segunda-feira, 8 de março de 2010

NOTAS POLÍTICAS (7)

As declarações do Bastonário Marinho Pinto, pese embora o estilo agressivo a que já nos habituou - um pouco parecido com o estilo de Manuela Moura Guedes…et pour cause…- não devem passar sem um reparo forte, porque, desta vez, foram longe demais e colocaram em causa valores sensíveis da nossa vivência democrática.

Afirmar que existe um sector da nossa Justiça que está envolvido numa campanha política para derrubar o Governo (e percebe-se a quem o Bastonário se pretende referir) vale o mesmo que afirmar-se que também existe um outro sector da Justiça que é cúmplice em destruir provas contra o Primeiro-Ministro (e também se entende a quem se reportam estas directas). A única diferença está em que as afirmações destes últimos são feitas por políticos ou por comentaristas políticos, ao passo que aquelas foram produzidas por um Bastonário da Ordem dos Advogados - que é coisa muito diferente de um sindicato.

É visível que Marinho Pinto não distingue bem o papel de Bastonário do papel de político, para o qual terá vocação mas que coloca em xeque não apenas a classe dos advogados - que parece esquecido de representar - como a leal convivência com os demais grupos profissionais da Justiça.

Quando dentro desta se procede assim, e sendo certo que os “mimos” não têm partido apenas de Marinho Pinto, como se há-de esperar que os cidadãos confiem na Justiça, ou que os Governos consigam fazer algo de sério e profundo nas políticas indispensáveis e tão urgentes de reformas para o sector?

Tudo isto faz-me recordar o “Portugal adiado” de que Eanes falava há uns trinta anos atrás. Trinta anos atrás… senhores!