Não quero mergulhar no microcosmos da
ignorância, na doce paz da inconsciência e no esquecimento de ti. Ouso
reescrever todas as palavras que deixaste para não me desfazer no pó de uma
identidade perdida. Quando volto atrás procuro sonhos que não foram e encontro
os duros sinais de tempos vindouros. Quatro anos depois eles aí estão, tornando
evidente a doença do nosso sistema partidário. O que aconteceu não foi só o desencontro
entre PS e PSD. Foi mais grave. Foi mais profundo. Hoje é tudo muito mais
claro. Revejo esse longo tempo de espera, essa mancha negra na nossa
democracia. Voltemos à carta de renuncia dirigida ao Senhor Presidente da
Assembleia da República:
«incompreensível para o comum dos cidadãos»
«desprestigiante para os seus actores»
“
Permaneci em funções, pois, e procurei transmitir à Provedoria de Justiça a
tranquilidade e a normalidade de trabalho sem as quais não se cumpre com
eficácia o papel de Provedor. A expectativa com que encarei a minha não
substituição foi tornando-se, porém, com o passar dos dias e o lento decorrer
dos meses, um incómodo manifesto e criou em mim uma preocupação muito profunda.
Não me eximi de os tornar públicos, é certo, por entender ser imperativo que a
opinião pública e o Parlamento ficassem cientes da posição do Provedor – tanto
mais ser verdade que nenhuma informação sobre o visível impasse nas negociações
conducentes à eleição do meu substituto em momento algum me foi prestada. Nesse
contexto, escrevi a Vossa Excelência, já em 19 de Fevereiro último, acentuando
que a prolongada e insustentável situação de arrastamento das negociações para
a escolha do novo Provedor estava a revelar-se «incompreensível para o comum dos cidadãos» e começava a « tornar-se desprestigiante para os seus
actores», do mesmo passo que sublinhei «embora
me esforce por manter a normalidade possível, é evidente que não existem
condições institucionais adequadas ao desempenho eficaz das minhas funções».
Não poderia ser mais claro creio.(…)