quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A SUAVE MÃO DA TUA AUSÊNCIA

Com Manuel Alegre, (Vice-Presidente da Assembleia da Republica), Sala do Senado, 18.11.2002

A SUAVE MÃO DA TUA AUSÊNCIA

A casa está cheia de ti
Não apenas os retratos os recantos
Os quadros
Não apenas os objectos onde
Roça ao de leve
A suave mão da tua ausência
Mas aquela luz que trazias dentro
E deixavas de passagem
Nos seres e nas coisas.
Talvez agora mores entre as estrelas
Mas brilhas
Intensamente brilhas dentro de casa

Manuel Alegre in Poesia Volume II D. Quixote 2009

VISÃO HUMANISTA DA DEMOCRACIA

" Passamos por um momento da nossa vida nacional em que se torna importante reafirmarmos a nossa concepção de democracia.

Os direitos económicos e sociais têm um ponto de partida, que são os inalienáveis direitos políticos e cívicos fundamentais; e têm um ponto de destino, que é a democracia plena e a libertação do Homem. Estes dois vectores são inseparáveis.

Mas democracia plena, na minha perspectiva de social-democrata, é enquadrada para além e sobre uma visão parcelar de subordinação do poder económico, que deve ser, de facto, um instrumento ao serviço do Homem: ela significa, fundamentalmente, a progressiva porque porventura nunca terminada libertação do Homem, o seu combate secular pela conquista total da eminente dignidade que lhe é inerente.

As constrições económicas e as discriminações sociais constituem, sem dúvida, grilhetas a quebrar. Mas não se conseguirá, seguramente, quebrá-las à margem de um quadro de plena democracia representativa.

As reformas sociais não se atingem nunca à custa da liberdade."

Vimeiro, 25 de Outubro 1981 (Excerto de um discurso proferido no “Primeiro Encontro Nacional dos Sociais- Democratas nas Comissões de Trabalhadores”

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

JUNHO 1981

Dias Felizes na companhia de amigos

SÓ A VOZ

O tempo passa veloz
e só a voz
da saudade que mata
teima em ficar
dentro de nós

Jorge Arrimar ( poeta Angolano)

domingo, 27 de novembro de 2011

POR UMA NOVA ORDEM ECONÓMICA INTERNACIONAL

A 11 de Junho de 1981 o “Correio da Manhã” noticiava o seguinte: “ O Ministro do Trabalho, Nascimento Rodrigues, parte hoje para Genebra, a fim de participar na 67ª sessão da Conferência Internacional do Trabalho, a decorrer naquela cidade até ao dia 24 do corrente.O titular da pasta do Trabalho, discursará na sessão Plenária de amanhã, prevendo-se que regresse a Lisboa dia 13.”É um excerto desse discurso que editamos a seguir.

"Toda a estratégia de desenvolvimento integra uma dimensão social.
A política de cada país tem sempre repercussões além fronteiras. Ora quando essas repercussões agudizam as desigualdades económicas e sociais; quando suscitam penurias inaceitáveis do ponto de vista de dignidade humana; quando alargam o flagelo do desemprego; quando aumentam o fosso entre homens de diferentes nações e entre nações de todos os continentes; quando desencadeiam o afrontamento entre possuidores e não possuidores de bens e de conhecimentos que são indispensáveis à promoção do bem estar de toda a comunidade internacional - quando isto acontece, temos a obrigação de realizar todos os esforços para assegurar as condições de realização de justiça económica e social, quer no campo internacional, quer no campo interno.
Temos, felizmente, condições de estabilidade política, decorrentes de uma vivência democrática que cada vez mais se consolida em Portugal, para tentar esse esforço visando a melhoria das condições de vida e de trabalho da nossa população.
Estamos conscientes do desequilíbrio gerado a nível mundial pelas desigualdades de riqueza e de oportunidades.
Essa consciencialização advêm-nos de três ordens principais de factores
Somos, por um lado, um pequeno País, com uma economia extremamente vulnerável às flutuações e à instabilidade que se vêem observando na ordem económica internacional.
Somos, por outro lado, um Povo que, por razões ligadas à sua história, tem actualmente mais de três milhões de cidadãos seus que vivem em praticamente todos os continentes.
E isto não só redobra a nossa sensibilidade para a compreensão da interdependência à luz da qual temos de encarar e resolver problemas que a todos, afinal, afectam, como reforça o nosso entendimento de que só com acções de estreita cooperação, baseadas num quadro global de solidariedade, será possível afastar os riscos emergentes das clivagens económicas, sociais e culturais que teceram uma divisão angustiante no nosso mundo.
Enfim a nossa consciencialização, ganha, ainda, suporte na circunstância de Portugal se encontrar numa situação de desenvolvimento intermédio e de deter um posicionamento claro na região europeia – mediterrânica, do mesmo passo que, criámos condições para entender o significado das aspirações legítimas a uma maior justiça económica e social por parte dos povos de regiões mais afectadas pela pobreza.
Isto leva-nos a encarar a exigência de solidariedade, pressuposta pela estratégia internacional de desenvolvimento, quer no sentido de uma cooperação mais sólida entre os próprios países da Europa democrática - como demonstração palpável de que são capazes de uma convergência de interesses e de uma ultrapassagem das desigualdades existentes no seu próprio seio – quer a um nível mais alargado, como prova de que estamos conscientes do carácter verdadeiramente imperativo de uma nova ordem económica internacional.
Genebra 12 de Junho 1981

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A MAIOR VITÓRIA

“A maior vitória de um grande homem público, não está tanto em recordá-lo sob a saudade do passado mas, sobretudo, em manter dignificado, vivo e operante o projecto de sociedade por que lutou.”

Lisboa 1981 (referindo-se a Francisco Sá Carneiro)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

SURTO GREVISTA

"Sempre defendi a concepção de que o ponto de vista sindical é, à partida, diferente do ponto de vista governamental.

Por isso mesmo é que o sindicalismo só o é enquanto livre, e, portanto, independente dos partidos, dos governos e dos empresários.

Nesta medida, compreendo que as reivindicações dos sindicalistas possam contrastar com as posições do governo.

Os sindicalistas devem defender os interesses dos trabalhadores que representam, o Governo tem o dever de defender os interesses mais globais de todas as camadas da população. Podem, assim, sobrevir divergências e até conflitos. Mas em democracia os conflitos são tão normais como o são os consensos ou, ao menos, a compreensão recíproca das posições respectivas.

É bem verdade, no entanto, que a situação actual do nosso País exigiria uma certa trégua social, voluntária e responsavelmente assumida. Para tanto, será legítimo que o movimento sindical exija da política governamental o máximo que esta possa dispensar em favor dos mais desprotegidos, no âmbito das disponibilidades que são limitadas.

E, em contrapartida será também legítimo que o Governo espere do movimento sindical a demonstração prática, e não meramente afirmativa, do princípio de solidariedade nacional.

Este é que me parece ser o caminho da redução das margens de conflitualidade social numa óptica de consenso democrático e patriótico.

Em relação às greves, a questão está em discernir, as que são fomentadas pelas forças sindicais com aproveitamento de reivindicações de base salarial, das outras em que reivindicações e objectivos são marcadamente profissionais, mesmo que, do ponto de vista do Governo, tais reivindicações sejam consideradas como inviáveis, tendo em atenção a situação económica das empresas, dos sectores e do próprio país.

A resposta para essas situações, que não sejam as do legítimo confronto e divergência democrática tem de ser firme. Firme, neste duplo sentido: usar a autoridade democrática ao mesmo tempo que se faz prova de que se aplica uma política de gradual eliminação das injustiças sociais."

In “ O Tempo” 28 de Fevereiro de 1980

terça-feira, 22 de novembro de 2011

EM DEMOCRACIA- COM CORAGEM E COM VERDADE


Em democracia, os conflitos de trabalho suscitam-se com relativa frequência, nomeadamente nos países que se defrontam com grandes desigualdades sociais e que não possuem uma economia desenvolvida.

A situação internacional não nos é nada favorável e a nossa economia ressente-se disso.

Neste contexto, o acerbamento de conflitos não irá potenciar condições para que a nossa economia vença as dificuldades que se opõem.

Sem investimento e sem crescimento equilibrado, como podemos criar mais emprego?

E sem um mínimo de estabilidade social, como podemos incentivar a produtividade e repartir com mais justiça a riqueza criada?

Sejam quais forem os nossos pontos de vista, temos que os confrontar e tentar chegar a soluções de consenso, expresso ou tácito. Sinto ser isso o que a generalidade do nosso povo deseja.

É isso o que se impõem tentar com coragem e com verdade.

Em normalidade democrática, não se entende que a rua seja o melhor forum de debate dos problemas e que os “slogans” de propaganda resolvam o que quer que seja.

In “Comércio do Porto” Julho de 1981

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

LIBERTAR A SOCIEDADE CIVIL

"Ao alargamento desmesurado das despesas do Estado, a que se assistiu nos últimos anos, há que opor a contenção rigorosa dos gastos supérfluos e dos não essenciais.

À burocratização do Estado há que opor a desburocratização do País. À descoordenação administrativa e à duplicação funcional e delapidação consequente de recursos há que opor eficácia e produtividade.

E tudo isto, tão sumariamente dito, ajudará muito mais a inverter as tendências de asfixia da sociedade civil do que o corte das amarras de gongorismo ideológico contido na constituição.

Sem embargo, porém, é decisivo que os cidadãos e as organizações legítimas de representação dos interesses colectivos mais diversificados assumam o protagonismo que lhes cabe na modelação da nossa sociedade.

E para isso também é preciso que não se continue a dar prova quotidiana de que tudo esperamos do Estado, no subconsciente assumido, afinal, como mezinha para as nossas próprias incapacidades.

Se o papel selado é mau, o requerimento e o pedido para tudo e para nada não lhe ficam atrás!"

Lisboa 5 de Dezembro 1981 (Nascimento Rodrigues entrevistado por “O DIA”)

domingo, 20 de novembro de 2011

ANGOLA NO CORAÇÃO

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

SERRA DA LEBA



Na minha terra
se come galinha com pirão
"ó milongo ó tchange amé muto"
se come mesmo com a mão
da panela se come
calcinha ou não
o pirão se some
fazendo bola na mão
molha no conduto
rapa na galinha
vai matando a fome
ué!, não tem mais não?
Está onde o pirão então?
Se come só com molho
engorda só com o olho.
Ouvindo o kissange
ainda com fominha
passa os dedos na carapinha
o dente ainda range
na minha terra...

Poesia de Valério Guerra

Fotografias do Henrique. Setembro de 2006

QUEM SEMEIA VENTOS…..

"O projecto que o Governo segue foi votado em eleições livres e consubstancia-se no programa que a Assembleia aprovou.

Um projecto diferente teria de se submeter aos mesmos processos democráticos.

Um governo de propensão conservadora, ainda por cima defrontado, como estamos, com uma crise económica internacional com reflexos internos, virar-se-ia, inevitavelmente, para soluções de confronto.

Isto suscitaria uma fortíssima oposição do movimento sindical no seu conjunto. A instabilidade social alastraria, provocando mecanismos instintivos de repressão. Estariam criadas boas condições para os projectos de poder pessoal e para a intervenção de diversas forças políticas de sinal extremista.

A maioria do nosso povo não quer situações de grave instabilidade política e social. Os empresários sabem bem que uma política de diálogo e distensão sociais é uma condição imprescindível para o desenvolvimento do País.

O que os empresários exigem, e legitimamente, é disporem de condições para a modernização das suas empresas.

Ora sabe-se que isto não se consegue através de confronto institucional ilegítimo, que põem em causa os alicerces da nossa democracia, nem através de uma política de afrontamento cego em relação aos sindicatos e aos trabalhadores.

Uma política de diálogo social alargado exige como condição essencial que o interlocutor dos parceiros sociais, ou seja, O Governo, tenha apoio e seja claramente sustentada pela sua base política e social.

É obvio que não se vai dialogar se o interlocutor foi enfraquecido internamente. Em tais situações não se dialoga: amplia-se a luta, radicaliza-se a reivindicação laboral e procura-se instalar a agitação permanente.

Quem semeia os ventos, e nem sequer os sabe dominar, colherá tempestades. Eu pergunto se é isto a defesa dos interesses do País, da estabilidade social e do progresso económico."

In “A Capital” ( Entrevista a Nascimento Rodrigues) 7 de Agosto de 1981

NOTAS POLÍTICAS (90)

É um absurdo provocar-se a corrosão democrática para salvação da democracia. O menos que se poderá dizer disso é que se trataria de masoquismo político

Que não se destrua, seja por deliberado excesso de zelo abusivo, seja, ao contrário, por propositada falta de empenhamento firme e leal, o que tanto e a tantos custou a construir.

A existência, em partidos democráticos de minorias vanguardistas e revolucionárias, são a ponta de lança da sua transmutação em partidos não democráticos ou, na melhor das hipóteses, de democracia nebulosa.

IN “O Tempo” 13/8/ 1981

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O GRANDE DESAFIO

"O socialismo, mesmo o socialismo democrático, nos países da Europa do Sul, continua muito amarrado ao marxismo tradicional.

Nesse sentido, qualquer perspectiva está ultrapassada na sociedade actual e é, nessa medida que afirmamos a social-democracia como o caminho que aponta para uma sociedade democrática, humanista e se distingue do socialismo democrático clássico.

As dificuldades económicas que atravessamos, não nos permite fazer uma distribuição da riqueza que é parca.

Cabe-nos lutar contra o agravamento das injustiças sociais, o alastrar do mercado negro, as estruturas económicas paralelas, a fuga ao fisco. E isso não é fácil de fazer.

Aliás penso que o grande desafio da Social - democracia, é, precisamente, apresentar propostas para a resolução da crise e dignificação do Estado. A nossa economia é extraordinariamente dependente de factores externos e internos e, por outro lado os nossos vícios estruturais são de tal modo pesados e antigos que não se consegue vencê-los sem dificuldades.

Esta é uma razão suplementar para que tenhamos de efectuar reformas de estruturas na nossa sociedade.

É preciso a compreensão do povo. É preciso que a população possua toda a informação sobre a crise. É essencial que o Governo, a ter de tomar medidas impopulares marque um “timing” e um sentido para essas medidas de superação da crise. Isto não foi feito com total e completa clareza, porque o Governo só agora aprovou o OGE e vai, agora, começar a discussão."

Lisboa, 3 de Dezembro de 1981 (Nascimento Rodrigues em entrevista ao Diário de Lisboa)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

SOCIAIS-DEMOCRATAS

"Os princípios e prática da social-democracia diferenciam-se nitidamente quer do conservadorismo, ainda que disfarçado agora de nacionalismo liberal, quer do socialismo colectivista estatista amarrado a complexos marxizantes, mesmo quando este promete à ultima hora “social-democratizar-se.”

Para nós sociais-democratas, a consecução destes objectivos LIBERDADE, JUSTIÇA, SOLIDARIEDADE exige medidas correctivas por parte do Estado. Estas medidas devem visar a criação (ou reposição) de condições da igualdade, o fomento ou, mesmo, se e quando necessário, a realização de reformas estruturais, a garantia dos direitos de cada um e de todos.

Mas isto deve ser feito sempre à luz do princípio de que a intervenção do Estado se destina a assegurar uma sociedade livre. E por isso mesmo rejeitamos firmemente a estatização da sociedade, com a consequente captura por elites privilegiadas, de perfil burocrata ou de vestimenta militar.

Uma política social – democrata tem como destino concreto os homens, as mulheres e os jovens do nosso País. É com eles e para eles que devemos trabalhar. Podemos errar ou podemos não alcançar tudo quanto desejaríamos programaticamente – o que não podemos, nunca, é deixar de defender os valores e princípios da Social Democracia e actuar em estrita conformidade com eles.

Honestidade democrática nos processos de actuação e transparência cristalina nos objectivos que perseguimos.

Não devemos nunca abdicar, renunciar ou esmorecer nas exigências ético - políticas que inspiram os nossos ideais; mas talvez seja necessário reflectir sobre os meios ao nosso dispor, selecciona-los com vista á consecução de medidas mais urgentes de progresso económico e social, e estabelecer com transparência e rigor as metas sociais que progressivamente devem ser alcançadas no contexto das possibilidades financeiras e económicas em cada momento disponíveis.

Em suma, talvez seja necessário pôr frontalmente a questão de saber como é que a social-democracia, na irrenunciabilidade dos seus princípios, pode dar solução aos velhos e aos novos problemas de desenvolvimento económico e social que tão agudamente nos afligem."

Coimbra, 8 Novembro 1981


terça-feira, 15 de novembro de 2011

DEMOCRACIA E PARTIDOS POLÍTICOS

"Para mim, a estabilidade e reforço da democracia, nos seus aspectos político, económico, social e cultural, passa fundamentalmente pela acção concreta dos partidos democráticos.

As pessoas só militam, só se empenham ou só confiam nos partidos se estes lhes trouxerem uma visão coerente perseguida de consonância com o seu modo de pensar e de estar na vida, se lhes prestarem o contributo de um alargar e renovar de perspectivas dentro dessa visão, se se mostrar que a acção politico partidária é tarefa de fazer um pouco do amanhã na prática de cada dia de hoje.

Penso que isto deveria ser assim, não como imagem circunstancial ou palavra de retórica. É nessa medida que sinto e defendo o dever de, tudo fazermos para que não se repitam situações com reflexos potenciais ou efectivos, na estabilidade democrática e no desenvolvimento do País. Impõem-se fazer exactamente o contrário.

Não quero dizer com isto que eu tenha da vivência real dos partidos a visão idílica de casas de santidade! Mas não se pode aceitar também, em particular num País como o nosso e sobretudo numa situação como a que temos, que eles sejam coutadas de sectarismos pessoais ou de grupos, ou arenas de linguarejar de comadres invejosas…"

In “ O Tempo” 1/10/81

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

NOTAS POLÍTICAS (89)

"Quando as leis do trabalho se fazem sem uma participação profunda e efectiva dos parceiros sociais, arriscam-se a ter uma vigência contestada, ora por uns, ora por outros. Isso não serve os interesses do desenvolvimento da nossa economia e da justiça social.

Costuma dizer-se que as pessoas se entendem é a falar. Pois também é discutindo, sem falsos preconceitos, que os parceiros sociais poderão chegar, um dia, a plataformas de entendimento mínimo. Porque o consenso é o caminho maia válido do desenvolvimento. E o desenvolvimento social e económico é o esteio da paz nas sociedades.

É chegado o momento de fazermos prova de que o diálogo social é possível e necessário."

Lisboa, Julho de 1981

RECUSAR - O COLECTIVISMO, O CONSERVADORISMO, O INTERNACIONALISMO, O NACIONALISMO CHAUVINISTA

"Defendemos uma consensualização social coerente, patriótica e democrática. Isto significa procurar associar as organizações sindicais e patronais a uma política concertada de trabalho e de justiça.

Mas não podemos deixar-nos conduzir para caminhos que nunca mais tenham fim, ou para tácticas de penoso arrastamento de soluções. O diálogo social não é sinónimo de “conversa de surdos”, nem pode significar bloqueamento subtil ou aberto a medidas de fundo, que são necessárias para viabilizar o progresso económico e potenciar maior justiça social no futuro.

O poder tem que ser exercido com autoridade democrática, com firmeza e com sentido de equilíbrio e justiça.

Não podemos favorecer uns contra os outros, numa óptica classista e de raiz quer marxista, quer de liberalismo passadista.

É sob uma visão moderna e de reformismo realista que apoiaremos os que trabalham, os que investem criando emprego, os que se dedicam com competência e esforço a criar progresso e a gerar riqueza.

Estamos contra os que especulam com o crédito ou o desviam das suas finalidades, estamos contra os que boicotam o trabalho honesto de quem quer trabalhar.

Somos a favor da liberdade sindical na independência e autonomia dos sindicatos e das organizações patronais.

Somos contra os que transformam certos sindicatos em “câmaras de ressonância” repetitiva da voz de forças partidárias, ou que fazem de certas organizações patronais palco de encapotadas movimentações político – partidárias.

Em regime democrático não se pode permitir a confusão do estatuto institucional das forças partidárias com a dos parceiros sociais.

A legitimidade de um Governo advém-lhe do sufrágio universal.

A legitimidade de direcções sindicais e patronais provém do sufrágio sectorial e de voto circunscrito aos correspondentes associados."

domingo, 13 de novembro de 2011

ESTOU SÓ

Estou só, nos caminhos andados deste mundo em convulsão. Nos sorrisos de espanto. Nos sonhos inventados, vazios de alma. Estou só, na cumplicidade do olhar, na incredulidade dos gestos, nas asas da saudade e da esperança. Secaram as lágrimas. Ficou a dor, e, pior que tudo, ficou a ausência.

Estou só. Neste nebuloso viver, inventei um encontro, e, sonhei contigo uma relação nova, mas não desconhecida. Olhamo-nos. Somos velhos. Reconhecemos, com espanto, um coração que bate apressado, que nos preenche a alma, nos aquece os corpos gelados e me dita a sorte. Agora anseio todos os dias pelo som da tua voz. Não consigo esquecer-te, não consigo olhar-me sem te ver, nem ver-te sem me olhar.

Senta-te a meu lado, fala-me de novo. Dá-me um sinal para eu viver… Estou só!

sábado, 12 de novembro de 2011

CADA HOMEM É UM SER IRREPETIVEL


19 MESES HOJE

Estou à espera que voltes, num sereno regresso. Foi hoje, num sonho fugaz. Eras tu, doce, completo, inteiro, total - pasta, papeis, livros, cheiro a tabaco, coração com coração. Senti-te ao longe, abri-te a porta, abracei-te. Disseste: “Sabe-me tão bem”! O quê? Não perguntei, não sei, nem quis saber. Sorriste, feliz, contente! Perguntas, para quê?
Quando as saudades se me agarram como uma sombra, procuro tuas mãos nas minhas mãos, teus olhos nos meus olhos, teu rosto no meu rosto, e choro, porque me lembro da tua imensa ternura, do teu olhar doce, do teu forte abraço, das tuas mãos que inspiram confiança. Henrique, meu amigo, meu companheiro, vem-me buscar quando eu morrer, e leva-me nas asas do vento. Grão fundido no grão, veremos um mundo novo. Dançaremos nas brisas da tarde, dormiremos no leito dos rios, unidos para sempre. No pó que então seremos o nosso destino é o mar. Juntos, quando eu morrer!...
MEMÓRIAS DE DIAS FELIZES

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

GOVERNO DO BLOCO CENTRAL- SETEMBRO DE 1983

Passaram muitos anos, é verdade, mas relembrar as dificuldades da década de 80, pode ajudar a colmatar o pessimismo que se instala em todos nós. Se sobrevivemos a essa época tão recente, porque não acreditar no Futuro? Para nós, Família, a voz do Henrique, na sua sabedoria, representa um apoio e uma âncora. Que o mesmo aconteça a quem nos ler.
"De facto tenho uma opinião globalmente positiva deste Governo. Mas vamos entrar agora num período mais difícil. Por um lado, porque as medidas adoptadas far-se-ão sentir com mais acuidade no nosso dia – a - dia, por outro lado porque há áreas em que terão de ser tomadas medidas de repercussões muito sensíveis. É fácil explorar o desagrado nessas circunstâncias, mas para isso há o antídoto de uma política coerente de verdade e de justiça. Há uma mensagem de esperança que esta comporta, e que é mais poderosa nos seus efeitos de mobilização criativa, democrática e patriótica do que os efeitos de instabilização de outras acções. A nossa resposta tem de ser dada cumprindo a esperança dos que em nós votaram."
In “Povo Livre” 14/09/1983

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CONSERVADORES, LIBERAIS, COMUNISTAS, FASCISTAS.

"Os Conservadores enganam-se ao supor que pode haver autêntica liberdade onde existem discriminações e diferenciações abruptas de riqueza e de poder.

Os Liberais não têm em conta que a vida em sociedade não se gera harmoniosamente sem solidariedade, impondo-se o mais forte contra o mais fraco.

Os Comunistas erram também ao pensar que a igualdade pode brotar alguma vez da falta de liberdade e na ausência de uma solidariedade não imposta, antes assumida consciente e livremente.

E os fascistas viram desmentida e recusada pela experiência histórica a falsa convicção de uma pretensa comunidade nacional de interesses fundada também na falta de Liberdade, de Justiça e de Solidariedade.

Porque razão estes três valores básicos da social-democracia são decisivos? Porque só através da sua configuração concreta é possível romper com a desordem e perturbações reinantes na sociedade mundial e abrir caminho seguro para uma ordem social interna menos angustiante.

À escala mundial, as contradições, as desigualdades e as injustiças são gerais e atingem tanto os países industrializados quanto os países em vias de desenvolvimento ou os subdesenvolvidos. Afectam igualmente as sociedades capitalistas ou de raiz capitalista quanto as sociedades ditas socialistas.

Passa fome uma larga faixa da humanidade. Neste dealbar do século XXI, ao lado de vivências reveladoras de uma alta capacidade de conhecimento tecnológico atingido pelo Homem, milhares de crianças, de mulheres, de homens, em países sobretudo de África Ásia e América Latina vivem em estado de subnutrição vegetam sob endemias, morrem de fome e de doenças que há muitos anos já, nos países desenvolvidos, ou são facilmente curáveis ou desapareceram mesmo das preocupações da saúde pública.

E, enquanto isso se passa, a corrida aos armamentos parece aumentar de velocidade de um lado e de outro, chegando-se ao paradoxo de vermos países, cujas populações vivem ainda os estigmas de um passado feudal, assumirem-se como candidatos a potências nucleares! E não falo sequer das fatias cada vez mais grossas do orçamento de países desenvolvidos, que são aplicadas em despesas de armamento e cujo montante, se pudesse ser desviado, num quadro de garantias sérias de paz e cooperação internacionais, decerto mudaria a fisionomia da sociedade mundial."

Novembro 1981

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ÁFRICA DE TODOS OS SONHOS

PRESENÇA AFRICANA

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...

- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconseqüente...

Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...

Alda Lara, Poeta de Angola

POLÍTICA HUMANISTA

Injustiças e desigualdades gritantes existem no seio de cada comunidade nacional.

Devemos combater as injustiças e as desigualdades pela via de reformas realistas e sucessivas.

Porque as reformas políticas, económicas e sociais só têm sentido, na nossa perspectiva, em função do Homem e da sua total personalidade.

Não se trata, pois, e apenas, de maior bem estar material. Trata-se, sobretudo, da qualidade da nossa vida interior e da qualidade do nosso relacionamento com os outros e com a sociedade.

E não julgo que alguma vez as possamos atingir sem a consciência plena e a assumpção livre e sentida de que a sociedade e a Cooperação, a Liberdade e a Justiça impõem que cada um de nós alargue o espaço da sua própria determinação individual através do aumento do espaço da liberdade dos outros, no tecido conjunto e nas constrições recíprocas que a uns e a outros – a nós todos afinal - alberga e enquadra.

E é aí - que afinal, ganham sentido, valor e destino essas palavras, sentimentos ou atitudes que, como o Amor, a Fraternidade e Lealdade, fazem parte da tradição humanista da social - democracia e devem estar permanentemente presentes e vivas nos corações do coração social – democrata – a sua juventude.

Eu diria, que temos que lutar contra o agravamento de injustiças sociais. Estou a pensar, por exemplo, em milhares de agricultores independentes que não têm 30 dias de férias ou 13º mês. Há viúvas com pensão inferior ao salário mínimo nacional. Há intermediários que escapam escandalosamente aos impostos e fazem fortuna num ápice.

Há o duplo emprego como única forma de sobrevivência no dia a dia e o duplo emprego como fonte de aquisição de uma casa de campo. Há o alastrar do mercado negro e de uma estrutura económica paralela fugindo ao fisco. E por aí fora. Pôr cobro a estas injustiças, corrigir gradualmente estas situações, apontando para uma ordem económica e social mais justa só é possível, do meu ponto de vista com uma política social – democrata.

Lisboa - 1981

terça-feira, 8 de novembro de 2011

NOTAS POLÍTICAS (88)

"A Europa está connosco, mas nós, acima disso e por cima disso, queremos é os portugueses connosco.

Temos que falar a linguagem da verdade, que é necessária para que se progrida em solidariedade. Não vão ser fáceis os tempos do Futuro. Não devemos esperar as esmolas de ninguém. Só o trabalho de todos os Portugueses permitirá que Portugal ultrapasse gradualmente a crise com que se defronta”

06 de Abril de 1983

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CRÉDITO DE ESPERANÇA

Este pequeno texto foi escrito, e, publicado em Janeiro de 1983. O Governo da AD, chefiado por Francisco Pinto Balsemão, estava demissionário. Em cima da mesa, um nome para o substituir na chefia do Governo. Vendia-se ouro do Banco de Portugal para fazer face a necessidades imediatas. O FMI intervinha em Portugal. Adivinhavam-se, em plena crise, eleições antecipadas. Um panorama político tão semelhante ao actual…

"A transformação democrática da nossa sociedade continua a defrontar-se com barreiras ainda não ultrapassadas. A evolução a nível internacional tem sido de tal ordem – recordo os problemas do desemprego, do meio ambiente, do endividamento externo etc. - que em parte alguma se conseguiu ainda responder com eficácia, aos desafios persistentes desta crise.

É neste sentido que alguns propõem a “reforma do reformismo”, expressão sugestiva que tem a ver com a necessidade de se encontrarem respostas, pragmáticas e diferentes das tradicionais para ultrapassagem da crise.

Esta tem para o nosso País, devido a factores conhecidos, reflexos particularmente graves. Razão acrescida, pois, para que avancemos com propostas muito concretas, bem assentes no condicionalismo português, que consigam motivar o nosso povo para a repartição equitativa dos sacrifícios a que não podemos escapar.

Diria, em suma, que é preciso avançar com determinação e com vontade em medidas que são ditas impopulares, mas que são imprescindíveis. Medidas faseadas e equilibradas.

Faseadas, porque o contrário significaria, afinal a ausência de um verdadeiro projecto viável de desenvolvimento. E equilibradas no sentido de que à coragem de romper de vez com bloqueios que se instalaram na nossa sociedade se deve contrapor a procura permanente do mais largo consenso social.

Bem sei que isto é difícil, poderá até ser contraditório. De acordo. Mas julgo que tudo dependerá, exactamente, de uma gestão lúcida e perseverante dos equilíbrios sociais".

A VERDADE É DEMOCRÁTICA

A verdade é democrática. Como poderia, pois, ser inoportuna? Apresentá-la com a dignidade própria, aliás exigível em qualquer circunstância, de quem resguarda a necessidade de defesa dos valores democráticos e, consequentemente, de quem sabe avaliar de uma repercussão negativa eventualmente proveniente de abuso na forma da sua expressão, não me parece nem incompatível nem deformador do imperativo de transparência democrática. É, talvez, questão de sentido de responsabilidade ou de medida de temperança. Bem sei que nestas coisas cada um tem a que tem e a que quer usar… que a use então em liberdade, sujeitando-se à liberdade da reprovação que legitimamente outros queiram exercer.

Creio, em suma, que existe no País um crédito de esperança e uma margem significativa de apoio ao Governo, para que também rapidamente faça o que tem que de fazer: governar.

Os que não acreditam que digam então como é! Mas que se diga sem a ligeireza fútil da crítica vazia de apresentação concomitante de alternativas concretas de soluções


Lisboa, 12 de Janeiro de 1983

sábado, 5 de novembro de 2011

FIRMES NOS DESAFIOS DO FUTURO

Maio de 1985. O Henrique era Director do Orgão oficial do PSD - Povo Livre. Carlos da Mota Pinto, ex líder do partido, tinha morrido subitamente no dia 7 de Maio. Preparava-se o XII Congresso do PSD, que decorreria a 17/18/19/, desse mês, na Figueira da Foz.

A 15 de Maio, no Editorial do Povo Livre, e, dirigindo-se aos delegados ao Congresso, o apelo e o alerta:

“Que vamos nós, responder ao País, companheiro amigo?

Tu vieste de Monção, de Leiria, de Faro ou do Funchal e da Horta, ou de Paris e Toronto se és emigrante. Nós somos carne de Portugal feito comunidade espalhada além fronteiras. Somos filhos desse Povo que tem berço nas escarpas do Douro e nos picos da Estrela, que fez ninho nos barcos de pesca aproados em New Bedford, que palmilhou as anharas da Cameia e os trilhos de Bamabadinga. Povo que foi e retornou, que saiu e não voltou, ou que nunca se aventurou.

Viemos daí, somos daí. Temos orgulho nos padrões da nossa história e da nossa cultura. E por isso respondemos ao País, em primeiro lugar, que não sabemos propor para onde vamos sem dizer de onde viemos. Não queremos fazer Portugal, esquecendo Portugal.”

Referindo-se Francisco Sá Carneiro, Nuno Rodrigues dos Santos e Carlos da Mota Pinto:

“ Eles deixaram-nos a marca indelével dos valores que constituem essência e património comum da Democracia e transmitiram-nos o ensinamento revigorado de que cada homem nasce com direitos a liberdades e com o dever de responsabilidades, sem as quais não será ele próprio, na sua identidade e dignidade medulares. Identidade e dignidade que têm de ser garantidas a todos, porque se o não forem nenhum de nós será verdadeiramente livre.

Sabemos que o Futuro já começou. Temos de o ganhar fazendo do Presente o rio impetuoso que desagua no mar desse Futuro.

Cada um de nós é uma gota desse rio. Se nos perdermos do leito a que pertencemos, o rio será riacho, o riacho pode transformar-se em fio de água. É indispensável portanto, que saibamos estar unidos sob a identidade que faz de nós o mesmo rio.”

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O DESAFIO RESPEITA A TODOS NÓS

A 13 de Setembro de 1983 o jornalista do “Diário de Notícias” do Funchal faz a seguinte pergunta ao Henrique:

D.N. – O pretexto de que consumimos para além das nossas possibilidades não serve para a generalidade dos portugueses. Estes aumentos recentes recaem também, negativamente, sobre reformados, viúvas etc. Não são também portuguesas essas pessoas?

N.R.- Deixe-me dizer-lhe que aprecio bastante a tónica social-democrata que coloca na parte final da sua pergunta, e, isso, naturalmente, que me preocupa como social-democrata.

Temos a obrigação política de procurar que as camadas populacionais de menores rendimentos, ou de rendimentos mais afectáveis pela evolução do custo de vida, sejam proporcionalmente menos atingidas do que outros sectores da população. Isto pode procurar-se por várias vias, designadamente a via fiscal, a da segurança social e a da saúde e transportes.

Mas nada, ou pouco é possível fazer-se sem receitas. E para haver receitas é necessário produzir-se, por um lado e, por, outro, não se delapidar o que existe.

Não é só o Governo que é responsável pela adopção de medidas nestas áreas. Todos nós cidadãos activos, também somos responsáveis. Por exemplo: porque se gasta tanto dinheiro em subsídios de doença? Já teremos pensado que as”baixas” desnecessárias ou fraudulentas delapidam milhares de contos por ano? Já teremos pensado que uma greve inoportuna dos transportes pode acarretar a perda irreparável de encomendas para o estrangeiro e o consequente custo em divisas que são tão necessárias? Já pensamos que a não entrada de contribuições para a segurança social, seja por fraude, seja por impossibilidade financeira das empresas, se repercute nas receitas actuais e na solvabilidade futura do sistema? A ideia da solidariedade é fundamental, mas ela não se encaixa nessa visão estatista. Há um ditado popular apropriado: “Ajuda-te a ti mesmo que deus te ajudará”. Eu diria em termos políticos, que a evolução social apela para formulas em que a solidariedade para com o futuro individual e colectivo se repense e efective em termos inovatórios. Cada indivíduo, cada pessoa, deve ser, ele próprio agente de solidariedade. E isto comporta deveres. Não vale a pena falar em solidariedade quando se exige o máximo para nós, para o nosso sector, para a nossa classe, e se esquece o resto da comunidade.

Só mais uma nota: quando se diz que o País consome acima das suas possibilidades não se está a arranjar um pretexto, está a usar-se sim um dado da realidade económica estatisticamente comprovado. O mesmo acontece noutros países onde foram impostas restrições, desvalorização da moeda, ou de aumento de preços de bens e serviços essenciais, ou de restrições salariais, ou de recuos nos benefícios sociais, ou de aumento de impostos. Não visiono outra solução que não seja a de nos tornarmos mais desenvolvidos, mais produtivos, mais combativos economicamente e menos agrestes socialmente. O desafio respeita a nós todos.

Lisboa 13 de Setembro 1983

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O GRANDE POEMA

Este é o poema que eu escrevi
para as crianças da minha terra!...
Para as crianças negras,
e brancas,
e mestiças,
sem distinção de cor...
comungando o Amor
que as unirá...

Este é o poema que eu escrevi a sonhar...
de olhos perdidos no mar,
que me separa delas...
O poema que escrevi a sorrir…
a gritar confianças desmedidas
nas ânsias partidas...
quebradas...
como velas de naufrágio!...

O poema que eu escrevi a soluçar,
sobre os livros
onde não encontrei
para os sonhos resposta um dia!...

Alda Lara 1949

Alda Lara ( 9/6/1930 - 30/1 1962). Ingressou na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1948. Acabou o curso em Coimbra defendendo Tese de Licenciatura sobre Psiquiatria Infantil.
Após a sua morte a Câmara Municipal de Sá da Bandeira (actual Lubango) decidiu instituir o "Prémio Alda Lara de Poesia"

ANGOLA - PÔR DO SOL



REFORMA DO SISTEMA EDUCACIONAL

A sociedade de amanhã vai ser, muito provavelmente, uma sociedade qualitativamente diferente. Qualitativamente diferente, no sentido de que não conseguirá, por certo, alcançar uma ordem social melhor sem base numa assunção reflectida e consciente do próprio Homem como ser solidário perante os outros e perante a sociedade.

Este tipo de valor, esta exigência basilar, há-de ser fomentada desde logo na Família e na Escola. É preciso, pois, que o sistema educacional comporte uma reforma capaz de levar os jovens a assumir o seu mais livre desenvolvimento.

Acontece, porém, que o desenvolvimento integral da personalidade de cada um não se atingirá nunca enquanto outros seres humanos, nossos cidadãos – e porque não dizê-lo nossos irmãos? -, não puderem, também, dispor das mesmas condições de desenvolvimento. Daí que um dos eixos da reforma educativa terá de assentar numa perspectiva, sempre livre e aberta, de qual o papel do homem no Estado e na sociedade, para que o Estado seja democrático como emanação de uma sociedade democrática.

Não bastará, pois, que o ensino seja tecnicamente adequado. É preciso que nele se fomente o debate e a consciência cívico -cultural das relações e dependências económico-sociais existentes e se gere sentidamente um fundo de consciencialização quanto à necessidade de uma actuação comum e solidária na nossa sociedade e no mundo de interdependências em que vivemos.

Não quero com isto recusar, de modo algum, a necessidade de a reforma de ensino se orientar para uma correcta adaptação da formação que se presta às condições reais da sociedade. Isto não significa que o ensino deva servir a economia. Mas não pode ignorar-se também que um ensino divorciado dos caminhos efectivos e potenciais do mercado do emprego significa um bloqueamento para a juventude.

O ensino deve, pois, proporcionar aos jovens uma orientação e uma formação que lhes permita vir a encontrar uma entrada efectiva no mundo do trabalho. Mas tem de proporcionar igualmente uma capacidade de pensamento e de inovação que permita, ele próprio, uma renovação das estruturas económicas, por forma a que estas não se orientem pelo objectivo exclusivo do lucro, mas, sobretudo, pela finalidade essencial do pleno emprego e do livre e harmonioso desenvolvimento das capacidades individuais e da concretização das necessidades sociais.

Isto supõe uma cooperação de docentes e discentes. Isto impõe uma acção concertada do Estado, das associações de estudantes e de famílias, do movimento sindical e das autarquias, das organizações empresariais também, no sentido de se procurar ajustar por consenso a concepção, o planeamento, a execução e o controlo da reforma do ensino.

Se não queremos efectivamente uma subordinação do Homem à Economia e uma sujeição do poder político ao poder económico, não nos é lícito ignorar, também, as constrições que se nos deparam no crescimento económico, base de uma segurança material que é condição para uma vida mais digna."

Coimbra, 1981

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

VERDADE, COERÊNCIA, FIRMEZA DEMOCRÁTICA

"No interior de espaços geográficos que são considerados, e justamente, como exemplos de uma maior libertação do Homem, ocorrem diferenças significantes, e preocupantes entre países neles enquadrados. Refiro-me, em especial, à Europa Ocidental, por nos dizer respeito a vários títulos, e às diferenças económico-sociais entre a sua faixa mediterrânica, e as outras zonas do espaço europeu democrático.

E como a unidade só pode construir-se na solidariedade, e como a crise económica persistente que vem atingindo praticamente todas as economias europeias ocidentais vai fomentando reflexos de autodefesa, de sentido individualista e marginalizador assistimos hoje, com preocupação, a um declínio (espero que transitório) do valor da solidariedade e do sentido de justa concertação de esforços e meios entre os povos europeus democráticos.

A crise económica persistente que vem afectando os países da Europa, reflecte-se ampliando as dificuldades e criando novos obstáculos, na nossa própria situação.

Somos um país tremendamente dependente da importação de produtos alimentares e de bens de equipamento e a alta do custo de uns e de outros potencializa o agravamento da inflação a nível interno. Por outro lado, a retracção que se verifica nos consumidores dos mercados externos que são nossos principais compradores, agudiza a situação da nossa balança comercial.

Mas se a situação económica é verdadeiramente preocupante, que dizer de uma situação social que não é caracterizável por menores índices de preocupação?

Bem sabemos que esta é uma situação com origem em factores e erros históricos, de natureza estrutural e de consequências largamente perduráveis no tempo.

Não devemos esconder a ninguém que a resposta à nossa própria crise não é fácil e muito menos milagrosa.

A política tem que ser uma política de Verdade, de Coerência, de Firmeza democrática, de Solidariedade e de Justiça. Tem que ser uma tarefa constante e sem desfalecimentos."

Coimbra, 8 Novembro 1981

Publicado no “Povo Livre” em 18 de Novembro de 1981

terça-feira, 1 de novembro de 2011

REGRESSO













Quero guardar as lágrimas, viver a alma, sentir o choro, e, encontrar-te. (No céu transparente deste Outono com cheiro a Verão). Quero ouvir-te, neste som do vento, que embala os sonhos.

Volto a casa. Calmamente, regressas de encontro à minha esperança. Tudo vive. Em cada instante, em cada canto, em cada livro. Tudo soa, canta, dança. O mundo muda. O passado volta, torna-se presente. Tudo se sente, nesta casa que foi tua. Estás cá! O que aqui vivo, o que aqui sinto, o que aqui está, é tudo o que foi, e vivemos, na paz interior do amor total que construímos. Amor imperfeito, irrepetivel, permanece em cada gota de orvalho, em cada brisa, e na ilimitada paz das manhãs das nossas vidas.