segunda-feira, 10 de outubro de 2011

CARREIRA PROFISSIONAL (1964/1974)

Finalmente a 30 de Janeiro de 1964 termina a Licenciatura em Direito na Universidade de Lisboa.

Em 2001, numa entrevista ao DR, (Direito em Revista), revisita, respondendo ao Jornalista, os anos da Faculdade, e, a difícil adaptação ao Portugal Continental. Vamos ouvi-lo.

" Cheguei a Portugal aos 17 anos, a fim de ingressar no ensino superior. Até essa altura a minha vida fora passada em Angola. Posso adiantar que os meus primeiros anos foram terríveis, pois tive uma péssima adaptação ao clima do País.

Achava mesmo que Portugal era uma verdadeira Sibéria, depois de me ter habituado ao sol e aos grandes espaços Africanos. A minha ligação a Angola é, de facto, muito forte, e a forma de se encarar a vida em Angola ficou-me muito marcada na pele.

A minha dolorosa integração em Portugal influenciou os estudos, e os dois primeiros anos da Faculdade de Direito não foram de grandes classificações. Cheguei mesmo a pedir a meu pai para desistir do curso a fim de regressar a Angola. Esse pedido não foi tido em consideração, e ainda bem.

Fui conseguindo adaptar-me sucessivamente e terminei a Licenciatura em Direito. Apesar de tudo, mantive sempre o desejo de regressar a Angola depois da formatura."


Ainda na entrevista ao DR explica a razão pela qual não regressou a Angola ao terminar o Curso de Direito

"A razão principal prendeu-se com a necessidade de não prejudicar a carreira profissional da minha mulher, que estava a estudar Medicina em Lisboa. Na altura decidi apostar na carreira de Magistrado, tanto que ingressei num estágio para o Ministério Público."

( Inicia o estágio na magistratura do Ministério Público num dos Juízos Criminais do Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, e, nesse período, exerce de facto, interinamente, até Setembro desse mesmo ano, funções de delegado do Ministério Público, - por impedimento do titular do cargo).

"Apercebi-me, no entanto, que a colocação numa comarca longínqua dificultaria o meu casamento. Ou seja, decidira não ir para Angola a fim de não o comprometer , e, estava agora a optar por uma eventual colocação em Bragança ou no Corvo…

Por isso, acabei por ingressar no Estado, como tarefeiro no Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra um organismo recém-criado ( 1962) que se dedicava ao Direito do trabalho e da contratação colectiva."

Em Setembro de 1974, e, exclusivamente por se sentir coarctado no exercício independente das suas funções, que nunca tinha sido posto em causa, requer e obtêm licença ilimitada.

"Já praticava o exercício da advocacia em regime de "part-time". Depois do horário de trabalho mantinha um escritório, partilhado com mais colegas, com quem apenas dividia despesas. Depois de 10 anos de exercício de funções públicas, decidi finalmente dedicar à advocacia tempo inteiro. Acabei por ser consultor jurídico de vários sindicatos, mantendo-me intimamente ligado ao direito laboral."

Direito em Revista nº2 Março/Maio 2001