quarta-feira, 10 de março de 2010

REGRESSO


Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu vida e amor,
para voltar…
Voltar…
Ver de novo baloiçar
a fronte magestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia,
circundam de magia…
Regressar…
Poder de novo respirar
(oh!...minha terra!...)
aquele odor escaldante
que o húmus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
com o sol da tua paisagem,
que o sol,
a dardejar calor,
transforma num inferno de cor…
…………………………………………………….
Não mais o pregão das varinas,
nem o ar monótono, igual,
do casario plano…
Hei-de ver outra vez as casuarinas
a debruar o oceano…
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão…
não mais esta visão,
nem o crepitar mordente
destes ruídos…
os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo,
e o silêncio envolve tudo.
Sêde…Tenho sêde dos crepúsculos africanos,
todos os dias iguais, e sempre belos,
de tons quasi irreais…
Saudade…Tenho saudade
do horizonte sem barreiras…,
das calemas traiçoeiras,
as cheias alucinadas…
Saudade das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia
em cada hora,
soando pelos longes, noites fora!...
…………………………………………………….
Sim! Eu hei-de voltar,
tenho de voltar,
não há nada que mo impeça.
Com que prazer
hei-de esquecer
toda esta luta insana…
que em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa…
Ah! quando eu voltar…
Hão-de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei…
A minha alegria enorme de poder
emfim dizer:
Voltei!

(Poesia de Alda Lara)