terça-feira, 25 de outubro de 2011

SÁ DA BANDEIRA- 1º DISCURSO OFICIAL

Desde muito jovem, revelou, o Henrique, uma grande capacidade, e, uma enorme necessidade de intervir publicamente em momentos particulares da nossa vida comum. Foi assim que, em 1956, aquando da repressão e invasão da Hungria pelas tropas soviéticas, (e em nome da academia da Huila ) profere o 1º discurso oficial de toda a sua vida. Tinha então 16 anos, e dirige-se ao Senhor Governador do Distrito.

EXCELÊNCIA

"Absolutamente cônscia de que vive um momento de alta e significativa vibração, a mocidade aqui está perante vossa excelência, para num grito uníssono de solidariedade académica elevar a sua voz, num sentido protesto contra a brutal agressão que ensanguenta a Hungria, e muito especialmente os estudantes, heróicos fomentadores de uma rebelião que se escreve a fogo e sangue.

A Academia da Huila não poderia, de modo algum, restar indiferente ou apática, perante tão inqualificável atentado aos sagrados direitos humanos de LIBERDADE e de JUSTIÇA. E, porque nestas terras altas da Chela, as vetustas tradições académicas mais profundamente se arreigaram no nosso espírito, bem latente sentimos uma chama de admiração por este povo mártir que, como qualquer outro, tem direito a aspirar à suprema ventura de ser senhor da sua soberania.

EXCELÊNCIA:

Quedamos atónitos e horrorizados, ao termos conhecimento dessa ignóbil série de atrocidades que se tem praticado em nome de uma hipotética liberdade. A jorros tem corrido sangue de um povo, que prefere tombar em defesa da Pátria escravizada, a trabalhar sob um signo requintado de malvadez e de desprezo pela inviolável Carta dos Direitos Humanos.

Sabemos que foram estudantes como nós, os primeiros a lançarem o grito de protesto e rebeldia contra uma opressão vexatória; são rapazes como nós, os que nessas longínquas margens do Danúbio caiem aos milhares, sem soltarem um único lamento, porque estão absolutamente convictos de que morrem pela causa justa de um nobre ideal.

O povo magiar escreve com sangue e terror uma das mais belas epopeias, que ao mundo foi dado assistir.

Poderão cair imolados pela metralha dos canhões; poderão sofrer em silêncio a humilhação de serem de novo calcados pelo materialismo soviético, e de não poderem contemplar em paz a bandeira tricolor da terra natal: ficarão sem irmãos e sem lar mas jamais acatarão uma dominação opressiva porque não morrerá a doce esperança de ver a Pátria libertada do jugo alheio.

EXCELÊNCIA

A academia está de luto. Fechamos as nossas capas em homenagem póstuma aos colegas húngaros que à custa da própria vida, souberam cumprir os sublimes ditames da HONRA e da DIGNIDADE.

Aqui no Lubango, a mil léguas do local onde ocorrem tão trágicos acontecimentos, nós queremos hastear o negro pendão dos académicos, para num gesto colectivo de fraternidade, afirmarmos a nossa veemente repulsa por crimes tão hediondos, e erguemos o nosso clamor de incondicional e sincero apoio ao Governo da Nação, que sabemos comungar nos mesmos sentimentos solidários.

Pedimos justiça para com o povo da Hungria, mas desejaríamos que essa reparação justiceira não acarretasse mais derramamento de sangue, nem maior número de vítimas. Queremos que se faça justiça mas que ela não seja cobardemente deturpada; gritamos por justiça, em nome dos direitos individuais, dos valores da vida humana.

Quanto mais não fosse, bastaria o facto de sermos estudantes e portugueses, para nos ser impossível concordar com atitude tão torpe que reduz a escombros a imortal Nação Húngara.

Que a grande Nação Portuguesa, do Minho a Timor possa saber que a Academia da Huila não desmereceu as suas nobres tradições e que nesta hora solene, em que comovidamente recordamos os nossos colegas e todo o povo húngaro, ela eleva a sua voz, para dizer com afoiteza : PRESENTE.

Tenho dito.