A dimensão social da Europa é uma questão medularmente política. Não se trata tanto de saber quais os programas mais adequados, os projectos mais inovatórios, as acções mais eficazes: trata-se de saber que tipo de sociedade desejamos para o alvor do novo século, porque é em função dessa matriz que se escolhem as políticas, se definem os programas e se trilham os caminhos da construção do futuro.
Não imagino a evolução da União Europeia sem uma indispensável dimensão social do seu corpo constitutivo. Pela minha parte, não desejo uma sociedade de «ideologia da individualização», se a entendermos com um sentido egoísta, de confronto humano e de ferocidade social.
Talvez seja avisado não nos deixarmos encandear pelos faróis de um livre mercado desregulado, de uma competição sem freios e de uma competitividade que seja sinónimo de destruição dos outros a todo o custo.
Àqueles que defendem o ideal de que «o meu carro é a minha liberdade», eu responderia que sim.
Mas perguntaria, de que vale essa liberdade se as «selvas das barracas» decidirem, um dia, invadir as nossas cidades asfaltadas e as nossas urbanizações climatizadas? A liberdade não pode ser dissociada da solidariedade e da cidadania plena. Esta implica e exige de cada um de nós não apenas a reclamação crescente de mais direitos políticos, económicos ou sociais – obriga, também, à assunção de mais deveres.
Deveres de cidadania e de solidariedade, pois, como exigências decorrentes de mais liberdade e melhor progresso. Mas uma solidariedade activa, que passe pelo Estado mas não se fique por aí – que passe também pela solidariedade familiar, de vizinhança, de comunidade de vida, reconstituída sob valores humanitários que forjam civilizações e não assente, apenas, em fundamentos monetaristas que só criam sociedades perecíveis. E também uma cidadania que seja efectiva e quotidiana e não se limite quase à veste de eleitor periódico; antes seja permanentemente exercível enquanto expressão concreta do Direito e manifestação natural da Justiça.
Não imagino a evolução da União Europeia sem uma indispensável dimensão social do seu corpo constitutivo. Pela minha parte, não desejo uma sociedade de «ideologia da individualização», se a entendermos com um sentido egoísta, de confronto humano e de ferocidade social.
Talvez seja avisado não nos deixarmos encandear pelos faróis de um livre mercado desregulado, de uma competição sem freios e de uma competitividade que seja sinónimo de destruição dos outros a todo o custo.
Àqueles que defendem o ideal de que «o meu carro é a minha liberdade», eu responderia que sim.
Mas perguntaria, de que vale essa liberdade se as «selvas das barracas» decidirem, um dia, invadir as nossas cidades asfaltadas e as nossas urbanizações climatizadas? A liberdade não pode ser dissociada da solidariedade e da cidadania plena. Esta implica e exige de cada um de nós não apenas a reclamação crescente de mais direitos políticos, económicos ou sociais – obriga, também, à assunção de mais deveres.
Deveres de cidadania e de solidariedade, pois, como exigências decorrentes de mais liberdade e melhor progresso. Mas uma solidariedade activa, que passe pelo Estado mas não se fique por aí – que passe também pela solidariedade familiar, de vizinhança, de comunidade de vida, reconstituída sob valores humanitários que forjam civilizações e não assente, apenas, em fundamentos monetaristas que só criam sociedades perecíveis. E também uma cidadania que seja efectiva e quotidiana e não se limite quase à veste de eleitor periódico; antes seja permanentemente exercível enquanto expressão concreta do Direito e manifestação natural da Justiça.
Lisboa 1994