terça-feira, 12 de outubro de 2010

HÁ SEIS MESES - O NUNO ESCREVEU

NÃO!
«Não chutes com tanta força, pai». Estou no meio da relva. À baliza eu que gosto de ser importante e por isso de marcar golos. Mas com o pai tanto faz. Só quero fazer alguma coisa com ele.

Não. Não chutes com tanta força. «Zuuuuca» dizes tu a quem o futebol nunca disse muito. Um chuto com o pé esquerdo no meio da relva no Ferrel e eu defendo e tu sabes que eu defendo. Pé esquerdo como o João Miguel. Tenho pena disso. De tu não estares para lhes mostrares como se chuta. Não os chutos na bola mas os outros. Os chutos na vida.

Queria tanto que eles aprendessem contigo. Tu sabias bem o que era importante, as regras que não se podiam quebrar, as linhas que não se podiam pisar. Hoje em dia só ouvimos dizer: «Não há problema. Toda a gente faz e o árbitro não apita». Mas tu sabias as regras. E elas estavam-te tatuadas no corpo. E assim o árbitro apita sempre. Vê tudo. Está lá sempre.

Gostava que soubesses mostrar as regras ao João e à Mariana. É que às vezes não percebo como é que para ti era tão claro. É tudo tão rápido que muitas vezes não percebemos se estamos fora de jogo ou não. Mas para ti parecia que as jogadas da ética são sempre claras. As regras acima de tudo. E nós queremos ganhar, sorrir, festejar e às vezes não percebíamos.

«Entrou. Foi golo» - digo eu

«Não filho, não passou a linha. A linha é clara. Um lado e o outro. Continuamos a jogar, ainda com mais empenho e amanhã…Zuuuuca».
Chuta com força pai. Não há problema. A linha está lá. Nós estamos sempre aqui a jogar um com o outro. E isso é o mais importante no final do jogo.
Vou dizer isso ao João quando ele chutar com o pé esquerdo.