quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A POLÍTICA É ASSIM


"Não se pode governar num clima de oposição interna, corrosiva, permanente. O que é curiosamente surrealista é que certos opositores do Governo o acusam de não governar ou governar mal. E, vai daí, toca de criar as condições e de montar todo o aparelho possível conducente a inviabilizar ou a dificultar uma governação normal.
Faz-me lembrar a história do ladrão que rouba e desata a correr pela rua gritando ”acudam que me roubaram”.
Temos que responsabilizar as pessoas por aquilo que fazem e não fazem. Que se responsabilize o Governo por eventuais erros, nada a objectar, pelo contrário. Mas que se coloquem obstáculos, se levantem calúnias, se denigram figuras, se recuse o entendimento, para, depois disso, criar assim maiores dificuldades ao Governo – isso é inacreditável e pouco digno. Dir-me-ão que a política é assim. Eu respondo que é assim que se mata a democracia porque esta tem de assentar num núcleo essencial de valores éticos para poder desenvolver-se, ou então desacredita-se.
Em 1º lugar, a CGTP/IN  aproveita-se da situação de instabilidade provocada. Está no seu papel. O papel dos sociais-democratas, é que não pode ser o de facilitar a vida à CGTP e ao PCP.
Em 2º lugar, uma política de diálogo social alargado exige como condição essencial que o interlocutor dos parceiros sociais, ou seja, o Governo, tenha apoio e seja claramente sustentado pela sua base política e social. É obvio que se não vai dialogar com quem não se sabe se, amanhã, é o interlocutor adequado. É obvio que não se vai dialogar se o interlocutor foi enfraquecido internamente. Em tais situações, não se dialoga: amplia-se a luta, radicaliza-se a reivindicação laboral e procura-se instalar a agitação permanente.
É o que faz a CGTP nesta crise, certamente grata aos seus involuntários aliados “contra-natura”.
Quem semeia ventos, e nem sequer os sabe dominar, colherá tempestades. Eu pergunto se é isto a defesa dos interesses do País, da estabilidade social e do progresso económico”.

In “ A Capital”.  Sexta- feira, 7 de Agosto de 1981