quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Genebra Junho de 1969

O nosso pai integrou, por diversas vezes, a delegação governamental portuguesa às Conferencias Internacionais do Trabalho, como técnico destacado para as comissões em que se preparavam projectos de convenções internacionais do trabalho.

Dia 4
Saímos há cerca de uma hora da sessão inaugural da Conferência, e vamos voltar agora depois de termos passado pelo quarto.
Este ano, ao contrário dos anteriores haverá sessões ao sábado de manhã. Amanhã como sabes, chega o Papa
(Paulo VI) e de manhã não há sessão de trabalho, mas logo às três recomeço. Tenho a impressão que mal o veremos pois há muita gente. Na 4ª feira à tarde suponho que também não haverá sessão de trabalho pois discursam o Hailé Selassié e o Kaunda. Tenho a impressão de que, sob o ponto de vista de trabalho, a Conferencia é menos exaustiva do que foi o meu estágio do ano passado.
Em todo o caso as sessões de trabalho não deixam de ser algo cansativas, pois estamos 2 /3 horas seguidas com os auscultadores nos ouvidos e é necessário estar-se com atenção à tradução em francês, pois senão perde-se o fio à meada.
Dia 16
Hoje o dia correu pessimamente na minha comissão, e sinto-me com vontade de abandonar isto tudo e pôr-me a andar. Infelizmente não o posso fazer claro. Sucedeu que acerca de uma questão muito importante, pediram a votação nominal, ou seja, chamaram cada pessoa pelo seu nome e indicaram o País. É assim que se procede à votação. Ora, como deves calcular, o grupo dos trabalhadores vota todo ele num sentido, o das entidades patronais naturalmente no sentido oposto e os delegados governamentais são independentes. Tudo correu bem pela minha parte e pela parte do delegado patronal português, mas quando chegou a voz do delegado trabalhador português não é que aquele estúpido votou contra os trabalhadores, isto é contra o seu próprio grupo? Foi o único voto dos trabalhadores contra si próprios. Isto evidentemente, caiu muito mal e a maior parte das pessoas deve ter pensado que o trabalhador português era um vendido e que devia ter recebido ordens da delegação portuguesa para votar assim. Na realidade, tratou-se de pura estupidez do homem. Isto é o resultado de termos representantes de trabalhadores que são autênticos fantoches, sem autenticidade e sem preparação cultural mínima.

Dia 23

A minha comissão acabou as sessões no sábado cerca do meio - dia e agora a única coisa que terei de fazer é, estar presente hoje no plenário da Conferencia, na altura em que se votarem as conclusões da minha comissão. Depois disso irei aproveitar o tempo livre para ter uns contactos com os funcionários do BIT com quem trabalhei o ano passado.

Vinte e três anos depois, a 3 de Junho de 1992, seria eleito, pelo plenário, presidente da Conferencia Internacional do Trabalho