quinta-feira, 13 de maio de 2010

Para ti, meu PAI

(texto escrito por João Henrique Nascimento Rodrigues, 2º filho)

Numa altura da vida do nosso país em que todos se preocupam com escutas, são raros os Homens que verdadeiramente escutam ou ouvem. Tu, PAI, a quem eu, com um orgulho infindável mas deveras contido, sempre me habituei a escutar, a ouvir e a admirar, escutavas e ouvias, sempre, sempre, sempre. Mas às vezes também sentias necessidade em falar.

Numa dessas raras ocasiões, já cansado e quase exausto, no limiar da tua própria resistência física, falaste e murmuraste: “Esperei até aos limites do humanamente possível. Vou-me embora. A minha renúncia é um acto de liberdade”.

Nessa altura, PAI, poucos te escutaram, e quase ninguém te quis ouvir. Nessa altura, PAI, Tu, que sempre tiveste uma disponibilidade sem igual, choraste, choraste e com razão. Não de revolta, raiva ou dor, mas de mágoa, impotência e desilusão. Nessa altura, PAI, ninguém te percebeu, ninguém te ligou, ninguém pensou que Tu só querias ser Livre e Feliz.

A liberdade que então proclamavas para Ti era, apenas e só, a liberdade de que um Homem tanto precisa e por que tanto anseia ao longo da vida, para ser feliz. E Tu, PAI, apenas querias ser feliz, feliz mais uma vez, feliz pela última vez. Feliz como sempre foste.

Contigo aprendi que sem LIBERDADE e FELICIDADE, viver de facto, não tem qualquer significado ou sentido. A liberdade para que, de forma serena mas inteiramente merecida, possamos morrer em paz e em sossego - desígnio apenas ao alcance dos homens verdadeiramente humanistas e singelos. A FELICIDADE, essa, para podermos voltar, apenas e só, para junto dos nossos - apenas permitida aos homens verdadeiramente simples, honestos e justos.

Os valores e princípios que sempre defendeste e praticaste, esses, permanecem intocáveis. E do que tudo contigo aprendi, não esquecerei Nunca o que de mais importante a minha memória retém: “não se nega, nunca, comida a quem tem fome” e “não se nega, nunca, a liberdade a quem quer, apenas e só, viver”.

Pela Liberdade e pela Felicidade lutaste sempre, até ao fim. Por Ti e pelos outros, para Ti e para os outros, sem excepção. Eu farei o mesmo…