quarta-feira, 23 de novembro de 2011

SURTO GREVISTA

"Sempre defendi a concepção de que o ponto de vista sindical é, à partida, diferente do ponto de vista governamental.

Por isso mesmo é que o sindicalismo só o é enquanto livre, e, portanto, independente dos partidos, dos governos e dos empresários.

Nesta medida, compreendo que as reivindicações dos sindicalistas possam contrastar com as posições do governo.

Os sindicalistas devem defender os interesses dos trabalhadores que representam, o Governo tem o dever de defender os interesses mais globais de todas as camadas da população. Podem, assim, sobrevir divergências e até conflitos. Mas em democracia os conflitos são tão normais como o são os consensos ou, ao menos, a compreensão recíproca das posições respectivas.

É bem verdade, no entanto, que a situação actual do nosso País exigiria uma certa trégua social, voluntária e responsavelmente assumida. Para tanto, será legítimo que o movimento sindical exija da política governamental o máximo que esta possa dispensar em favor dos mais desprotegidos, no âmbito das disponibilidades que são limitadas.

E, em contrapartida será também legítimo que o Governo espere do movimento sindical a demonstração prática, e não meramente afirmativa, do princípio de solidariedade nacional.

Este é que me parece ser o caminho da redução das margens de conflitualidade social numa óptica de consenso democrático e patriótico.

Em relação às greves, a questão está em discernir, as que são fomentadas pelas forças sindicais com aproveitamento de reivindicações de base salarial, das outras em que reivindicações e objectivos são marcadamente profissionais, mesmo que, do ponto de vista do Governo, tais reivindicações sejam consideradas como inviáveis, tendo em atenção a situação económica das empresas, dos sectores e do próprio país.

A resposta para essas situações, que não sejam as do legítimo confronto e divergência democrática tem de ser firme. Firme, neste duplo sentido: usar a autoridade democrática ao mesmo tempo que se faz prova de que se aplica uma política de gradual eliminação das injustiças sociais."

In “ O Tempo” 28 de Fevereiro de 1980