domingo, 28 de setembro de 2014

O TEMPO NÃO PARA



No decurso de uma vida há acontecimentos, encontros, desencontros…
No fim, quando tudo termina, (e olhamos para o que resta, nas recordações do passado), ficamos a pensar: será que  alguma coisa acontece por acaso?
Quando, no espaço e no tempo, encontramos alguém que nos marca, esse encontro faz ou não parte de um desígnio, de um plano pré – estabelecido?

Pode ser. Depende é de cada um de nós, seguir ou não esse caminho. O encontro existiu. O resultado, não foi desígnio, foi vontade de construir um futuro comum.




Mangualde 4 de Outubro de 1992

sábado, 19 de abril de 2014

QUANDO A NOITE CAI

As gaivotas
Pôr do Sol - Casa da Takula


A saudade é grito!
Rompe o silêncio,
do tempo que foi,
quando a noite cai.


É nó na garganta
que desce no peito,
e, sobe nas lágrimas
dos olhos que doem.

É grito que arde,
nas chamas da espera,
quando as horas passam,
e, é noite cerrada.

(não bates à porta,
teu carro não chega).

Já surgem palavras.
Já rodam perguntas,
E o grito desliza
no silêncio que sobra.

Quando a noite cai   



sexta-feira, 18 de abril de 2014

SILÊNCIO - POEMA

26 de Agosto de 1965


"Quando tu ficares mudo,
quando eu ficar cega,
restar-nos-ão as mãos
e o silêncio.
Quando tu fores velho,
quando eu for velha,
restar-nos-ão os lábios
e o silêncio;
Quando tu morreres,
quando eu morrer,
seremos enterrados juntos
e em silêncio;
e quando tu ressuscitares,
quando eu viver de novo,
voltaremos a amar-nos
em silêncio;
e quando tudo acabar
para sempre no universo,
será um silêncio de amor
o silêncio"

Poema Silencio do poeta Andres Eloy Blanco
Tradução livre

segunda-feira, 14 de abril de 2014

CALEIDOSCÓPIO DE SAUDADES

A nossa filha Ana escreveu, em Julho de 2010, o texto que a seguir publico. 


" Na minha mão um caleidoscópio.
Nele mergulho o meu tempo parado, o meu espaço apertado junto do coração.
E bem lá no fundo se desenha o momento de me rever.
Saudades... palavra montada de peças brilhantes e irrequietas que giram e se transformam de novo em saudades.
De mil formas, de mil cheiros, e de mil sons.
Saudades que fazem cócegas, nos inquietam, nos deixam a fugir para trás. Saudades que se procuram fechar no tempo com a presença de sorrisos, de risos e abraços apertados.
Mais à esquerda, saudades doces e serenas, feitas de pedaços de algodão e momentos de te dar a mão e o colo. Saudades em contagem decrescente para te rever e me deixar ficar no encosto do cheirinho a mar.
E na reviravolta, as saudades de espaço, de tempo, de areia e beira mar. Saudades do tempo que se aproxima, como uma revisão do tempo que já foi. Saudades aos pulos, na expectativa de poder apenas estar.
Respiro. E na volta das peças brilhantes que mudam o mundo.... saudades. Agora fortes, marcadas. Saudades sem espaço, saudades sem ar. Saudades que transformam em ausência e deixam a angústia apertar o coração. Saudades imensas que me fazem sentir pequena. E no fundo do caleidoscópio, agora, apenas essa palavra que queima e encurrala a serenidade. Saudades de ti."

" Abril será sempre um mês em que a palavra Saudade terá  protagonismo"

Ana Nascimento Rodrigues
  

sábado, 12 de abril de 2014

QUATRO ANOS


A morte liberta a alma

 Dos que leva

A saudade mata a alma

Dos que deixa

terça-feira, 4 de março de 2014

MEMÓRIAS

Procuro. Encontro sempre: um testemunho  amigo, recordações,  memórias. Os anos vão passando, é certo, os netos vão crescendo, também é verdade. 
No entanto, continua viva a memória do Avô. Ninguém esquece. O que foi. O que deu. O que deixou. Imensa saudade.

"Cara família do dr Nascimento Rodrigues:"

"A tentar limpar a minha caixa de correio electrónica, deparei-me com alguns dos mails que o senhor vosso pai me enviou depois da sua saída da Provedoria. Mais uma vez, não consegui apagar esta memória e não resisti a dar uma espreitadela ao blogue que ele criou, graças às suas «aulas de informática», (como me contou) e, claro, sobretudo graças à enorme força de vontade e de alegria de viver que punha em cada coisa que fazia.
Foi uma comovente surpresa perceber que continuam o legado, que continuam a usar esta página para manter viva a sua memória, alimentando-a com tudo o que para ele era mais precioso: a família, a palavra, as raízes, a ética.
Sei que é um abuso entrar neste terreno privado e exclusivo da família, mas não queria deixar de vos agradecer e de vos prestar a minha sincera e sentida homenagem à memória do dr Henrique Nascimento Rodrigues.
Dele ficará, para sempre, a recordação de um homem exemplar. O amor que transmitia pela sua família, pela mulher, filhos e netos, foi mais um dos aspectos que me marcou na sua personalidade. Ser político, jurista ou Provedor de excepção é raro. Mas, dar a todos os gestos do dia-a-dia, este lado humano e caloroso de homem de família, tornou-se uma raridade. E mais um acto de coragem.
É com saudade que o recordo. O seu convívio faz-me falta e não esqueço o orgulho que tenho em ter podido contar com a sua amizade.
Acreditem que ele estará para sempre nas minhas orações.

Desculpem-me o atrevimento desta minha invasão do vosso blogue! Mas atrevo-me ainda a partilhar convosco uma das fotos que o Rui Ochoa tirou do senhor vosso pai. Foi em 2007, na primeira entrevista que lhe fiz para o Expresso (ele, que detestava jornalistas, passou um ano a dar-me, muito delicadamente, recusas piadosas para não ter de me aturar!) Finalmente, consegui! Deixo-vos esta imagem do «professor» a dar uma lição à aluna, não fosse o trabalho correr mal. 
Graças a Deus, não correu."

"Um grande abraço para todos e um especial para a sr drª Isabel"

Rosa 

sábado, 1 de março de 2014

KIMBO



O Ouvidor não morreu. Tornou-se luminoso e transparente como o Céu, ardente como o sol, azul como o mar, brilhante como as estrelas, e, feliz, confiante, adormeceu 


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

SAUDADE



Não procuro rosas, telas pintadas, acordes de sinfonia.
Não busco uma alegria breve, um riso fácil,
nem ondas do mar imenso.
Não anseio a lua, as estrelas
ou o disco solar do calor de Agosto.

Quero  a saudade que vive
nos ombros do vento que passa
Quero as dúvidas que ficam
dos pequenos nadas no tempo que sobra
Quero a dor das curtas memórias que em cada dia acordam comigo

Quero que a morte venha, me leve, e,  não  diga nada.
Quero que me esperes e me encontres em qualquer lugar.



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ALGURES AO DOMINGO



Nós. Os netos mais velhos.
Os netos cresceram. (Catarina - 20, Henrique - 19). Já não somos nós.
Eu, ao Domingo, almoço sem ti.

Um chocolate, um café, e, a conta:-
Do espumante,
Da sangria,
Dos frutos vermelhos,
Da vida dos velhos,
Que almoçam aos pares
Olhando o futuro
Com olhos vazios.

Aos pares!

Inveja?

Saudade .... ! de velhos?

Sim!

Dos velhos aos pares
Que lembram sangria 
De frutos vermelhos!

Bebidas as bolhas
Que foram espumante
Ainda sobra a morte
Para ter a vida
Desses pares de velhos
Com olhar vazio
Que juntos almoçam

Algures

Ao Domingo. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O PENSADOR

Reencontramos, hoje, o Henrique. (Caloiro da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa).
Aos 18 anos, recém chegado a um novo continente que mal conhecia, a uma cidade que o assustava, a uma Faculdade elitista onde não tinha amigos, reflectia, (qual Pensador da arte nativa angolana), escrevendo:


        “A vida em sociedade é, segunda as melhores doutrinas, derivada da própria natureza do Homem.
       Assim, o «status societatis» é um bem, necessário, imprescindível, imperioso, pelo qual o homem alcança, ao servir-se dele, muitas das suas fundamentais necessidades. Entre elas, a convivência com outros seres humanos  não é das de somenos importância, se entendermos que a ausência de contacto gera, na maioria, um estado de insatisfação, de laconismo mórbido, de apática e inapropriada melancolia.
       Um Homem precisa de falar com outros homens? – Tem a sociedade, a convivência com seres de mentalidade conforme a sua, para dar lugar a essa necessidade. Mas o Homem também precisa de «falar consigo mesmo». É indispensável e não ridículo. Ridículo é a cobardia de se furtar ao monólogo, jamais a capacidade de o fazer!
       Olhando para dentro de si mesmo mirando o revolucionar das emoções que se geram, e degladiam no seu íntimo, auscultando, sempre que possível, o verdadeiro sentir do seu eu, o homem está a dar satisfação a uma necessidade de ordem psicológica.
       O que eu possa escrever, não tem interesse para ninguém, a não ser para mim próprio, que vou cuidar de analisar o que sinto e o que penso  e toda uma série de impressões que quer objectiva quer subjectivamente eu for colhendo.  Portanto, será, não só uma introspecção em sentido  filosófico - mas também uma vista de olhos pelo que me cerca e sobre tudo aquilo que me fere a atenção.
        Está a volver um ano desde que arribei a estas terras do Continente.   Em boa verdade – e contrariando as profecias dos mais velhos – eu não me acostumei, no sentido verdadeiro de perfeita e incondicional adaptação, ao ambiente e ao modo de vida metropolitano. Em meu entender, existe uma profunda diferença de mentalidades mesmo de usos e até de sentimentos.  Angolanos e  metropolitanos entroncam no mesmo ramo, somos portugueses.
Esta descendência  recíproca é o traço mais forte  da semelhança que se possa apontar entre uns e outros”. 

Lisboa 1958

domingo, 12 de janeiro de 2014

TEMPESTADE

Quero encontrar-te: (no som do vento que embala os sonhos).
Quero viver-te: (neste Inverno que chora o Verão).
Quero guardar as lágrimas e sentir o choro. Sonhar a vida e viver os sonhos.
Quando as saudades se agigantam, regresso à Casa da Takula. Calmamente. E o teu Eu regressa de encontro à minha esperança. És tu em cada instante, em cada canto, em cada livro. Tudo se sente, vibrante, livre, quente. Tudo vive, soa, canta, dança. O passado volta, torna-se presente. Estás cá! Tudo o que aqui está, o que aqui vive, o que aqui sinto, é tudo o que foi, tudo o que vivemos na alegria interior desse amor que construímos.
Amor imperfeito, irrepetivel, permanece em cada gota de chuva, em cada rajada de vento, e, na  ilimitada paz das manhãs das nossas vidas.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

PÓ DE DEUS

Quando eu morrer,

Quero partir desta varanda junto ao mar.

(meu cais de chegada o pôr do sol)

Não quero velas

(nem flores)

Quero estrelas

Quero-te a Ti,  ponto brilhante

Pó de Deus.

Neste início de 2014 a mesma saudade