sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SOLIDARIEDADE SINDICAL


Editamos hoje, pela actualidade do tema, uma versão muito resumida da intervenção que o nosso pai faz, em 1981, no III Congresso da Tesiresd.
Caros amigos,
Companheiros amigos da Tesiresd

É a primeira vez que me encontro perante vós, e num Congresso da Tesiresd, não na qualidade de membro fundador da tendência sindical reformista social-democrata, ou de titular de alguns dos seus órgãos estatutários, mas como dirigente nacional do PSD, convidado a esse título para, em nome do partido, vos dirigir algumas palavras nesta sessão de abertura do vosso 3º Congresso.
Gostaria de confessar que não é sem um sentimento de profunda nostalgia que me vejo a mim próprio na posição de ter de vos falar, não tanto como companheiro, desde a primeira hora, das lutas sindicais democráticas, mas sobretudo como Vice-Presidente do PSD.
Sucede, porém que as coisas são como são - o que significa que devo assumir a responsabilidade que me foi atribuída de exercer o melhor que saiba o cargo em que o Conselho Nacional do PSD me investiu. Por isso mesmo não me é lícito deixar que o lastro de uma convivência amiga com os sindicalistas social-democratas se sobreponha, em termos menos adequados, às obrigações de um cargo em que é imperativo atender-se às linhas fulcrais de orientação político partidária emergentes da vontade do conjunto ou da maioria dos militantes.

Aborda em seguida alguns temas de interesse político do momento, nomeadamente a natureza do PSD, a relação entre partido e sindicatos, e a independência sindical, para chegar à crise económica e diz:
Parece-me evidente que a situação económica e financeira – caracterizável, em traços largos, por um défice orçamental de 200 milhões de contos, por um encargo de juros que, só por si, sofrerá em 82 um aumento de 50% em relação ao ano em curso, por uma balança de pagamentos crescentemente negativa e por uma retracção do investimento – arrasta consigo reflexos sociais negativos, nomeadamente no plano das garantias do poder de compra e do emprego.
Se cada grupo profissional pretender melhorar a sua própria situação, o que é legítimo mas não é de todo viável numa situação de crise grave, as tensões sociais agudizar-se-ão e podem ressuscitar-se perigosos pendores autocráticos na nossa sociedade.
Deve ser dada prioridade ao desemprego, mesmo que, para esse efeito, haja de consentir-se, transitoriamente, em pôr de lado outras reivindicações profissionais e sociais. Não se trata de renunciar. Não tenhamos complexos de palavras e atitudes! Do que se trata, pelo contrário é de proporcionar, na maior amplitude concebível, emprego a quem quer e pode trabalhar. Porque o homem só se realiza no trabalho e é nessa exacta medida que colhe prioridade social e humana a primazia do objectivo do emprego sobre outros objectivos.

E acrescenta:

Não devemos mercadejar votos e manipular inteligências e sentimentos. Devemos ser iguais a nós próprios. A Social-Democracia ganha-se na limpidez das atitudes, na coerência dos ideais e na verticalidade da assunção de cada um e do partido no seu conjunto. E por isso me recuso a iludir seja quem for, e muito menos os meus companheiros sociais-democratas, com o intuito, para mim sem sentido e sem dignidade, de captar emoções de apoio.
20 de Novembro de 1981