terça-feira, 31 de agosto de 2010

O MUNDO MUDOU


O Henrique morreu! E o mundo mudou. Para nós? Com certeza! E para outros? Também.
O Henrique morreu: E o nosso mundo mudou. E o mundo de outros? De muitos outros?
Também.
O Henrique morreu; A Família mudou? A nossa? Também. O Henrique morreu,
E o cimento do nosso mundo mudou.
E o do mundo de outros? Também.
O Henrique, morreu.
Se tudo mudou, o que somos agora?
Aves a deixar o ninho?
Gaivotas a mudar de rumo?
Cardumes a morrer na areia?

O Henrique morreu.
Mas por ele renovaremos a vida,
Endureceremos o cimento.
O do nosso mundo.
E o do Mundo de outros? Também.

O Henrique morreu. Mas as aves aquecerão o ninho as gaivotas manterão o rumo, os peixes permanecerão no mar.
O Henrique morreu. Mas o Amor renovará o mundo, a família a vida! A nossa. E a de outros.
Também.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

SEM TI


Sem ti.

Olho em frente:
O mar está límpido, azul, transparente.

Sem ti.

Um pouco acima, na linha do horizonte,

O sol vermelho, brilha ofuscante

. Sem ti.
A lua redonda, luminosa, brejeira, enamorada.

Sem ti.

O céu, milhares de pontos brilhantes, estrelado.

Sem ti

A saudade dói no meu peito.

Sem ti.

O meu coração ainda bate.

Mas não respiro,não estou viva,

Neste meu primeiro mês de Agosto

Sem ti..

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

NASCIMENTO RODRIGUES UM HUMANISTA

12 de Abril 2010

Advogado, Ministro, Provedor de Justiça e Estadista
1. Inesperadamente, tive hoje uma triste notícia: faleceu o meu bom amigo Nascimento Rodrigues, um Político com “P” grande, mas acima de tudo um Homem BOM, sempre com uma palavra positiva e de apreço para toda agente. Tinha estado com ele há 1 mês e não esperava ser surpreendido por esta infausta notícia.
Nascido há 69 anos em Angola, especializado em direito do trabalho, homem íntegro, político discreto, poucos sabem que é um social-democrata emérito, nunca sendo referido como um “barão” do PSD (foi Vice-Presidente com Mota Pinto e Pinto Balsemão), naturalmente por ser uma pessoa humilde, mas sempre firme nas suas convicções, sendo um acérrimo defensor do bem comum e da “coisa pública”, orientando-se sempre pelos princípios da liberdade, da igualdade e da solidariedade e pelos valores do trabalho, do rigor, da competência e da honestidade.
Lembro-me dele desde 1977, como assessor jurídico de vários sindicatos e da TESIRESD (Tendência Sindical Reformista), que sempre com ele contou para, juntamente com a Tendência Sindical Socialista, se ter conseguido fundar a UGT (União Geral de Trabalhadores) em 1978.
Lembro-me também do seu grande impulso à concertação social, que então designou por “diálogo social alargado”, quando foi Ministro do Trabalho, em 1981, não tendo dúvidas que foi o melhor Ministro do Trabalho que o país teve, o mesmo se podendo dizer dele como Provedor de Justiça.
E que “feio” foi, para não dizer outra coisa, que a minha educação não permite, com ele já doente, terem-no obrigado os Srs. Deputados a permanecer mais de 1 ano no cargo de Provedor de Justiça, de Maio de 2008 a Junho de 2009… Mesmo doente, aguentou estoicamente mais de 1 ano que o seu sucessor fosse eleito
Obrigado Nascimento Rodrigues
. De advogado a sindicalista, de Ministro a Provedor de Justiça, de Vice-Presidente do PSD a Presidente do Conselho Económico e Social, de Deputado a Representante Internacional da OIT, este político e cidadão exemplar bem mereceu ter sido condecorado com a Ordem de Cristo pelo Presidente da República, pois foram milhares os cidadãos que lhe estão agradecidos, pelo seu empenho em defendê-los contra as prepotências da administração pública, da segurança social e do fisco. Apesar de apenas dispor dos poderes de suscitar a inconstitucionalidade de normas de persuasão e de recomendação, logrou como Provedor de Justiça que fossem reparadas muitas injustiças
2. Perfil
Foi militante do PSD e convidado por Sá Carneiro para deputado pelo círculo eleitoral de Lisboa em 1979, tendo exercido a actividade parlamentar de 1979 1980, de 1982 a 1983 e de 1987 a 91. Na legislatura 1979-80, foi presidente da Comissão Parlamentar do Trabalho.
Em 1981 foi ministro do Trabalho de Pinto Balsemão e realizou missões técnicas nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa como consultor da Organização Internacional do Trabalho.
Exerceu cargos de administração em empresas públicas e privadas e em 1992 foi eleito pelo Parlamento para presidente do recém-criado Conselho Económico e Social, onde permaneceu até 1996.
Casado e pai de cinco filhos, Nascimento Rodrigues foi o primeiro português a ser eleito para a presidência da Conferência Internacional do Trabalho.
Foi consultor no Banco de Portugal e professor de Direito do Trabalho numa universidade privada, em Lisboa, tendo realizado diversos estudos sobre questões relacionadas com a problemática do trabalho e das relações industriais.
Em 2000 foi também eleito como Conselheiro de Estado, recebeu a Ordem de Mérito (Grande Oficial) em 1994, a Légion d´Honneur (Officier) em 1995 e a Grã Cruz da Ordem Militar de Cristo em 2008.
Cessou funções de Provedor em 3 de Junho de 2009, A primeira vez que foi eleito pela Assembleia da República, em 2000, recolheu 162 votos a favor e 46 contra e quando foi reeleito, em 2004, obteve 182 votos favoráveis e sete contra.
Destaco que, antes de cessar funções, pediu a declaração de inconstitucionalidade quanto à forma de cálculo de pensões de reforma num diploma governamental e recomendou ao então Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que repusesse o reporte de rendimentos em sede de IRS anteriormente vigente, para os contribuintes que recebem ordenados ou pensões em atraso de vários anos, em vez de os receberem atempadamente, pois não deviam pagar mais IRS por isso, o que injustamente estava a suceder quando recebiam tudo de uma vez.
Por tudo, bem-haja Nascimento Rodrigues! Os que consigo privaram jamais o esquecerão .





Publicado por Jorge da Paz Rodrigues

domingo, 22 de agosto de 2010

DESCOLONIZAÇÃO

Que história contaremos aos vindouros
nós que fomos como galinhas enxotadas?

Roubaram o horizonte que sonhamos nosso
venderam por trinta dinheiros a esperança
semearam a discórdia e o ódio que não cansa,
- eu por mim já nem ter saudades posso.

Ó gente vil, traidora, acomodada
vendida ao prato de lentilhas
da velha história sagrada…

O fausto amarelíssimo de esplendor passado
ardeu negro e rubro na fogueira dos velhos ouropeis
enfeitai-vos de medalhas de valor desperdiçado
e rasgai da vossa história os velhíssimos papéis.

Ódio sem razão jamais amansa
a inveja não cansa nunca mais,
só o nosso sofrimento não descansa…

Que histórias contaremos aos vindouros
nós, que fomos como galinhas enxotados?
(Poesia de Neves e Sousa, 1976)

sábado, 21 de agosto de 2010

PELA UNIDADE DE PORTUGAL

"É a juventude, que dentro, e em prol desse fito, pode desempenhar uma cruzada decididamente activa, ora colocando, na devida oportunidade, o seu esforço e saber em terras ultramarinas, ora elaborando um contacto amigo - estritamente amigo – com as novas gerações de Alem Mar. Do primeiro aspecto resultará, como corolário, um subsequente incremento daquelas realizações a empreender ainda na nossa multissecular obra, ao passo que, do segundo, se extrairá uma comunhão de sentimentos e um intercâmbio de ideias, que só podem fortalecer a unidade que também deve ligar os jovens portugueses naturais de Ultramar ou da Metrópole.
E não vamos arrimar-nos a uma perniciosa resignação, que nos desvie da importância que, no período actual, o assunto levanta, já porque do caso depende em grande parte, como o frisámos, a unidade de Portugal daquém e dalém mar, já porque a relação entre aquelas gerações se não expandiu ainda num âmbito mais amplo e não colheu os resultados francamente mais vantajosos, que ambas as partes podem dinamizar. Quem quererá restar tão indiferente, que não reconheça acuidade ao problema e não se proponha contribuir para a sua adequada solução?
Ninguém melhor do que a própria juventude, é certo, para agir e propagar, em plano prático, uma autêntica cruzada, de que resulte um muito mais activo estreitamento de relações entre as massas novas metropolitana e ultramarina. Notemos, contudo, que em primeiro lugar, é forçoso oferecer a essa mesma juventude aqueles elementos que permitam tomar consciência do grau avançado, em que se expande a obra que estamos erguendo em parcelas distantes.
Só a partir de um conhecimento mais generalizado será possível à mocidade aperceber-se convenientemente, sem que receios ou indiferenças lhe turvem as ideias, da importância de uma unidade que o futuro há-de chamar a postos e do papel que dentro dela especificamente lhe diz respeito. Ensinemos isso à juventude, antes que seja tarde para o fazermos com pleno êxito.
Antídoto eficaz para o desconhecimento, em que grande parte da mocidade vive sobre os problemas que ao Ultramar estão circunscritos, é essa missão de fé nos destinos da Pátria, campanha que, junto dela, lhe revele a necessidade de preservarmos uma política segura de continuidade ultramarina e o êxito que de uma nova epopeia colonizadora nos adviria seja da fraternal compreensão e amizade das populações nativas, seja até dos resultados frutuosos que, indiscutivelmente os vastos campos do Ultramar nos oferecem.
A nossa África pode ser um mundo: Um mundo largo e farto, onde portugueses de todas as cores labutem, lado a lado, numa magnifica jornada de paz e progresso.
Acreditemos nesse futuro e conduzamos a nova geração, através de uma propaganda activa, a contactar assiduamente com os acontecimentos ultramarinos e a tomar calor pelo incomparável ideal de grandiosidade pátria, que sobre esse Portugal Ultramarino as nossas mentes podem forjar.
Sobre a juventude impende essa responsabilidade moral não pouco pesada, de que é imperioso ela começar tomando consciência: quer pugnando continuamente pelas parcelas que no ultramar enobrecem a parcela estreita que lhes deu vida; quer actuando, numa acção incisiva pelo engrandecimento material e moral do nosso Império; quer estreitando os laços que a essas terras longínquas nos ligam - os seus ombros moços terão que suportar com dignidade, grande parte do conjunto das realizações, a que é impossível furtar-nos com graves consequências.
À consciência de cada português compete analisar o que já fez por essa obra nacional; aos jovens compete levá-la a termo, para honra e proveito da Pátria. Para uns e outros vão as minhas primeiras palavras e o meu esperançado apelo: Pela unidade de Portugal daquém e dalém mar."
Diário da Manhã 15 de Fevereiro de 1959

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

PELA UNIDADE DE PORTUGAL


"Há que assentar nesta ideia básica: aos amplos horizontes que as portas do Ultramar nos abrem, ( e por intermédio dos quais a Pátria tem possibilidade de assumir no concerto das nações um lugar de franca relevância), é necessário passarmos a dedicar aquela quota-parte de especial e concentrado esforço por força da qual eles poderão, cada vez melhor exteriorizar a importância que a sua capacidade encerra já.

Concomitantemente, à valorização e desenvolvimento activo da obra que continuarmos a talhar, corresponderão, por inerência uma vida mais farta para o país e um saldo de perpétua gratidão que à Terra- Mãe ficarão devendo os seus prolongamentos ultramarinos.

Em boa verdade, não vemos que o papel que nos compete perante o ultramar ou a posição de destaque que ele deva vir a exercer no conjunto nacional possam, ser desempenhados a contendo, sem que uma estrutura una e homogénea fique ligando indissoluvelmente terras daquém com as de além-mar. Na solução do problema parte especializada que ele reclama apenas aos técnicos compete: a regulamentação particular, porém jamais se poderá processar com consistência se não partir de uma base sólida cuja elaboração já não diz respeito aos técnicos, mas sim, a cada um de nós, na defesa e propaganda de uma missão única, que uma unidade dos portugueses de cá e de lá possa saber levar a cabo.
A infiltração dos perigos, que se avizinham dos territórios portugueses em África, neles não será capaz de abrir brechas profundas, se lhe conseguirmos opor uma frente coesa, perfeitamente cerrada, resultante da tarefa e do sentido de fraternidade que da própria unidade dependerão. Está aí, porém uma dificuldade que as linhas gerais talvez escondam a importância. É que, assim como, geralmente, os novos imitam os actos dos mais velhos, assim também a unidade – forte e activa – deve partir, primeiro da Mãe – Pátria, como exemplo para as suas parcelas ultramarinas: depois, dos mais velhos como atitude que a mocidade deve tomar como padrão. Inverter os termos das premissas apontadas seria contrariar a ordem natural dos acontecimentos.

Perante o momento conturbado que a África vive, os nossos territórios de Angola e Moçambique – porque os maiores em superfície e recursos – vão viver provavelmente uma era de larga projecção, para cujas consequências, entretanto, é conveniente estarmos prontos. E seja qual for o resultado das convulsões em que o continente negro se debate, a influente acção nacionalizadora, que uma unidade prática e decisivamente vigorosa consiga levar a cabo, só benefícios nos pode trazer, quer furtando o Ultramar a movimentos contrários à nossa índole de cooperação entre raças, quer mantendo-o ligado à metrópole por um elo predominantemente espiritual, que perpetue um bloco onde esteja radicado um sentimento comum de irmandade e onde se fale a mesma língua por todo o sempre. Em suma: uma unidade de seres por uma unidade territorial."

Continua



Publicado no Diário da Manhã ( nº 9933) a 15 de Fevereiro 1959

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Notas Ultramarinas - A ÁFRICA CHAMA POR NÓS

O problema africano, em evidência crescente, voltou a agitar os meios a ele afectos, após os recentes acontecimentos ocorridos em Leopoldville e Matadi, no Congo Belga. As ocorrências citadas, em território confinante com as nossas duas maiores províncias ultramarinas, devem merecer, por parte de todos os portugueses profundamente cônscio de uma Pátria que não se limita ao ocidente da velha Europa, um pouco de reflexão criteriosa, derivada mais da unidade que em plano nacional eles vêm recordar, do que do receio de repercussões de similar natureza que, é bom dizê-lo não afectam a estrutura das parcelas da nossa África. É provável todavia, que nem toda a gente se tenha apercebido devidamente da importância capital que, em ritmo progressivo as nossas unidades ultramarinas representam, designadamente aquelas – Angola e Moçambique – que, por suas possibilidades naturais e das que resultam do esforço humano, melhores fontes de riqueza e de glória podem vir a representar num futuro próximo. Por consequência, é possível também que muitos não tenham adquirido ainda aquele legítimo orgulho que à obra se deve dedicar sem rebuço, razão porque é mister acentuarmos – sem que de tal nos pese o pecado de sermos parciais - a necessidade imperiosa que dos mais humildes aos mais privilegiados impende, em ordem a um maior dispêndio de energias para com a missão que, de antanho encetada, deve ser hoje particularmente incentivada.
Para quem se debruce um pouco sobre o momento titubeante que a África ora atravessa, será grato depreender que, por enquanto, os territórios portugueses daquele vasto continente podem contrapor ao trabalho de sapa que vem minando terras africanas, uma muralha portas adentro da qual se ministram lições da melhor mestria; mal aviado ficará contudo, quem daí comodamente deduzir que livre de perigo futuro está a obra em que nos empenhámos e temos que saber fortalecer os alicerces.
A nossa História demonstra-nos que da jornada ultramarina temos colhido frutos de insuperável valia e mostra que uma propaganda modesta não pôde oferecer ainda uma glória merecida; aqueles estão emoldurando um troféu de que há muito a esperar, mas as páginas de triunfo que as passadas coloniais escreveram, continuam aguardando uma consagração mais adequada ao seu merecimento.
Como pensar pois, que da obra erguida a sua jornada finalizou, já porque frémitos de acirrado nacionalismo estão sacudindo o corpo africano e o lançam em movimentos de imprevisíveis consequências? Do mesmo modo, pior avisado andará quem for deduzindo por ingenuidade, que a nossa acção é por completo imune ao perigo que alastra em roda e ronda aquelas terras, de que cinco séculos de trabalho honroso definiram as fronteiras e marcaram para elas uma posição altamente humanitária. É tão impossível que a Raça venha a perder as suas virtudes colonizadoras – de que adviria o fatal desmembrar de um Império, de que não podemos prescindir jamais sem coarctar o corpo pátrio – como crasso erro seria não reconhecer que o Ultramar tem que ser alvo, hoje mais do que nunca, de uma particular atenção e de um uníssono cerrar fileiras em torno dele, que nos venham a permitir, com êxito, fazer frente a ideias actuantes contra o legitimo direito das nações titulares de territórios africanos.


Henrique Alberto do Nascimento Rodrigues
Diário da Manhã nº 9931 13 de Fevereiro de 1959