terça-feira, 4 de junho de 2013

PARA ALÉM DA VIDA

“ Sobre as causas da renúncia do meu pai ao cargo de Provedor de Justiça, e sobre o processo que o levou a decidi-la, creio que ele disse tudo e exactamente aquilo que queria dizer. Mais não teria dito se mais tempo tivesse vivido.
Mas não sendo a sua doença a causa dessa renúncia, poderíamos nós, família, não a olhar também nesse particular contexto de debilidade física? A verdade é que, forçado a manter-se no cargo, foi-lhe exigido um esforço físico que a sua já muito debilitada situação de saúde, não deveria suportar. Forçado a manter-se no cargo, adiou actos médicos, que se impunha realizar. Forçado a manter-se no cargo chegou mesmo a exercer as funções de Provedor de Justiça hospitalizado. Deixou-se esforçar para além da sua possibilidade física. Mas nunca se deixou forçar para além da sua consciência e da sua liberdade. Foram estas e não aquelas que ditaram o momento em que entendeu renunciar”.

Sofia Nascimento Rodrigues