sábado, 4 de maio de 2013

VÓS QUE LÁ DO ALTO IMPÉRIO…


28 de Março de 2009. No Semanário “Sol”, um artigo de Catalina Pestana, que, reproduzo, com a devida vénia.
“Perante a falta de respeito para com todos os cidadãos deste país, para com a Constituição e para com o último protagonista do cargo de Provedor de Justiça, este teve necessidade – em seu e em nosso nome – partir o verniz e chamar os animais pelo seu nome próprio.
O Dr. Nascimento Rodrigues desempenhou durante oito anos um alto cargo do Estado Português, que não dá direito a vencimentos semelhantes aos dos gestores de empresas públicas, que não dá luzes nas ribaltas mediáticas, mas dá aos cidadãos a convicção que existe um espaço, por acaso na Lapa, onde alguém ouve as injustiças de que se consideram alvo. e que lhes responde sempre.
O Provedor de Justiça, ainda em exercício de funções, exerceu sempre o cargo de forma austera e discreta. Não criou factos políticos, mas criou nos reduzidos serviços que dirigiu uma cultura de persistência – que não permitia aos serviços públicos a que se dirigia fingir que se tinham esquecido de lhe responder. O pedido de esclarecimento, a adequação de horários, a alteração de funções de qualquer trabalhador que se sentia lesado nos seus direitos de trabalho ou de cidadania quando não obtinha resposta da Administração Pública, voltaria a chegar, na quinzena seguinte, acompanhado da frase sibilina: Lamento não ter recebido qualquer resposta de V.Exª sobre o assunto em epígrafe… Água mole em pedra dura… ia muitas vezes furando as barreiras da indiferença, ou estimulando o engenho e a arte de resolver os problemas, que a burocracia da Administração Pública portuguesa cria, a quem a leva a sério. A falta de decoro com que foi tratado este órgão da República é mais que uma afronta a um homem que serviu dignamente o seu país num cargo de responsabilidade. É uma falta de respeito por todos os portugueses. A existência do Provedor de Justiça é um direito constitucional que uma parte do poder quis deixar cair de podre, sem que o Zé Povinho desse por isso. (…)
O poder democrático pertence ao povo, o povo delega-o naqueles em quem acredita que o exercerão em serviço da comunidade.
Parafraseando António Aleixo, “Vós que lá do Alto Império/prometeis um mundo novo/cuidado não vá o povo/querer um mundo novo a sério”…
Assinado por Catalina Pestana. Publicado no semanário “SOL” a 28 de Março de 2009