sexta-feira, 20 de agosto de 2010

PELA UNIDADE DE PORTUGAL


"Há que assentar nesta ideia básica: aos amplos horizontes que as portas do Ultramar nos abrem, ( e por intermédio dos quais a Pátria tem possibilidade de assumir no concerto das nações um lugar de franca relevância), é necessário passarmos a dedicar aquela quota-parte de especial e concentrado esforço por força da qual eles poderão, cada vez melhor exteriorizar a importância que a sua capacidade encerra já.

Concomitantemente, à valorização e desenvolvimento activo da obra que continuarmos a talhar, corresponderão, por inerência uma vida mais farta para o país e um saldo de perpétua gratidão que à Terra- Mãe ficarão devendo os seus prolongamentos ultramarinos.

Em boa verdade, não vemos que o papel que nos compete perante o ultramar ou a posição de destaque que ele deva vir a exercer no conjunto nacional possam, ser desempenhados a contendo, sem que uma estrutura una e homogénea fique ligando indissoluvelmente terras daquém com as de além-mar. Na solução do problema parte especializada que ele reclama apenas aos técnicos compete: a regulamentação particular, porém jamais se poderá processar com consistência se não partir de uma base sólida cuja elaboração já não diz respeito aos técnicos, mas sim, a cada um de nós, na defesa e propaganda de uma missão única, que uma unidade dos portugueses de cá e de lá possa saber levar a cabo.
A infiltração dos perigos, que se avizinham dos territórios portugueses em África, neles não será capaz de abrir brechas profundas, se lhe conseguirmos opor uma frente coesa, perfeitamente cerrada, resultante da tarefa e do sentido de fraternidade que da própria unidade dependerão. Está aí, porém uma dificuldade que as linhas gerais talvez escondam a importância. É que, assim como, geralmente, os novos imitam os actos dos mais velhos, assim também a unidade – forte e activa – deve partir, primeiro da Mãe – Pátria, como exemplo para as suas parcelas ultramarinas: depois, dos mais velhos como atitude que a mocidade deve tomar como padrão. Inverter os termos das premissas apontadas seria contrariar a ordem natural dos acontecimentos.

Perante o momento conturbado que a África vive, os nossos territórios de Angola e Moçambique – porque os maiores em superfície e recursos – vão viver provavelmente uma era de larga projecção, para cujas consequências, entretanto, é conveniente estarmos prontos. E seja qual for o resultado das convulsões em que o continente negro se debate, a influente acção nacionalizadora, que uma unidade prática e decisivamente vigorosa consiga levar a cabo, só benefícios nos pode trazer, quer furtando o Ultramar a movimentos contrários à nossa índole de cooperação entre raças, quer mantendo-o ligado à metrópole por um elo predominantemente espiritual, que perpetue um bloco onde esteja radicado um sentimento comum de irmandade e onde se fale a mesma língua por todo o sempre. Em suma: uma unidade de seres por uma unidade territorial."

Continua



Publicado no Diário da Manhã ( nº 9933) a 15 de Fevereiro 1959