O ‘Ouvidor do Kimbo’
é um blogue de memórias. Memórias que foram, memórias que são, memórias que se
enredam umas nas outras e se tornam dolorosamente presentes. Abordar, hoje,
passados que são quatro anos, esses inutilmente dolorosos meses que decorreram
entre o fim do mandato do Henrique como Provedor de Justiça e a inevitável
renuncia, não é tarefa fácil, mas é imperativa.
Para a nossa filha
Sofia, “o modo como o Pai viveu o início
do processo que deveria conduzir à sua substituição, com naturalidade, mas
expectativa, traduzia, afinal, o entendimento que toda a vida defendera no que
respeita à importância dos processos de negociação livre e da necessidade de se
fazerem esgotar as tentativas de acordo”. Acordo em que sempre confiou . Ao fim e ao cabo tratava-se exclusivamente de sentar à mesma mesa, democraticamente, os líderes
do PS e do PSD, para surgir um entendimento acerca de uma coisa muito
simples: escolher, entre tantos candidatos, um novo titular para um órgão
constitucional. O Henrique acreditou até fins de Maio de 2009 que isso ia
acontecer. “Mas preocupava-se com o
atraso e os sinais que ia tendo da não resolução da situação, considerava o
atraso “desprestigiante para quem o
provoca, não salutar para um Estado de Direito Democrático e a afectar uma
instituição que tinha ganho credibilidade pelo serviço prestado na defesa dos
direitos das pessoas”. Entendeu que
devia colocar em primeiro lugar a instituição pela qual era o máximo
responsável – a Provedoria de Justiça – e os seus colaboradores.
Aguarda, desde Junho de 2008 numa crescente preocupação a eleição do seu sucessor. Mas em momento algum lhe foi prestada informação sobre o processo em
curso.
É verdade. Todas as
informações que tinha, vinham da comunicação social. O Parlamento, responsável pelo
cumprimento da lei que os obrigava a eleger o Provedor de Justiça, assobiava
para o lado, como num prenúncio dos tempos que aqui estão.