
Para quem se debruce um pouco sobre o momento titubeante que a África ora atravessa, será grato depreender que, por enquanto, os territórios portugueses daquele vasto continente podem contrapor ao trabalho de sapa que vem minando terras africanas, uma muralha portas adentro da qual se ministram lições da melhor mestria; mal aviado ficará contudo, quem daí comodamente deduzir que livre de perigo futuro está a obra em que nos empenhámos e temos que saber fortalecer os alicerces.
A nossa História demonstra-nos que da jornada ultramarina temos colhido frutos de insuperável valia e mostra que uma propaganda modesta não pôde oferecer ainda uma glória merecida; aqueles estão emoldurando um troféu de que há muito a esperar, mas as páginas de triunfo que as passadas coloniais escreveram, continuam aguardando uma consagração mais adequada ao seu merecimento.
Como pensar pois, que da obra erguida a sua jornada finalizou, já porque frémitos de acirrado nacionalismo estão sacudindo o corpo africano e o lançam em movimentos de imprevisíveis consequências? Do mesmo modo, pior avisado andará quem for deduzindo por ingenuidade, que a nossa acção é por completo imune ao perigo que alastra em roda e ronda aquelas terras, de que cinco séculos de trabalho honroso definiram as fronteiras e marcaram para elas uma posição altamente humanitária. É tão impossível que a Raça venha a perder as suas virtudes colonizadoras – de que adviria o fatal desmembrar de um Império, de que não podemos prescindir jamais sem coarctar o corpo pátrio – como crasso erro seria não reconhecer que o Ultramar tem que ser alvo, hoje mais do que nunca, de uma particular atenção e de um uníssono cerrar fileiras em torno dele, que nos venham a permitir, com êxito, fazer frente a ideias actuantes contra o legitimo direito das nações titulares de territórios africanos.
Henrique Alberto do Nascimento Rodrigues
Diário da Manhã nº 9931 13 de Fevereiro de 1959