quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Fala de Diogo Cão às portas do Zaire

Deste lado da história
o rio morre aqui.

Do mar sabemos nós e aos capitães
a fama da conquista.

Faço-me ao sul
porque pertenço ao norte
e a costa só me serve é para cumprir
tarefas de demanda.

Meu fim é circular ir mais além.
Por isso eu sei de estrelas
direcções
e nada sei do ganho
que se projecta e ganha.

Cumpro tarefas sim porque viajo.
Nada me aguarda
feita a descoberta.
Fronteiras mesmo
só as deste mar e sei vivê-las

noutras distâncias.

De deus empreendi que é lá onde eu estiver.
Sou eu
porque navego
quem lhe constrói a face.

Ao rei e a vós
só dou notícia do rumo horizontal.
Pois que saber da vertical sageza?


Ruy Duarte de Carvalho in «Lavra» 1972