quinta-feira, 23 de maio de 2013

MANCHA NEGRA NA DEMOCRACIA


Não quero mergulhar no microcosmos da ignorância, na doce paz da inconsciência e no esquecimento de ti. Ouso reescrever todas as palavras que deixaste para não me desfazer no pó de uma identidade perdida. Quando volto atrás procuro sonhos que não foram e encontro os duros sinais de tempos vindouros. Quatro anos depois eles aí estão, tornando evidente a doença do nosso sistema   partidário. O que aconteceu não foi só o desencontro entre PS e PSD. Foi mais grave. Foi mais profundo. Hoje é tudo muito mais claro. Revejo esse longo tempo de espera, essa mancha negra na nossa democracia. Voltemos à carta de renuncia dirigida ao Senhor Presidente da Assembleia da República:

«incompreensível para o comum dos cidadãos»
«desprestigiante para os seus actores»

“ Permaneci em funções, pois, e procurei transmitir à Provedoria de Justiça a tranquilidade e a normalidade de trabalho sem as quais não se cumpre com eficácia o papel de Provedor. A expectativa com que encarei a minha não substituição foi tornando-se, porém, com o passar dos dias e o lento decorrer dos meses, um incómodo manifesto e criou em mim uma preocupação muito profunda. Não me eximi de os tornar públicos, é certo, por entender ser imperativo que a opinião pública e o Parlamento ficassem cientes da posição do Provedor – tanto mais ser verdade que nenhuma informação sobre o visível impasse nas negociações conducentes à eleição do meu substituto em momento algum me foi prestada. Nesse contexto, escrevi a Vossa Excelência, já em 19 de Fevereiro último, acentuando que a prolongada e insustentável situação de arrastamento das negociações para a escolha do novo Provedor estava a revelar-se «incompreensível para o comum dos cidadãos» e começava a « tornar-se desprestigiante para os seus actores», do mesmo passo que sublinhei «embora me esforce por manter a normalidade possível, é evidente que não existem condições institucionais adequadas ao desempenho eficaz das minhas funções». Não poderia ser mais claro creio.(…)