sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Genebra Junho de 1992


1992. Portugal preside, pela 1ª vez na história da Organização Internacional do Trabalho, à sua Conferência anual. A 3 de Junho, o Henrique é eleito por unanimidade presidente da 79º Conferência Internacional do Trabalho em representação do nosso país.
A 19 do mesmo mês, num discurso dirigido ao Director – Geral do BIT, agradece todo o apoio que teve ao longo da Conferência, lembrando, que foi na OIT, que aprendeu os valores do tripartismo, do diálogo, da democracia.
E continua:
Apoio, para que tudo funcionasse com eficácia e tranquilidade, de dezenas e dezenas de pessoas, cujos nomes e cujos rostos não pude conhecer pessoalmente.
É sobretudo para estes, Senhor Director-Geral, que lhe peço que transmita a minha profunda gratidão. Peço também ao Presidente do Sindicato dos funcionários do BIT, aqui presente, que seja o meu porta-voz junto destes cabouqueiros, destes obreiros anónimos
.
E acrescenta:
Mas quero agradecer-lhe mais uma gentileza: a de me permitir falar em português, que não é só a língua do meu país. O português é a língua de Portugal, de Angola, do Brasil, da Guiné –Bissau, de Cabo-Verde, de São Tomé e Príncipe, de Moçambique: é uma língua universal.
Nesta língua universal, Senhor Director-Geral, há uma palavra difícil de traduzir: saudade. A saudade é um misto de nostalgia e de sentimento de perda de algo que nos é querido. Eu já tenho saudades desta Conferência. Estou certo de que, até ao último minuto da minha vida, lembrar-me-ei desta Conferência onde todos foram tão gentis
.

Tenho bem presente ainda, na minha memória, a luta diplomática que o Henrique teve que travar. O argumento era só um: se Portugal vai presidir, durante um mês à Conferência, então o Presidente tem que falar em português. Como se compreende, este facto obrigava a tradução simultânea de português para um sem número de línguas, o que envolvia custos, e logística, fora do contexto habitual. Nunca desistiu desde que foi indigitado. O Português foi utilizado nas sessões do Plenário e nas principais comissões da Conferência, prática que desde então se mantem. Lutar até ao fim, em defesa de convicções, era uma característica muito sua.