A terra que lhe cobriu o rosto
e lhe beijou o último sorriso,
foi ele o primeiro homem que a pisou!
Ele venceu a terra que o venceu.
Ele construiu a casa onde viveu…
Ele desbravou a terra heroicamente,
Sem um temor, sem uma hesitação,
- terra fecunda que lhe deu o pão
e lhe floriu a mesa de tacula…
Mas quando olhava a imagem pequenina
- Senhora da Boa Viagem -,
que a mãe lhe pôs ao peito à hora da partida,
O Homem forte chorava…
Foi arquitecto e foi também pintor,
porque pintou de verde a sua esperança…
Esculpiu na própria alma um sonho enorme,
por isso foi também grande escultor!
foi genial artista e mal sabia ler!
O que aprendeu foi Deus que o ensinou,
lá na floresta virgem, imensa catedral,
onde tantas vezes ajoelhou!
Viveu a vida inteira olhando o céu,
a contar as noites
da lua nova à lua cheia.
E o sol do meio dia lhe queimou a pele,
o corpo todo e até a alma pura.
Foi médico na doença que o matou,
ao homem ignorado e primitivo
que derrubou bravios matagais
e junto deles caiu
como caem árvores sacrificadas
à abundância dos frutos que criaram…
E a primeira mulher que amou e quis
foi sua inteiramente…
E era negra e bela, tal o seu destino!
E ela o acompanhou
como a mais funda raiz
acompanha a flor da altura
que perfuma as mãos cruéis
de quem a arrancou.
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Foi o primeiro em tudo,
na dor e no Amor,
na honra e na Saudade,
porque nunca mais voltou…
E nas terras de toda a gente
e de ninguém…
- estranha criatura ! –
…foi sua também
a primeira sepultura!
(Poesia de Tomaz Vieira da Cruz)