segunda-feira, 15 de março de 2010

NOVEMBRINA SOLENE

Seu Zuzé, as tuas vacas, como estão?

Longe daqui
Subimos os morros

Fomos procurar
A água que resta
Do ano que passa.

Senhora Luna
A farinha?

Está a secar

Tarda a chuva
Seca o milho
A lavra não vai medrar.

Tyimutengue
Meu vizinho então por cá?

Pois que vim te visitar
Te avisar
Que o meu gado vai passar
Aqui por perto

Tarda a chuva e é preciso
Procurar
O que lhe dar de comer
O que lhe dar de beber
O capim está a ficar negro
Está na hora de mudar.

Imigrante Silva, a tua mulher?
Está mal.
Que é do leite para lhe dar
E carne para lhe engordar?

E os filhos?

Estão magrinhos
Doentados
Vão ficar igual com o pai.

Que é da escola para lhes dar

Sapatos para lhes calçar
Ofício para ensinar?

Dunduma amigo
Companheiro Chipa
Zeca, Ernesto, Calembera
Olhai pelo gado.
Protegei os pastos.
Olhai pela vida das fêmeas
E pela saúde dos machos.

(Poesia de Ruy Duarte de Carvalho, in “Lavra”)