terça-feira, 7 de maio de 2013

AS ENCRUZILHADAS DA VIDA


Há encruzilhadas nos caminhos que percorremos. Ao decidir que só renunciaria ao cargo de Provedor de Justiça quando se tornasse evidente que não havia outro caminho, o Henrique fez uma escolha. Ao fazê-la comprometeu, conscientemente, a possibilidade de ter mais tempo para viver. “A partir daqui não seria já curial, forçar mais a minha consciência e degradar  ainda mais as minhas debilitadas condições de saúde – que há longos meses se foram deteriorando – com um prolongamento do mandato”.
Eu sei porque o fez.  Sei, porque o conheci desde sempre. Para que os seus filhos e netos entendam, deixo hoje, aqui, um retrato escrito desse avô, que alguns nem chegaram a conhecer.

 “É na altura em que se deixa de ser moço para se ser homem, que escolhemos os caminhos da encruzilhada: ou se quer ser adulto – jovem, ou adulto sem ser jovem. Toda a gente tem o seu “Balão Vermelho”.
Ao chegarem à tal encruzilhada, uns largam-no – e o balão arrebenta – outros preferem continuar com ele. Destes últimos, ainda há  duas categorias a referir: aqueles que, levando-o consigo, são alvos de risota, de desdém e desprezo; e os que também, sem o largarem, conseguem contudo que o mundo os olhe com admiração respeito e carinho. Dois grupos que partem do mesmo princípio, que seguem o único caminho possível para quem tem força e fé, mas que o trilham de maneiras diferentes. Os que preferem continuar com o balão, podem fazê-lo por dois motivos: porque o balão é algo de muito querido, que sempre os acompanhou e que eles não querem abandonar; e os que também preferem o balão, porque estão convencidos de que mais do que querido, é algo de valor.
 O descomunal  balão, pode ser um símbolo mágico de sonho e fantasia; mas pode -  e deve – ser, além disso, uma coisa de valor que seja digna de ser passeada porque é forte e é dela que depende a nossa vida. Não interessa andar só com o balão porque ele é o nosso sonho de “menino e moço”, o nosso companheiro de todas as horas; interessa mostrar ao mundo que o balão da juventude foi sonho quando o devia ser; é uma força, agora, dotada da poesia da mocidade e do valor da maturidade.
O que eu quero dizer, afinal, é que o balão que nos acompanha, representa algo de valioso que desejamos obter. A sociedade rirá, dos que andam com o balão numa euforia de fantasia e sonho; essa mesma sociedade fechará o sorriso e olhará com respeito aquele que lhe mostrar o seu balão, cheio de sonho e quimera, mas repleto de vitalidade e de provas concretas de que esses sonhos não são só lindos por serem sonhos, mas porque são sonhos que alcançaremos a lutar.
Eu escolhi o balão; simplesmente, eu não tenho medo de o mostrar e de passear com ele; o meu balão não é só cheio de sonhos e quimeras: quimeras e sonhos não são para mim só símbolos – são valores que eu transformarei, der por onde der, em realidades, para que a sociedade admire e respeite o meu balão”.

Lisboa 1958