terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

POR UM SINDICALISMO LIVRE E INDEPENDENTE


"Ninguém duvidará que greves repetidas e constantes não são favoráveis à recuperação económica de que o país tanto precisa.
Pergunto-me se no fundo não estaremos a caminhar para uma situação económica e social muito pior do que aquela que seria possível obter, se todos fizessemos um esforço para sabermos quais os limites a repartir pelos portugueses.
O tipo de sindicalismo de acocoramento perante os partidos políticos, sejam eles quais forem, não serve, verdadeiramente, os interesses dos trabalhadores portugueses, que o não querem. A grande alternativa para o mundo laboral do nosso país é, de facto, a existência de um sindicalismo que seja na realidade, livre e independente.
Torno a minha crítica aplicável não só aos sindicatos de obediência comunista, como a todos os tipos de sindicalismo que, no fundo se deixem manobrar por forças político-partidárias e, fundamentalmente, por forças políticas de sentido extremista.”
IN DN 19/2/82

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SOB VIGILÂNCIA DO FMI


Ano difícil, 1982. O Henrique é o vice - presidente do PSD em exercício e preside à comissão política nacional. Portugal está sob vigilância do FMI. Exige-se capacidade de resposta à situação de crise nacional e internacional.
1982 será o ano  de encerramento do processo de negociações da adesão á CEE e de eleições autárquicas.
Em 1982 “a grande prioridade que se coloca ao PSD e a todos os partidos democráticos é conseguir que a revisão constitucional chegue a bom termo. Isto significará simultaneamente, a vitória do consenso democrático e da democracia plena e civil sobre a democracia mais ou menos tutelada em que vivemos”. Seria o fim do Conselho da Revolução.
Tudo isto exige grande sentido de responsabilidade por parte de todos os partidos democráticos
O VIII Governo constitucional, governa, desde Setembro de 1981, em clima de permanente contestação interna e externa. Há forças políticas da área da governação que desejam a institucionalização da Aliança Democrática.
IN “A Capital” 9 de Janeiro 1982 - " Comemora-se o 1º Aniversário de posse de Pinto Balsemão. Nascimento Rodrigues, Vice – Presidente do PSD, ao fazer o balanço da acção governativa da AD., declarou":Devemos expressar o sereno regozijo por termos sabido conquistar e manter – pese embora as dificuldades e as contrariedades sofridas – uma maioria estável que é o cimento do projecto de mudança prometido aos portugueses, que não nos perdoariam que delapidássemos o que a tantos custou a ganhar.
Há condições para encarar o futuro com confiança mas não com optimismo, porque a situação económico financeira exige da maioria e do Governo um esforço acrescido de lucidez política e de empenhamento na resolução dos problemas nacionais.
Existe um largo caminho a percorrer para se cumprir o mandato de confiança e de esperança que em duas eleições foi atribuído à AD.  Mas é igualmente necessário que tenhamos consciência do valor extraordinário que representou a viragem política traduzida na formação da coligação governamental. Sem esta maioria o país permaneceria sujeito aos solavancos de uma governação fraquejante, por minoritária”.
 Dirá, mais tarde, a 16 de Janeiro, ao Jornal “O Dia”:
“Por mim reafirmo aquilo que sempre tenho dito: sou claramente a favor do projecto votado nas urnas; sou contrário à desagregação desse projecto, tal com sou contrário à sua transformação mais ou menos encapotada, num projecto diferente ou seja a institucionalização da AD num só partido.”
Esta afirmação, o seu testemunho indiscutível de social-democrata convicto, marcariam, com todas as consequências, o seu percurso político partidário neste ano de 1982.   

sábado, 25 de fevereiro de 2012

COERÊNCIA POLÍTICA


“ Em política não podemos fazer afirmações de fé para toda a vida. Isso seria irrealista.

Mas os políticos devem ser coerentes, para que os militantes e o povo em geral, possam acreditar neles. Acho muito má a experiência de certas figuras políticas do nosso País que hoje advogam uma coisa e, amanhã, praticam outra. 


Eu não sou assim e penso que a coerência é essencial para um político. 


O partido precisa de dar, neste momento, uma demonstração inequívoca - quer a nível interno quer no exterior - que está unido e consciente dos perigos que estamos a atravessar.

Jamais, porém, surgiremos desse modo para o nosso “exterior” se, no nosso próprio seio, não admitirmos e praticarmos uma sã convivência democrática.

Isto supõe o direito a uma livre discussão no interior do partido e das suas componentes, tanto quanto o sentido consciente e livremente assumido de uma coesão ideológica e partidária para o exterior”.
 IN “Notícias da Tarde,”11 de Novembro de 1981

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ADEUS

Adeus de voltar logo
é adeus bom e fácil
grácil memória de hora 
passageira.
Mau, é dizer até logo
e saber quanto é difícil 
a espera da demora

IN "Obra Poética de Neves e Sousa", 1972

É NOSSA, A ESCOLHA


“É fácil acenar à opinião pública com a imagem do desencanto na difícil situação económica internacional e interna, mas não parece correcto fazê-lo sem medir as consequências que isso pode acarretar no plano da participação democrática dos cidadãos na vida partidária, na vida associativa, nos actos colectivos e nos próprios actos eleitorais. O futuro não se constituirá na base do conflito com os partidos democráticos na presunção de que estes falharam. Contribuir para isso, é contribuir para a inexistência de soluções de democratização e desenvolvimento do País”
Povo Livre 10 de Novembro de 1982
“ Está nas mãos de todos os cidadãos e não apenas do governo escolher entre o contributo do trabalho do empenhamento e da participação democrática que viabilizem um futuro melhor e a atitude de criticismo permanente e corrosivo, de apatia e desinteresse, da obstrução e do oportunismo que podem inviabilizar a recuperação do País."
Lisboa 28 de Novembro de 1982 IN D.N. 

"A situação política e económico – financeira do País reclama insistentemente que os diferentes órgãos de soberania se pautem por um relacionamento saudável, de não hostilização, de esforço de compreensão das necessidades dos portugueses e de tentativa de acerto colectivo. Os portugueses aspiram legitimamente a que os seus representantes máximos façam provas de sentido de Estado. Têm o direito de lhes exigir que contribuam para a consolidação de um clima e de uma pratica politicas de civilidade democrática e de respeito institucional. Civilidade democrática e respeito institucional que são indispensáveis à recuperação das nossas dificuldades económicas e do nosso atraso social. Não é provocando-se uma instabilidade politica quase permanente que se forja o consenso tantas vezes proclamado e outras tantas na prática inviabilizado. Não é suscitando-se o afrontamento que se impulsiona o entendimento nas grandes questões de regime., não é perturbando-se a administração publica que se promove a eficácia e a estabilidade da acção governativa."
 Lisboa 14 de Junho de 1982  
   

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O PSD NÃO PODE SER UM “PARTIDO DE ESTADO”


"O nosso partido não é, e não pode ser nunca, um “partido de Estado”. Partido representado no Governo, sim, e um Governo que deve levar a cabo uma política social-democrata ou de pendor reformista, pois para isso somos uma força política e para isso recebemos mandato popular. O PSD tem obrigação de ajudar os seus militantes que estão em exercício de tarefas governamentais. Ajudar não significa, apenas, nem sobretudo, dizer “sim” às acções úteis do Governo, difundi-las pela vida partidária e realçar o seu significado. Significa também e em larga medida, alertar para as omissões da acção governativa e sensibilizar para as necessidades que têm de ser satisfeitas, na medida em que razoavelmente o puderem ser. O PSD deve ser uma força de apoio ao Governo em que se encontra representado, mas de apoio lúcido e exigente, democrático e fraterno, apoio entusiástico quando tal se justificar, crítico for caso disso."
IN “Povo Livre” 18 de Novembro de 1981

NOVEMBRO DE 1981


A pouco menos de um mês do Congresso do PSD, que se realizará no Porto a 5 e 6 de Dezembro, o Henrique, vice-presidente a tempo inteiro, redige a moção da Comissão Política. Defende a continuação do projecto reformista da AD, mas diz não à sua institucionalização.
Defende  uma candidatura civil à Presidência da Republica (em 1985), e na linha de Francisco Sá Carneiro, (uma maioria, um Governo, um Presidente), originária de preferência,  da área social – democrata.
Lança a nova imagem do PSD. Partido de centro esquerda é a palavra de ordem para o próximo congresso. Procura a pacificação interna do partido, sem prejuízo da divergência de opiniões no seio do PSD
A missão: reforço da componente social-democrata com a chamada dos dissidentes e de todos quantos se sintam identificados politicamente com a social - democracia.
A 3 de Dezembro, entrevistado pelo “Diário de Lisboa” à pergunta do Jornalista:
“DL”- Michel Rocard disse um dia que “ o socialismo dos países do Sul é a social - democracia dos países do Norte”. Sendo assim qual o espaço nos países do sul, e em Portugal, da social-democracia?
Nascimento Rodrigues "Sem me referir para já e genericamente aos países do sul, penso que em relação a Portugal, a tónica diferenciadora entre os dois sistemas está por um lado, na rejeição de uma visão conservadora da sociedade e, por outro lado na rejeição marxista  clássica.  O socialismo, mesmo o socialismo democrático, nos países da Europa do Sul, continua muito amarrado ao marxismo tradicional. Nesse sentido, qualquer das perspectivas está ultrapassada na sociedade actual e é, nessa medida que afirmamos a social-democracia como o caminho que aponta para uma sociedade democrática, humanística e se distingue do socialismo democrático clássico".
DL Quer dizer que a social-democracia, do seu ponto de vista, defende a “reforma da repartição” e não a “reforma das estruturas”?
NR "Batemo-nos também pela reforma das estruturas, como diz. Aliás, penso que o grande desafio para a social-democracia, é, precisamente, apresentar um programa para a grave crise económica do País. As dificuldades económicas que atravessamos, não nos permite fazer uma distribuição da riqueza que é parca. Esta a razão suplementar para que tenhamos de efectuar reformas na nossa sociedade."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

SOCIAL DEMOCRATA CONVICTO


A 4 de Dezembro de 1981 “O Comércio do Porto”, publica um número especial a relembrar a tragédia de Camarate de 4 de Dezembro de 1980. Um dos entrevistados foi o Henrique.
“Julgo que Sá Carneiro expressou para o nosso povo a personificação de muito daquilo que ele encara no perfil do português autentico: a verticalidade, a frontalidade, a coragem e a clareza; a teimosia, a persistência e a combatividade ardorosa , ligada à sobriedade de actuação do estadista e ao rigor do pensamento, a confiança que sabia transmitir. Tive vários contactos com Sá Carneiro, por razões partidárias, mas não o conheci  bem. Não me sinto, pois legitimado para falar do homem, cujo quotidiano não acompanhei. As relações que mantivemos foram sempre correctas e cordiais, não obstante Sá Carneiro saber que divergi das suas opções em alguns momentos. Ao contrário da imagem que por vezes se pretendeu criar, nunca me pareceu um homem rígido nas suas ideias. Apoiou decididamente os sindicalistas socialistas democráticos afectos ao PSD, quando a maioria desses entendeu dever aliar-se aos sindicalistas socialistas democráticos e a outras tendências sindicais democráticas para constituir a UGT. Tinha a visão muito clara de que era vital para a democracia portuguesa a existência de um forte movimento sindical livre e independente. Nunca me apercebi de que defendesse qualquer controlo do PSD sobre os sindicalistas que são militantes do partido, sempre, ao contrário, propugnou uma rigorosa diferenciação entre a acção sindical e a acção partidária.
Fui chamado por Sá Carneiro a elaborar o programa da AD, na parte específica referente a Trabalho e Sindicalismo, convidou-me a ser membro fundador do IPSD e só me decidi a aceitar a candidatura a deputado depois de saber que ele considerava indispensável que, na Assembleia da República, se defendesse, à banda do PSD, um projecto de reformas laborais realistas, simultaneamente não conservador nem falsamente progressista. Tinha uma grande preocupação pela situação dos trabalhadores mais carenciados, era um social-democrata convicto.
E é isto o que posso dizer, resumidamente, sobre o que conheci de Sá Carneiro no relacionamento que com ele mantive. Repito que não me arvoro em conhecedor da sua personalidade. Respeito suficientemente a sua memória, a sua coragem, para invocar falsamente ou para o misturar com ideias e atitudes que porventura não tenha defendido. É a minha maneira de lhe prestar homenagem: na verdade.
 IN "O Comércio do Porto",4 de Dezembro de 1981

sábado, 18 de fevereiro de 2012

CRISE


 “As crises que os regimes ocidentais enfrentam presentemente são, pela profundidade que atingem, crises do próprio modelo de sociedade”.



Sexta feira ,30 de Outubro de 1981


CLARIFICAÇÂO


Estamos em Dezembro de 1981. O Henrique assume por inteiro e em exclusividade o lugar de Vice- Presidente do PSD  que prepara o seu Congresso . A 5/12 é entrevistado pelo jornal “O Dia”
P- Nas suas declarações tem sempre acentuado que o PSD se define como partido de centro-esquerda. Está mesmo convencido de que essa caracterização é correcta?
R-“ Não me sentiria bem com a minha própria consciência se tivesse entrado e me mantivesse no PSD começando por lhe renegar o Programa. Trata-se, antes de mais, de respeitar o programa a que se adere. Trata-se também de respeitar a Democracia,  pois esta não existe sem partidos políticos bem identificados, com projectos e propostas bem diferenciados. Não se serve a Democracia quando se pretende meter no mesmo bojo partidário visões ideológicas, programáticas e políticas opostas.
A clarificação, ( como definição de campos políticos subsequentes a uma definição de modelos de sociedade e de perspectivas políticas), é uma condição vital de afirmação partidária e de amadurecimento do regime.
O PSD assumiu-se sempre como um partido interclassista, é certo, mas reformista, não conservador nem marxista, portanto. Foi nessa linha de orientação que ganhou a adesão da maior parte da juventude, de expressivo número de trabalhadores por conta de outrem, de agricultores, de quadros técnicos e profissionais independentes, etc. A sua orientação política de fundo foi sempre no sentido do combate às injustiças e desigualdades pela via das reformas realistas e sucessivas.
Mas quando falamos de desigualdades não é no sentido marxista, ele também, nessa medida, conservador. Há em Portugal muitos milhares de pequenos agricultores ou comerciantes, por exemplo, que não têm 30 dias de férias pagas nem subsídio de doença, nem 13º mês. Há viúvas com pensão de sobrevivência bem inferior ao salário mínimo nacional. Há intermediários que escapam escandalosamente aos pagamento de impostos e fazem fortuna num ápice. Há o duplo emprego como única forma de sobrevivência no dia-a-dia e o duplo emprego como fonte de aquisição de uma casa de campo. E por aí fora…
Corrigir gradualmente estas situações, apontando para uma ordem económica e social mais justa, não é possível, do meu ponto de vista, senão com uma política social democrata e, portanto, com um partido social-democrata que se posicione como tal.”
IN “O DIA”, 5 de Dezembro  de 1981


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

BIRIN BIRIN

CORRECÇÃO POLÍTICA


 "Mais do que as palavras, importa observar o comportamento das pessoas. Os que me conhecem no PSD sabem bem que nunca fui adepto de procedimentos inquisitoriais ou de métodos de “caça às bruxas” em sentido amplo. Dei provas indesmentíveis disso por exemplo aquando da cisão parlamentar de 1979 em que procurei e consegui, ao lado de outros militantes, preservar a zona sindical afecta ao PSD. E Sá Carneiro escreveu no “Povo Livre”, um artigo a propósito desses acontecimentos, realçando a dignidade e a serenidade do comportamento dos militantes sindicalistas.
O que eu reprovo e condeno veementemente é qualquer processo de “caça  às bruxas” em sentido amplo, portanto e também qualquer método anti-democrático de fazer oposição. As minorias que existam no PSD têm todo o direito de ser respeitadas, mas têm elas próprias a obrigação de começar por respeitar o voto e a vontade livres da maioria. Quando assim não sucede, não estamos perante minorias democráticas, estamos perante minorias de tipo leninista. No PSD não há lugar para leninismos, mesmo que com “travesti” social - democrata.  Seria o PSD a estar em causa e, aí temos o dever de o defender sem desfalecimentos e sem contemplações.
O PSD tem a sua história, tem o seu projecto e tem os seus militantes. Seria um erro grave que perdêssemos isto em benefício de falsos interesses nacionais, que, por coincidência não estranha, seriam os interesses de outros e não os dos sociais democratas.
Estou certo de que saberemos preservar o programa do PSD, ainda que adaptando-o, na altura e nos órgãos próprios à evolução entretanto ocorrida na nossa sociedade e enriquecendo-o com o valor da experiência adquirida e a visão humanística e de justiça que é própria da social democracia."
In “ A Capital”.  Sexta- feira, 7 de Agosto de 1981

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A POLÍTICA É ASSIM


"Não se pode governar num clima de oposição interna, corrosiva, permanente. O que é curiosamente surrealista é que certos opositores do Governo o acusam de não governar ou governar mal. E, vai daí, toca de criar as condições e de montar todo o aparelho possível conducente a inviabilizar ou a dificultar uma governação normal.
Faz-me lembrar a história do ladrão que rouba e desata a correr pela rua gritando ”acudam que me roubaram”.
Temos que responsabilizar as pessoas por aquilo que fazem e não fazem. Que se responsabilize o Governo por eventuais erros, nada a objectar, pelo contrário. Mas que se coloquem obstáculos, se levantem calúnias, se denigram figuras, se recuse o entendimento, para, depois disso, criar assim maiores dificuldades ao Governo – isso é inacreditável e pouco digno. Dir-me-ão que a política é assim. Eu respondo que é assim que se mata a democracia porque esta tem de assentar num núcleo essencial de valores éticos para poder desenvolver-se, ou então desacredita-se.
Em 1º lugar, a CGTP/IN  aproveita-se da situação de instabilidade provocada. Está no seu papel. O papel dos sociais-democratas, é que não pode ser o de facilitar a vida à CGTP e ao PCP.
Em 2º lugar, uma política de diálogo social alargado exige como condição essencial que o interlocutor dos parceiros sociais, ou seja, o Governo, tenha apoio e seja claramente sustentado pela sua base política e social. É obvio que se não vai dialogar com quem não se sabe se, amanhã, é o interlocutor adequado. É obvio que não se vai dialogar se o interlocutor foi enfraquecido internamente. Em tais situações, não se dialoga: amplia-se a luta, radicaliza-se a reivindicação laboral e procura-se instalar a agitação permanente.
É o que faz a CGTP nesta crise, certamente grata aos seus involuntários aliados “contra-natura”.
Quem semeia ventos, e nem sequer os sabe dominar, colherá tempestades. Eu pergunto se é isto a defesa dos interesses do País, da estabilidade social e do progresso económico”.

In “ A Capital”.  Sexta- feira, 7 de Agosto de 1981

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

TESIRESD HOMENAGEOU NASCIMENTO RODRIGUES


A 10 de Setembro de 1981, sindicalistas sociais-democratas promovem um jantar de homenagem ao Henrique, (devido à sua acção como social - democrata e Ministro do Trabalho do VII Governo).

Mário Pinto, antigo militante do PSD  afirmaria que Nascimento Rodrigues “passou pela prova de fogo”, pois nenhum sindicato contestou a sua acção, nem sequer a CGTP/IN.
Francisco Sousa Tavares, deputado do PSD e director do Jornal “A Capital” afirmou “ estar ali não por razões imediatas de política nem de amizade pessoal, pois poucos contactos tinha tido com Nascimento Rodrigues, mas sim porque considerava este uma das raras pessoas que dentro do PSD poderia defender a sua genuidade e evitar a sua degenerescência no sentido conservador. (….)
Da mensagem de Pinto Balsemão destacamos não queria deixar de manifestar a minha solidariedade pessoal e política a um social-democrata que, quer no plano partidário, quer nas altas funções governativas desempenhadas, sempre tem demonstrado um elevado sentido de responsabilidade aliado a uma indiscutível competência. É de homens como este que Portugal necessita e que nos habituamos a admirar e a respeitar”(…)
Nas suas palavras de agradecimento Nascimento Rodrigues, após salientar sentir-se muito sensibilizado com a presença de todos, afirmou que não considerava o jantar como de homenagem mas sim convívio de amigos que compartilhavam dos mesmos ideais, dizendo não se sentir “encaixilhado na moldura de um homem que termina uma carreira”. Referiu também que irá continuar mais empenhado politicamente entre outros motivos porque” O PSD precisa de ocupar mais e melhor o espaço social-democrata neste País” tarefa a que concerteza se irá dedicar como futuro vice-presidente do PSD. Acrescentou ainda que “a tarefa de relançamento do PSD tem que ser tarefa de todos os militantes” pedindo, por isso, o empenhamento dos sociais-democratas nesse sentido.
A homenagem terminou (….) tendo sido a primeira vez que um Ministro do Trabalho sai mais prestigiado do Governo do que quando entrou, apesar dos ataques velados, de certos órgãos de informação afectos ao grande capital e à direita e, daí, esta homenagem ter sido da iniciativa de trabalhadores social-democratas.
IN, Povo Livre 14 de Setembro de 1981


NÃO HÁ SOMBRAS NA NOSSA DEMOCRACIA


A partir de 4 de Setembro de 1981 o Henrique retoma o lugar de deputado (para que tinha sido eleito).
A Comissão Política Nacional do PSD delibera, por unanimidade, a sua candidatura a vice-presidente do partido. O Conselho Nacional, (reunido nos dias 19 e 20 de Setembro), confirmará essa decisão.
O Henrique ficará, assim, responsável, (interinamente até ao Congresso), pela presidência da Comissão Política do Partido. E assume essa responsabilidade em plenitude. A sua missão: relançar o PSD, na sua vertente social-democrata, na linha sempre defendida por Sá Carneiro – partido de centro esquerda. E assume-o de imediato.
A 14 de Outubro em entrevista à RDP 1 conduzida por Pedro Cid , o Jornalista comenta
“Quem o ouvisse ler como leu o comunicado, da comissão política nacional, a declaração política do PSD, ao fim da manhã de hoje, quase que se daria conta que tinha ressuscitado o espírito de Sá Carneiro.”
"N.R. Bom, ainda bem que você diz que é o espírito de Sá Carneiro que estava ali presente. O PSD foi fundado por Sá Carneiro, transformou-se no maior partido português, graças ao projecto de sociedade que Sá Carneiro defendeu e portanto o PSD com isso apenas se mantém coerente consigo próprio.
A democracia deve ser clara, as opiniões devem ser exprimidas com total frontalidade. Eu pergunto como é que nós podemos vencer a nossa situação se não partirmos de um diagnóstico correcto de quais são efectivamente as nossas dificuldades; hoje as promessas são efectivamente para cumprir, mas temos de saber com que meios as devemos cumprir.
No meu entendimento não há sombras na nossa democracia. Estamos a viver num regime democrático, as eleições presidenciais estão terminadas, as eleições legislativas estão terminadas.

O projecto que o Governo segue foi votado em eleições livres e consubstancia-se no programa que a assembleia  aprovou
Um projecto diferente teria de se submeter aos mesmos processos democráticos.
Toda a contestação é legitima quando se assume com clareza democrática e de acordo com as regras próprias dos partidos. Aquilo que eu penso que o nosso povo esperava era que tivéssemos agora 4 anos de normalidade democrática para lutar contra  as dificuldades económicas e para vencer as injustiças sociais. Essas sim, essas podem ser as nossas sombras. Mas não são sombras que pesem sobre o regime democrático.”

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

NÃO A UMA POLÍTICA DE CAPITULAÇÃO CLASSISTA


"Temos que fazer sacrifícios, porque o futuro do País assim o exige. Mas se os sacrifícios apenas forem exigíveis a uns e não a todos, de acordo com uma repartição equitativa, então não se estará face a uma política de rigor e autenticidade democrática mas, sim, face a uma política de capitulação classista. Um social - democrata tem de lutar contra isso. Compreender realidades económicas inultrapassáveis, sim – abdicar, não.
 Como responsável pelo PSD não me compete senão defender o PSD. O contrário só sucede com os que se enganaram na filiação partidária…"
Expresso 5 de Setembro 1981

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

EM DEFESA DA LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA


Ainda a propósito das causas que levaram à queda  do VII Governo Constitucional.  Como sempre, directo, claro, sem meias tintas, chamando as coisas pelos nomes. O Henrique era assim! Por isso criou inimigos e detractores. Por isso criou amigos que o não esquecem. Assim o recordamos nas páginas do “Ouvidor”.
 "Em democracia as alternativas são legítimas e desejáveis e isso aplica-se quer às relações entre partidos quer às relações no interior de cada partido. O PSD não é, e não pode ser nunca um partido “unicitário”. Logo, é natural que, nos momentos próprios e nos órgãos apropriados, surjam alternativas à liderança do partido.
Simplesmente, o que se verifica na actual contestação à liderança do PSD e à figura do 1º Ministro está fora das regras do jogo democrático. E explico porquê.
O dr. Pinto Balsemão foi indigitado pelo Conselho Nacional do PSD para Primeiro Ministro, com a natural aceitação dos outros partidos da AD e ganhou no Congresso o seu lugar de presidente do PSD. Num e noutro caso, tudo se processou em completa sintonia com os princípios que determinam que quem ganha democraticamente tem direito a exercer o poder. Tem o direito de o exercer até ao momento em que os representantes de milhares do PSD., eleitos na altura própria, ou seja, para o próximo congresso, entendam que devem votar noutro presidente do PSD. Ou até ao momento em que o Conselho Nacional do partido, por votação secreta, entender por maioria que se justifica que o maior partido da AD indigite um outro Primeiro Ministro.
O que se verifica, o que toda a gente constata, é que não é nada disto o que está a passar-se. De há alguns meses a esta parte assiste-se a uma contestação, primeiro viscosa, agora mais clara, feita fora dos órgãos próprios e das estruturas legítimas do PSD. Usa-se o boato, a mesa do café e a praça pública com instrumento de oposição. Mas no último e ainda mais recente conselho nacional do PSD só uma voz teve a honestidade de votar contra Pinto Balsemão. E se no conselho nacional do próximo sábado aqueles que publicamente se lhe têm oposto não souberem ter a dignidade de se assumir com inteireza, então eu diria que uma certa classe política é constituída não  por homens, mas por moluscos.
IN " A Capital" . Sexta-feira, dia 7 de Agosto, 1981

domingo, 12 de fevereiro de 2012

EU VOU VOLTAR

SONHOS AINDA POR SONHAR


Tão presente!
Tantos projectos!
Tantos sonhos, ainda por sonhar.
Não é real a sua morte.
A nossa vida está suspensa,
Em espera.
Para acreditar
E poder dizer,
Olhos nos olhos
Uns dos outros:
Vês agora, porque é que ele morreu
Naquele dia concreto,
Daquela maneira concreta,
Àquela hora concreta?
Nesta vida suspensa,
Todas as perguntas ficam sem resposta
Nos nossos corações.

O MEU FATO DE JUDO


"NÃO!
Oh Não! O Pai esqueceu-se de mim… no meio do meu fato de judo branco, sentado na escada da porta do nosso prédio cinza, esperei sem saber o quê.
O Pai esqueceu-se de mim…. somos muitos, somos vida na rotina e eu fiquei para trás.
Esperei….
Acho que esperei por ele toda a minha vida…. ou por mim quem sabe. Esperei para o conhecer, a ele que era o pai mais conhecido da minha turma.
Continuei sentado… o pai esqueceu-se de mim.
Escrevo agora com um sorriso no rosto. Porque foi um esquecimento de amor. Já estou tão junto dele que agora é só ligar o carro, claro! Já estou tão junto dele que o Diane se encarregará sozinho de me levar à escola. Já estou tão junto dele que os meus irmãos devem ter pensado que o pai guardou o Nuno no bolso e no infinito da sua altura (para mim o pai era muito alto) arrancou o Diane para não chegarmos mais tarde. O fato de judo alguém o irá buscar.
O Pai não se esqueceu de mim. Escrevo agora para não me esquecer de ti. Eu não me vou esquecer de ti. Porque já estás tão junto de mim que não há rotina que me faça deixar de te viver. Eu não me vou esquecer de ti."

São vinte e dois meses hoje. Nenhum de nós se vai esquecer de ti. Nenhum de nós deixará de te viver. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

É PRECISO DIZER BASTA

11horas da manhã do dia 11 de Agosto de 1981. O 1º Ministro do VII Governo constitucional chega ao palácio de Belém para apresentar, ao Presidente da Republica, o seu pedido de demissão como chefe do Governo.
Oito meses após a morte de Sá Carneiro, e em sequência de enorme agitação política, particularmente dentro do PSD, o País fica sem Governo.
A opinião do Henrique, expressa a um jornalista do semanário “O Tempo” é a seguinte:
 “ O pedido de exoneração do Primeiro Ministro foi a consequência inevitável do comportamento e dos objectivos  perseguidos pelo impropriamente chamado “grupo” dos críticos. A atitude não poderia ser outra depois daquilo a que se assistiu no último Conselho Nacional do PSD, onde uma minoria, aliás, quanto a mim, não homogénea, de pessoas, se recusou a dar-lhe condições para continuar na chefia do Executivo. E mais: quando o Dr. Balsemão, face ao espectáculo de radicalização criado pela minoria ao longo dos debates, sentiu o risco de quebra da unidade do partido, dispôs-se até ao último momento a aceitar uma plataforma de conciliação para ultrapassar esse risco. Pois nem sequer essa plataforma foi aceite por consenso, como se verificou pelos resultados da votação. Estes factos, que não são confidenciais porque já toda a imprensa os relatou, e que correspondem, em síntese, à verdade do que sucedeu no Conselho, criaram as condições políticas inevitáveis para a apresentação do pedido de exoneração do Primeiro Ministro.
Algumas pessoas têm-se mostrado surpreendidas com o imprevisto deste desfecho. Não há aqui nada de surpreendente. Quando ao longo destes meses, se assistiu a uma campanha sistemática de deterioração da imagem do Governo e, sobretudo, do Primeiro Ministro; quando, publicamente, e antes do Conselho Nacional  se vem exigir a demissão do Chefe do Executivo; quando se ouvem, ao longo do Conselho Nacional do PSD críticas de uma dureza atroz, algumas de sentido totalmente demolidor e, até palavras ofensivas da dignidade pessoal, quando se diz, frente a frente que este Primeiro Ministro não tem capacidade de realização, que se deve demitir imediatamente, porque se não o fizer no dia seguinte continuará a campanha de obstrução ao Governo, e quando se recusa a mais ampla hipótese  de conjugação de esforços e de conciliação de posições – quando tudo isto acontece, não há que surpreender ter o desfecho sido o que foi. Pretendia-se enfraquecer ainda mais a posição do Primeiro Ministro, pretendia-se desgastar por algum tempo mais este Governo, pretendia-se fazer deteriorar a situação política ao ponto de haver de surgir então, naturalmente apetecida, outra liderança, outro Governo e outro projecto político, sob a capa de renovação do actual. A isto respondeu o Dr. Balsemão com um rotundo “não” e um firme “basta”. Tenho para mim que foi uma atitude coerente, uma posição digna e uma solução correcta."


IN "O Tempo" 13 de Agosto 1981

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

NÃO AOS JOGOS DE CAPELINHA


11 de Agosto de 1981. Após mais um Conselho Nacional do PSD, (que se inicia dia   8 de Agosto e termina dia 10 de madrugada), Francisco Pinto Balsemão apresenta a sua demissão. O Presidente da Republica aceita, afirmando que mantém a confiança política no 1º ministro. O País fica praticamente sem Governo. Pela 1ºvez depois do 25 de Abril é o partido maioritário que derruba o seu o seu próprio executivo.
O Henrique é entrevistado pelo jornal “O Tempo”. À pergunta do jornalista: “Aceitaria ser Ministro do Trabalho noutro Governo não chefiado por Pinto Balsemão”?
 O Henrique responde:
“ Se a sua pergunta contém implícito o entendimento de que estou neste Governo por uma atitude de relacionamento ou seguidismo pessoal, impõe-se um esclarecimento muito frontal e claro: não vim para este Governo por tal tipo de razões e não vou para nenhum Governo impelido por tais motivações. Acreditei que poderia realizar trabalho útil e prestar um serviço honesto à resolução dos problemas laborais do nosso País, na previsão de um mandato minimamente durável e sob um projecto de diálogo e distensão sociais que se enquadravam perfeitamente no perfil global do Governo ora exonerado. Desde que isso deixe de ser possível politicamente, não se justifica, a nenhum título, sequer a hipótese de integrar outro Executivo.  E mesmo que este assuma a possibilidade da mesma linha de acção que defendi, haverá sempre alternativas mais válidas para casos pessoais. O PSD não é pobre em valores, ainda que já tivesse sido mais rico. É preciso ir buscar os sociais democratas mais válidos, mais capazes, mais dinâmicos. Nós temos esses homens e não é difícil descobri-los, desde que nos deixemos  de “jogos de capelinha” internos e de sectarismos incompatíveis com o ideário democrático e social – democrata”.
IN " O Tempo" 13 de Agosto 1981

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

SAÍDA PELA PORTA ALTA


A 4 de Setembro de 1981 “O Jornal “ publicava um artigo intitulado “Como o FMI “abateu” um ministro.”
E continuava: “Pela primeira vez, um ministro do Trabalho abandona a Praça de Londres com mais prestígio do que aquele com que entrara. Não por obra feita – mas pelo que se recusou a fazer”.(….)  “ O acordo com o FMI serviu-lhe de pretexto e causa próxima. A decisão estava já tomada. Uma decisão pessoal e que os acontecimentos das últimas semanas mais não fizeram que consolidar e tornar irreversível. Balsemão ainda insistiu – uma, duas vezes, mas com convicção decrescente perante a resolução inabalável de Nascimento Rodrigues.
Compreensão e total  solidariedade encontrou Nascimento Rodrigues junto dos sindicalistas e de outros sectores do partido. Atitude que, algo surpreendentemente, se alargou a alguns empresários, que vinham acompanhando com atenção a política lavada a cabo no Ministério do Trabalho. E terminava em jeito de comentário:  “Nascimento Rodrigues, saída pela porta alta”.
Em 5 de Setembro, e a este propósito, dizia o Henrique ao “Expresso”:
Quanto ao FMI, também não tive conhecimento de quaisquer eventuais condições relacionadas com a legislação laboral. Conhece-se mais ou menos a grave situação económico - financeira em que o País se encontra. É um imperativo nacional conter o deficit da nossa balança exterior e do orçamento do Estado. Isso implica a adopção de medidas de fundo, mas quer parecer-me que a maior parte delas, para que se alcance de facto a necessária e urgente recuperação económica, não passa essencialmente pela área das leis do trabalho. Se se pensa que as greves acabam com a revisão da lei da greve, alguém vai ficar muito enganado. Ou não é verdade que nas empresas bem geridas não há ou quase não há greves?”

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

COERÊNCIA E DIGNIDADE


4 de Setembro de 1981. Toma posse o VIII Governo Constitucional. Em entrevista ao Semanário Expresso, o Henrique explica, mais uma vez, as razões que o levaram a deixar a pasta do Trabalho
 EXPRESSO Por que razão não aceitou fazer parte deste novo Governo AD?
 N.R. – "Há algum tempo já que eu tinha solicitado ao senhor primeiro ministro, quer verbalmente, quer depois por escrito, que me dispensasse de continuar à frente do Ministério do Trabalho. Fiz esse pedido em síntese, por três ordens de razões interligadas: por aquilo que consinto ser os interesses nacionais, em primeiro lugar; em segundo lugar, por considerar, face a isso, que se encontrava durante algum tempo  precludido o projecto, e até o estilo pessoal de actuação, que eu vinha prosseguindo no âmbito da política laboral por que fui directamente responsável; em terceiro lugar por coerência e dignidade pessoal, tais como a minha consciência as interpretou.
Desejaria sublinhar que o primeiro-ministro ponderou atentamente o meu pedido e procurou persuadir-me a continuar como responsável pelo Ministério do Trabalho. Não posso senão sensibilizar-me com tal atitude. Mas ele próprio veio a reconhecer a pertinência das razões que invoquei e aceitou-as inteiramente"
EXP – Não pode especificar melhor essas razões?
N.R.- "Creio ter sido claro na resposta. Não há aqui nada escondido, tudo simples! No fundo, repare, do que se trata é de escolher o perfil dos governantes em função da política que se anteveja como necessária, e não de definir a política em função de homens previamente escolhidos. Pelo menos é assim que encaro os passos de formação de um novo Governo. Devem definir-se os objectivos e as políticas, depois a orgânica governamental adequada, e só no fim as pessoas tidas como mais aptas para levar a cabo as metas traçadas.
Penso que toda esta explicação é suficiente e entendível. Qualquer esclarecimento complementar e mais pormenorizado cabe ao senhor primeiro-ministro, se, quando e como ele o julgar conveniente. E volto a sublinhar que ambos convergimos na solução da minha saída do Governo, ou, mais precisamente, do Ministério do Trabalho."
(…)
EXP- Vamos terminar; que cargo pensa que poderá vir a ocupar na Assembleia da Republica ou no PSD?
N.R. – "Retomarei o mandato de deputado, para que fui eleito e nada mais. Quanto ao PSD o presidente do partido quis ter para comigo o gesto de confiança de propôr à Comissão Política Nacional a indigitação do meu nome para o futuro vice - presidente. Sei que a comissão politica em reunião em que não pude estar presente, deliberou por unanimidade a minha candidatura para esse cargo. O órgão com legitimidade para decidir é o Conselho Nacional, enquanto não se realizar o próximo Congresso. Aceitarei as tarefas que me atribuírem com a militância que nunca recusei ao meu partido, desde que me sinta capaz de as exercer com validade para o PSD, para a social democracia e para o País."
Expresso 5 de Setembro de 1981
Fotografia -  Cerimónia de posse do VIII Governo

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ESCOLHER OS HOMENS EM FUNÇÃO DAS POLÍTICAS


"Diário de Notícias 29 de Agosto de 1981
Acordo com o FMI desmotiva ministro
O Ministro do Trabalho, em exercício, Nascimento Rodrigues, terá anunciado ao primeiro – ministro indigitado a sua recusa ao convite para manter o cargo no próximo Governo alegando falta de condições em consequência dos inevitáveis reflexos que o acordo com o FMI terá na política laboral.
Esta informação foi veiculada pela RDP, em noticiário de ontem à noite e acrescentava que Nascimento Rodrigues, o teria feito numa carta enviada a Pinto Balsemão no início da semana e tornada pública sexta feira através da Anop."
De facto, nessa carta, datada de 21 de Agosto, o Henrique coloca a questão de ser dispensado da chefia do Ministério do Trabalho nos seguintes termos:
“ Os homens devem ser escolhidos em função das políticas a prosseguir (…) e não vislumbro que possa ser eu a pessoa mais indicada para continuar à testa do Ministério do Trabalho, no contexto dos objectivos pelos quais o seu governo terá de lutar no próximo, senão nos próximos anos, atenta a durabilidade da crise.
Seria uma ilusão, e pior que isso um erro, pressupor que um homem adepto do diálogo e dos processos lentos e difíceis, de sedimentação de consensos sociais tácitos ou expressos, fosse o ajustado para fazer compreender aos trabalhadores e sindicatos que eles terão de aceitar, sem contrapartidas minimamente sensíveis porque não há alternativas, uma apertada contenção salarial e uma politica de revisão legislativa laboral que poderá justificar-se seja efectivada sem verdadeira discussão social. E seria totalmente contraproducente uma discussão social apenas formal.
Se não há condições objectivas para uma política de diálogo e abertura social, impõe-se que sejamos verdadeiros: temos de optar, então por a diferir para outro momento, mesmo de médio prazo. O que se perde agora, ganhar-se-á mais tarde, por termos sabido preservar, para a aplicar na altura devida, a filosofia do consenso social, tão cara aos nossos ideais sociais-democratas ."

CONSCIÊNCIA DE ESQUERDA?


1981. Durante o mês de Julho torna-se evidente que o VII Governo Constitucional estava ferido de morte.
O mês de Agosto foi caótico. Do Henrique retenho algumas linhas escritas a 26 de Agosto desse ano: "Passei o dia dos meus anos em São Bento e passo, também em São Bento, o dia do nosso aniversário. O 1º Mº quer que eu esteja hoje e amanhã em Lisboa. Sinto que vou como para um enterro. Apetecia-me fugir disto tudo. Perdoa-me não ter andado com disposição para falar contigo”.
 A queda do VII Governo, a intensa crise que se vivia dentro do PSD e da coligação governamental, a assumpção do cargo de Vice – Presidente do partido, foram tema de uma conversa entre o Henrique e o jornalista Vitor Serra do jornal “O Tempo”( 1 de Outubro de 1981)
"V.S. Considera-se uma espécie de “consciência de esquerda” do PSD, como um semanário lhe chamou há dias? Isso supõe que no seu partido há correntes diversas. Aceita que elas vão desde a social-democrata à extrema-direita? Qual é a sua visão do partido, agora na qualidade de Vice – Presidente?"
NR "Penso que um partido social-democrata deve ser um agente colectivo de transformações sociais viáveis, um aguilhão permanente na luta contra as injustiças e desigualdades, os oportunistas e a corrupção, um catalisador no processo de libertação do Homem e da humanização da sociedade. O PSD foi fundado como um partido de centro – esquerda. E sempre o seu líder histórico, Sá Carneiro, o posicionou assim e os militantes no seu conjunto lhe mantiveram esse perfil. Não há a mínima razão para desvios dessa linha. Não foi com pretensas ortodoxias, de cariz divorciado das nossas realidades e da maneira de ser das populações, que nos transformamos no maior partido. Como o não foi nunca por cedências a um conservadorismo de retorno a soluções ultrapassadas e a práticas repetidamente fracassadas. Se lhe refiro isto, é para lhe dizer que não me sinto com consciência de nada dentro do PSD. Tenho, sim, a consciência de que me sinto bem no PSD, enquanto expressão de uma social-democracia pragmática, que aceita a tensão natural da vida e a dinâmica das ideias inspiradas pelos valores da liberdade, da solidariedade e da justiça. E por isso defendo como salutar a existência de correntes, de sensibilidades ou maneiras de pensar diversificadas no interior do partido, assentes e arrancando dos fundamentos básicos que aglutinam os sociais-democratas. E elas existem, exactamente porque somos um partido democrático e social-democrata! Mas daí até adiantar-se que percorrem o PSD tendências ou grupos que vão da extrema direita à social-democracia, isso é uma suposição incorrecta e que não aceito de modo algum"  

domingo, 5 de fevereiro de 2012

SAUDADES DO AVÔ (9)




Agosto dia 3 .... Ano?  Não interessa. Foi mais um dia que ficou na memória da Família. Estes netos  têm agora 17 e 18 anos. 
Os dias passaram.  As saudades deste avô cresceram ao ritmo do crescimento dos netos. 
Ficaram as memórias. Ficou a alegria dos encontros. Ficou o dia dos anos do Avô . Ficaram as saudades e a certeza do reencontro. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A PEDRA DE TOQUE


Abril de 1958 – Jogos florais da Universidade do Porto. Concorrer, era um imperativo para o Henrique. Concorrer, mesmo em cima da hora. Escrever, testar perante os outros as suas capacidades, pôr-se à prova! Desafiar opiniões, enfrentar os adversários! E o dilema de sempre: e a Faculdade? Como deixar para segundo plano os estudos sem comprometer o resultado dos exames?

"Quando se concorre, o trabalho a apresentar deve ser feito com tempo e calma. Um conto, uma reportagem ou qualquer outra coisa no género não se faz de um dia para o outro – leva tempo, requer atenção, boa disposição e jeito, claro. Tempo, já não tenho muito; todo o que tenho é para estudar, e esse mal sabe Deus como me chega! Portanto para concorrer a esta ou àquela iniciativa, necessitava de fazer um pequeno sacrifício: de estudar, ler e escrever, tudo ao mesmo tempo. Calma é coisa que nunca tive. É defeito meu tomar decisões destas à última hora: e, depois, se por acaso não conseguir ganhar nada, fico admirado.
Se eu ganhar, isso será muito natural para aqueles que pensam que eu sou uma espécie de máquina que não pode falhar; se eu perder, tal será por outro lado, uma satisfação para aqueles que pensam, também, que pouco valho, e que, quando ganho é por sorte!
Há muitas pessoas que têm a mania que eu sou algo de anormal, capaz de tudo e mais alguma coisa sem olhar ao resto - e comparam-me, no meu entender, a uma máquina que nunca falha no trabalhar! Esquecem-se, coitados, que por vezes, um pequeno grão de areia pode empanar o maquinismo! Sabes o que disseram quando ganhei a menção honrosa? Podias, se quisesses, ter ganho o 1º prémio – que pena! Podias se quisesses ter ganho o 1º prémio! Ora bolas! Com certeza, se não ganhei  foi porque não quis, não? E depois há os que pensam que tudo isto acontece, não porque eu possa ter algum valor, mas porque tenho muita sorte! Opiniões… De qualquer maneira, se a uns e a outros eu já não dava importância, o pior é que agora deixei de dar a mim próprio! Hão-de convencer-se de que eu nem sou 100 nem 10! O meio termo é que me interessa .
Se continuo a pensar que não tenho motivos fortes para lutar e vencer, posso muito bem ir estragar a minha vida com estas palermices.
Não sei porque motivo me terão vindo ideias tão estranhas; o que é certo é que não encontro, por mais que procure a “Pedra de Toque” que me empurre".

GREVE NOS TRANSPORTES




Em 23 de Abril de 1981 em entrevista ao Tempo dizia o Henrique: Greves nos transportes visam criar condições de instabilidade política, económica e social.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

OS HOMENS BONS NÃO PODEM MORRER



“Não é difícil vaticinar às celebridades políticas que por aí circulam um magro quinhão de notoriedade no álbum póstumo das glórias. Não que careçam de diligências e virtudes para encontrarem a pose ajustada ao merecimento de darem um nome a uma rua. A questão é outra. A política é negócio de vivos (quando não de vivaços, o que torna o negócio menos digno de passar à história). Querelas que se revelam ninharias quando pensamos na morte com profundidade de alma que esperamos (todos mais ou menos mesmo os ateus) entregar ao criador. Vencer a morte em acto de memoralismo, não a vencem tais pugnas. A não ser que o génio de algo que transcende o político, mesmo que nele se exprima, arrebate a conduta do Homem que age na esfera política.”
Natália Correia  in Espaço Magazine nº7 Janeiro de 1981

O Henrique foi este tipo de político.  “Foi alguém com uma visão e um projecto para Portugal. Tinha de Portugal uma leitura muito própria e olhava o seu país com uma visão estratégica, que hoje muito nos falta. Acreditava na identidade nacional e era um crente nas virtualidades do verdadeiro diálogo e da escuta activa, aqueles que se fazem com fé na postura, descrição nos procedimentos, esforço para entender a razão dos outros e empenho efectivo na busca de soluções possíveis. Estava nos cargos pelo tempo que pudesse ser útil e servir. Que tempo era esse, ele o media, na intimidade e na serenidade das suas convicções. Confiava profundamente na capacidade de envolvimento da sociedade civil e, por isso como português, comprometeu-se com o desempenho de cargos públicos e serviu de forma singular o seu país, com profundo sentido de serviço à causa pública, de desinteresse, de desapego de bens materiais, de abnegação e, tantas vezes – principalmente no fim - com enorme sacrifício pessoal. Era um actor da vida, no sentido de ser um fazedor. Não gostava de palcos. Era um homem de silêncios, às vezes de longos e profundos silêncios”. ( Sofia Nascimento Rodrigues)
Abria-se com a escrita, onde se revelava profundamente directo, inteligente, cáustico e sentimental. Não podemos deixar morrer os Homens Bons; por isso a sua escrita, os seus valores continuarão no seu blogue

ANGOLA NO CORAÇÃO


A Casa dos Estudantes do Império (extinta em 1965), com sede em Lisboa,  (Avenida Duque dʼÁvila número 23, esquina com a Rua D. Estefânia), era, em 1958, um ponto de encontro de estudantes  angolanos, entre si e, com a sua terra distante.
Todos eles defendiam, a seu modo, o facto de serem angolanos, e de desejarem que Angola fosse uma terra livre e progressista. O Henrique, nos seus jovens 17 anos, percebeu que estava isolado no seu modo de encarar o futuro de Angola.
“ Nunca me darei por vencido! Eu deixaria de ser eu se fosse derrotado. Essa hipótese põe-se-me tão improvável como se eu pudesse trazer a lua dentro do bolso do meu casaco!
Se eu “menino e moço” marquei o meu destino, tracei o rumo da minha vida, em muitos pontos diferentes do que me tinham destinado – eu mesmo que me fiz a mim mesmo, não vou deixar de ser o mesmo! Os sonhos que eu sonhava, sonho-os ainda hoje;  e se a vida me for adversa, tudo o que de mau há nela terá de me derrubar e passar sobre mim para que eu renuncie. Mas para que ela passe sobre mim, será necessário que eu já não tenha forças para passar eu por cima dela. Só nesse dia, porventura, terei desistido de sonhar.
Continuarei a sonhar com o que quero até quando eu quiser; e se outros sonhos, provenientes de outra idade me vierem povoar a mente, os antigos não serão relegados para 2º plano.
Também a mim “menino e moço” me levaram da minha terra para outra terra que não a minha,  mas eu hei-de voltar – nota bem – à minha terra, tão moço como dela saí! O corpo poderá ser já velho; mas o espírito há-de ser o mesmo revoltoso e  sonhador  ao mesmo tempo. Porque se não for,  eu prefiro ficar cá a ir desonrar a minha terra com as ideias que aqui se respiram. Ou volto sendo o mesmo, ou então não volto – e eu hei-de voltar!”

Lisboa Abril de 1958