segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CÂNTICO DE GUERRA

A hora das queimadas flamejantes
 Enche de pasmo a noite emudecida…
Toda a floresta, há pouco adormecida
Ergue de espanto os braços suplicantes.
Sobem dos quimbos vozes inquietantes,
E a grita do batuque endoidecida
Arrasta-se em canção enlanguescida
E em convulsões febris e delirantes.
Gritos e chamas, sombras e lamentos…
A estranha sinfonia do sertão
Tem para mim o exótico sabor
Duma oração pagã lançada aos ventos,
Dum fruto agreste, perfumado e são,
Dum cântico de guerra, de ódio e amor.

( J. Galvão Balsa, in «Oiro e Cinza do Sertão,» Angola 1959 )