«Tive o privilegio de conhecer Henrique Nascimento Rodrigues no final de 2001, já lá vai quase uma década.
Fui chefe do seu gabinete durante escassos seis meses, um período curto, é certo, porém suficiente para conhecer aquele Homem de aparência frágil, mas de atitude firme, plena de virtus, a energia interior que Horácio celebrava.
Integro como poucos, sabia bem que os seus valores estavam fora de moda.
Cultivava a modéstia a simplicidade, o olhar directo e amigo, mesmo quando tinha de dizer «não»
Era profundamente patriota. Preocupava-o Portugal, os erros que via nos governos e a fraqueza que apontava às oposições.
Politicamente moderado, era um reformista que acreditava numa sociedade progressista, ainda que o seu conhecimento dos homens e das multidões não raro o desiludissem.
Considerava-se um simples Servidor do Estado.
Não apreciava o espectáculo e a exuberância dos políticos.
Recordo a profunda seriedade e irrepreensível isenção com que Nascimento Rodrigues apreciava as centenas de queixas que cidadãos comuns tantas vezes desesperados, lhe dirigiam, procurando satisfazer os pedidos, resolver os problemas e acelerar as respostas tardias da administração. Dele, podiam os cidadãos confiadamente esperar justiça, equidade e celeridade.
Mas também rigor: quando quem se lhe dirigia não tinha razão, não se lhe dava resposta positiva!
Almoçávamos habitualmente perto da Provedoria. Ao contrário de tantos governantes e simples dirigentes, Nascimento Rodrigues pagava sempre a conta do seu próprio almoço ( nem sempre económico, diga-se…) que era e ele considerava ser uma despesa pessoal. Não me lembro de alguma vez o ter visto «sacar» do cartão de crédito da Provedoria num almoço não decorrente das suas obrigações oficiais de representação externa.
Em Abril de 2002, desafiado a contribuir para o que poderia ter sido a inflexão dos governos socialistas que tanto mal tem feito ao nosso Portugal, entendi ser meu dever partir, o que ele disse compreender, embora, ouso pensar, lamentasse.
Encontrei-o algumas vezes, não tantas como as que desejaria, mas é sempre assim: consumidos pela vertigem do quotidiano, tanta vez esquecemos o que é permanente.
No final do último mandato, ultrapassado largamente o respectivo termo legal sentiu-se prisioneiro de interesses político-partidários que aviltavam o estatuto constitucional do Provedor de Justiça e o amarravam a um cargo que o seu escrúpulo sentia já não dever exercer.
Renunciou no Verão de 2009»
Publicado por Rui Crull Tabosa no blogue Corta Fitas em 12 de Abril de 2010