quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Notas Ultramarinas - A ÁFRICA CHAMA POR NÓS

Introdução

«Notas Ultramarinas» vêm hoje à luz da Imprensa, sem outra intenção que não seja a de difundir, através das suas linhas, alguns elementos concernentes àquela extraordinária missão civilizadora que, em bandas africanas e orientais, Portugal vem talhando, por direito incontestável, de há cinco séculos a esta parte.
Meia dúzia de artigos botados ao papel por pena inexperiente ainda, enfermam eles, antes de mais, de uma virtude e de um defeito:
São escritos por um jovem que nem sequer arribou à porta da vintena de anos.
Defeito porque , correrá, decerto, por essas linhas a que nos abalançamos, a ingénua inexperiência dos que da vida e dos seus complexos problemas não têm a visão, profunda e atilada, que só o tombar dos anos oferece.
Quando a mente não logrou ainda o crisma da lição mestra que é a vida, será porventura ousadia – não o contestamos – ir ao encontro de assuntos que, pela melindrosa importância de que estão revestidos, só a madre que a todos torna experientes permitiria focar com melhor habilidade e maior conhecimento de causa. Mas é, porém, virtude a outra parte. Sempre que a juventude fervilha no sangue das veias, o espírito deixa-se esticar, por irrefreável impulso, até às fronteiras que a pouca idade visiona auspiciosas e vai antecipar-se, através de ideias fartas e bem intencionadas ao cimentado pensar do homem adulto.
Não será assim pecado de maior, permitir à mocidade que ela tacteie hesitante, é certo, na sua profundidade, mas com vivacidade nas suas intenções, aqueles problemas de nível superior, e que o seu feitio curioso busque uma análise mais miúda. «Notas Ultramarinas» hão-de ter nascido, forçosamente dessa inexperiência, por ora sem remédio, e de um sentir ardente que só da mocidade pode brotar.
Vindas de um jovem que é filho do Ultramar, sobre o Ultramar igualmente pretende versar. Vão dirigidas para os novos da minha terra pois sobre eles incidem as primeiras ideias de que se revestem; para todos, porém cujas almas insatisfeitas forjam em sonhos um Portugal engrandecido, são também estas palavras de um moço ultramarino, que se permite chamar-lhes a atenção e requerer o seu especial apoio para os problemas ligados à vida do nosso Ultramar, entre eles, designadamente o que vai constituir o alvo central destas «Notas»: a posição da juventude perante o Ultramar Português e o concomitante aspecto que deve presidir ao contacto entre as gerações do Continente e das terras de Além – Mar. Não é caso que diga respeito exclusivamente aos novos. Ao contrário, é ideia que deve estar presente no espírito de todos nós, merecedora de especial simpatia e de redobrada atenção, pois que, da maneira como a juventude comece a encarar a posição do Ultramar perante o cômputo nacional e do modo como se processem as relações entre as massas novas das parcelas daquele e da metrópole, em muito dependerá – estamos certos – a unidade de Portugal metropolitano e ultramarino.

(continua)

Diário da Manhã nº9931 13 de Fevereiro 1959