Seu Zuzé, as tuas vacas, como estão?
Longe daqui
Subimos os morros
Fomos procurar
A água que resta
Do ano que passa.
Senhora Luna
A farinha?
Está a secar
Tarda a chuva
Seca o milho
A lavra não vai medrar.
Tyimutengue
Meu vizinho então por cá?
Pois que vim te visitar
Te avisar
Que o meu gado vai passar
Aqui por perto
Tarda a chuva e é preciso
Procurar
O que lhe dar de comer
O que lhe dar de beber
O capim está a ficar negro
Está na hora de mudar.
Imigrante Silva, a tua mulher?
Está mal.
Que é do leite para lhe dar
E carne para lhe engordar?
E os filhos?
Estão magrinhos
Doentados
Vão ficar igual com o pai.
Que é da escola para lhes dar
Sapatos para lhes calçar
Ofício para ensinar?
Dunduma amigo
Companheiro Chipa
Zeca, Ernesto, Calembera
Olhai pelo gado.
Protegei os pastos.
Olhai pela vida das fêmeas
E pela saúde dos machos.
(Poesia de Ruy Duarte de Carvalho, in “Lavra”)