domingo, 27 de novembro de 2011

POR UMA NOVA ORDEM ECONÓMICA INTERNACIONAL

A 11 de Junho de 1981 o “Correio da Manhã” noticiava o seguinte: “ O Ministro do Trabalho, Nascimento Rodrigues, parte hoje para Genebra, a fim de participar na 67ª sessão da Conferência Internacional do Trabalho, a decorrer naquela cidade até ao dia 24 do corrente.O titular da pasta do Trabalho, discursará na sessão Plenária de amanhã, prevendo-se que regresse a Lisboa dia 13.”É um excerto desse discurso que editamos a seguir.

"Toda a estratégia de desenvolvimento integra uma dimensão social.
A política de cada país tem sempre repercussões além fronteiras. Ora quando essas repercussões agudizam as desigualdades económicas e sociais; quando suscitam penurias inaceitáveis do ponto de vista de dignidade humana; quando alargam o flagelo do desemprego; quando aumentam o fosso entre homens de diferentes nações e entre nações de todos os continentes; quando desencadeiam o afrontamento entre possuidores e não possuidores de bens e de conhecimentos que são indispensáveis à promoção do bem estar de toda a comunidade internacional - quando isto acontece, temos a obrigação de realizar todos os esforços para assegurar as condições de realização de justiça económica e social, quer no campo internacional, quer no campo interno.
Temos, felizmente, condições de estabilidade política, decorrentes de uma vivência democrática que cada vez mais se consolida em Portugal, para tentar esse esforço visando a melhoria das condições de vida e de trabalho da nossa população.
Estamos conscientes do desequilíbrio gerado a nível mundial pelas desigualdades de riqueza e de oportunidades.
Essa consciencialização advêm-nos de três ordens principais de factores
Somos, por um lado, um pequeno País, com uma economia extremamente vulnerável às flutuações e à instabilidade que se vêem observando na ordem económica internacional.
Somos, por outro lado, um Povo que, por razões ligadas à sua história, tem actualmente mais de três milhões de cidadãos seus que vivem em praticamente todos os continentes.
E isto não só redobra a nossa sensibilidade para a compreensão da interdependência à luz da qual temos de encarar e resolver problemas que a todos, afinal, afectam, como reforça o nosso entendimento de que só com acções de estreita cooperação, baseadas num quadro global de solidariedade, será possível afastar os riscos emergentes das clivagens económicas, sociais e culturais que teceram uma divisão angustiante no nosso mundo.
Enfim a nossa consciencialização, ganha, ainda, suporte na circunstância de Portugal se encontrar numa situação de desenvolvimento intermédio e de deter um posicionamento claro na região europeia – mediterrânica, do mesmo passo que, criámos condições para entender o significado das aspirações legítimas a uma maior justiça económica e social por parte dos povos de regiões mais afectadas pela pobreza.
Isto leva-nos a encarar a exigência de solidariedade, pressuposta pela estratégia internacional de desenvolvimento, quer no sentido de uma cooperação mais sólida entre os próprios países da Europa democrática - como demonstração palpável de que são capazes de uma convergência de interesses e de uma ultrapassagem das desigualdades existentes no seu próprio seio – quer a um nível mais alargado, como prova de que estamos conscientes do carácter verdadeiramente imperativo de uma nova ordem económica internacional.
Genebra 12 de Junho 1981