"Nas sociedades actuais, ditas desenvolvidas, à juventude depara-se o desafio de construir o futuro, com coragem e sapiência. É um desafio que implica a ultrapassagem ou o minorar de problemas tão agudos, como a falta de habitação para o jovens casais ou a inexistência de empregos para os que terminam a vida escolar. Mas a esses e tantos outros problemas antepõe-se a meu ver o problema dos valores éticos que parecem em regressão nas nossas sociedades.
Palavras como fraternidade e bondade, amor ao próximo e dedicação aos outros, lealdade e amizade, rectidão e espírito de sacrifício – palavras como estas parece que cheiram, por vezes, a bafientas e já nada dizem, infelizmente, a muitos jovens confrontados com uma sociedade de que não se sentem parte integrante e para quem o futuro se representa ou na revolta da rua e nos atentados terroristas, ou na alienação degradante da droga, da prostituição e do marginalismo social.
Serão de facto estas palavras bafientas? E os valores nelas ínsitos encontrar-se-ão, na realidade ultrapassados? Não o creio.
O que está errado não são esses valores e sentimentos, o que está errada é uma estrutura social que gera a descrença, a desconfiança e o afastamento do homem em relação aos outros homens e do próprio homem em relação a si próprio.
E por isso vos concito, a que não tenhais medo de usar, nem receio de ousar recriar com o significado e a dimensão humana ajustadas aos tempos de hoje, essas palavras, esses sentimentos e esses valores, cuja perenidade marca a perenidade do próprio homem."
Coimbra, 8 de Novembro de 1981. Encontro Anual de Quadros do Ensino Superior. Publicado no “Povo Livre” em 18 de Novembro de 1981