escreveu assim:

«Todas as vidas são Pão.
Todas as vidas cabem na imagem quotidiana, quase trivial, do pão que se parte e se reparte. Porque as vidas são coisas semeadas, crescidas, maturadas, ceifadas, trituradas, amassadas: são como pão. Porque não apenas degustamos e consumimos o mundo. Dentro de nós, vamos percebendo que o mundo, que o tempo, também nos consome, nos gasta, nos devora. Por boas e por más razões, ninguém permanece inteiro. Somos uma massa que se quebra, um miolo que se esfarela, uma espessura que diminui. Todos nos gastamos, certo. Mas em que comércios? Todos sentimos que a vida se parte. Mas como tornar esse facto trágico numa forma de afirmação fecunda e plena da própria vida? Todas as vidas são Pão. Mas nem todas são eucaristia, isto é, oferta radical de si, entrega doação, serviço. Todas as vidas chegam ao fim, mas nem todas vão até ao fim no parto dessa vitalidade, humana e divina, que trazem inscrita. É destas coisas que a Eucaristia fala. Alimentamo-nos uns dos outros. Somos uns para os outros, na escuta e na palavra, no silêncio e no riso, no dom e no afecto. Um alimento necessário, pois é de vida – e de vida partilhada – que as nossas vidas se alimentam.» 


BRINCADEIRAS EM CABANAS


NÃO!
“Não quero ir fazer a sesta”. Estamos em Cabanas e os beliches de pintura alentejana são as minhas mais antigas memórias. Como aquelas do teu kimbo que nos contaste no teu blogue.
Foi preciso ler o teu blogue para as conhecer. E de Cabanas também nunca te falei. Nem de me sentar na garagem no Ferrel ao volante do teu Renault parado a guiar a minha vida e ser importante como tu. Ou muito tempo antes ao volante do carro de pedais em Azeitão teria eu então 4 anos.
São algumas das memórias de que agora falamos para te ter mais perto de nós. Nestes segundos depois lembramo-nos dos anos antes. E lembro-me das fondues, de vermos os Jogos sem Fronteiras, de correr à volta da casa em brincadeiras de miúdos. E vocês estão sempre presentes. Vocês também são o Pai. Vocês são as peças do puzzle que me constroem. As nossas memórias. As nossas vitórias. Os nossos desencantos. Vocês meus irmãos, são a minha vida. E hoje na morte do pai isso é cada vez mais claro, apesar das lágrimas que nos turvam a vista. As paredes frias cobrem o nosso abraço e choramos com ele:
“Ele vai estar sempre connosco”.
As paredes frias não estão lá quando lhe tocamos o rosto gelado para lhe dizer adeus. Mais uma peça. Mais uma memória.
Como a memória das grades de sumol que partilhávamos no Ferrel naqueles dias que passávamos juntos. Mas convosco todos os dias são para festejar. Festejar esta dádiva que ele nos deu. De sermos nós, cada um por si, mas todos juntos nas memórias passadas e no caminho futuro. Aquele que vamos fazer para lá das paredes frias. Sempre em conjunto.
E era isso que ele queria que fosse a nossa memória. Por isso não valia a pena falar das outras.

Este texto foi escrito pelo nosso filho Nuno no dia em que o pai morreu a 12 de Abril de 2010


segunda-feira, 9 de abril de 2012

PARA TI PAI


Pela Mariana e pelo João Miguel
Pela Ana Sofia
Pela Ana, pelo João, pela Sofia e pelo Gonçalo.
Pela Catarina, pelo Henrique. pelo Gonçalo, pela Maria, pelo Mateus, pelo Afonso pela Rita.
Pelo Vasco, pelo Francisco, pelo Duarte, pelo Miguel.
Pela Bébé da Marta e do Gonçalo
Pelo Raúl,  pela Nini, pelo Paulo e pela Marta
Pela Mãe 
Por mim
Para ti Pai

domingo, 8 de abril de 2012

FIM DE CICLO


"A posição de Nascimento Rodrigues no Congresso de Braga será de distanciamento."

“É de distanciamento em relação a todos aqueles que infringem o programa do PSD. Não aceito integrar qualquer lista que não respeite o Programa do partido e que pretenda transformar o PSD numa constelação de baronatos corporativistas”.

IN “ O Jornal”, 17 de Fevereiro de 1984

"Parece consumar-se o seu afastamento definitivo das lides partidárias sociais-democratas. De facto, nem sequer se inscreveu como delegado ao Congresso de Braga, o que parece manifestar uma oposição mais profunda do que aquela que resultaria da mera divergência com os resultados do último Congresso dos TSD’s. A ausência em Braga de Nascimento Rodrigues, elemento da “troika” eleita em Montechoro, será uma das provas mais nítidas do fim de um ciclo no PSD.!

IN” A Tarde” 19 de Março de 1984

“ O representante do Governo junto da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Nascimento Rodrigues afirmou ontem ter apresentado a sua demissão daquele cargo. Nascimento Rodrigues disse que o motivo que esteve na base do seu pedido de demissão  foi a criação da dependência do PSD de uma estrutura sindical. os TSD."

Não poderia continuar a desempenhar o cargo para que tinha sido nomeado pelo Governo, no conselho de administração da OIT na medida em que considero uma verdadeira aberração a criação de uma estrutura sindical na dependência de um partido político” -esclareceu.
Nascimento Rodrigues disse que a criação dos TSD, confirmada no último congresso dos sociais-democratas em Braga, é contrária à liberdade sindical e que” por uma questão de coerência” não podia continuar a desempenhar as suas funções."

IN “ O Comércio do Porto” 30 de Março de 1984

CARTA A MOTA PINTO


“Ao retirar-me da sala na última reunião da CPN, imediatamente após a votação do projecto de alteração dos estatutos do Partido referente à institucionalização dos TSD, exprimi o estado de espírito que essa questão, e sobretudo a votação ocorrida, me suscitaram.
…….
Permito-me recordar-lhe, antes de mais, que há muito tempo já,…… esclareci sempre que uma votação favorável da CPN sobre os TSD como estrutura partidária me obrigaria à renúncia do cargo para que fui eleito. Nunca fechei portas a qualquer solução, salvo a da monstruosidade de se aprovar um organismo partidário com finalidades sindicais e outras que, na prática, não têm nada a ver com co-gestão nem com sindicalismo. De facto, quando se actua para pressionar a designação de gestores públicos, para influenciar a nomeação em vários cargos de empresas públicas, ou da Administração, ou para exercer o papel de grupo de pressão corporativa dentro do partido, é preciso um grande esforço para fingir que está em causa apenas a questão da unidade de grupos sindicais ligados ao nosso Partido. Mas esta é a questão de fundo dos TSD, a que, agora não desejo voltar senão para recordar o que foi sempre a minha posição e o aviso leal, claro feito em tempo sobre as consequências que retiraria do beneplácito de outros dirigentes do Partido a tal estrutura……
A carta continua por seis longas páginas….
“ Neutralidade, foi sempre o que aguardei de si e o aconselhei a seguir, em homenagem aos interesses da sua liderança e do equilíbrio no Partido. Nunca pretendi que o Mota Pinto se declarasse e votasse a favor de uma das partes. Intentei sempre resguardá-lo nesta questão, mesmo em prejuízo manifesto da minha própria e bem conhecida opção. Não estou certo que outros o tenham feito. Mas é também pelos processos que se conhecem as pessoas e os objectivos……..
“Não me recusará ….. de considerar-me inviabilizado de manter uma solidariedade e um apoio não apenas a si como a alguns dos companheiros que mais estreitamente o rodeiam. Não se pode fugir às consequências das situações que se deixam criar”.
E termina:
 “Devo-lhe, como última palavra, um agradecimento muito sincero pela intervenção a que acedeu e que proporcionou ao Partido os resultados inestimáveis das últimas legislativas e um sopro muito grande de esperança. Estou convicto de que o Mota Pinto mantem potencial para continuar a protagonizar a liderança que os nossos militantes ambicionam. Não se trata de um elogio, descabido nas actuais circunstâncias, mas da verdade tal como a sinto. É essa mesma verdade que me leva também a sublinhar, por outro lado, o sentimento de enorme e angustiada preocupação por verificar que companheiros nossos, cuja isenção e lisura política são incontroversas estão a afastar-se do seu rumo. O meu desejo é de que o Mota Pinto consiga agrupá-los e liderar, não uma parte mas um conjunto expressivo do que melhor existe e simboliza o PSD como partido contra extremos.
É esse o voto que lhe deixo, na certeza de que o exprimo em função dos interesses do Partido e da estima e grande respeito pessoal por si”.

sábado, 7 de abril de 2012

PÁSCOA EM CANGAMBA 2010


Procissão de entrada à igreja Rainha da Paz, no dia de Páscoa 2010, na cidade de Cangamba (município dos Luchazes, Moxico, Angola). O povo canta e dança ritmicamente para celebrar a alegria da Ressurreição de Cristo!

" Eu fui concebido nos longes de Angola, num despovoado que se chamava Cangamba, nos Luchases. Era aí que se marchava, a pé ou de tipoia mas não de jipe, para as " terras do fim do mundo", as do Cuando-Cubango. Julgo que ainda hoje se chamam assim."

IN " O TITULO e EU", primeiro post deste blogue

INDEPENDÊNCIA

“O Tempo”- Mas em que sentido defende essa independência? Um trabalhador militante do PSD deixa de o ser?

Nascimento Rodrigues- “ Defendo a independência do poder sindical face ao poder político e politico-partidário. Claro que um trabalhador social-democrata pode e deve militar no PSD. Mas milita aí como filiado do partido, trazendo a este, como é natural, a sua vivência, a sua experiência do meio social em que vive em que trabalha. Confronta essa vivência com a de milhares de outros militantes, muitos dos quais são profissionais liberais, técnicos, agricultores, industriais, etc. como é próprio de um partido interclassista. E no PSD cimenta e aprofunda os seus ideais da social-democracia, compreende a essa luz a vivência dos militantes que não têm a condição de trabalhadores, procura com eles a comunhão nas grandes linhas de política partidária. Mas não faz acção sindical no partido ou através das estruturas partidárias. Não prepara listas nem define acções nem organiza programas sindicais dentro do partido. Tem de preservar a independência de pensamento e de acção especificamente sindicais, sob pena de ser “baronizado”. Porque então deixa, verdadeiramente de ser autónomo na actuação enquanto trabalhador e membro de uma organização de trabalhadores. A Democracia é pluralista por natureza e tem de alimentar-se da autenticidade organizativa e estratégica das forças sociais que fazem a liberdade e impulsionam a criatividade e o progresso na sociedade civil. Quando começa a mistura de funções e a confusão de planos das instituições abre-se a porta à fragilização da própria democracia. A linha de combate deve ser a inversa.

“ O Tempo”- Não é uma visão pessimista?

Nascimento Rodrigues- Antes fosse. Acredito plenamente que os trabalhadores sociais-democratas não querem isso. Mas se alguma coisa lhes posso pedir, então peço-lhes que reflitam maduramente. Acontece a todos nós, muitas vezes, defendemos soluções bem intencionadas, cujos objectivos radicam no mais autêntico desejo de engrandecer o País, de fortalecer a democracia, de expandir o PSD. Mas quantas vezes essas mesmas soluções não contêm em si o germe das desvirtualização de objectivos e são plataformas de futuros desastrosos que não se queriam. O PSD, a democracia portuguesa, os trabalhadores do País devem muito a tantos e tantos militantes sócio-profissionais ou da TESIRESD que, com denodo, esforço, sacrifício da sua vida familiar e profissional têm lutado pelo sindicalismo livre, pela melhoria das condições de trabalho e de vida em Portugal, pela implantação do ideário social-democrata. As excepções de oportunismo, de baixa querela pessoal, de indisfarçado interesse por cargos e apetite por benesses, essas existem como existem em todo o lado – mas não são a expressão largamente maioritária do trabalhador social-democrata e militante do PSD.É minha obrigação exprimir-lhes este reconhecimento e não é mais do que um simples acto de justiça fazê-lo.

“O Tempo”- Mas o que defende e propõe então nestas condições?

Nascimento Rodrigues- “ Acredito que o objectivo essencial na solidariedade entre todos os trabalhadores sociais-democratas não está de todo perdido. Nunca é tarde para corrigir o que antevejo como errado e desastroso. A autonomia de uma estrutura que congregue todos os trabalhadores sociais-democratas é desejável. Mas no respeito pelos princípios e valores fundamentais, ou seja, como estrutura não partidária e como expoente do reencontro aberto de todos quantos se reclamam do mesmo núcleo essencial de objectivos.

IN “ O Tempo” 5 de Janeiro de 1984

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O QUE PARECE NÃO É


“O Tempo”- Bem dr. Nascimento Rodrigues, mas que razões mais concretas aponta contra o Congresso dos TSD? E porque só agora o faz?

Nascimento Rodrigues -“ Não, já disse que não estou contra a ideia da realização de um congresso democrático de todos os trabalhadores sociais-democratas que pudessem superar a divisão, a sangria de esforços e os conflitos pessoais entre trabalhadores sociais-democratas. Todos os militantes do PSD o desejam. O ideal seria o reencontro numa estrutura única com finalidades sindicais e laborais, no seio da qual se confrontassem leal e democraticamente as divergências quanto a objectivos, estratégias, táticas e preferências de liderança. Mas essa não pode com tal finalidade, ser uma estrutura do próprio PSD. Aí é que está o fulcro da questão. As coisas são simples: não pode haver identificação entre funções partidárias e funções sindicais. Partidos políticos são uma coisa, organizações sindicais são outra. Esta é uma aquisição consumada do pensamento democrático e uma herança irrenunciável da marcha de emancipação histórica dos trabalhadores, na liberdade, na independência e na responsabilidade.
Não é exacto que só agora me pronuncie sobre este assunto. Na Comissão Política Nacional disse, oportunamente, qual a minha posição e que atitude me reservava o direito de tomar caso o partido consentisse na criação de uma estrutura partidária com finalidades sindicais. E também em entrevista ao “Povo Livre” de 14 de Setembro último referi-me ao assunto de modo a não deixar margem a dúvidas. É certo que fiz tudo isso no interior do partido, como tem sido a linha da minha conduta.
Como vice-presidente do PSD desde 1980, sempre entendi que tais funções me impunham uma estrita e autêntica isenção face às controvérsias e lutas que se foram avolumando entre as duas estruturas de trabalhadores sociais-democratas. Porque sou originário de uma delas, a TESIRESD, maior a obrigação que senti de não interferir. Tenho a consciência tranquila a esse respeito. Neste momento, eleitos que estão os delegados ao Congresso dos TSD, conhecidas e discutidas em reuniões preparatórias as moções, já assumidas decerto as preferências dos próprios participantes ao Congresso, seria ridículo considerar-se como interferente nesta altura a expressão pública da minha opinião.”
IN “ O Tempo” 5 de Janeiro de 1984

quinta-feira, 5 de abril de 2012

CONTRA A PARTIDARIZAÇÃO DOS TSD


“Tempo”- O Congresso dos trabalhadores Sociais-Democratas vai ter lugar esta semana e parece existir da parte de dirigentes e estruturas do PSD um largo apoio, expresso ou tácito, às soluções que se anunciam. O dr. Nascimento Rodrigues é vice-presidente do PSD, um dirigente que veio do mundo sindical e laboral. Tem estado calado. Esse silêncio é também uma forma de apoio?
Nascimento Rodrigues- “Apoio a realização de um congresso democrático de todos os trabalhadores sociais-democratas, e não apenas dos sindicalizados, que conduzisse voluntariamente ao termo de uma divisão que, sobretudo nos últimos anos, se acentuou por forma desastrosa e altamente prejudicial para os interesses da unidade dos trabalhadores que reclamam da social-democracia, para a força da sua implantação no mundo sindical e nas empresas e para a influência responsável que deles se espera na política de defesa do sindicalismo livre e da melhoria progressiva das condições de trabalho de todos os portugueses.
Desejaria ardentemente o fim dessa divisão entre socioprofissionais e TESIRESD. mas nunca à custa de princípios e valores da Liberdade, da Democracia, da Social-Democracia e da tradição civilizada do movimento sindical.
Por isso, não apoio e contesto com toda a veemência uma solução abastardante desses princípios e valores, que eventualmente seja aprovada no Congresso dos TSD. E tudo o prenuncia.
Eu afirmo, e desafio alguém a provar o contrário, que a criação de uma estrutura partidária com finalidades sindicais e laborais é um aborto de concepção e um esquema de solução que vai contra o programa do PSD, que viola convenções da Organização Internacional do Trabalho e Pactos Universais de Direitos Fundamentais do Homem, que se situa ao arrepio da emancipação organizativa dos trabalhadores do mundo livre e que pode constituir, ainda, um precedente de consequências nefastas para a orgânica sob que se criou o PSD como partido popular, democrático, nacional e interclassista. Trata-se de uma questão muito importante. Para o regime democrático, para o sindicalismo livre, para a fisionomia do PSD. E por isso não só é legítimo, como é sobretudo um dever dos dirigentes partidários, tomar posição clara a este respeito.”
Tempo- Mas não corre o risco de estar sozinho nessa opinião? Não é certo que os outros dirigentes nacionais e locais do PSD apoiam?
Nascimento Rodrigues-“ Não verifiquei que a maioria dos dirigentes do partido tenha exprimido já a sua opinião. Não será lícito, pois, retirar desse silêncio índices ou provas de que apoiam ou não apoiam. Tanto quanto me lembro, apenas a JSD tomou já posição nítida em defesa da não partidarização e independência sindical. Não creio portanto que a minha opinião seja isolada. E que o fosse? Só nos partidos totalitários e uniformistas é que é crime a divergência de opiniões. Exerço o meu direito de opinião, que expresso por forma firma mas com respeito por todos. Nada mais.”
IN “ O Tempo” 5 de Janeiro de 1984

quarta-feira, 4 de abril de 2012

CONGRESSO DO VIMEIRO


“Vimeiro foi a povoação escolhida para servir de cenário ao Congresso Nacional dos Trabalhadores Sociais-democratas, promovido pelo PSD. O Congresso tem como objectivo central a unificação das duas estruturas sociais-democratas com incidência no sector laboral: o secretariado dos sócio-profissionais, organismo ligado ao partido, e a TESIRESD estrutura estatutariamente independente do PSD. As suas deliberações terão, posteriormente de ser ratificadas pelo Congresso do partido em Março próximo.
O congresso foi preparado desde 1982 por uma Comissão Organizadora, que, integrava, paritariamente elementos das duas estruturas.”
 In “O Jornal” 6 de Janeiro 1984.

Povo Livre -  Vai ter lugar o Congresso dos Trabalhadores Sociais-Democratas e aguarda-se com expectativa as suas deliberações.

Nascimento Rodrigues – “Estou seguro de que os trabalhadores sociais-democratas garantirão, na autonomia que se lhes reconhece e que, por essa razão, lhes assiste como um direito e também como um dever, os valores históricos da social-democracia, a tradição universal do posicionamento livre e independente do mundo laboral, as próprias regras fundamentais do direito internacional a que o país está vinculado e de que a nossa constituição, nesse aspecto, se fez eco, em grande parte graças aos esforços dos deputados constituintes do PSD. E sobretudo, será justo que este congresso tenha presente o exemplo que Sá Carneiro sempre demonstrou em relação à independência das estruturas organizativas dos trabalhadores face aos partidos políticos. Recordo o apoio decisivo que com a sua visão de líder e de estadista, prestou no momento histórico da criação da tendência sindical, autónoma do partido, dos trabalhadores que se reclamam do projecto social-democrata.
A vida não pára e nós somos, por filosofia política, evolutivos. Mas somos, também, coerentes com os valores fundamentais do pensamento social democrata, aderentes e participantes do património comum de ideias que a Democracia sedimentou como garantias básicas de não interferência partidária no mundo sindical, fiéis à linha de fundo que valoriza essa não imiscuição, cujo desrespeito conduziria ao abastardamento de estruturas cuja finalidade é por essência diferente. Esta a minha posição. Sempre foi. Repito-a como a única força moral que me arrogo: a de ter procurado ajudar os nossos militantes sindicais desinteressadamente, pelo empenho num projecto essencial à democratização do País e ao engrandecimento do PSD”.
IN “O Povo Livre” 14 de Setembro de 1983

terça-feira, 3 de abril de 2012

TRABALHADORES SOCIAIS- DEMOCRATAS


Nos próximos posts falaremos dos Trabalhadores Sociais-Democratas através de textos do Henrique. Só assim poderemos compreender 1984 e explicar:
1. Porque abandona o Henrique a comissão política nacional do PSD (era vice presidente eleito em Montechoro),
2. Porque corta com Mota Pinto,
3. Porque nem sequer está presente no Congresso de Braga.

Em 1984 coexistiam no PSD duas sensibilidades laborais: os sócio - profissionais nascidos no 1º Congresso do PSD, a 26 de Novembro de 1974, (instituídos como estrutura partidária), e a TESIRESD, tendência sindical independente do partido, criada em 1978.  

 “A Tesiresd foi formalmente constituída no 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Sociais - Democratas, efectuado no Porto, em Outubro de 1978 após um processo acidentado. Com efeito, embora a organização e a instituição formal da TESIRESD estivesse pensada (e tivesse sido efectivamente lançada) com independência e com antecedência em relação a qualquer outro projecto de organização sindical, o certo é que o anúncio da criação do que viria a ser a UGT e o nascimento concreto desta no encontro de Lisboa em 1978, provocou um deslocamento da tónica inicial do projecto TESIRESD. Deslocamento, na medida em que a um projecto originariamente concebido no exclusivo sentido da organização de uma tendência sindical, no caso a social-democrata, que, assim, se pensava ir constituir o elemento dinamizador e catalizador de uma plataforma de unidade sindical democrática, a concretizar posteriormente com outras tendências, como a socialista – se sobrepôs a necessidade de assumirmos posição face à entrada imediata dos sociais-democratas na anunciada UGT, de iniciativa socialista.
Rigorosamente os dois projectos não eram, com não são, incompatíveis. Pelo contrário, eram e são indissociáveis, pois a organização e o reforço da TESIRESD significam e exprimem o poder dos sindicalistas sociais-democratas no seio de uma confederação sindical que, sem eles, teria e tem fracas possibilidades de implantação.
Mas a imcompatibilidade foi suscitada com base no argumento de que só após a constituição formal e a efectiva organização da TESIRESD seria lícito e conveniente pôr a questão da entrada dos sociais-democratas na UGT. É evidente que o argumento escondia, no fundo, a tentativa de obstar à unidade com a tendência sindical socialista, como forma não tanto de inviabilizar uma posição na UGT de pendor acentuadamente socialista, como, sobretudo, de ganhar tempo e criar espaço para a constituição de uma central de predominância social- democrata. (Quando não, mesmo, como forma de não deixar criar nada, ou seja, como forma de manter o monopólio da Inter).
A TESIRESD não nasce sob o signo do apoio inequívoco da totalidade (e talvez mesmo de uma maioria significativa) dos trabalhadores sociais-democratas, como tendência social democrata plenamente integrada na UGT; antes nasce como tendência que alberga tanto os que estão contra como os que estão a favor da UGT, estes últimos embora “militantemente maioritários”.
Há razões para supor que se mantêm certas oposições, dentro do Partido, à TESIRESD e à UGT e permanece um estéril e por vezes desgastante confronto entre a estrutura dos sócio-profissionais do PSD e a TESIRESD.  E mesmo órgãos e dirigentes do partido que não são contra estes nem contra a UGT não são também, em contrapartida, suficientemente sensíveis e abertos – como seria  indispensável num partido social-democrata – à problemática sindical”.

Manuscrito datado de 1980