Eu disse, que era minha intenção deixar nestas páginas, uma série de impressões, quer objectivamente quer subjectivamente colhidas.
A vida em sociedade é segundo as melhores doutrinas, derivada da própria natureza do Homem.
Assim, o «status societatis» é um bem, necessário, imprescindível, imperioso, pelo qual o homem alcança, ao servir-se dele, muitas das suas fundamentais necessidades. Entre elas, a convivência com outros seres humanos, não é das de somenos importância.
A ausência de contacto gera, na maioria, um estado de insatisfação, de laconismo mórbido, de apática e inaproveitável melancolia. Um homem precisa de falar com outros homens? A sociedade tem, para dar largas a essa necessidade, a convivência de seres de mentalidade conforme a sua.
Mas o Homem também precisa de falar «consigo mesmo». É indispensável não é ridículo. Ridículo é a cobardia de se furtar a um monólogo, jamais a capacidade de o fazer. Olhando dentro de si mesmo, mirando o revolucionar das emoções que se geram, e lutam entre si no seu íntimo, auscultando, sempre que possível, o verdadeiro sentir do seu eu, o homem está a dar satisfação a uma necessidade de ordem psicológica. Portanto tentarei fazer nestas páginas não só uma introspecção no sentido filosófico, mas também, uma vista de olhos pelo que me cerca e sobretudo no que me fere a atenção.
O que eu possa escrever não tem interesse para ninguém, a não ser para mim próprio, que vou cuidar de saber o que sinto e o que penso.
Está a volver um ano que arribei a estas terras do continente. Em boa verdade - e contrariando as profecias dos mais velhos – eu não me acostumei no sentido verdadeiro de perfeita e incondicional adaptação, ao ambiente e ao modo de vida metropolitano. Há indiscutivelmente uma mentalidade diferente. Em meu entender, há mesmo uma profunda diferença de mentalidades, mesmo de usos e até de sentimentos.
Angolanos e metropolitanos entroncam no mesmo ramo, somos Portugueses.
De tal maneira que eu duvido de que os metropolitanos consigam ser mais patriotas do que nós. O caso não merece discussão, claro nem é, susceptível de polémica. Esta descendência recíproca, é o traço mais forte que se possa apontar entre uns e outros. Mas, para além dele as diferenças já são grandes.
Essa diferença, que talvez seja mais formal do que substancial, aprofunda-se no tocante às massas juvenis, sobretudo entre aqueles que fizeram todo ou só parte do Liceu em Sá da Bandeira.
Quem lá estudou imbui-se de um número de características típicas, bem conhecidas, que vão provocar um choque de modos de ser e de comportamentos quando se arriba e permanece na metrópole. Eu não podia fugir à regra antes a confirmarei latamente. Mas vendo o problema o mais objectivamente possível, tentando fugir portanto ao meu próprio não querer aceitar de boamente a minha estadia por cá – reconheço que – na maior parte das vezes não é proveitosa a vinda de estudantes angolanos para as faculdades do continente.
Em nada devemos ficar agradecidos – pelo contrário – por essa medida que os governantes reputam de proveitosa e útil para os rapazes ultramarinos. E não é ser-se mal agradecido palavra. O ensino, de qualquer grau que seja, não é uma medida de altruísmo de nenhum Estado – é antes, uma obrigação, um dever moral e político a que nenhum Estado se pode furtar. E bem sabemos que há Estados em que o ensino, além de obrigatório é totalmente gratuito. Não pode existir uma Nação sem um povo civilizado e culto; a civilização técnico – cultural só pode ser adquirida pelo estudo; e o estudo, na sua regra, só pode ser devidamente ministrado por mestres competentes. A par de outras manifestações que estão na essência do próprio estado, o ensino é um dever que lhe compete, obrigatoriamente, que para bem dele próprio será; donde deduzimos que nenhuma mercê nos fazem ao proporcionar-nos estabelecimentos de ensino que nos preparem para a vida…quando sabem proporcionar-nos.
A vida em sociedade é segundo as melhores doutrinas, derivada da própria natureza do Homem.
Assim, o «status societatis» é um bem, necessário, imprescindível, imperioso, pelo qual o homem alcança, ao servir-se dele, muitas das suas fundamentais necessidades. Entre elas, a convivência com outros seres humanos, não é das de somenos importância.
A ausência de contacto gera, na maioria, um estado de insatisfação, de laconismo mórbido, de apática e inaproveitável melancolia. Um homem precisa de falar com outros homens? A sociedade tem, para dar largas a essa necessidade, a convivência de seres de mentalidade conforme a sua.
Mas o Homem também precisa de falar «consigo mesmo». É indispensável não é ridículo. Ridículo é a cobardia de se furtar a um monólogo, jamais a capacidade de o fazer. Olhando dentro de si mesmo, mirando o revolucionar das emoções que se geram, e lutam entre si no seu íntimo, auscultando, sempre que possível, o verdadeiro sentir do seu eu, o homem está a dar satisfação a uma necessidade de ordem psicológica. Portanto tentarei fazer nestas páginas não só uma introspecção no sentido filosófico, mas também, uma vista de olhos pelo que me cerca e sobretudo no que me fere a atenção.
O que eu possa escrever não tem interesse para ninguém, a não ser para mim próprio, que vou cuidar de saber o que sinto e o que penso.
Está a volver um ano que arribei a estas terras do continente. Em boa verdade - e contrariando as profecias dos mais velhos – eu não me acostumei no sentido verdadeiro de perfeita e incondicional adaptação, ao ambiente e ao modo de vida metropolitano. Há indiscutivelmente uma mentalidade diferente. Em meu entender, há mesmo uma profunda diferença de mentalidades, mesmo de usos e até de sentimentos.
Angolanos e metropolitanos entroncam no mesmo ramo, somos Portugueses.
De tal maneira que eu duvido de que os metropolitanos consigam ser mais patriotas do que nós. O caso não merece discussão, claro nem é, susceptível de polémica. Esta descendência recíproca, é o traço mais forte que se possa apontar entre uns e outros. Mas, para além dele as diferenças já são grandes.
Essa diferença, que talvez seja mais formal do que substancial, aprofunda-se no tocante às massas juvenis, sobretudo entre aqueles que fizeram todo ou só parte do Liceu em Sá da Bandeira.
Quem lá estudou imbui-se de um número de características típicas, bem conhecidas, que vão provocar um choque de modos de ser e de comportamentos quando se arriba e permanece na metrópole. Eu não podia fugir à regra antes a confirmarei latamente. Mas vendo o problema o mais objectivamente possível, tentando fugir portanto ao meu próprio não querer aceitar de boamente a minha estadia por cá – reconheço que – na maior parte das vezes não é proveitosa a vinda de estudantes angolanos para as faculdades do continente.
Em nada devemos ficar agradecidos – pelo contrário – por essa medida que os governantes reputam de proveitosa e útil para os rapazes ultramarinos. E não é ser-se mal agradecido palavra. O ensino, de qualquer grau que seja, não é uma medida de altruísmo de nenhum Estado – é antes, uma obrigação, um dever moral e político a que nenhum Estado se pode furtar. E bem sabemos que há Estados em que o ensino, além de obrigatório é totalmente gratuito. Não pode existir uma Nação sem um povo civilizado e culto; a civilização técnico – cultural só pode ser adquirida pelo estudo; e o estudo, na sua regra, só pode ser devidamente ministrado por mestres competentes. A par de outras manifestações que estão na essência do próprio estado, o ensino é um dever que lhe compete, obrigatoriamente, que para bem dele próprio será; donde deduzimos que nenhuma mercê nos fazem ao proporcionar-nos estabelecimentos de ensino que nos preparem para a vida…quando sabem proporcionar-nos.
Lisboa 1958