quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

IMAGENS DE ÁFRICA

NOTAS POLÍTICAS (1)

A candidatura de Fernando Nobre tem sido apontada como uma criação de inspiração soarista, por um lado, e como claramente divisionista à esquerda, por outro, nomeadamente no campo que se situa entre o PS e a área do Bloco de Esquerda.

Quanto à primeira imputação, não me interessa nada apurar se é ou não verdadeira. Situando-me na área não socialista e desde já declarando que o meu voto será para Cavaco Silva, caso se recandidate, afigura-se-me, em todo o caso, ser uma deselegância imerecida para Fernando Nobre declará-lo como um produto soarista. Que a Soares interesse esta candidatura é coisa que não custa nada a acreditar; mas que Fernando Nobre se tenha deixado conduzir por presumíveis interesses de Mário Soares não condiz com o perfil de integridade e com todo o percurso humanista deste homem. Espero que não esteja a dizer isto apenas porque ambos pertencemos à tribo dos angolanos…

Não estou totalmente convencido, por outro lado, de que a penetração política de Fernando Nobre vá operar apenas à esquerda, dividindo-a. Receio bem que o seu passado apartidário, a sua visão multicultural das gentes, a sua mundividência humanista e a sua postura voltada para o social, enfim, o uso de uma linguagem “não politiquês”, acabem por ser fortes alavancas de captação de um eleitorado até agora abstencionista e de certas faixas de eleitores à direita do PS. Quem te avisa, teu amigo é…

De resto, se as presidenciais começaram a animar tão cedo, é porque a Democracia não tem horários…Valha-nos isso!

NOITE


Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares…
perdidas em mistérios…
Há cantos de tungurúluas pelos ares!...


……………………………………………………………….
Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros…
……………………………………………………………….´

Noites africanas tenebrosas…,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das histórias de feiticeiros
que as amas-secas pretas
contavam aos meninos brancos…

E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias…

Por isso as noites são tristes…
endoidadas, tenebrosas, langorosas,
mas tristes…como o rosto gretado,
e sulcado de rugas das velhas pretas…
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas…

É que os meninos brancos…,
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas…

Os meninos brancos … esqueceram!...


(Poesia de Alda Lara, in “No reino de Calibã II”)

TERRA DA PROMISSÃO

Romeiro dos caminhos já andados
Por velhos nautas, tanto herói sem par,
Da «Nau Esperança» disse adeus ao lar,
Com mil visões nos olhos deslumbrados!

E foi assim, por mares ignorados,
Que eu aportei às terras de Aquém-Mar,
E, assim, um novo sol e um novo luar
Me abriram horizontes não sonhados.

Vejo-te agora, ó África trigueira,
Virgem da selva, ingénua e primitiva,
Entre setas e ramos de palmeira,

Abrindo os braços numa exclamação,
Como quem mostra, ufana e rediviva,
A terra bíblica da Promissão!


(Poesia de J. Galvão Balsa, in “Oiro e cinza do sertão”, dedicada a
meu Pai, António Nascimento Rodrigues)