"Num contexto de crise económica, financeira e social grave, impõe-se adoptar medidas com inequívoco sinal de justiça social. Não aludo a uma utópica redistribuição de riqueza inexistente, refiro-me a acções claras de moralização da vida pública, de dignificação das instituições democráticas, de sensibilidade face aos mais carenciados, de sentido do Estado democrático de direito.
Ao alargamento desmesurado das despesas do Estado, a que assistimos nos últimos anos há que opor a desburocratização do País. À descoordenação administrativa e duplicação funcional e delapidação consequente de recursos há que opor eficácia e produtividade.
E tudo isto, tão sumariamente dito, ajudará muito mais a inverter as tendências de asfixia da sociedade civil do que o corte das amarras de gongorismo ideológico contido na Constituição.
Sem embargo, porém, é decisivo que os cidadãos e as organizações legítimas dos interesses colectivos mais diversificados assumam o protagonismo que lhes cabe na modelação da nossa sociedade.
E para isso é preciso que não se continue a dar prova quotidiana de que tudo esperamos do Estado, no subconsciente assumido, afinal, como a mezinha das nossas incapacidades.
Se o papel selado é mau, o requerimento para tudo e para nada não lhe ficam atrás."
Lisboa, Dezembro de 1981