Mulher Luena (Neves e Sousa)
Luena,
Que tens o andar da onça no sertão
E o gesto bamboleante da palmeira,
Ao cálido soprar da viração;
Luena,
Que tens nos olhos vagos, sensuais,
Essa miragem feiticeira
Das luarentas noites tropicais;
Luena,
Que tens na voz lamentos de abandono,
Como ave da floresta,
Que à noite canta p’ra espalhar o sono…
Luena,
Exótica flor negra e solitária,
Porque és, assim, uma estátua de treva,
Chorando a dor duma viuvez lendária?
-Olha, Tchindele,
Ao cálido soprar da viração;
Luena,
Que tens nos olhos vagos, sensuais,
Essa miragem feiticeira
Das luarentas noites tropicais;
Luena,
Que tens na voz lamentos de abandono,
Como ave da floresta,
Que à noite canta p’ra espalhar o sono…
Luena,
Exótica flor negra e solitária,
Porque és, assim, uma estátua de treva,
Chorando a dor duma viuvez lendária?
-Olha, Tchindele,
A sombra negra desta cor estranha,
Que me envolve a carne e a alma,
Herdei-a das cavernas da montanha.
Embalou-me o feitiço da desgraça:
Desde esse dia…há já mil anos,
Que ando de luto pela minha raça…
Que me envolve a carne e a alma,
Herdei-a das cavernas da montanha.
Embalou-me o feitiço da desgraça:
Desde esse dia…há já mil anos,
Que ando de luto pela minha raça…
(Poesia de J. Galvão Balsa, in “Oiro e cinza do sertão”)