sábado, 19 de junho de 2010

O Sr. Reis e O Sr. Brown.


Como habitualmente, fui estudar para um café. Sentado já a uma mesa, deparou-se-me uma discussão entre um português e um inglês. Da polémica que entre um e outro se travou tirei, de imediato, a inevitável conclusão: baixíssima mentalidade do português, contra uma perfeita, mesmo cavalheiresca diplomacia do britânico. O nosso compatriota não abriu a boca senão para dizer asneiras. Desde a afirmação da inexistência de Cristo, ao ataque a Salazar, passando por um desconhecimento estúpido da política de De Gaulle à afirmação (!) de que nós somos um povo inculto, sem liberdade, etc. etc., o nosso «amigo» passou por tudo. Seriam imperdoáveis já semelhantes basófias numa conversa entre portugueses, mas comentários tais para com um estrangeiro dentro da nossa terra e perante outros portugueses – francamente é um índice perfeito de que a mentalidade lusíada atravessa uma grave crise! Crise sim mas provocada por todos aqueles que, como o Sr. Reis falam despropositadamente, num alardear estúpido e destruidor d’aquilo que não sabem. Pelos vistos o Sr. Reis era ateu; nada tenho com isso, que cada qual siga a religião que quer. Mas dizer que o nosso regimen é uma ditadura, que os portugueses não são capazes de fazer nada, que vivemos moribundos na Europa, que De Gaulle é um estúpido e um déspota e que os franceses não o querem, e outras – dezenas de outras – no género é menosprezar a própria pátria e o próprio sangue. É verdade que Salazar está desactualizado e que comete presentemente graves erros. Mas vivemos em regimen de ditadura? Se assim fosse, certamente que o Sr. Reis não chegaria, sequer, a poder dizer meia dúzia das palavras que disse. Somos um povo inculto é certo mas não é atirando – o à cara de estranhos que nós nos cultivamos. Exemplo flagrante é o Sr. Reis: o alardear em voz alta e sonante uma « cultura» nacional e internacional que ofuscaria o desprevenido, enquanto «despreocupadamente» batia palmadinhas nas costas do Inglês, fumava sem cerimónia os «Chesterfield» que estavam em cima da mesa e « limpava» em menos de um hora e meia três rotundos Wiskies ao vermelho da velha Albion!! Escusado será dizer que quem pagou a despesa foi o Inglês.

Lisboa 1958