quarta-feira, 2 de novembro de 2011

VERDADE, COERÊNCIA, FIRMEZA DEMOCRÁTICA

"No interior de espaços geográficos que são considerados, e justamente, como exemplos de uma maior libertação do Homem, ocorrem diferenças significantes, e preocupantes entre países neles enquadrados. Refiro-me, em especial, à Europa Ocidental, por nos dizer respeito a vários títulos, e às diferenças económico-sociais entre a sua faixa mediterrânica, e as outras zonas do espaço europeu democrático.

E como a unidade só pode construir-se na solidariedade, e como a crise económica persistente que vem atingindo praticamente todas as economias europeias ocidentais vai fomentando reflexos de autodefesa, de sentido individualista e marginalizador assistimos hoje, com preocupação, a um declínio (espero que transitório) do valor da solidariedade e do sentido de justa concertação de esforços e meios entre os povos europeus democráticos.

A crise económica persistente que vem afectando os países da Europa, reflecte-se ampliando as dificuldades e criando novos obstáculos, na nossa própria situação.

Somos um país tremendamente dependente da importação de produtos alimentares e de bens de equipamento e a alta do custo de uns e de outros potencializa o agravamento da inflação a nível interno. Por outro lado, a retracção que se verifica nos consumidores dos mercados externos que são nossos principais compradores, agudiza a situação da nossa balança comercial.

Mas se a situação económica é verdadeiramente preocupante, que dizer de uma situação social que não é caracterizável por menores índices de preocupação?

Bem sabemos que esta é uma situação com origem em factores e erros históricos, de natureza estrutural e de consequências largamente perduráveis no tempo.

Não devemos esconder a ninguém que a resposta à nossa própria crise não é fácil e muito menos milagrosa.

A política tem que ser uma política de Verdade, de Coerência, de Firmeza democrática, de Solidariedade e de Justiça. Tem que ser uma tarefa constante e sem desfalecimentos."

Coimbra, 8 Novembro 1981

Publicado no “Povo Livre” em 18 de Novembro de 1981