quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Que Resposta Social – Democrata?

Nesta hora crucial de uma mudança talvez, de paradigma civilizacional, nesta encruzilhada decisiva em que se joga o futuro da Europa e do nosso País, nós social-democratas, temos o dever de não nos envergonharmos de o ser.
Pelo contrário: temos o dever e o direito de proclamar que continuamos fieis aos valores imutáveis de preservação da dignidade de cada homem e de todos os homens, aos princípios da liberdade e da solidariedade activa, às atitudes de abertura à inovação – o que é diferente de corrida às «modas» conjunturais – de rigor ético, de correcção de comportamentos, de valoração do espírito, de livre empreendimento e de mercado livre, sem prejuízo, nunca, de intervenções correctivas do Estado, quando as regras do mercado tenham como consequência a destruição da coesão económica e social de uma sociedade justa, democrática e progressista.

Estes são princípios e valores de que não devemos abdicar nunca na linha da social-democracia portuguesa.
Uma social-democracia que não é tecnocrática, porque seria desumanizada – mas que é, e tem que ser cada vez mais, reflectida, dialogada, permanentemente posta à prova pelo estudo, pelo trabalho sério, pela dúvida de quem sabe que não sabe tudo e, provavelmente até sabe pouco.

Uma social democracia que, por outro lado, sabe também quanto ilusório e nefasto é pretender dar satisfação populista a anseios dos cidadãos, através do aumento desmesurado dos déficits públicos, da sangria da poupança nacional, da manutenção de privilégios corporativistas – porque essa via, tão típica do socialismo, mesmo «aggiornato», a nada conduz senão ao sacrifício da geração futura, quando não, desde logo, ao sacrifício da nossa própria geração.


Lisboa, 5 de Maio de 1994